O Pescador de Palavras e a Rede de Fé no Natal
de Rosamares da Maia
Instalou-se
ali já há alguns
anos, era um rapazote, quase um menino. Veio fugido da seca da Caatinga, onde
perdeu tudo e todos. Construiu sua nova família, a mulher Izabel e três filhos.
Mariana é a mais nova, com 10 anos de idade, mas já ajuda a mãe com os afazeres
da casa e na pequena horta, pois mesmo sendo pescador nos dias atuais, opção
encontrada no êxodo da terra seca, não podia deixar passar a oportunidade de
verdejar a terra úmida. A herança sertaneja do cultivo do chão não o
abandonara.
O que plantava era complemento do seu
sustento, muito embora, o tipo de chão, próximo do salitre do mar, não lhe permitisse de tudo,
mas dava para o
gasto. Também tinha umas galinhas de quintal; lá uma vez ou outra a caça de algum
tatú distraído, uma gambazinha; mas era raro, pois
estando tão perto do mar, o que se há de esperar é peixe. Não é mesmo?
Ele vai cedo para o mar com os
outros homens da vila;
acorda Antônio e
João, seus dois outros filhos;
apanha uma pequena merenda preparada por Izabel e zarpa. Rede, anzóis, iscas,
enfim, todos os
apetrechos de pesca são arrumados, e a velha barca parte para o mar, não sem antes fazer uma
oração compenetrada pedindo proteção e peixes, muitos peixes.
Na vila haviam criado uma
cooperativa, que era responsável pela concentração, seleção, venda e divisão do
resultado da pesca. A cooperativa
vende o pescado para os distribuidores nas grandes cidades.
O que recebem como resultado de
tanto trabalho no mar nunca é justo: não paga os riscos, o médico com remédios, as boas roupas,
carro.
Um carro? Jeremias sonhou durante muito tempo
com um. Antes de colocar o seu
peixe na cooperativa, namorou a Kombi do Mathias, um pescador que acabou
descobrindo que o mar não era a sua vocação e foi-se para outras aventuras. O
veículo era herança de um tio abastado, pelo menos para os padrões dos
moradores de São
Pedro dos Milagres.
A Kombi ficou disponível para
Jeremias por um bom
tempo, com ela sonhava poder vender o seu pescado de forma independente e
melhorar de vida, mas, além do dinheiro curto, Izabel ficou muito doente na sua
quarta gravidez, perdeu o bebê, teve que fazer uma cirurgia.
Bem, pelo menos os filhos não nascem
mais e as bocas para alimentar não são mais uma surpresa. Ficou triste, era
outro machinho, mais um cabra para o trabalho, mas também ficou aliviado e
pediu a Deus perdão por isso.
Bem, voltemos aos peixes, porque a
madrugada já sacode as estrelas e dobra a colcha da noite.
—
Homens, joguem suas
redes ao mar, pois as escamas do céu prometem fartura e os ventos estão a
favor.
Muitos gritos eufóricos comemoravam
a partida dos homens para o mar, enquanto mulheres com lamparinas ou archotes
de fogo rezavam iluminando a sua partida. Todos os dias o ritual era o mesmo,
grupos de pescadores iam e voltavam trazendo o sustento das suas vidas e todos
os dias eram celebrados por aqueles que esperam o seu regresso.
Aquela era uma forma de prendê-los
ao tênue cordão das suas certezas de regressar.
Jeremias achou o seu melhor local,
jogou a rede, fincou os varões de pesca com as iscas e a linha, foram com as boias para
o mar; colocou os seus garotos
de sentinela, foi para o alto do barco com o seu cigarrinho de palha. Agora era
esperar, e isso é ciência
de pescador.
As boias desceram e o movimento das
cordas na rede sinalizava que o barco de Jeremias fora premiado. Gritaria
geral, corre, corre, puxa, puxa e puxa mais.
— Com força,
moleques lerdos!
Os barcos à volta comemoraram, meio
decepcionados, pois somente o barco de Jeremias fora prestigiado pelo cardume.
Será possível que tanto pescado venha somente para uma rede?
Um brilho intenso transparecia das
águas na rede que a carretilha puxava junto com os meninos e Jeremias, que desceu para ajudar
e saborear a sua rede. Abriram o alçapão para soltar o peixe, e Jeremias gritou espantado:
— Mas que marmota é essa?
—
Sei não, painho — respondeu
Antônio, o seu mais
velho!
O mais novo, de olhos arregalados, benzeu-se algumas
dezenas de vezes e disse com a certeza mais crente:
—
Ora, são palavras,
painho! Palavras não tá vendo? Brilham como peixes, vieram do fundo do mar. Oi essa aqui é sa-ú-de,
essa a-mi-za-de, aquela acolá amor, a outra fe-li-ci-da-de...e a..
