CAPÍTULO 04
Lana observa a viatura se distanciar e aproxima-se do corpo de Marta. Ela agacha-se e ri.
- Ela caiu
direitinho. - Balançava o seu braço. - Vai arder no inferno como aquele traste
do marido.
- Você é louca,
Lana? - Pressionou o braço da aluna. - E se a garota der com a língua nos
dentes?
- São duas pessoas
ricas, da classe média alta contra uma criatura sem eira nem beira.
- Certo. - Olhou
para os lados. - O que eu faço com o dinheiro?
- E eu vou saber?
Você disse que lidaria com o dinheiro, portanto o problema é seu! - Pausou. -
Mas para não parecer grossa, devolve o dinheiro. Inventa qualquer lorota para o
velho. Não te deu de mão beijada a grana? Vai acreditar em qualquer outra
história.
- Eu não quero
perder meu emprego. Tenho uma
filha pra criar!
- Agora se preocupa
com a sua filha? - Encarou o homem. - Faça o que achar melhor. A vida é sua. -
Olhou para o corpo. - Vamos entrar antes que alguém desconfie.
- Oi, com licença.
Vocês sabem como essa senhora morreu? Não chamaram a polícia? Não podem deixar
o corpo na beira da rua! - Uma mulher desconhecida havia os abordado na rua.
- Não sei quem é. -
Lana respondeu.
- Mas...
- Senhora, eu não posso fazer nada. Se te incomoda tanto, é só ir para o outro lado da rua. Com licença. - Os dois adentraram para a universidade, irritando a mulher.
***
Iolanda observa Beatriz pela frestinha da porta, que ingere todo o suco e leva o garfo, com um pouco de comida a boca, que acaba tendo uma parada cardíaca.
- Adeus, mamãe… - Iolanda fecha a porta e sai do hospital.
Um carro preto, baixo, de vidros escuros é estacionado em frente ao hospital. Iolanda, escorada num pilar, olha para os lados a procura do veículo quando o avista.
- Trouxe a
minha mala? - Indagou, sentando no banco de carona e buscando sua bolsa nos
assentos de trás.
- Sim, está no
porta-malas. - Disse, se dirigindo ao destino.
- Nesse exato
momento, aquela velha deve estar morta! - Comemorou. Abriu a bolsa e pegou sua
carteira, tirando um cheque. - Essa é a última parte do dinheiro. Foge com a
sua família para qualquer buraco desse mundo o quanto antes.
- O senhor Roberto
sabia desde cedo a vontade de sua esposa. - Disse, entrando no aeroporto. -
Quando ler o testamento… Não quero nem ver. - Parou na porta.
- Ele terá que se
contentar com o que ganhar, assim como o filho dele. Uma grana alta por sinal.
- Saiu do carro e abriu o porta-malas, tirando duas malas de lá. Voltou para a
porta, agachou-se e fitou Lauro. - Boa sorte. Ah, e desfaça qualquer contato
profissional com meu pai depois disso, ok? Agora você trabalha para mim. Tenha
uma boa tarde.
- Boa tarde. -
Disse, observando Iolanda entrar no aeroporto.
***
Sentada numa cadeira, Fernanda é
fitada por um homem alto, barbudo, de cabelos brancos, que move a cadeira para
a esquerda e direita.
- Então? Não vai falar
o porquê do roubo?
- EU NÃO ROUBEI
NADA! – Fernanda gritou e apoiou suas mãos na mesa do delegado.
- Não é o que as
testemunhas dizem. – Respirou fundo.
- Eu fui vítima de
uma armação, delegado. Eu pedi um dinheiro a Lana e ela me disse que eu poderia
pegar numa bolsa. Como eu ia imaginar que o dinheiro era de outra pessoa?!
- Não sei. -
Pausou. - Refresque a memória e depois volte e me conte tudo. - Aproximou seu
rosto a jovem. - Pode levá-la.
- O quê? Não! - O
braço de Fernanda é pressionado por um policial, que a leva para fora da sala.
- Me solta! -
Dizia, enquanto era arrastada para uma cela.
- Se der showzinho sua situação piora, entendeu? - Abriu a cela e a empurrou para dentro.
***
Lana Albuquerque sentara de pernas
cruzadas na cadeira. Marcava respostas aleatórias na avaliação, olhando para os
outros colegas, sem que Maurício a visse.
O sinal bateu. Lana aguardou todos saírem da sala.
- Eu não
devia me prestar a isso. - Disse, entregando a prova. - Pelo menos contigo.
- Como se você
tivesse capacidade, não é? - Riu. - Mas antes que saia,
eu preciso ter um papo com você.
- Seja rápido!
- É sobre a Fernanda. - Trancou a porta.
Maurício beijou Lana, aproximando-se do pescoço, local que pressionara. A moça, assustada, tentara tirar a mão do professor na região de desconforto, mas tudo em vão.
- Você ta me
machucando! Me solta! - Aumentava o tom da voz.
- Pra você não me
dizer nada?
- Eu prometo que…
- NÃO FAÇA
PROMESSAS! - Pressionou fortemente, sufocando-a. - Nunca cumpriu uma!
- O que você quer
saber? - Perguntou. O professor havia soltado o pescoço e a empurrado para a
parede ao lado da porta, impedindo qualquer chance de fuga.
- O motivo da
prisão da Fernanda. - Parou e fitou Lana. - Eu sei que é algo mais sério e você
não quer me contar. Diga. O que ela fez pra você?
- Eu… Bem, eu… É
que… - Tentava dizer. As palavras não vinham e ela se lembrava de cada detalhe,
enquanto caminhava pela sala.
- Lana? - Indagou.
- Eu conto. - Virou para o homem, exibiu um sorriso tímido e sentou-se numa carteira. A medida que ia contando, seus olhos enchiam-se de lágrimas.
***
Fernanda girava o dedo indicador em seus fios de cabelos escorados na parede, com as pernas encolhidas, olhando para uma parede cinza.
- Visita para você.
- O carcereiro chegou, abrindo a cela e surpreendo Fernanda.
- Quem é?
- Um homem.
Na sala de visitas, Olívio a aguardava. Batia o pé para conter a ansiedade, quando ouviu a voz de uma mulher.
- Você? -
Sentou-se. - Achei que estava com raiva de mim.
- Nunca estive,
Fernanda. Só agi por impulso. Perdoa-me?
- Não guardo rancor
de ninguém, senhor. Pode ficar tranquilo.
- Mas não estou
aqui por isso. - Fitou Fernanda, com um pequeno sorriso.
- Não? - Indagou
surpresa.
- Eu conversei com
o meu advogado. Pedi que cuidasse do seu caso. Pagarei sua fiança e ainda hoje
você já sai daqui.
- Não sei nem o que
dizer. - Fez uma pausa e pensou. - Obrigada.
- Não há de quê.
Mas Fernanda… O que vai fazer ao sair daqui? A sua mãe morreu, não tem como frequentar a universidade… Não tem emprego.
- Eu me viro
senhor. E mesmo que tivesse alguma forma de eu voltar para a universidade, eu
não iria aceitar. Veria a Lana todos os dias e o que eu quero evitar é ela. Se
eu não conseguir nenhum trampo, eu procuro o senhor. Se não for importuno, é
claro.
- Estarei às ordens. - Esticou sua mão, que fora apertada pela mulher. - Com licença.
UM MÊS DEPOIS
Fernanda, trajando uma camiseta
branca e uma calça preta, com o cabelo loiro preso a um rabo de cavalo e
segurando uma bolsa no ombro caminhava pelas ruas de Porto Alegre. Passara em
alguns bares, lojas e bancas em busca de emprego, e os comerciantes negavam com
a cabeça.
Por fim, parou em frente a um grande edifício. Passou a mão pela testa. Sua aparência indicava cansaço. Bateu na campainha que havia na mesa e aguardou.
- Bom dia. Em que
posso ajudá-la? - O porteiro, com aproximadamente cinquenta anos voltou para a
recepção.
- Eu gostaria de
saber se há algum morador do prédio precisando de faxineira.
- Se eu não me
engano, o Dr. Carlos Henrique está à procura.
- Poderia me dizer
o número do apartamento dele?!
- Se você tiver
sorte, o encontra em casa ainda. É no 8º andar, número 804.
- Obrigada! - Puxou a porta do elevador.
Ao chegar ao andar, Fernanda procurou pelo apartamento. Ao encontrar, pôs o seu ouvido na porta para ter certeza que havia alguém em casa, quando escutou noticiário da televisão. Tocou a campainha.
- Bom dia. - A
porta fora aberta. O homem trajava um roupão branco. - Quem seria?
- Disseram que o
senhor estava procurando uma faxinei...
- Ainda estou. -
Cortou-a.
- Então. Eu queria
me candidatar à vaga.
- Ah, sim. Entre. -
Revirou os olhos. - A minha esposa está viajando, volta em duas semanas.
Conte-me sobre você.
- Meu nome é
Fernanda, tranquei a faculdade de direito depois da morte da minha mãe e há um
mês procuro emprego.
- Procurar emprego
não é tão difícil aqui na cidade…
- Eu fui presa,
senhor. Eu sei que o senhor pode não me aceitar na sua casa, mas eu não tenho
nada a perder. Só preciso do emprego.
- Eu lhe entendo.
Você tem um rosto bonito, com certeza a Lana gostará de você.
- Lana? - Indagou
para si, sem que o homem pudesse ouvir. - Poderia me mostrar uma foto dela?
- Claro. - Pegou o
retrato. - Aqui está. Você a conhece?
- Não. Acho que me
enganei. - Mentiu. - Então? O senhor vai me contratar?
- Sim. Pode começar
hoje. - Guardou o retrato. - Comece pela cozinha, ok?
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