Boletim Virtual 11x01: Entrevista com João Sane Malagutti no Diário do Autor - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

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Boletim Virtual 11x01: Entrevista com João Sane Malagutti no Diário do Autor

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NA EDIÇÃO DE HOJE DO BOLETIM VIRTUAL:

- Quando recebi a carta timbrada da emissora notificando o recebimento da obra eu tremia muito, pois, mesmo querendo muito, jamais achei que leriam, diz João Sane Malagutti no Diário do Autor
- As últimas notícias no Giro Virtual com Ritinha
- 
Carmem da Widcyber é o alvo da vez da Visão Crítica
- A Tridimensionalidade da Personagem no Entrelinhas com Hans Kaupfmann.



  BOLETIM VIRTUAL - 11x01
 (SEXTA, 30 DE DEZEMBRO DE 2022)

Sejam bem-vindos a 11ª temporada do BV.
 


A TRIDIMESIONALIDADE DA PERSONAGEM - por HANS KAUPFMANN 

Tentando me lembrar de algum filme onde não haviam pessoas envolvidas, só consegui me lembrar de KOYANISQUATZI da década de 80, que tentava contar uma história pela ausência da humanidade. Mesmo assim as pessoas vão aparecendo quando o fim do filme se aproxima, mas não como personas e sim como um evento feito a chuva ou uma erupção vulcânica.

Wall-e de alguma forma até a sua metade também explorou essa ideia, mas como toda animação havia uma história a ser contada, humanizando uma não humano.

O que eu quero dizer que pessoas procuram numa obra a personificação das coisas. Um espelho. Alguém que ela possa entender suas motivações e sua personalidade, para decidir se empatizar com ela ou não. Lembrando que EMPATIA é diferente de SIMPATIA. Podemos ter um sentimento positivo com uma personagem que toma atitudes completamente diferente do que a gente faria, mas por algum motivo exposto, podemos nos identificar com elas.

Ao mesmo tempo podemos ter uma desconfiança ou repulsa de personagens que aparentemente nada tem de errado, a não ser uma aura sufocante de perfeição. Mas o que acaba pessoalmente me desanimando a ler uma obra é o ESTERIÓTIPO. Personagens óbvios e bidimensionais. O antagonista mau por ser mau e ou protagonista bom por ser bom. Para um entretenimento raso eles são perfeitos, mas cansativos, por que sabemos que na vida real as pessoas são mais complexas e não bonecos que participam de uma trama e não conseguem ser mais do que se espera.

A dica é procurar em cada personagem que criar, do protagonista ao coadjuvante, pessoas verdadeiras: que amam, sofrem, tem culpas e honras, vícios e altruísmos, sonhos e decepções. Mesmo sem explorar a todos com o mesmo peso, de uma chance para que todos possam participar com mais lados que se espera.



CARMEM DA WIDCYBER É O ALVO DA VEZ DA "VISÃO CRÍTICA" - por MARCELO DELPKIN

MARCELO DELPKIN: Olá, queridos leitores! Abril foi um mês mais festeiro que o de costume, já que o Carnaval — pelo menos em algumas regiões do Brasil — veio juntinho com a Páscoa. Aqui no Rio de Janeiro, tem também o dia de São Jorge, muito apreciado por religiosos de diversas manifestações. Aliás, misticismo é o que não falta na história de hoje. 



 

Alessandro Fonseca, conhecido na literatura digital por obras como Hotel Cassindrina e Dias de Dezembro, está de volta na Widcyber com a série Carmem. Baseada na novela homônima dos anos 80 escrita por Glória Perez e, por consequência, na clássica ópera de Georges Bizet. Com uma diferença: no lugar da afrontosa mocinha defendida por Lucélia Santos, um jovem tímido e inseguro que deseja se realizar no amor e ser cobiçado por todos os homens. Tudo isso, claro, com a ajuda da pomba gira e do espírito da cigana da ópera. Promete!

