– Senhor... tem certeza do que diz?
– Dedetizar é desnecessário, porque quanto mais mosquito, melhor, mais pobres morrerão, mais verbas sobrarão às obras de que pessoas de minha estirpe necessitam.
– Mas... isso é crimino...
– Criminoso? É isso que quer dizer? – entrecorta-a. – Talvez! Depende do ponto de vista – coça o queixo bem devagar. – Como a senhora, se por acaso desaparecesse de repente, faria falta para quem?
– Pre-pre-prefeito? Por que está dizendo isso?
– Sente-se, sente-se, minha filha – manda –, tome uma dose de saquê.
– Eu não bebo.
– Tome! – ordena, visivelmente transtornado, aproximando-se dela. – Vai se sentir melhor!
– Pre-prefeito!
– Tome, sua ordinária – agarra-a pelo pescoço. – Não disse que se sentiria melhor? É assim que dou fim àqueles que ousam atravessar meu caminho.
– Vamos, Moacir! – pede Ernestina, em desespero.
– Istô correnu u mais qui possu! – responde, virando-se para ela, que grita.
– Cuidado!!! Meu Deus! Você pegou um homem!!! Moacir do céu!!!
O jardineiro, trêmulo, sai do carro e se depara com Alberto, caído ao chão.
A porta é estourada pela Polícia Federal, que invade o gabinete do prefeito e o flagra tentando estrangular a secretária. Assustado, Tanaka dá um berro e pula para trás, defendendo-se:
– Sou inocente! Não fiz nada! Só estava fazendo uma massagem, não é, querida Adelaide? Puxa! A bicha tava com uma dor dos cornos no pescoço e eu só quis ajudar – volta-se para a secretária, implorando para que confirmasse a história. – Não é, querida menina, não é? Diga à polícia! Diga!
– O senhor está preso! Tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal – anuncia um dos agentes, altamente armado, algemando-o.
– Mas... mas... mas... o que fiz para receber tal sina? – inquire Tanaka, visivelmente surpreso. – Só faço bem ao povo.
– Estamos vendo! Por isso sua cidade foi engolida pela corrupção – debocha o oficial.
– CORRUPÇÃO? MEU DEUS! MAS QUEM SERIA CAPAZ DE TAL ATROCIDADE? POIS FALE, QUE EU COLOCAREI O SUJEITINHO NA LINHA. NÃO ADMITO QUE, EM MINHA CIDADE, ALGUÉM FAÇA O POVO DE BOBO!
– Meu nome é Paulo Emílio – apresenta-se –, sou o delegado responsável por esta que é a 100ª fase da Operação Lava Jato, intitulada “Auto da Barca do Inferno”. E o senhor é acusado de ter praticado corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, além de outros crimes menores.
– LAVA JATO? EEEEEita! Vou aparecer no Fantástico? Ave! Nem fiz o cabelo! Mas... mas... o que eu fiz para cair nas mãos da República de Curitiba? Sou inocente! Nunca fiz nada de errado, só ajudei os pobres de Vila dos Princípios, a quem tanto amo! Snif! – simula um choro.
– Dá para ver! Tudo aqui anda às mil maravilhas, né, prefeito? O rio poluído, infestação do mosquito da dengue, morros desmoronados, posto de saúde que não saiu do alicerce...
– Mas o dinheiro é pouco, seu delegado. O que o governo manda sequer dá para pagar os prestadores de serviço. Muitas vezes tenho de pagar com recursos do próprio bolso para que as obras não parem. Sniff! Não é, Adelaide?
– Verdade! – ironiza a mulher, já quase recuperada do baque. – Só falta dizer que é santo. Hum! Santo Tanaka dos pobres principienses. Pois bote esse safado na cadeia, ele quase me matou, vocês não viram? Homem horroroso!
– Não fale isso, queriiiida! Logo a mim, que tanto carinho a ti dispensou? Sniff! Oh, vida cruel! Pobre... digo, empregado é tudo igual, basta o patrão virar as costas para ser apunhalado. Nunca se lembra do bem que fizemos a eles. Alguém tem aí um guardanapo! Estou muito emocionado! Sniff!
– O bicho é cara de pau, mentiroso, safado, ordinário, vagabundo, ladrão e assassino. Pois fui eu que o entreguei sim! Ele tramou a morte do delegado com nome de planta e a de um tal de Joaquim.