Jeremias, meio desnorteado, gritou com o filho:
—
Cale a boca,
sujeitinho abestado! Eu não estou vendo isso não? Não sou muito estudado, mas
sei lê e estou vendo esse monte de letrinha formando as palavras. Quero saber é
de onde vieram e
como foi que pularam na minha rede?
Antônio, tentando consolar o pai,
disse que achava que algum navio poderia ter perdido aquela carga e ela se enganchara na rede.
Jeremias, desolado, mas sem entregar os pontos,
mandou os filhos jogarem as palavras no depósito do alçapão, pois alguém tinha
que testemunhar aquilo e novamente jogar as redes no mar. Mas para o seu maior
espanto, novo cardume de palavras. Foram cinco tentativas carregadas de letras.
Desolado com o sol que já ia alto
pelas dez horas da manhã, Jeremias desistiu, encaminhou a embarcação para a
praia com uma romaria dos pesqueiros que o seguiram desolados e sem um peixinho
sequer para remédio.
Na praia todos que viram os barcos
voltando vieram
ajudar a puxar e a
carregar o pescado, mas ficaram foi assustados, incrédulos, e de imediato aderiram
à teoria de João, o filho mais novo.
—
Por certo,
compadres, algum
destes navios perdeu essa carga esquisita e este brilho colorido espantou os
peixes. Sabe como é:
o peixe é bicho sestroso e
muitas vezes foge inté do baruio do motor dos barcos.
—
Amanhã é outro dia —
disse Jeremias aos homens. — Vamos descansar, porque pra pescador o dia começa antes de
começar.
Pediu aos filhos que carregassem a
pescaria de letras para os fundos da sua casinha na vila dos pescadores. Queria
tirar as palavras da praia
para não quebrar o ânimo dos homens e depois queria olhar para elas e tentar entender.
Quando Izabel e Mariana viram o
produto da pescaria ficaram assustadas, com medo. Izabel, mesmo sendo católica,
achava que aquilo era algum feitiço dos espíritos do mar. Achou que Jeremias
não deveria trazer aquelas palavras brilhantes para casa.
—
Deixa de bobagem,
mulher! Isso é carga perdida de algum gringo. Deve ser a tal de tecnologia.
—
Vamos dormir que temos a lida do mar daqui a pouco.
— Sei não — resmungou Izabel.
Durante o ritual da madrugada, os
homens ao mar e as mulheres em terra, rezou-se com maior fervor para o peixe e
o pão, mas, para espanto de todos, o fenômeno se repetia, e no outro dia, e no
outro também.
Pescadores desesperados ao final do
décimo dia, sem que as redes fossem bafejadas por um peixinho sequer,
organizaram um grupo e foram até a casa de Jeremias, que já sabia do boato que
se espalhara pela Vila. Ele estava amaldiçoado por alguma praga, e todos que pescavam
com ele sofriam as consequências.
— Levantou-se
da rede esticada na varanda e falou para Raul, que parecia liderar o grupo.
— Desembucha, compadre Raul! O que está acontecendo?
Meio sem
graça e com receio da reação de Jeremias, Raul ensaiou uns pigarros e um pedido
de desculpas, mas mandou o seu recado.
— Olhe, compadre Jeremias,
queremos que o compadre saia para pescar hoje não!
— Como é? —
perguntou
Jeremias incrédulo.
— É, compadre. A gente quer saber se a
praga é sua. Se a gente
pescar, divide uma parte com o compadre e vamos ficar sabendo que o Senhor tem
que procurar uma boa benzedeira.
Outro
pescador mais adiante resolveu falar e disse que a cooperativa já estava ameaçando fechar as
portas, pois dez dias sem trazer nada, só
letrinha; mesmo
assim, só na rede de Jeremias era demais. O pescado estava com o estoque a zero
e não demorava muito os compradores correrem para outros fornecedores.
Jeremias, que tinha a fama de
homem justo e de bom senso, camuflou a dor de seu peito e concordou com o
pedido de seus companheiros. Naquela madrugada não colocaria o seu barco no
mar, na esperança de que
eles fossem bem-sucedidos.
O mais importante sempre será o bem de todos. Era justo e ele pensava assim.
Porém, o
seu relógio interno despertou na hora exata. Não chamou os filhos. Tentou não
acordar Izabel, mas ela não havia pregado os olhos, aflita.
—
Aonde vai, homem? Se não vai pescar?
—
Vou até a praia ver a marujada.
—
Sei pra que!
—
Volta pra dormir,
mulher! Deixa! Eu preciso refrescar as ideias.
Izabel virou para o lado e fez de
conta que entendeu. Uma coisa que ela havia aprendido para lidar com gente
teimosa e viver em paz.
