1x08 - A Ruiva no Banheiro
de Roque Aloisio Weschenfelder
Em uma pequena cidade interiorana
só tinha uma escola de Ensino
Médio.
Samara, uma garota de altura
normal, corpo nem gorda
e nem esbelta, com
avantajado busto, de cabelo ruivo, que adorava romances de amor e histórias de
terror, sentia uma necessidade fora do comum de ir ao banheiro. Sabia que
estava por entrar na menstruação nos primeiros dias. Ela brincava que seria
fácil de evitar essa coisa de sangria, pois bastava ficar grávida, mas fazer amor com
quem? Samara dizia que os colegas de aula eram muito moleques e nenhum se
prestaria para tal; homens de fora
ou eram casados ou amigados, em rapazes solteiros estranhos não
confiava. Preferia ficar
virgem por enquanto, estudar e passar aqueles dias.
Ela pediu licença à professora e
deu aquele sorrisinho de lado da boca para dar a entender que a pressa estava
enorme.
Quando Samara estava sentada no
vaso do banheiro, ouviu um ruído estranho, olhou para cima e para os lados, mas
viu simplesmente nada.
Notou que ainda não vieram “os
dias” e, em seguida, levantou-se para retornar à sala de aula, mas a porta do
banheiro parecia estar trancada por fora. Chamou por socorro:
— Por favor, quem trancou esta
porta? Abram logo!
Nada de resposta. Chamou outra
vez:
— Pelo amor de Deus, abram, quero
sair daqui do banheiro!
Ouviu a risada de uma moça. Era
meio gozadora, meio agourenta. Ficou assustada e gritou:
— Quem é você, sua malcriada?
— Mal-amada, nunca malcriada.
Casei-me obrigada, fui obrigada a fazer sexo, morri e não fui sepultada.
Preciso ser vingada, será você que vai fazer isso! — ordenava a voz horrível.
Samara gritou com todo o ar de
seus pulmões:
— Socorro! Socorro!
— Pedi socorro muitas vezes e não
adiantou, olha como meu indesejado marido me deixava!
— Não enxergo ninguém, como vou
ver o jeito que ficou? — falou Samara.
— Você tem que me imaginar!
— Imaginar como?
— Como jovem possuída por um
homem grande. Eu sou quase menina. Toda doída nas intimidades da frente e de
trás!
— Qual o seu nome?
— Não tenho nome, mas sou a
loira.
— Qual loira? — gritou Samara.
— Ora, sou a loira do banheiro.
Nunca ouviu falar de mim? Tudo que é homem tem medo de mim. — debochou a voz.
Samara bateu forte na porta do
banheiro e tentou forçá-la pra
abrir enquanto gritou: — pelo amor de
Deus, abram esta porta. Quem foi que a trancou?
— Fui eu, querida ruivinha! Fechei
esta porta pra sempre e, também, todos os ouvidos da gente na escola.
— Soooocoooooorroooooooooooo!
— Quanto mais você gritar, mais
os ouvidos se fecharão! Olhe-me agora! — falou a voz. — Deitada no chão, olhe
pro piso!
Samara baixou as vistas. O que ela
viu fez que quase desmaiasse: uma loira de rosto brilhante, mas com o corpo nu
e transparente, aparecendo os órgãos internos bem enegrecidos. O pavor que
sentiu fê-la quase desmaiar.
Com a mão, a loira mostrou a
vagina muito alargada e saindo um filete de sangue.
— Viu como fiquei de tanto ser
possuída sem aceitar? — lamentou a voz.
Somente então Samara percebeu que
o rosto brilhante não tinha boca.
— Sabe por que estou sem boca?
— Por quê?
— Por nada adiantar ter boca pra
falar se ninguém aceita o que você diz. Eu pedia pra não ser casada com aquele
homem enorme. Eu queria me casar com amor, desejava alguém jovem e carinhoso.
Já sentiu o que é ninguém ouvir seus gritos por socorro? Que adianta agora a
boca que você tem, o capricho com seus dentes e ser uma belíssima moça ruiva?
Samara sentia-se pairando no ar,
e com um líquido a correr-lhe pelas coxas. Imaginava ter começado sua
menstruação. Ficou quase louca, sentiu-se fraca, sem voz para gritar. Então viu
que a loira desaparecera, mas ficara um cheiro forte de corpo em decomposição
no ar.
Ela se despiu e entrou para o box
onde tinha um chuveiro. Abriu-o no ponto morno, mas apenas saiu uma névoa que a
encobriu toda.
Ouviu novamente a horrenda voz:
— Quer lavar seu sangue? Esse
sangue é que a mantém virgem, livre de alguém que a possuísse sem amor. Se não
houvesse tanta maldade neste mundo, a lenda da loira do banheiro nem existiria.
Você sairá daqui só no final das aulas desta manhã. Sairá se me prometer que
falará que a minha lenda não é só uma lenda, porém é vestida de grande verdade,
pois há muitos casamentos de fachada. Muitos homens sofrem porque há mulheres
que não amam, apenas querem satisfazer o desejo do orgasmo, e muitas mulheres sofrem
porque não têm alternativa a não ser de fazerem sexo para que seus maridos lhes
deem o luxo com que toda fêmea deseja aparecer em público. Esses maridos não as
amam. Outras sofrem porque, como eu, tiveram de se casar com homens escolhidos
pelos pais. Cuidado, ruivinha, para não cair numa armadilha dessas!
— Como você fala de novo, se nem
está mais aqui?
— Nunca estive neste banheiro!
Sou só sua imaginação.
— Eu não intencionei lhe
imaginar, como isto me acontece? — questionou Samara.
— Simplesmente porque você pensa
em uma forma de encontrar alguém para fazer amor e engravidar por não gostar de
ter as menstruações!
— Como poderei prometer o que
você pediu para sair daqui?
— Somente se você deixar a lenda ser chamada de “a ruiva do
banheiro”, poderei permitir que se abra essa porta, do contrário, só no final
das aulas de hoje!
— Prometo coisa nenhuma. É tudo
imaginação mesmo! — falou, bem mais calma, a ruiva no banheiro.
Samara secou o corpo, vestiu-se,
saiu do WC e voltou à sala, ainda bem pálida. A professora perguntou:
— Está tudo bem com você?
— Quase — disse Samara. — Menstruei. — concluiu.
Conto escrito por
CAL - Comissão de Autores Literários
Produção
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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