– EEEEEEEEEEEEEEEEEU??? NUNCA! Juro por minha sogra mortinha, mortinha! Sou amigo de todo mundo. Aliás, o povo me ama! Basta ir às ruas e conferir. Nunca na história deste país houve um homem tão honesto como eu! Posso garantir!
– Outro Lula – gargalha a autoridade. – Honesto? Hum! Só se for no inferno. Pois recebemos o vídeo mencionado por dona Adelaide. E, lá, sem mais delongas, o senhor se entrega. Como pôde ser tão trambiqueiro?
– Não era eu! Era um clone! O senhor não assistiu à novela da Glória Perez? Já tão fazendo clonagem humana. Acha? Me copiaram! Que crime! Nossa! Estou acabado! Sniff!
– Nunca vi um bandido tão artista! – aplaude o delegado. – Deveria trabalhar na Globo.
– O senhor acha? Hum! Quer dizer, seu delegado, espere, nunca cometi um desvio de verba pública.
– Verdade, doutor – confirma Adelaide. – Quem tramava tudo era a mulher dele; dia sim, outro também, ela ligava, pedindo que fizesse enormes transferências para o Japão. E tudo saía dos cofres da prefeitura.
– A senhora está se referindo à Dona Houba Santuku?
– Essa mesma! Outra vigarista da pior espécie, que deve ter parte com o capeta, porque esse homem morre de medo dela.
– Interceptamos uma de suas ligações e um mandado de prisão foi expedido em nome dela à Interpol.
– Houba vai ser presa? – desespera-se. – Vixe! E as crianças? Prenda a mãe dela, aquela véia encrenqueira e deixe-a em paz. Ela não fez nada de mal, apenas levou uns cinquenta milhões das contas públicas. Só isso! E o que são cinquenta milhões? Os deputados levam de duzentos a trezentos e não dá em nada, ou vocês moram em outro país? Não viram o caso do Maluf, do Beto Richa e de tantos outros? Meteram a mão e estão livres, quando não, em prisão domiciliar. Eu que queria estar preso na casa do Maluf, lá deve ter até esqui.
A desfaçatez do político choca os policiais, que revidam à altura:
– Pois será encarcerado em um presídio onde você será o próprio esqui da bandidagem!
– Oh, Glória! – comemora a funcionária. – Como esperei por este dia! Sabe, ele me humilhava sempre que podia, chegou até a me chamar de tamanduá de bigode!
– Mas parece mesmo! – sussurra um policial aos ouvidos do chefe, que tenta disfarçar o sorriso.
– Viu como ele é cara de pau? Torrou cinquenta milhões do povo e acha que não é nada!
– Sua ingrata! Sabe muito bem, que enquanto estive aqui, só lhe fiz o bem, até dinheiro emprestei para que pudesse internar sua tia num leito particular do hospital.
– Verdade! Com 20% de juros ao mês! Hum! Fiquei seis meses sem receber nada!
– Mas... mas tudo tem juros nesse país, não é, seu delegado? Se a gente compra à prestação, o cartão de crédito nos engole. Aff! Preciso de uma dose. O senhor pode molhar o meu bico com um pouco daquele saquê? – aponta a garrafa com a cabeça. – Estou com uma dor de cabeça daquelas e ele é um santo remédio.
– Mas o trambiqueiro é mesmo cara de pau! – assombra-se o delegado com o cinismo do prefeito.
– Só um pouquinho... não seja mau! Vamos! O que custa?
Um dos policiais dá um tapa na cabeça de Tanaka, dizendo:
– Cale a boca, vagabundo! Acha? Agora vamos encher a goela do meliante com aguardente? Só faltava! E quanto à senhora – volta-se para a empregada –, dirija-se à delegacia e faça um boletim de ocorrência; o que ele praticou tem nome e sobrenome: tentativa de homicídio.
– EEEEEita!!! Aí tô lascado! – Encontra Adelaide com os olhos e implora: – Minha querida, deixa disso, tudo não passa de um equívoco. Lembre-se de nossos bons momentos, por favor!
– Quais, prefeito? Ah, já sei, quando disse que eu estava vestida como um espantalho? Melhor, quando me comparou com um passista de escola de samba? Ou seria quando me chamou de burra, na frente de todos os vereadores, lá na Câmara Municipal? Temos “muitos bons momentos”, que lastrearão o boletim que farei contra o senhor. Mas não se preocupe, vai passar muitos anos atrás das grades, mas em nome de nossa amizade, não o esquecerei. Hei de visitá-lo com aquelas sacolinhas de pobre, repletas de sabonetes chinfrins e toalhas de chita.