Jeremias
olhou a montanha de palavras brilhantes acumuladas nos fundos da sua casa com
desespero e foi para praia ver a partida dos seus companheiros. O peito
arrebentava, mas aguentou firme; depois, aproveitando a lua cheia e clara, lua do bom e farto
pescado, resolveu caminhar ao longo da praia, respirar aquele cheiro doce do
mar que a fuga da
Caatinga o ensinara a amar.
Mas adiante
reparou num pescador, pelo menos parecia ser um, olhando para o mar. Ele
possuía longa barba, cabelos grandes e grisalhos e estava com os pés descalços.
— Boa noite, compadre! O outro pescador, com um
sorriso amistoso,
respondeu-lhe:
— Olá, compadre, boa noite!
— O compadre
é novo por aqui? Não me lembro de já ter visto o Senhor! Aqui todo mundo se
conhece. Sabe como é o lugar é pequeno.
— Sou apenas
um pescador de passagem. Vim resolver uns problemas e logo me vou para outras
paragens.
— É, compadre, aqui neste lugar o
senhor vai é caçar problemas, pois isso é o que não falta.
— Ora! O que se passa de tão grave neste lugar tão bonito?
Jeremias
coçou a cabeça e bla, bla, bla. Contou com riqueza de detalhes os fatos da Vila
de São Pedro ao pescador viajante.
— “...pois é, compadre, a montanha acumulada
das letrinhas já está do tamanho de um edifício e o Senhor não vê o brilho
daqui porque estamos do lado contrário e...”.
— Compadre!
Interrompeu o estrangeiro. O que o Senhor fez com as palavras pescadas?
— O que eu
fiz?
— Sim. O quê?
— Ora! Fiz
nada. O que se há de fazer?
— O Compadre
Jeremias não disse que elas são palavras e letras? Que se pode até escrever uma
carta com elas? Pense nas pessoas que o Compadre conhece e que precisam de
palavras. Ache uma obra pra elas, Compadre! Por certo elas não lhes foram dadas por nada. Mais
alguém pescou letras?
— Não. É
certo que não.
— Então não
recuse a sua obra,
meu amigo — disse isso bondosamente, enquanto já caminhava em direção oposta, afastando-se de
Jeremias.
Jeremias
caminhou de mansinho em direção a sua casa, olhou o seu tesouro de letras
vibrantes, sentou-se no chão e começou a pensar no que ouvira daquele estranho pescador.
Sem que percebesse, começou a fazer
associação das palavras com as pessoas que conhecia. Logo se lembrou do velho
Oscar, nem tão velho;
na verdade, um homem valente do mar que adoeceu subitamente e mais doente ficou
de tristeza, por não conseguir usar do seu ofício para ganhar o próprio pão.
Estudando as palavras a sua frente, escreveu intuitivamente:
— “Amigo, a sua saúde virá quando você se reconciliar com
um corpo sem vícios.”
Depois para Severino escreveu:
— “A ira cega o bem, mata
a bondade e perde a quem amamos.”
Para os dirigentes da cooperativa ele escreveu a seguinte mensagem:
— “O pão deve ser
repartido com justiça e igualdade, para que prospere a fartura. Todo aquele que
enganar ou roubar e cometer injustiça contra o seu igual expiará o amargor de
seus dias até que resgate todos os seus pecados.”
Jeremias
demoliu o seu castelo de palavras formando frases para todos quantos podem lembrar que
necessitavam de apoio, solidariedade ou de um alerta sobre a forma que viviam
na pequena Vila de São Pedro dos Milagres.
Enquanto estava formando as mensagens e saindo
para entregá-las,
Izabel e os meninos achavam que ele havia enlouquecido, muitos ficaram com medo
dele e o apelidaram de Jeremias Doido -
Pescador de Palavras. Ele não se importava nem um pouco, pois dentro dele
nascera a certeza do que precisava fazer.
Finalmente,
quando o produto de sua rede já estava bem pouco no fundo de seu quintal, Jeremias acordou de
madrugada, na hora da lida. Chamou a Antônio e João, já com seus apetrechos de
pesca preparados para o mar.
—- Ora, Painho! O Senhor tá
precisando pescar mais dessas palavrinhas? — perguntou Antônio com certo deboche.
Jeremias saiu
de porta a fora. Ia ele mesmo colocar sozinho o barco no mar, se fosse preciso.
Izabel chamou a atenção dos dois filhos:
— Respeitem o vosso pai!
Mesmo que ele fique maluco de cabecear as pedras, continuará vosso pai. Sempre
foi bom para você. Apanhou a sua velha lamparina e acendeu o archote para
Mariana e foi à praia deserta da marujada, cumprir o ritual das mulheres.
Antônio e João embarcaram com o pai.
Colocaram as redes e esperaram desanimados. Mas a espera foi pouca, logo as
boias afundaram, o linhão estalou e as carretilhas rangeram.