 


 

Vamos aos destaques dos dois primeiros episódios. No prólogo, um soldado do império brasileiro mata uma bela cigana sem saber que ela era então a protegida das entidades ligadas a Carmem. Resultado: céu e terra se revoltam e causam o extermínio de todo o exército. Por fim, surge a própria Carmem e termina de eliminar o assassino. O punhal dela atravessa a armadura e atinge-o no coração. Acharam essa cena forte? Foi só a primeira. 

O tempo passa até a atualidade. Gabriel é um jovem nerd apaixonado pelo popular, heterossexual e atraente Hugo. Mesmo depois de sofrer um grave acidente de carro após uma “brincadeira” e quase perder a vida, Gabriel tenta negar que ainda o quer. Hugo se sente responsável e muda para melhor após se dedicar aos cuidados do outro. Só um porém: quer acelerar a relação e transar com o namorado, que ainda está inseguro com o passo que vai dar. Com isso, o rompimento é inevitável. Em seguida, o protagonista para em frente a uma loja de roupas e fica “namorando” um vestido vermelho-escarlate, um par de sapatos e um kit de perfumes. A vendedora percebe e o incentiva a experimentar os itens no provador. Ela se impressiona com o que vê e inscreve Gabriel num concurso no qual pode ganhar esses produtos. E não é que ele vence mesmo? 



Ao voltar pra casa, uma amostra da realidade difícil do rapaz. Ele vive com o irmão e com a mãe. Esta, uma fulana tóxica e narcisista que culpa o mocinho de todo mal que ela vive, inclusive com o casamento fracassado e já terminado. Profere palavras cruéis contra o filho. Gabriel foge pela janela do quarto de Lucas, o irmão, e corre em direção à Floresta Suicida, lugar sombrio cujo nome dá uma ideia do que costuma acontecer ali. Bem na hora em que o adolescente agoniza com a corda no pescoço, surge a pomba gira, que diz ser ele o novo “cavalo” a concluir o pacto de Carmem. A entidade abençoa Gabriel, que logo se levanta e se recupera do que tentara fazer. Lucas aparece assim que a pomba gira se vai e salva o irmão. Em casa, Carmem se apossa do novo corpo e ameaça a mãe dos meninos, dizendo que ninguém mais toca em Gabriel. Na última cena, o médico Homaxley encaminha o mocinho para uma psiquiatra, Paula. 

No segundo episódio, Gabriel recebe a visita da entidade Zé Pelintra, que o convida para ir ao bar à meia-noite. Lá, cantor e convidados brindavam à entidade e dançavam. Quando Zé vê Gabriel e tenta seduzi-lo, eis que surge Carmem no corpo do protagonista. Ela é levada ao terreiro da pomba gira. Gabriel volta a si, e a mãe de santo explica a ele sobre os principais orixás, como Oxum. Depois da sessão de acolhimento, o jovem volta para casa como se nada tivesse acontecido.

 

 

Alessandro Fonseca faz uma apresentação simples, porém eficiente e sem muitos preciosismos, dos personagens principais; distribui aos poucos as características de Gabriel, Carmem e sua turma. Os diálogos também são importantes nessa função, especialmente no que tange à crueldade e ao egoísmo da mãe — dá vontade de “cancelar” essa mulher — e à proteção oferecida por Lucas. O autor também detalha os elementos relacionados às religiões de origem africana, como o candomblé e a umbanda, de modo a contextualizar os leitores que não tem intimidade com elas. O poder de Carmem; o charme de Zé Pelintra. Ponto cheio! 

Aliás, os personagens têm doses humanas e podem ser vistos no dia a dia, nas ruas, na escola, na faculdade, no hospital e nas redes sociais. As entidades também parecem estar entre o concreto e o místico. Por outro lado, há situações que podem parecer irreais e inverossímeis, como a cena de Gabriel “namorando” o figurino de Carmem na loja, mas que dão beleza à ficção elaborada por Alessandro. A sequência do protagonista com a vendedora é um exemplo bonito de inclusão e de aceitação das diferenças sem que pareça forçado ou lacrador. 