– Bruaca! – berra, perdendo a paciência. – É bom que me levem logo, pois daqui a pouco estarei de volta, basta fazer uma ligação para o Supremo Tribunal Federal. Por que perder tempo com gentalhas como vocês, se tenho muitos padrinhos no alto escalão? Bando de pobres! Vamos! Vamos com isso! Quanto mais rápido formos, mais rápido voltarei. E você, dona Adelaide – esquece-se de que tem os poderes cessados –, ligue para o meu advogado e peça para que ele ingresse com o habeas corpus ainda hoje.
– Não sou sua empregada! A partir do momento que é preso, perde os poderes de seu cargo. Agora, como não conhece legislação, devo apenas satisfação ao doutor Fred Funeral, o vice-prefeito, que a esta altura do campeonato, deve estar preparando seu caixão, lá na funerária dele.
– Eita! Que apunhalada! Da próxima vez que me pedir dinheiro emprestado, botarei juros de 40%, sua rapariga dos infernos.
A prefeitura está cercada por muitos veículos da Polícia Federal, que durante meses, acompanhou os passos do prefeito e de sua quadrilha; o juiz do caso, antes ressabiado, agora decretava a prisão da autoridade do executivo local com base no e-mail enviado pelo jornalista, da redação do “Tributo ao Povo”. O vídeo era a prova que precisava para que a bomba explodisse e a justiça, enfim, pudesse ser feita.
*(Introduzir a canção Ultraje a Rigor - Inútil)
Na saída do prédio, Tanaka é vaiado por parte da multidão que entoa sob panelaços “Tanaka, safado! Seu lugar é na prisão, onde o sol nasce quadrado!”; enquanto a outra parte chora, penalizada com a prisão do político. Alguns populares alegam que aquele homem era uma dádiva do céu, uma criatura que só pensava nos mais humildes, assim como o ex-presidente da República. No meio de toda aquela algazarra, encontrava-se Zé dos Cobres, de alma lavada. (finaliza a canção)
– Enfim, se faz justiça nesta cidade. Esperei muito tempo para ver isso; confesso, imaginei que fosse mais fácil Jesus voltar à terra que o senhor ir para o xilindró. Estava enganado! Pois aqui está, diante de todos nós, com as mãos algemadas, pagando pela roubalheira que cometeu e pelos muitos crimes que ainda há de ser julgado, inclusive o da morte de minha esposa e de meu filho. Se tivesse feito as obras necessárias, minha família estaria viva! Mas fique tranquilo, para o inferno o senhor não irá, porque o diabo não aceita concorrência.
– Cala boca, aí! Vá cantar em outra freguesia, bode velho. Tenho culpa se sua parentada não aguenta um tranco? Aff! O morro cai e a culpa é minha! Vá reclamar com Deus, seu... seu... Hum! Sabe por que ele está assim, minha gente? Porque quer a minha cadeira! Pensa que não sei que está se candidatando à prefeitura? E desde quando um xucro como o senhor entende de administração pública? Tem um ferro-velho falido e vem aqui se posar de vítima? Quer é o dinheiro que está lá em cima. Pensa que não sei? Estou errado, meu povo?
Parte aplaude, para a alegria do prefeito, que se gaba aos policiais:
– Tá vendo, eles me amam!
– Cale a boca, vagabundo! – recebe outro tapa.
– Em que carro eu vou? Tem ar-condicionado, um tira-gosto, um vinho do Porto? Hum! Está me dando uma fome!
Abrem uma das viaturas, que está lotada. Nela estão Lúcio, Desirê, Tobias, Júlio, e, pasmem, Moacir.
– Eita!!! O camburão tá cheio!!! – gargalha.
– Acabou de chegar o onzeneiro! – diz Desirê, soprando de raiva. – Só faltava esta peste para a barca ficar completa.
– Que “onzeneiro”? Meu nome é Tanaka Santuku! Ô mulher burra! Onzeneiro é sua mãe!
– Burro é o senhor que não entende nada. Não percebeu que somos os condenados à barca do inferno? Deeer! Acorde! Além de pinguço, é ignorante!
