5x02 - A Estrela de Natal
de Jacqueline Quinhões da Luz
Bia
sempre ficava encantada quando ouvia as histórias de Natal que sua avó lhe contava,
principalmente as que falavam sobre a estrela de Natal. Esperava ansiosa pelo
início de dezembro,
quando então, sua
vozinha começava os contos. Tinha sempre um conto para cada dia, do início de dezembro até o dia de Natal.
Toda noite antes de dormir,
às duas iam para o quarto e
embarcavam nessa aventura natalina.
Sua avó lia as histórias de
uns escritos que guardava em um caderno que só ela mexia. Não tinham desenhos,
mas eram tão bem contadas pela avó, que Bia imaginava toda a cena, nem precisava de
ilustrações.
Tudo
que envolvia Natal era curtido por sua família, todos se envolviam muito. A
casa era decorada e iluminada. Colocar no topo da árvore a estrela de Natal era
a parte que Bia mais amava. Ela dizia que tudo se iluminava, somente quando
isso acontecia o espírito de Natal estava presente.
Bia
acreditava que a estrela de Natal guiava os seres humanos sempre em direção ao
novo, ao renascimento, que iluminava a vida de todos mostrando o melhor
caminho, as melhores escolhas e decisões, por isso era tão importante.
Sempre que o céu estava limpo, à noite, ficava um
bom tempo sentada
no banco olhando à
espera de uma
estrela especial, daquela que as pessoas costumam fazer pedidos e quando conseguia
ver uma, entrava feliz da vida. Sua mãe até brincava dizendo que quando
crescer, Bia iria ser astrônoma, mas esse não era seu sonho. A menina desejava
ser escritora.
Poucos
dias para o Natal, Bia passava pela sala e ouviu no noticiário que um fenômeno
iria acontecer aquela noite. Fenômeno esse que havia acontecido há pelo menos
300 anos e que só
voltaria acontecer no ano de 2080. Quando ouviu o nome do tal fenômeno, Bia
sentiu o coração acelerar, pois
era o alinhamento de dois planetas cujo encontro dava origem “ à estrela de Natal”.
Correu e foi contar para sua avó
a novidade.
O
mundo passava por momentos difíceis. Nos noticiários só se ouviam falar em
desmatamento, violência, doenças, falta de amor e, essa notícia, para Bia era como se sinalizasse
um novo tempo, uma nova oportunidade de recomeçar de forma certa. Sua avó amava esse jeito
sonhador da neta, essa capacidade de acreditar que o mundo tinha jeito e que as
pessoas podiam mudar.
—
Olha, tudo vai
melhorar vozinha. A
estrela de Natal vai nos mostrar a direção certa, exatamente como nas histórias
de Natal que você conta.
Sua
mãe ficava preocupada, temia que a menina acabasse se decepcionando, pois depositava muita fé nas
pessoas, mas não tinha como evitar. A cada conto ouvido Bia se enchia de
esperança de um mundo melhor e a amizade de neta e avó se fortalecia lindamente. Um lindo
encontro de gerações.
No
horário marcado para a estrela de Natal ser vista, lá estavam Bia e sua avó no pátio olhando
atentamente o céu, mas estava encoberto, nublado e infelizmente não foi
possível contemplar o fenômeno tão esperado. Teriam que se contentar em ver
pela TV mesmo. As
duas entraram sem
graça.
A
avó de Bia notou o
quanto a netinha havia ficado triste por não ter visto a estrela. Pegou de sua caixinha de joias um lindo broche no
formato de uma estrela que havia ganhado de seu marido quando a mãe de Bia nasceu. Ele era
pequeno, mas muito brilhante. Foi até o quarto e colocou na mão da menina
dizendo:
—
Bia, essa será nossa estrela de Natal, guarde sempre com você, pois ela pode ser
pequena, mas sua força e poder são imensos, é tão mágica que cabe na palma da
mão, é tão importante quanto
a que não conseguimos ver,
pois a magia está em acreditarmos juntas, minha querida.
Bia
ficou sem palavras de tão encantada com o que havia ganhado. Olhou com ternura para sua vozinha.
Quanta doçura cabia em
um ser tão frágil pelo tempo. A avó satisfeita já ia saindo do quarto, quando disse:
— Minha netinha, mesmo
quando eu não estiver mais aqui, lembre-se sempre desse momento.
—
Como assim, vó?
Você sempre estará comigo! Nunca sairei de perto de você.
—
Bia, um dia todos nós viramos uma estrela, ganhamos o universo como prêmio por
uma longa jornada de luta.
A
menina ficou pensando no que a avó lhe disse. “ Virar uma estrela...ganhar o universo.
—
Mas como assim? — se perguntava Bia.
Bia
nunca tinha perdido
ninguém. Quando nasceu, seu avô já tinha partido e os outros avós ela quase não tinha contato,
coisas de família. Sentiu um arrepio só de imaginar ficar sem sua vozinha, sua
companheira de aventuras e fantasias. Uma lágrima correu pelo seu rosto e em
meio a tantos pensamentos adormeceu, agarrada em sua estrela de Natal.