Corre, estica, puxa e puxa. A rede brilhava e, dentro do alçapão
aberto, caía tanto peixe, que
eles não conseguiam acreditar. Choravam e se abraçavam,
riam pulando de alegria. Jogaram novamente a rede que retornou abarrotada de
peixes nobres.
— Pai, temos que voltar
para a terra. Não cabem mais peixes. Mas olha aqui,
junto com essa última mão de pescado veio essa palavrinha.
— Qual? — perguntou Jeremias.
João levantou uma palavrinha muito
brilhante e pequena:
FÉ. Jeremias então entendeu que devia reuni-las às que ainda restavam em casa para saber qual a
mensagem. Os meninos olhavam para ele espantados, ainda desconfiando da sua
sanidade.
Izabel
havia avisado alguns dos companheiros de Jeremias que ele se aventurava no mar
junto com os meninos,
e, quando a
embarcação aportou à praia, viram-no desembarcar com um sorriso calmo e a
palavrinha nas mãos, todos achavam que o pesadelo continuava, até que os
garotos começaram a gritar com enormes peixes nas mãos. Correram para o barco e
ficaram completamente extasiados com a fartura, mandaram buscar ajuda para
desembarcar o pescado.
Oscar veio juntamente com os outros pescadores
e disse aos demais que estava se sentindo como nos dias da sua juventude,
completamente curado e disposto para o trabalho. Abraçou Jeremias chorando e
disse que todos os que haviam recebido as suas mensagens estavam
inesperadamente recuperados dos seus problemas.
Sebastião, o presidente da cooperativa, sabendo do resultado da pescaria, também veio para a praia. Reuniu os pescadores com uma proposta:
— Compadres, esses dias foram de muita penúria e sei que na mesa de muitos a
comida já está
faltando; portanto, se o Compadre Jeremias
concordar, nós
dividimos tudo que está aqui com todos. Hoje é festa na Vila de São Pedro dos
Milagres.
—
Mas é claro que eu concordo,
compadre Bastião. Vamos dividir e comer, festejar e descansar, pois amanhã,
voltamos para a lida.
Houve grande euforia, os homens puseram-se
a dividir o peixe e as mulheres a combinar os seus pratos para o almoço de toda
a vila.
Jeremias comeu e festejou, mas saiu mais cedo da fanfarra, juntou a palavra encontrada – FÉ, com as outras que ainda restavam e escreveu a seguinte mensagem:
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. Hebreus 11:1-3
Neste momento, Jeremias
alcançou a dimensão do milagre na Vila de São Pedro. Foi
preciso encher as nossas redes de palavras e aprender a mensagem contida nelas
para que pudéssemos resgatar a nossa rede de fé. Levantou-se e foi até a praia
colocar a mensagem mais brilhante do que nunca nas areias. Queria que os seus
compadres, todos, pudessem partilhar aquela rede de palavras para o resgate
daquilo que homens mais precisavam levar para o mar — coragem e muita fé.
Depois, foi passear um pouco pela
praia com o cheiro doce do mar. Avistou como da primeira vez o pescador
estrangeiro.
—
Boa noite! O compadre ainda está por aqui?
—
Sim, mas logo partirei.
—
Olha, o conselho
que o compadre me deu foi porreta mesmo! Acho que agora tudo vai dar muito
certo, na noite passada o pescado pulou pra dentro do barco e foi tanto que fizemos festa.
Daqui um pouco os homens vão para o mar e...
Como da primeira vez, foi
interrompido pelo outro.
—
Ora, homem, tome fôlego! Eu sei que você
fez o que tinha que ser feito, sem desperdiçar as palavras.
—
Puxa compadre, desculpe, mas é que estou feliz. Parece que sou outro homem.
—
Mas você é outro Jeremias. É um homem renovado.
—
Pois é, compadre,
nós conversamos, o compadre me deu um monte de conselhos bons e eu ainda não
sei o seu nome. Como é que o Compadre se chama?
—
Meu nome é Pedro.
—
Ora, este é bem um
nome para pescador. E por falar nisso — onde
está o barco do Compadre? Que tipo de pesca o Senhor pratica.
—
Agora eu não preciso mais de um barco, Jeremias, porque sou um pescador da alma
dos homens e a minha pesca aqui está concluída. Fique com Deus, compadre, pois ele me
chama para outras missões.
—
Dizendo isto, abraçou Jeremias que havia perdido a fala e se foi deslizando seus pés
sobre as águas, para desaparecer no meio do oceano.
Jeremias rebatizou o seu barco, que agora se chama — REDE DE PALAVRAS. Conta à lenda que nunca mais faltou peixe para os pescadores de São Pedro dos Milagres, que a Vila prosperou, com fé, humildade, solidariedade e amor e que, vez por outra, Jeremias ainda pesca uma palavra aqui outra a acolá, todas com destino certo.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
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