– O nome da operação da Polícia Federal é em homenagem à obra de Gil Vicente¹, que escreveu um dos mais importantes autos da história, em que céu e inferno disputam as almas dos humanos – explica-lhe Tobias. – E o onzeneiro era o homem ganancioso, agiota e usurário. Por ter sido um grande avarento na vida ele vai para o inferno.
– Vocês foram todos condenados? Ops... – engasga, ao encontrar Moacir – ...Até tu, Brutus? O que fez, meu filho?
– Ieu abri uma banca di jogu du bicho, segui suas ideia, e fui pegu cum a mão na butija. Assim qui ieu dexei Dona Catharini i Ernestina nu hospitar, os zomi mi cataro.
– Vixe! Agora jogo do bicho é crime? É bom mandar prender metade de Brasília – satiriza o homem.
– E por sua culpa estamos aqui, prefeito! Sinto-me um injustiçado – reclama Lúcio.
– Injustiçado? Sei! Só faltou vender a mãe! Trambiqueiro! – Volta-se para os policiais, dizendo: – Pode levar todo esse povo, é um bando de ladrão. Aquele ali ó – aponta para Lúcio –, vendeu o próprio partido; aquela, usou dinheiro do fundo partidário para reformar o sítio em Atibaia e dar uma força à casa das primas de Vila Bonita; aqueles dois, do jornal, me chantagearam... e o Moacir, bem, pode soltar, a família dele vota em mim! Prende todo o resto! Tudo ladrão! Ladrão da pior espécie.
– Pois aqui temos a alcoviteira, o onzeneiro, corregedor e procurador, o sapateiro, o judeu e o parvo – diz o delegado, comparando-os às personagens do Auto da Barca do Inferno. – Falta o fidalgo.
– Este está na mansão, porque George não vai escapar dessa não! Quero delatá-lo!
– Aquele já foi recolhido, delegado! Está no manicômio judiciário! – alerta um dos agentes.
– EEEEEita! Manicômio? Pois sempre desconfiei que ele fosse pilha frouxa mesmo! Que coisa! Convivi com um louco e não sabia. Aliás, foi ele quem me induziu a tudo! A culpa é dele. Toda dele! Ele que me obrigou a mandar matar o delegado e o motorista, e disse que, se eu não fizesse, ele mandaria acabar comigo. Sniff! Fiquei com tanto medo que cedi às pressões – dissimula.
– Sei! – diz o policial, inconformado com o mau-caratismo do homem.
– Prefeito, posso tirar uma foto com o senhor, sou sua fã – grita uma mulher do outro lado da rua.
– Claro, minha filha! Sai fora, sai, sai – manda os policiais se afastarem. – Não quero que estraguem minha foto!
Antes que pudesse abrir o sorriso amarelo, é arremessado para dentro do veículo.
– Que agressividade! Pois vou reclamar aos Direitos Humanos.
– Isso aí, prefeito! – concorda Lúcio.
– Cabe a boca, “judeu”! – repreende Desirê.
– Por que Judeu? – cobra da mulher.
– Porque ninguém quer, mas temos que aturar. Está na obra de Gil Vicente!
– Judeu? Dessa eu gostei! – zomba o chefe do executivo local.
– Ieu tamém! – ri Moacir, sem entender a comparação.
– E agora fala o parvo, o único que deve voltar para casa – diz Desirê, apostando na inocência do jardineiro.
– Pois eu vou voltar ainda hoje também – anuncia Tanaka, olhando sério para o idoso –, não é, Lúcio? Quando chegarmos à delegacia, ligue para o STF, não quero ficar mais que alguns minutos naquele muquifo.
– Não vai dar, prefeito – responde, acanhado.
– E por que não? – estranha.
– Deixei de “molhar a mão” daquela gente há uns dois meses, sabe como é, sustentar mulher, amante e filhos não é para qualquer um.
– Miserável! Alguém me segura, senão mato esse velho aloprado!
– Carma, seu Tanaka! Vamu orá! Deus há de protegê nóis, pruque somo tudo inocenti.
Todos gargalham da ingenuidade do jardineiro.
– Aqui poderia ser melhor, falta uma televisão, uns quitutes, um bom saquê... hum!
– Cale a boca, Tanaka! – gritam todos ao mesmo tempo, exceto Moacir.
O carro para assim que deixa Vila dos Princípios.
– Paramos! – alerta Desirê.