 

O conflito da história: por que um adolescente inseguro precisa ser incorporado por entidades para se tornar incrivelmente atraente e desafiador, dono de si e dos outros. Isso é abordado nos dois primeiros capítulos e desenvolvido com calma no decorrer da trama. Não há pressa na forma de o autor contar o enredo, e ele opta por essa forma mais literária do que televisionada. Gosto assim. 

É verdade que há algumas inadequações gramaticais, como no uso da vírgula. Por exemplo: em “Filha de pombo gira, é filha das ruas, das estradas., não deveria haver pontuação entre o sujeito e o predicado. Ficaria melhor assim: “Filha de pomba gira é filha das ruas, das estradas.”. Também ocorrem problemas na escrita de algumas palavras. Nada que comprometa a leitura, obviamente, mas que uma revisão a mais pode contornar e deixar o texto ainda mais belo e exuberante... como Carmem merece.

 

 

Nos episódios seguintes, Gabriel/Carmem entra em ação e passa a deixar os homens loucos de desejo por ele/ela: Hugo, o médico Homaxley  e outros personagens mais a serem apresentados. Como será que terminará o mocinho tímido que se “solta” quando incorporado e que causará a perdição de muita gente? Mistério!!! Para saberem, só lendo os episódios na Widcyber. 

Espero vocês na próxima edição do Boletim Virtual com mais uma resenha. Até a próxima!



FIQUE POR DENTRO DAS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO MV - por RITINHA

RITINHA:
 
Oie, meninas e meninos. A titia Ritinha tá ansiosa pra contar os baphoes do MV. Vem comigo, vem vem, Gigi.





TERCEIRA

Marcinha, sua linda, a WebTV estreou no dia 13 de dezembro, a terceira série de Crônicas do Despertar. Com o subtítulo "Invasão", usar a magia não será o suficiente para proteger a humanidade de raças alienígenas. Os dois  primeiros episódios já estão disponíveis e você confere clicando aqui ó. É facinho, clicou, leu.




VEM AÍ

Bete, a WebTV já concluiu o formulário e, em janeiro, vai liberar as inscrições do Troféu Mundo Virtual 2022. #JáToAnsiosa


BASTIDORES

Na edição anterior, eu contei com exclusividade que a novela "Você e Eu" vai substituir "Flor-de-Cera" em janeiro no "Vale a Pena Ler de Novo". Menina, internamente 4 produções foram cogitadas, eu tive acesso e vou contar hihihihi. A primeira novela foi "Ana da Vila" de Lorena Santos, a segunda "Palavra de Mulher" de Ramon Fernandes, a terceira "A Prometida" de Fran Vicentini e a novela que ganhou sinal verde foi "Você e Eu", também escrita por Franzinha. As chamadas já estão no ar.


NOVO PROJETO

Sofia, a OnTV está em busca de histórias de super-heróis escritas em roteiro ou literário. Podem ser histórias originais ou baseadas em personagens que fazem parte do mainstream. Você tem alguma história? Clica aqui e faça já a sua inscrição, menina.



MARATONA I

Bárbara, o Misturama e o Boletim Virtual entraram em maratona essa semana. Foram exibidos 3 episódios do Misturama (nos dias 28, 29 e 30) e 3 edições do Boletim Virtual (nos dias 28, 29 e 30). Amanhã, dia 31, vai ao ar mais um episódio do Misturama.



MARATONA II

O BV e o Misturama foram renovados. A 11ª temporada do BV começou hoje, dia 30, e a 10ª temporada do Misturama começa amanhã, dia 31.



BATE-REBATE

• Substituindo "Funerária Dois Irmãos", a novela literária "Estrada 34", de Isa Nota, estreou no dia 13 de dezembro na WebTV.
• A série "Cidade sem Lei" e a novela "Segunda Família" estão em exibição na OnTV, que retornou do hiatus neste semestre.
• O "Game Virtual" foi renovado para a terceira temporada e, em breve, começam as gravações com o Gabito...
• ...a produção vai agilizar as gravações, possibilitando que a temporada seja levada ao ar com todos os episódios gravados e editados.
• A Retrospectiva Mundo Virtual com o resumão do ano vai ao ar no dia 31 de dezembro.