Ao
amanhecer, notou um certo silêncio na casa, parecia deserta. Não havia cheiro
de café pelo ar, nem a música antiga que tocava no rádio ouvida pela avó. Olhou o relógio e viu que já era tarde, dormiu demais e ninguém a
havia acordado. Trocou-se e foi ver o que estava acontecendo. Quando passava
pelo quarto de seus pais, viu sua mãe chorando e sendo consolada pela sua tia.
Entrou e diante de sua mãe perguntou o que tinha acontecido. Bia recebeu a pior
notícia de sua vida. Durante a noite, sua vozinha havia se sentido mal e foi
levada para o hospital, porém não resistiu e virou uma estrelinha. Bia saiu
correndo e foi até seu quarto, pegou o broche que ganhou da avó e ficou olhando, sem
saber o que pensar. Lembrou-se
do que tinha dito sua avó na
noite anterior. -”Ganhamos
o universo depois de uma longa jornada de luta.”
— Vozinha, você ganhou o universo! Agora é uma
linda estrela e das que brilham muito, tanto quanto esse broche que me deu.
Tão pequena, mas de uma força tão grande. Bia
não largou em nenhum momento a estrela que ganhou de sua avó. Acreditava que lhe daria forças para enfrentar
aquele difícil momento e assim foi. Lembrou-se que a magia estava em acreditar
e ela acreditava.
Aquela noite não teve o conto de Natal. Bia foi
dormir cedo, queria esquecer aquele dia.
No dia seguinte, véspera de Natal, a casa não
tinha a alegria que normalmente teria. Não havia o cheiro do delicioso peru
sendo assado e nem as canções natalinas, mas estava silenciosamente triste. Nem
parecia estarem
próximos da noite de Natal. Bia sentiu-se triste. Pegou o broche de estrela na
mão e colocou no bolso, iria precisar da força e magia dele naquele dia também.
Quando passava pelo quarto de sua mãe, viu que estava sentada na cama chorando.
Bia entrou, abraçou com força e colocou em sua mão o broche ganho de sua avó e disse:
— Hoje ele vai ficar com você mãezinha e vai te
dar forças, pois ele é mágico. A vovó me deu e disse que ganhou do seu pai
quando você nasceu. Ele é muito poderoso.
A mãe não acreditava no que ouvia, estava sendo
consolada por uma menina tão pequena.
— Minha filha, você tão pequena e tão forte, eu
que devia estar te consolando.
— Mãe, a vovó me ensinou que a força e a magia não dependem do tamanho,
mas do quanto acreditamos nela. Se acreditarmos juntas, então assim será.
Mãe e filha se abraçaram fortemente. A mãe olhou
para a menina e falou:
— Nós não estamos com alegria para festejar
nada, mas podemos sim, preparar algo gostoso para comermos, penso que a vovó gostaria
que fizéssemos isso, que tal?
A menina aceitou e desceram rumo à cozinha. Começaram com um bolo de
Natal e o pai foi até o mercado e comprou um peru. Seria o suficiente para que
o Natal não passasse em branco. E foi assim que fizeram a ceia daquela noite
normalmente chamada de feliz, mas que escondia desta vez uma tristeza profunda.
A mãe entregou para Bia os presentes que já
tinham embrulhado e
entre eles havia um caderno. O caderno de sua avó. Bia abriu e lá tinham os contos lindos que
ouvira da vozinha, inclusive os que ela não conseguiu ler e o último do dia de
Natal.
Esse era o melhor presente que podia ter ganho e
ainda tinham muitas páginas para escrever novos contos. Bia lembrou-se do que queria ser quando
crescer. Estava decidida, daria continuidade ao que sua avó começou e escreveria lindos contos de
Natal para que a magia dessa época fosse espalhada pelo mundo e levasse a todos
um pouquinho da doçura da avó.
Quando terminou de ler o conto daquela noite, no final dizia:
— Vá até o jardim Bia.
Sem muito pensar a menina correu até o jardim,
no fundo, tinha a esperança de lá encontrar sua vozinha, mas não havia ninguém.
Sentou-se no banco e ficou olhando para o céu e nesse instante, viu uma linda
estrela percorrer o céu, tão brilhante e linda quanto a estrela de Natal
esperada por ela e sua avó
e nem precisou esperar tantos anos para ver. Sua avó quando escreveu o último conto parecia saber o
que iria acontecer, de alguma forma sentiu.
Aquela noite tinha sido mágica, triste, porém mágica.
Bia tinha uma única certeza, sua vó agora era uma estrela, tinha ganho o
universo como prêmio por sua linda jornada. Sua vozinha tinha se transformado
numa linda, mágica e brilhante estrela de Natal e sempre iria lhe mostrar a direção certa a seguir,
e ela acreditava nisso.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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Lindo, lindo texto! Parabéns!
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