– Deve ser algum chegado meu inconformado com a minha prisão.
Todos gargalham outra vez.
– Como são pobres. Acham que iriam me deixar aqui por muito tempo? Sou TANAKA SANTUKU!
– Vô votá no sinhô di novu – diz o empregado dos Dumont.
– Pois é isso aí, esse cara é inteligente! Vote mesmo, pois só penso nos mais humildes.
– Ô, Tanaka, você deveria ter trabalhado no Sai de Baixo, formaria uma bela dupla com o Caco Antibes, vivido por Miguel Falabella – caçoa Tobias.
– O que cê tá falando aí, Boris Casoy depois da gripe?
– Você me respeita, seu...
A porta se abre e dele retiram o prefeito.
– Tá vendo, cambada, pessoas de minha estirpe não ficam muito tempo atrás das grades – cospe no chão. – Aff! Já não aguentava mais aquele cheiro de perfume barato e chulé azedo. Vamos. Quero voltar para a prefeitura, tenho muito a fazer pelo bem da comunidade.
Ele é conduzido para um veículo vazio.
– Eita! Prisão VIP? Eu sabia, vocês são dos meus!
Jogam-no e trancam a porta.
– Aff! O lugar é melhor, mas tá faltando um torresminho com limão, né?
O carro parte e volta a parar a alguns metros.
– Cheguei à prefeitura!
A portinhola que separa o motorista do prisioneiro se abre, para o desespero de Tanaka, que grita:
– EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEITA! VOCÊ?
– Oi, prefeito! Tudo bom?
– Mas... mas... você... bem...
– Eu não morri não! Estou bem vivo! – revela-se Paineiras, com uma pistola 38 às mãos. – Hoje iremos brincar um pouquinho.
– Mas... mas como conseguiu?
– Foi tão fácil! Esqueceu-se de que ainda sou uma autoridade? Pedi a ajuda dos meus amigos e veja onde estou.
– O que pensa... digo, quanto quer para me deixar ir?
– Credo, prefeito! Querendo me comprar? Sou caro! Muito caro! Com certeza, não caibo em seu bolso!
– Pois vou entregá-lo, seu pedófilo de uma figa.
– Prove!
– Tenho um DVD contra você, assim que chegarmos à delegacia, vou contar tudo o que sei, será mulherzinha dos presos.
– Que DVD? Este? – mostra-lhe. – Credo! Quebrou! – parte-o em pedacinhos. – Esqueceu-se de fazer uma cópia? Tinha certeza! A soberba o cegou!
– Como o conseguiu? Seu... seu...
– Dona Adelaide é mais que uma secretária, é uma mulher de ouro, bastou uns beijinhos para que a bicha pegasse fogo. Não foi fácil, mas tô vivo! Vivinho da Silva!
– Dona Adelaide e você? Quem diria? E o que nascerá da mistura de um jumento com um tamanduá? Um “jumenduá” de bigode – não perde a piada.
– Infelizmente não saberá! Pois seu fim chegou!
–Não! Não! Não! Pense direito! Não! Giiiiiiiiiiiiiiilmaaaaaaaaaaaaaaaaar, cadê você, meu filho? Gilmar!!! Gilmaaaaar!!!
– Obrigado por tudo! – Alberto agradece Pietro, que o ajudou, após vê-lo ser atropelado.
Dois tiros são ouvidos.
– O que foi isso? – pergunta o jornalista.
– Devem ser as lâmpadas dos postes estourando, Tanaka deixou de pagar a concessionária há algum tempo, por isso os reparos preventivos na rede elétrica não estão sendo feitos.
– Cruel! Esse prefeito merece um fim daqueles.
– Com certeza! Nunca vi uma raposa como essa.
– O senhor está melhor? – pergunta Rubens, se aproximando. – Soube do atropelamento agora.
– Estou bem! Foram apenas alguns arranhões.
– Percebi que atravessou a rua sem observar os lados. Alguma coisa o perturba? – questiona Pietro.
– Sim! Tenho de vender tudo o que possuo o quanto antes, senão a candidatura de Zé dos Cobres poderá ser inviabilizada.
Conta-lhes toda a história.
– Nossa! E terá de dispor de todos os bens, se quiser mantê-lo candidato? – inquire o noticiarista.
– Isso mesmo!