RITINHA: Beijinhos de luz, amores. Feliz 2023. Comam muito, aproveitem a virada de ano. Nos vemos ano que vem.



 


QUANDO RECEBI A CARTA TIMBRADA DA EMISSORA NOTIFICANDO O RECEBIMENTO DA OBRA EU TREMIA MUITO, POIS, MESMO QUERENDO MUITO, JAMAIS ACHEI QUE LERIAM, diz JOÃO SANE MALAGUTTI

Ele mora em Monte Azul Paulista, em São Paulo. Os pais de João Sane Malagutti são atores e diretores tanto para teatro e cinema e, desde cedo, Sane foi apresentado para a escrita e estimulado pelos avós e tios, tendo ganho um dicionário de presente ainda criança. Foi alfabetizado em casa pelos familiares antes mesmo de entrar no grupo escolar e já lia fluentemente quando ingressou no primeiro ano. Foi incentivado pela avó a redigir em uma máquina de datilografia.

Aos 15, escreveu um roteiro infantil de fantasia inspirado na cultura oriental e enviou à TV Cultura, recebendo um agradecimento pelo seu interesse na emissora pela diretora geral, Beth Carmona. Dois anos depois, enviou a sinopse adaptada de seu próprio conto "Coração de Leviatã" (publicado na antologia “Grandes Escritores de São Paulo”) à TV Record, mas, o feedback não foi positivo, já que a emissora não estava interessada em avaliar obras com formatos de épocas. A Record fazia um trabalho de curtas com Atílio Ricó.

Em 1997, nos rumos finais de sua telenovela do horário principal, a TV Manchete, sob a direção de Walter Avancini (In Memorian), anuncia a procura de uma substituta para Xica da Silva. Procuravam por um perfil regionalista e que envolvesse o cangaço. O tema lhe era peculiar e, Sane, vendo a possibilidade, escreveu a novela "Amor e Fogo" inspirado nos “causos” contados por sua tia Genoveva Ferreira que fantasiava ser descendente de Lampião. Para sua surpresa teve retorno de Avancini por telefone, mas a inexperiência juvenil não lhe permitiu seguir adiante.

Sane enveredou-se no jornalismo amadoramente no ano seguinte e iniciou a faculdade de comunicação social, sua área de trabalho há 25 anos. Fez cursos como roteirista, estudos dramatúrgicos, fotografia, cenografia e figurino, criou peças teatrais que rodaram pelo interior de São Paulo e participou de oficinas de cinema.

Em 2008, numa oficina de cinema tem a sua sinopse inspirada do conto Homem de Areia, de Hoffman, e o curta foi rodado na cidade de Monte Azul Paulista (cidade em que reside). O curta concorreu ao prêmio de melhor fotografia no “ABC de Cinema” e foi exposto em grandes festivais de cinema no Maranhão e Rio Grande do Sul.

Parou por um tempo por causa da faculdade de Psicologia, área em que também atua. Retornou ao universo dos roteiros por convite do amigo da esfera do carnaval virtual, Carlos Lira, que o convidou a escrever com ele para o Mundo Virtual. Da parceria nasceu "Cálice de Sangue", em 2017 no Megapro. No ano seguinte, aproveitando um período de menos correria profissional, lançou no Megapro a minissérie "Amarga Sedução". Após assumir em São Paulo (Capital) alguns trabalhos com escolas de samba da União das Escolas de Samba Paulistanas, engavetou alguns projetos dramatúrgicos. Sane, seja bem-vindo ao Diário do Autor.



JOÃO SANE MALAGUTTI: Obrigado. Sinto-me lisonjeado em participar deste bate-papo.

GABO: O apoio da família é fundamental para o crescimento profissional. Desde cedo você contou com a parceria de seus pais nos projetos voltados à escrita. João, como você define esse momento em sua vida?

JOÃO: Este momento é igual a todos os outros da minha vida. A família é a base de tudo. E, desde sempre me apoiaram e incentivaram e continuam fazendo isso na medida do possível, mesmo apesar de estarem mais idosos e a energia não estar tão disponível assim.  A minha mãe é uma das maiores críticas de tudo o que faço. Como uma boa diretora, nunca deixa de abrir diálogos me instigando a pensar mais e como tarefa, convencê-la do que o que estou fazendo é o melhor caminho. Quando elimino todos os “poréns” nos diálogos ela se cala e sorri de canto de boca, me olhando daquela forma “é sobre isso”. Daí tenho a certeza que acertei a mão no que faço.

GABO: Analisando a experiência de escrever e enviar os projetos para a TV Cultura e Manchete, conte um pouco sobre os bastidores desse episódio em sua trajetória.

JOÃO: Gosto de fantasiar. Sempre li muito e nas obras que li, a realidade eram duras demais. Me faziam chorar, mexiam com o meu emocional a ponto de me fazer ficar nervoso, ansioso ou até mesmo torcer ou odiar personagens. Contudo, na minha educação, sempre avaliamos outros lados e buscamos resiliência em tudo. Quando escrevi para a sinopse de uma microssérie baseada no zodíaco e associado à cultura japonesa que foge do monoteísmo, procurei trazer consequências de questões cósmicas e espirituais. Para mim, baseada na programação da TV Cultura, achei que era o único espaço televisivo para isso. Na época, produtoras independentes não eram tão difundidas, então, para mim, o que eu gostava de fazer e criar estava restrito na TV brasileira ainda. Já para a TV Manchete juntei alguns interesses. Ouvia sempre histórias de cangaceiros por parte de minha tia avó Genoveva Ela contava as coisas com muito requinte e detalhes, até mesmo nos crimes e crueldades. Trazia nomes históricos de governadores, delegados e coronéis, pessoas que realmente existiam nos livros de História. Tudo isso foi muito rico e me inspirou a escrever. Creio que isso deva ter chamado a atenção do diretor. Porém, eu ainda era um menino. Também não tinha registrado a novela e, obviamente, a emissora não iria se arriscar num momento delicado como ao qual viviam na época dando espaço a um novato. Algumas conversas ainda se desenrolaram, mas, foi isso, não aconteceu. A sucessora de Xica da Silva foi Mandacaru, escrita por Carlos Alberto Raton e seus colaboradores.

GABO: O feedback é muito importante para o desenvolvimento do autor. Em 1997, você enviou a proposta da novela "Amor e Fogo" para a Tv Manchete. Como surgiu a história e como foi ter recebido o retorno por telefone pelo autor e diretor Walter Avancini?

JOÃO: Como disse, ouvia sempre histórias de cangaceiros por parte de minha tia avó Genoveva que, por ter o sobrenome Ferreira, sempre fantasiava que éramos descendentes de Virgulino ferreira, o Lampião e, ela contava histórias e mais histórias com muita vivacidade sobre os romances, crimes, o bem, o mal, o que era certo e errado, o julgamento de Deus perante os atos humanos. Era uma senhora contadora com grande qualidade de narração. Cantava algumas cantigas do cancioneiro popular. Às vezes fazia isso me empurrando num balanço debaixo do pé de “Fruta do Conde” no quintal de sua casa. Contava dos costumes dos coronéis desejarem as prostitutas invés de suas senhoras, do assédio sexual na adolescência e de sexo sem consentimento fazendo com que as mulheres deixassem de ser donzelas. Ela me colocava de frente com um universo machista e opressor. Às vezes eu achava que ela falava da infelicidade do próprio casamento. Daí é outra história! Falava como nos contos de fadas, que muitas encontravam o amor na sela dos cavalos dos justiceiros do sertão. Ela contava as coisas com muito requinte e detalhes, até mesmo nos crimes e crueldades. trazia nomes históricos, governadores, delegados e coronéis que realmente existiam nos livros. Tudo isso foi muito rico e deu uma senhora sinopse. Quando recebi a carta timbrada da emissora notificando o recebimento da obra eu tremia muito, pois, mesmo querendo muito, jamais achei que leriam. Depois liguei algumas vezes para saber o que acharam, mas, não conseguia falar com o responsável. A resposta era que o “Sr. Avancini está em reunião”. Depois da carta, eu queria a certeza direto da fonte. Sempre fui de querer saber o que pensa direto da boca da pessoa. Lembro que era um sábado de manhã, por volta das 9 horas e o telefone tocou. A secretária pediu “um momento” e logo depois veio uma voz com timbre firme: “Sr. João, Avancini falando, soube que queria conversar comigo”. Desenrolamos alguns minutos de conversas. Ele teceu alguns elogios e outras críticas e solicitou algumas mudanças na minha narrativa. Passei dias em êxtase. Continuei escrevendo cedendo às mudanças e enviei cinco capítulos. Conversamos mais algumas vezes. O ponto é que não fluiu. Fiquei desgostoso, peguei o sonho e engavetei. Fui pro jornalismo.

GABO: Quais autores você usa como referência? Qual é a sua fonte de inspiração?

JOÃO: Não sei se diria autores como referência. Talvez obras… Meus amigos costumam brincar comigo dizendo que sou um carrossel. Uns dizem que oscilo minha narrativa de Dias Gomes ao lado conflituoso rotineiro de Janete Clair, outros dizem que vou de Benedito Ruy Barbosa à Aguinaldo Silva. Outros dizem que me planejo como Walcyr Carrasco. E eu digo que não é nada disso e nenhum deles. Eu sigo minha cabeça. Só isso. Quando cismo em contar uma história, a primeira coisa que penso é no roteiro antes mesmo da sinopse, e é um conjunto louco de emoções: o que quero despertar e como quero despertar; seja o amor, o ódio, o asco, a empatia, o choro, o sorriso e, lógico, tudo isso com muita descrição narrativa de cenografia e ação no roteiro. Penso no conjunto cenográfico/panorâmico. Isso me dá a base cultural e de pesquisa para as pessoas e suas características. Isso me dá as personagens e aí a história vai fluindo abertamente. Se eu tivesse que falar de influências, não diria sobre autores e sim, muito sobre diretores: Cacá Diegues e Luiz Fernando de Carvalho. Minhas obras partem da produção. Escrevo visualizando a cena e interpretando as personagens. Diálogos, até crianças escrevem nas folhas, mas, tirá-la dali e dar vida somente os grandes atores conseguem. Mas, para isso tem de rolar uma direção cultural, laboratório e pesquisa, se não, teríamos sempre um trabalho de quinta série.

GABO: João, qual foi a sua reação quando você descobriu o Mundo Virtual e o que mudou desde a sua chegada?

JOÃO: Conhecia o carnaval virtual. Então a primeira reação foi o preconceito, pois a vida real leva-se em conta coisas que no virtual não se leva. Por já ver isso no carnaval virtual, esperei e tive essa certeza, de encontrar pessoas completamente estereotipadas, egocêntricas e exageradas nas emoções. A primeira coisa que pensei foi: “se na folia virtual rola maior trelelê e diz-que-me-diz, o que dirá quando o negócio é mais dramatúrgico?”. Não minto que estava certo. O que mudou não foi o mundo virtual e acho que nem vai mudar muito porque a estrutura é presa em sinopse, roteiro e divulgação (e sempre será), o que mudou nisso tudo fui eu. Aprendi a relevar as coisas, brincar mais e ter tolerância. As pessoas não são iguais e temos que respeitar isso e seus espaços. A base de tudo é o respeito. Até mesmo para criticar ao outro e a si mesmo.

GABO: Como foi trabalhar em dose dupla com o autor Carlos Lira na novela "Cálice de Fogo"? Como era a divisão na jornada da escrita?




JOÃO: O Carlos foi um cavalheiro. Ele me deu o nome da novela: Cálice de Sangue e a vertente trágica da novela. Dialogamos sobre alguns fatos e personagens e eu tomei a frente. Ele trabalhava muito e estudava. Fui escrevendo a sinopse e em dois dias entreguei a ele com algumas mudanças. Pedi muito para que se mudasse o nome da novela de Cálice de Sangue para Tetembau. Na linguagem indígena Tetã+ Embau significava cidade vazia. Ele queria o nome Cálice de Sangue porque ele queria uma tragédia de sangue derramado e não aceitou a mudança. Para dar o título principal, dei a ele uma coadjuvante para o seu vilão Leofá, inventei Suméria, uma herdeira quimbundo que carregava um cálice de magia do qual enfeitiçou e matou acidentalmente a própria avó. Ela teve uma vida sofrida e escolheu se humilhar e se tornar capacho de seu algoz invés de morar no prostíbulo que lhe acolheu logo após a morte da avó. Essa sujeita ingrata e amarga virou as costas para as pessoas que a amaram e a salvaram. Somando isso ao Leofá, que era um ambicioso e invejoso, tivemos o plot da novela. Carlos adorou e decidimos transformá-la em uma novela de época iniciando 5 capítulos nos anos 60 e, depois, conduzindo no entorno de 94/95. Sobre a parceria, quase nem aconteceu. Carlos estava realmente entopetado de afazeres. Eu escrevia e mandava a ele para aprovação e correção ortográfica pois escrevia na pressa e muito rápido porque eu também tinha meus afazeres reais, depois ia para a exposição pública. Muitas vezes cabia a ele apenas a correção ortográfica, mas, de tão corrido que estava, não rolou. Acabei levando a história e fantasiei o quanto pude no realismo fantástico. No último capítulo a novela avançou para uma terceira e inesperada fase. Senti a necessidade de amarrar o título da cidade e seus personagens através da magia do objeto cálice. Trouxe nas cenas finais, de Quebec (Canadá) um herdeiro de Suméria e Leofá, para o local em que Tetembau fora submergida pela explosão de uma represa anos antes e, o único ser vivente nascido naquela cidade voltou por um chamado do além. Foi consumido pelas águas, encerrando o ciclo de Tetembau e a linhagem daqueles que roubaram as terras dos índios para erguer uma cidade. A última cena é um vale de girassóis renascendo.

GABO: Quais são os pontos positivos e negativos ao dividir a parceria de uma história?

JOÃO: O ponto negativo é a disponibilidade de agenda e muitas vezes os conflitos culturais de cada pessoa. Isso se supera com uma boa exposição. O ponto positivo é justamente a pesquisa em conjunto. O que dois olhos não percebem, quatro podem perceber.

GABO: Qual técnica você usa quando surge o bloqueio criativo? Durante a escrita você prefere o silêncio ou a trilha sonora te acompanha?

JOÃO: Até hoje não sofri de bloqueio criativo. Na realidade preciso me policiar demais porque as coisas fluem. Se deixar, incorre ao risco de perder a narrativa. Pois sou de abrir o notebook, sentir e escrever. Eu brinco que é quase uma psicografia. Às vezes, eu uso a trilha sonora como contingente da narrativa. Ela me ajuda a lembrar por qual motivo estou contando a história. Dentro de mim os personagens são tão vivos que sinto que podem tudo. Então o recurso musical e cênico me prendem à legitimidade da obra proposta.

GABO: Dos trabalhos já publicados, com qual personagem você se identifica? Quais características vocês têm em comum?

JOÃO: Todos. Saem todos de mim. As características positivas e negativas. Tudo é colhido nas relações que tenho em vida. Sou uma pessoa que guarda momentos, discursos e situações em mente. Eu processo as emoções e as coloco nas bocas das personagens… É algo muito doido, né?! Pois ao mesmo tempo em que se é esperançoso, mocinho, romântico, também se é o carrasco, o mau-caráter, a antítese. Acho que a escrita abre um canal com o inconsciente. Me conheço e me reconheço em cada um deles. A cada obra. Como diz Carl Gustav Jung, somos ambiguidade da coletividade, anima e animus.

GABO: No ramo da escrita, quais são os seus planos futuros como autor?

JOÃO: Pretendo, daqui a alguns anos, entrar definitivamente para o curso de cinema e me especializar e profissionalizar em roteiros. Por ora estou tentando terminar nos meus intervalos a obra “Olhos De Rio”. Ainda quero entregar no Mundo Virtual, a releitura de uma obra de Jorge Amado, a continuidade de Amarga Sedução - “Doce Vingança” e, uma trama inspirada no conflito bíblico de Caim e Abel, denominada Outro Eu, adaptado aos dias atuais e com conceito psicológicos/patológicos mentais pós-pandemia.

GABO: Quem é João Sane fora do Mundo Virtual?

JOÃO: Amante da família, de pessoas e suas manias, gosto de ajudar em causas sociais e me engajo em tudo. Sou compromissado até mesmo com as pequenas coisas. Gosto do meu espaço com meus pets. Sou um cara companheiro, fiel e amigo. Como diria a música: “Gosto do meu desarrumado”. 

GABO: João Sane, chegou a hora do nosso bate-bola. Jogo Rápido. Podemos começar?

JOÃO: Jogo mal para caramba, mas, bora pro gol.

BATE-BOLA:

ESCREVER: Vida!
CRÍTICA: Aprendizagem
CÁLICE DE SANGUE: Gostoso devaneio
AMARGA SEDUÇÃO: Maturidade social
CARLOS LIRA: Amigo! Padrinho!
ROTEIRO: Sou apaixonado!
LITERÁRIO: Quando quero me divertir… Escrever, escrever e escrever… Esse sou eu
MUNDO VIRTUAL: “Come frango e arrota perú”
FRASE: “Tudo posso n’Aquele que me fortalece”
JOÃO POR JOÃO: Crítico de si mesmo!

GABO: João, fica o espaço para suas considerações finais.

JOÃO: Antes de encerrar gostaria de explicar a minha visão sobre o mundo virtual. Falta no meio, maturidade para lidar com a aceitação do outro no que tange a questão produção de obras. Sejam nas literárias ou em roteiro. Temos pessoas com amplo conhecimento, de grande e verdadeiro potencial, mas, que não desenvolvem o que sabem, mas, acham que estão produzindo o “cream de la cream” e humilham os recém-chegados ao invés de estender a mão e colaborar para o crescimento. Pessoas que por tal empáfia, contaminam o meio, e até mesmo tolhem as novidades que estão por vir. O crescimento de um é uma valorização do meio para todos. Creio que ninguém nasce pronto. Vygotsky apontou ao ser humano que o desenvolvimento se dá através da proximidade do outro. Somos todos espelhos. Exemplos, lição e norte a seguir para alguém. É necessário mais humildade e acolhimento e menos provocações. É preciso mais união. O discernimento dos justos é que promove a melhoria do mundo que queremos. Seja no real ou virtual. É necessário mais união, mais debate, mais acolhimento crítico e menos stress com o que foi dito. Conflitar é evoluir. Brigar é retroceder. Desculpem-me os que pensam ao contrário. São livres para isso. Obrigado pelo espaço; agradeço a todos que acompanharam até aqui. Sucesso a todos em 2023!

GABO: Obrigado, João pela participação no Diário do Autor. O Boletim Virtual fica por aqui. Galera, feliz 2023, que todos os nossos sonhos se realizem. Boas festas e até o ano que vem. Um grande abraço virtual. Boa noite.


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Gabo

 equipe
Gabo
Hans Kaupfmann
Marcelo Delpkin
Ritinha

entrevista
João Sane Malagutti

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