Capítulo II – YELENA E CASIMIR
Yelena tinha pele alva e
cabelos castanho claros. Estava agora com quase 16 anos, mas sua rebeldia
começou a se manifestar bem mais cedo. Tinha formas pujantes, era objeto de
desejo dos camponeses, mas não comungava da popularidade de sua mãe no
vilarejo. Ao contrário, era vista como muito arisca, por apreciar mais a
solidão das matas à companhia humana.
Por mais que Ragana
tentasse, dizendo-lhe ser este o seu futuro ganha-pão, não se interessava em aprender
os segredos das ervas medicinais. No fundo sabia como havia sido concebida e
isso a revoltava, apesar de admirar a sabedoria da mãe.
─
Minha mãe, para que ajudar esse miseráveis? Só querem nossa carne... veja o que
te aconteceu. Ainda hei de me vingar; a senhora verá!
Foi então vista com
surpresa por Ragana, a aproximação de sua filha rebelde a um forasteiro
recentemente chegado a Brownski. Naquela época os estrangeiros não eram
bem-vindos. Sabe-se lá o que traziam de ruim em suas mentes e corpos nômades,
sem raízes a lhe dar algum limite.
Seu nome era Casimir, e
seus 20 anos eram traídos por um par de olhos muito castanhos, a emanar uma
malévola sabedoria, não condizente com sua tão pouca idade.
─
O que viste neste forasteiro Yelena? Logo tu, sempre a desprezar os homens? O
que fazes todas as tardes, quando te procuro? Pensas que não a vi correr pelas
pradarias e penetrar nas matas com este estranho?
─
Minha mãe, não vês? Pela primeira vez estou feliz! Casimir é tão... tão...
sábio e misterioso! Nada tens a temer. Ele é fervoroso em suas crenças e tem me
ensinado muito mais nestas poucas semanas do que aprendi em toda a minha vida.
Ragana não costumava se
enganar. Aprendera com seus antepassados os segredos da floresta e não confiava
em outro tipo de ensinamento. O que um forasteiro como Casimir poderia ensinar
à sua filha, mais do que ela própria?
Resolveu sorrateiramente
espionar o quarto da taverna onde o mancebo se hospedava, situada numa viela
suja, em meio a prostíbulos. Como curandeira do povoado, conhecia os atalhos e
como subornar os taverneiros.
─
Escute Anninka, te dou duas moedas de prata se me deixares vasculhar o quarto
deste forasteiro de nome Casimir.
─
Ragana, Ragana, o que fazes aqui? Nem precisas dizer. Todos já estão a
comentar. Yelena anda bem mais alegre..."
─
Cala-te, tua meretriz. Bem sei do que gostas!
─
Mas o rapazola é até bem apresentável, ora se é! Bem... por duas moedas, podes
ficar por todo o período da tarde. Ele costuma retornar só depois da
meia-noite.
Ao entrar no cômodo mal
iluminado pelas velas de sebo, sentiu o mesmo cheiro, antes percebido no
estranho viajante. Não se originava dos archotes, os quais exalavam um outro
aroma rançoso. Não precisou de muito tempo para encontrar o que mais temia:
sobre a mesa de canto, um pequeno cajado, um crânio humano, talismãs e um
amontoado de pergaminhos de pele de cabra costurados entre si, repletos de
linhas traçadas num idioma desconhecido, entremeadas por desenhos de
pentagramas e seres bestiais; um grimório!
Ragana com
angústia confirmou, então, seus temores, desde o primeiro dia em que percebeu
um sexto dedo preso à mão esquerda de Casimir. A profundidade daquele olhos já
lhe havia dito: estava diante de um mago.
Os assim chamados magos,
feiticeiros, druidas ou bruxos se caracterizavam por apresentar alguma marca
corporal de nascença. Os raros representantes da casta eram resultado da
conjunção carnal entre um demônio e uma humana, geralmente por estupro.
Possuíam capacidades mágicas poderosas e sua imortalidade muitas vezes era
camuflada por uma aparência jovial, uma vez que à certa altura paravam de
envelhecer. Mas, em meio ao misticismo e poder, carregavam uma fraqueza intrínseca:
eram estéreis e necessitavam conjurar seus demônios, no intuito de preservar
sua espécie.
─
Maldito seja, ó ser das trevas! ─ Ragana perambulava aflita pela clareira em torno
da choupana que habitava ─ para onde levaste minha criança?
Desde que voltara da
estalagem, Yelena sumira. Um dia e uma manhã inteiros. A pobre mulher se
desesperava. Suas ervas agora de nada valiam; temia mais que nunca o poder
sedutor daquele bruxo.
Max Rocha
Elenco
Direção
Carlos Mota
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
Copyright © 2022 - WebTV
www.redewtv.com
Comentários:
0 comentários: