CAPÍTULO 05
Uma mão feminina abre um armário com diversos
produtos de limpeza. Ela pega um balde vermelho, no qual deposita os utensílios
de limpeza. Caminha para a cozinha e começa a limpar o cômodo.
- Fernanda? - Um homem a chamou. -
Mudei de ideia. Vou trabalhar no meu quarto. Limpe-o primeiro, depois continue
aqui.
- Sim senhor. - Levantou-se e
dirigiu-se ao quarto, fechando a porta. - Preciso encontrar uma forma de
destruir o projeto de perfeição. Mas como? - A porta fora aberta.
- Falando sozinha? - Carlos Henrique
adentrara no quarto, abrindo uma gaveta e pego um vidro com pílulas, que
ingerira sem líquido.
- Estava pensando alto, só isso. -
Observava ele ingerir as pílulas. - O senhor possui uma doença?
- Não. É vitamina.
- Ah. Senhor, sem querer ser
invasiva, mas você e sua mulher não pensam em ter um filho? Até onde eu sei, vocês
mantêm uma relação de in... O senhor me entendeu. Um herdeiro seria vantajoso
para ambos, não?
- Fernanda, a minha mulher não quer
um filho para cuidar, amar, se orgulhar. Ela usaria a criança para tirar
vantagem no nosso casamento. É como se eu fosse condenado à morte caso dê um
herdeiro a ela, entende?
***
Três enfermeiros deixam o quarto de
Beatriz. Roberto, segurando rosas vermelhas, observa o médico guardar o
desfibrilador e toca em seu ombro.
- Como ela está? - Roberto
mostrava-se feliz. O médico permanecia em silêncio. - O que foi? Ela
piorou?
- Não. - Um enfermeiro adentrou no
quarto disfarçadamente e cobrira o corpo da mulher com um lençol branco. -
Acontece que...
- Ela morreu? - Soltou o ramo de flor
de rosas vermelhas e aproximou-se do corpo. - Ela não estava bem?
- Infelizmente, senhor Roberto, ela
veio a óbito há poucos minutos. A principio foi uma parada cardíaca.
- Meu Deus… - Dera um beijo em seu
rosto. As lágrimas que caiam de seu rosto pingavam em sua testa.
- Peço que o senhor deixe o quarto.
Não demorará muito para o corpo ser liberado e poderá tomar todas as
providências quanto ao velório e enterro. Com licença.
- Espere! - Segurou seu braço. - O
senhor tem certeza que foi apenas uma parada cardíaca? Ninguém tentou matá-la?
- Não posso afirmar nada. Mas o
senhor pode chegar a uma conclusão. Se a sua esposa não tinha algo que
interessasse outras pessoas, como dinheiro e patrimônio, não vejo porque de um
assassinato a uma paciente terminal. - Disse. - Com licença, tenho uma consulta
marcada.
***
DOIS DIAS DEPOIS
Fernanda Amorim procurava uma
farmácia, localizada próximo ao condomínio onde residia Carlos Henrique. Ao
encontrá-la, entrara na fila que possuía cerca d treze pessoas.
- Seguinte, por favor. - O atendente
chamou Fernanda após quinze minutos.
- Eu gostaria de um calmante, no
estilo de Boa noite Cinderela.
- Desculpe, mas não posso vendê-lo
para a senhora.
- Pode sim! - Aproximou-se do homem e
falou em tom baixo. - Não vai querer complicar as coisas, vai?
- Eu nem te conheço! Se eu fosse você
dava o fora daqui.
- Nem queira rapaz. Não sabe com quem
está se metendo! Ou você dá o que te pedi ou amanhã pode se declarar um homem
morto. - Abriu a bolsa e mostrou uma arma. - E então? Vai me dar ou não?
- Aqui está. - Entregou o medicamento
empacotado disfarçadamente. - Não me mete em confusão, dona. Tenho dois filhos
para criar.
- Tome isto como recompensa. -
Retirou uma sacola de papelão pequena da bolsa. - Tem o suficiente para a sua
família durante três ou quatro anos. Até mais.
- Como ele conseguiu ter medo disso
aqui? - Analisava a arma. - Uma coisa tão inocente. De brinquedo! - Riu.
Aproximou-se de uma lixeira, onde depositou a arma falsa, enquanto lembrava-se
da conversa que tivera com Carlos Henrique.
- Fernanda, a minha mulher não quer
um filho para cuidar, amar, se orgulhar. Ela usaria a criança para tirar
vantagem no nosso casamento. É como se eu fosse condenado a morte caso dê um
herdeiro a ela, entende?
- Mas eu quero!
***
Roberto Cavalcanti colocara sua mão
sobre o corpo de Beatriz. Várias pessoas adentram na sala, cumprimentam ele e
Conrado e os abraçam, individualmente, confortando-os.
- É uma lástima! Mas garanto que
agora ela estará protegendo vocês, ao lado do Senhor. - Uma senhora abraçara
Roberto.
- Beatriz Moreira Cavalcanti morreu
no dia 23 de Maio de 1995, ás 14h27 por parada cardíaca. Há quatro anos, ela
foi diagnosticada com câncer de mama, que mais tarde veio a ser terminal. Desde
então, estava internada no Hospital Augusto Vianna [....]. Dona da maior
empresa de São Paulo, a revista Maxxes, casou-se com Roberto Cavalcanti e teve
dois filhos: Iolanda e Conrado. - O padre terminou seu discurso. As pessoas
saíram da sala e o corpo fora carregado para dentro de um veículo, que o levaria
para o cemitério em menos de dez minutos.
Após enterrarem o corpo, Conrado e
Roberto andavam pelo cemitério, caminhando para a saída e conversando.
- Não creio que a mamãe morreu por
uma parada cardíaca por causa do câncer. - Conrado baixou a cabeça, entristecido.
- Os médicos afirmaram isso, meu
filho! Não há nada que possamos fazer!
- Você não percebeu? A Iolanda foi a
última a vê-la antes de morrer, saiu do hospital sem conversar conosco, não
atende nossas chamadas... E foi noticiada no jornal a morte da mamãe!
- O que você quer dizer com isso?
- Ela matou a minha mãe!
- Isso é uma acusação muito grave. A
Iolanda tinha seus estudos. A Beatriz que pediu para ela sair e se divertir.
- Essa história de estudos, lazer e
diversão não está batendo! Ela disse que caso acontecesse algo com a mamãe, ela
viria correndo.
- Mesmo que ela viesse não iria
adiantar nada! A sua mãe morreu e já foi enterrada. Qualquer coisa que ela fará
referente à Beatriz será em vão. - Saíram do cemitério e entraram no
carro. - Vida pra frente!
***
- Um acidente envolvendo dois ônibus
deixou dezesseis feridos e quatro pessoas mortas, envolvendo uma criança de
quatro anos. Mais informações a qualquer momento. - Dizia a jornalista no plantão.
Fernanda preparava o jantar enquanto
assistia ao noticiário. Ouvira o som de chaves e desligara a televisão.
- Boa noite, senhor. Pensei que
viesse mais tarde...
- A reunião foi cancelada. - Pôs a
mala preta no sofá e esticou suas pernas e pôs em cima da mesa de centro. - O
que tem pra hoje?
- Risoto. Sei que o senhor adora!
- Fernanda, querida, você sabe que
tenho praticamente a sua idade, não? Por que insiste em me chamar de senhor?
- Pensei que não se importaria.
Perdoe-me.
- Não precisa ser tão formal comigo.
Nem lhe trato como uma subordinada!- Levantou-se. - Quero ser o seu amigo, pode
ser? - Indagou passando os dedos pelo cabelo de Fernanda.
- Pode, claro... Amigos?
- Sim. - Sorriu.
- Eu preciso cuidar da comida! - Assustou-se
com o leve cheiro de queimado. - Já volto.
Fernanda caminha para trás do balcão,
onde retira de seu bolso dois compridos e disfarçadamente, despeja na bebida.
- Ah Lana... Casada há tanto tempo
com o cara e nunca conseguiu ter um filho? Quero ver a sua cara quando estiver
escancarado em todos os jornais que a empregadinha engravidou do patrão e a
própria mulher ficou em segundo plano! - Disse num som inaudível.
O telefone, ao lado de Carlos
Henrique, tocou. Fernanda deixou o fogão e caminhou para atendê-lo, mas antes
que pudesse pegá-lo, Carlos Henrique havia atendido.
- Lana? - Revirou os olhos. - Ficará
mais um mês em Petrópolis? - Sorriu. - Ok, sem problemas. Até mais.
- Quem era? - Fernanda pôs o risoto
no prato branco e colocou na mesa. - Venha, o jantar está pronto.
- Minha mulher. Ficará mais um mês
num novo projeto da faculdade. Diz ela que o professor adorou suas pesquisas e
pediu para ela permanecer até o fim. Se não me engano, o nome dele é
Maurício. - Riu. - Nome de pobre.
- Sim... - Observou ele ingerir a
bebida. - Preciso ir ao banheiro, com licença.
Ao retornar à sala, encontrou Carlos
Henrique desacordado. Ela vestia um lingerie preto. Deitou-se sobre o homem,
retirou sua roupa e beijou-o. Entretanto, fora surpreendida por um empurrão do
homem.
- Safada! Achou que ia me enganar? Eu
vi quando colocou aqueles dois compridos na minha bebida!
- Eu não fiz por mal. Eu juro!
- Se bem que você é muito melhor que
a Lana nesse quesito. - Pegou em seu pescoço e beijou-a. - Vamos para o quarto?
Despiram-se. Os dois corpos nus na
cama só almejavam uma coisa: o orgasmo. Os braços de Fernanda entrelaçados no
pescoço de Carlos Henrique fazia com que a bela moça sentisse prazer em
tornar-se um dia, a amante do patrão. Mal imaginava ele que o verdadeiro motivo
era que a ‘empregada’ esperava tornar-se, naquela noite, a mãe de seu filho. O
homem tocou em seus seios. A mulher pressionava seu abdômen definido e seu
peitoral. Os dois sentiam prazer. A prova estava em seus sorrisos.
Ao terminarem, os dois enrolaram-se
em um lençol branco e deitaram-se, um virado para o outro e adormeceram. Sem
dizer uma palavra.
***
UM MÊS E MEIO DEPOIS
Lana Albuquerque adentrou em seu
apartamento. Colocara a mala no lado direito da porta e sua bolsa numa poltrona
do sofá. Observava os cômodos a qual passava: estavam todos arrumados. Ouviu
vozes vindas da varanda.
- Me veja uma limonada. Bem docinha,
por gentileza!
- Claro! - A voz vinha do quarto ao
lado.
- Duas! - Lana gritara para a mesma
direção, sem saber de quem se tratava. - Contratou uma empregada?
- Sim. - Disse com um tom de
indiferença.
- Aqui estão as duas limonadas que me
pediu. - Fernanda pôs a bandeja redonda de metal numa pequena mesa.
- O que significa isso? - Lana
levantou-se incrédula, fitando a moça a sua frente. - O que você está fazendo
aqui, sua ladra?!
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