– Deu na rádio agora que vários membros de seu partido foram presos, além dos urubus do Jornal “Tributo ao Povo” e do prefeito. Até Moacir, para minha surpresa, lá está, por uma infração menor... Coitado! – profere Rubens.
– Sim! Também fiquei sabendo, mas foi uma prisão tardia. Quando fui checar as contas do partido, notei que já tinham limpado tudo. Não temos um vintém. Como bancar esta campanha?
– O que Tobias e Júlio fizeram com o “Tributo” não tem perdão. Conseguiram transformar o jornal num inimigo do povo. Não cursei jornalismo para isso! Compactuar com o crime não faz parte de minha índole! Acho que agora Vila dos Princípios será uma cidade bem melhor, com esse bando de canalhas na cadeia. Mas, voltando ao seu caso, e se fizesse uma festa para arrecadar recursos? – sugere Pietro.
– Fecharam as portas para o Zé, porque ele tem origem na pobreza. Em pleno século XXI e ainda temos de conviver com o preconceito social, como se isso não fosse um crime.
– Talvez eu possa ajudá-lo!
– E o que propõe, doutor Rubens?
– Logo saberá!
– E dona Catharine? Está melhor? Fiquei sabendo que o marido dela perdeu a razão e que ela havia entrado em crise de novo, por isso voltei! – revela o jornalista.
– Voltou por isso? – estranha o médico.
– É... bem... – responde, com a face rosada.
– Vamos ver! Ela regressou ao C.T.I.
– E vai se salvar? – indaga, demonstrando uma inquietação incomum.
– Ela é forte! Os Arraias são fortes.
– Arraia? Não seria uma Dumont? – questiona-se Alberto.
– Ondi nóis tá? O avião vai caí!
– Calma, dona Josefa! Ainda não decolamos – diz o delegado Chico Santinho, o companheiro de viagem da mãe de Joaquim.
– Misericórdia! I isso ié siguro? – faz o sinal da cruz duas ou três vezes, com a santinha em mãos.
– Sim! Muito!
– Mais ieu ouvu muitu fala que essi trem vivi cainu.
– Exagero, dona Josefa! Aperte o cinto, o avião está decolando.
– Ai, ai, meu Deus, meu Deus, segura, segura, segura pião... Ahhhhhh!
Encerra com a música (Victory - Two Steps From Hell).
_______________
1. É considerado por muitos estudiosos o pioneiro no teatro de Portugal, sendo chamado de o ―Pai do teatro português. Ficou famoso pela obra ―A Farsa de Inês Pereira, e também foi autor de ―Auto da Barca do Inferno. As obras do poeta marcam a fase histórica da passagem da Idade Média para o Renascimento (século XVI).
A novela "Flor-de-Cera" é remake de "Venusa Dumont - da memória à ressurreição" de Carlos Mota
Grazi Massafera como Catharine Dumont
Thiago Lacerda como George Dumont
Ricardo Pereira como Joaquim
Elisa Lucinda como Ernestina
Carlos Takeshi como Tanaka Santuku
Miwa Yanagizawa como Houba Santuku
Jesus Luz como Pietro Ferrara
Lucinha Lins como Franceline Legrand Dumont
Lima Duarte como Dilermando Dumont
Herson Capri como Doutor Rubens Arraia
Tonico Pereira como Moacir
Werner Schünemann como Paineiras Ken
Rosi Campos como Adelaide
Humberto Martins como Alberto Médici
Cauã Reymond como Ricardo
César Troncoso como Zé dos Cobres
Ilva Niño como Josefa
Selton Mello como Zelão
Matheus Nachtergaele como Meia-noite
Caio Blat como Delegado de Vila Bonita
Caio Castro como Leandro
Alexandre Borges como Doutor Jaime
Caroline Dallarosa como Carmem
Fernanda Nobre como Stela
participação especial
Stênio Garcia como Doutor Lúcio
Drica Moraes como Desirê
Marco Nanini como Chico Santinho
atores convidados
Ary Fontoura como Doutor Tobias
Alexandre Nero como Júlio Avanzo
Elizangêla como Maria
a criança
Valentina Silva como Alana
trilha sonora
Lágrimas da Mãe do Mundo - Sagrado Coração da Terra (abertura)
Inútil - Ultraje a Rigor
Victory - Two Steps From Hell
desenhos
Andrea Mota
produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Copyright © 2021 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução
Comentários:
0 comentários: