CAPÍTULO 03
Duas horas. Foi o tempo que Lana
gastara revelando as fotos. Voltou à universidade em um táxi, e na entrada da
instituição, Maurício a esperava.
– Se demorasse mais um minuto, o
plano iria por água abaixo. – Maurício pegou as fotografias, observando uma a
uma. – Perfeito!
– E agora? – Lana indagava enquanto
dava quinze reais ao taxista. – A ladrazinha desconfiou de alguma coisa?
– Não. – Caminhou para dentro da
instituição. – Agora saia daqui antes que alguém nos veja juntos. O fim do
plano é por minha conta. – Seguiu para a sala diretiva.
***
Maurício bateu três vezes na porta da diretoria. Olívio tomava um café
enquanto lia uma revista sentado numa poltrona. Ao ouvir, fechou-a e colocou-a
sobre o assento.
– Maurício? – Olívio abrira a porta. – Pensei que já estivesse saído.
– Já teria saído se não tivessem me roubado. –Mentiu.
– Como assim? – Sentou-se na cadeira. – Roubaram o dinheiro que lhe dei?
– Houve uma palestra mais cedo. Deixei a mochila na mesa e quando os
alunos foram liberados, ela estava vazia!
- Você tem alguma suspeita? – Perguntou.
- Uma aluna minha conseguiu fotografar a delinquente. Tudo indica que se
trata da Fernanda Amorim. – Entregou o envelope com as fotos. – Gostaria que
tomasse as devidas providências.
- Claro. – Olívio depositou as fotos de volta ao envelope e o colocou em
uma gaveta. – Tratarei do assunto com urgência.
- Obrigado. – Maurício levantou-se e
pôs a mão na maçaneta. – Até mais.
***
Iolanda Cavalcanti – Trajando um vestido vermelho. - analisava um frasco
com um líquido incolor. Estava sentada a uma mesa de bar, na companhia de um
homem. Colocou-o em sua bolsa e pegou alguns maços de dinheiro.
– Tem certeza que vai funcionar? – Perguntou.
- É só colocar a droga desse líquido num suco, numa comida, num chá... A
pessoa morre em instantes. – O homem era careca, uma barriga avantajada, usava
uma bermuda cinza e uma regata branca.
- Sendo assim, aqui está a primeira parte. - Entregou os maços de
dinheiro. – Depois do enterro eu lhe recompenso.
- Esse não foi o combinado. Prometeu que me daria todo o dinheiro quando
entregasse a encomenda.
- Eu não prometi nada! – Começou a rir. – Agora anda. Sai daqui. Se
aquela velha doente morrer, o dinheiro entra na sua conta no mesmo dia. – Bebeu
a cerveja que estava no copo. – Vaza!
***
- Fernanda. Eu lhe chamei aqui por uma denúncia. – Olívio unia as mãos
uma à outra e as apoiava na mesa da diretoria.
- Denúncia? – Fernanda indagou. – Do que?
- Disseram-me que havia roubado um valor em dinheiro considerável de um
professor da universidade. É verdade?
- Não! – Fernanda segurava com força a sua bolsa.
- Tem certeza? – Espalhou as fotos sobre a mesa. – É você, não é?
- Não!
Olívio parou por um momento. Fuzilou Fernanda com os olhos e deu voltas
na sala, cercando-a. Percebeu que a mesma segurava uma bolsa de couro preta.
Sentou-se ao seu lado e arrancou de seus braços.
- Ei! Você não pode fazer isso!
Olívio levantou-se. Abriu a bolsa e colocou sobre a mesa alguns livros e
cadernos. Por fim, a balançou e caíram por volta de dez maços de dinheiro.
- Pode me explicar o que esse dinheiro está fazendo na sua bolsa? –
Bateu a mão na mesa. – Não me diga que surgiu magicamente! – Pausou. – Não,
melhor nem abrir essa boca! Você, uma aluna tão direita, tão humilde e educada
se prestar a isso? Está precisando de uma ajuda?
- Senhor... Foi a Lana que...
- Não coloque a sua colega no meio da história. O fato é: você roubou o
dinheiro da universidade! –Elevou o tom de voz. – Não tem vergonha?
- O senhor deve estar se confundido. Esse dinheiro é meu!
- Não sei o que andou bebendo. Esse dinheiro nunca foi seu garota!
Acorda! Você é pobre. É bolsista. Não tem dinheiro nem para uma passagem de
ônibus.
- Eu não sei dessa história de roubo. A Lana... – Olívio a interrompeu.
- A Lana não tem nada a ver com essa história menina. – Bufou.
- Eles me enganaram. Como fui tonta! – Falou baixo. – O que o senhor vai
fazer comigo?
- Eu devia chamar a polícia. – Pensou um pouco. – Mas não farei isso. –
Você será expulsa.
- Mas eu farei! – Lana escutava atrás da porta toda a conversa entre
Olívio e Fernanda.
***
Beatriz, um pouco cansada, assina o
último documento do testamento. Iolanda adentra no quarto e troca olhares com o
advogado. Trajava um vestido preto. Seu cabelo estava preso a um rabo de
cavalo.
- Esta foi a última papelada, dona
Beatriz. – O advogado colocou os papéis em sua mala. – Tenha um bom dia. –
Fechou a porta.
- Filha... Você aqui? – Disse, com
pouco de dificuldade. – Achei que não viria.
- Como não? – Beijou sua testa. – Vou
ter que fazer uma viagem de emergência. Vim aqui para me despedir.
- Iolanda... Não precisava se dar ao
trabalho de vir ao hospital. Vou ficar bem!
- Você cuidou tão bem de mim. É
apenas uma retribuição. – Sorriu. – É um prazer ficar com você.
A porta fora aberta por uma
enfermeira. Ela trazia o almoço. Beatriz levantou-se, com auxílio de Iolanda e
observava a comida.
- Eu preciso ir ao banheiro. –
Beatriz disse com uma voz fraca.
- Eu lhe ajudo. – A enfermeira pôs a
bandeja na cama e a levou para o banheiro.
Iolanda aproximou-se da bandeja:
havia um suco de laranja e uma comida que não identificara qual. Tirou do bolso
o pequeno frasco. Olhou para a porta do banheiro. Relembrou a conversa que teve
com o homem horas atrás:
– Tem certeza que vai funcionar?
- É só colocar a droga desse líquido num suco, numa comida, num chá... A
pessoa morre em instantes.
Adicionou o líquido no suco e uma parte na comida. Pegou uma colher e
mexia lentamente, com um sorriso sarcástico no rosto.
Beatriz voltava do banheiro. Iolanda parou de mexer e sentou-se no sofá,
um pouco afobada. A enfermeira auxiliara Beatriz a deitar-se na cama e em
seguida, pôs a bandeja em seu colo e saiu do quarto.
- Mãe. Preciso ir, senão eu perco o vôo. – Beijou na bochecha. -
Quando voltar quero lhe ver melhor, está bem? – A mulher balançou a cabeça
positivamente e ingeriu goles do suco, enquanto Iolanda fechava a porta.
***
Uma viatura da policia havia
estacionado logo a frente da universidade. Uma mulher, de cabelos escuros, se
aproximara do carro.
- Fernanda? – A mulher, usava uma
calça jeans azul e uma blusa branca – Pode me explicar o que está acontecendo?
- Mãe. É tudo um mal entendido. –
Fernanda olhava para a mãe. – Não acredita neles!
- Ainda não entendi Fernanda. O que
esse policial está fazendo com você?
- A sua filha está sendo detida por
roubo. – O policial abriu a porta do carro da viatura. – Vamos. Não tenho o dia
todo.
- Espera! – Marta pôs a mão no peito.
– Você chegou a esse ponto? Roubar para se sentir vitoriosa? – A mulher levou
sua mão para o rosto da jovem.
- Você me bateu! – Fernanda passava a
mão no rosto.
- Bati, e bateria mil vezes! Bandida!
– A dor no peito aumentava mais.
- Você não acredita em mim, não é? –
Sorriu. – Era de se esperar. Bandida ou não, esse dinheiro seria para pagar os
seus remédios. – Virou-se para Lana. – Mas ela me traiu!
Marta caiu no chão. Fernanda empurrou
o policial e tentou ajudar a mãe, que balbuciava algumas palavras.
- Eu te amo... – Marta parou de
falar. Fernanda, num ato de desespero, sacudira seu corpo, sem chorar. Por fim,
abraçou e beijou sua mão, já gélida.
- Você... Você matou a minha mãe! –
Fernanda levantou e cuspiu no rosto de Lana.
- Menos um gasto. – Riu, pondo a mão
no rosto, limpando o cuspe enquanto observava Fernanda entrar na viatura.
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