| CENA 01 | REPÚBLICA / QUARTO UVA / INT. / NOITE.
Continuação do capítulo anterior. Alguém continua batendo fortemente na porta, para o desespero de Luciano e Fabiana que estão no quarto. Eles vestem suas roupas rapidamente. O tom de voz de Fabiana é baixo e nervoso.
FABIANA: Você disse que ninguém ia incomodar. E agora, Luciano? A Celina vai acabar com a gente.
LUCIANO: Calma, deve ser o Marcelo.
Luciano se aproxima da porta e pergunta quem é. Do lado de fora, alguém responde apressado.
MARCELO (OFF): Sou eu, o Marcelo. Abre logo isso cara.
Nota-se o alívio imediato na face dos dois. Luciano abre a porta rapidamente, Marcelo entra mais apressado ainda indo direto para o banheiro.
MARCELO: Poxa, Luciano! ‘Tô’ precisando ir ao/
Ele percebe a presença de Fabiana, totalmente desconfiada. Ele dá uma parada brusca e tira suas próprias conclusões.
MARCELO: Espera aí… Quê que você tá… (Conclui) Ih, já entendi tudo, inclusive porque a porta tava trancada.
FABIANA: Ninguém pode saber disso. Muito menos a Celina.
MARCELO: Tá, tá. Eu não vou contar nada.
Marcelo vai quase correndo para o banheiro.
LUCIANO: (contrariado) Pow, só tem um banheiro nessa casa?!
FABIANA: Bom. Vou indo, então.
LUCIANO: Beleza. Espera, vamos ao “Ponto” hoje?
FABIANA: É. Pode ser. Até daqui a pouco, então.
Ele se aproxima dela e a beija, em seguida ela sai rapidamente.
| CENA 02 | BAIRRO SANTA FELÍCIA / CASA DE CARLOS / SALA / INT. / NOITE.
MUSIC ON: (Quase um segundo – Luiza Possi)
Janaína acaba de se preparar para mais um programa quando senta-se em uma cadeira, apoia os braços sobre a mesa e começa a chorar lembrando-se da situação embaraçosa em que reencontrou a filha.
FLASHBACK,
Janaína é interrompida pelo homem barbudo que estava com ela na cama. Ele aparece na sala apenas vestido com uma calça social preta e à medida que caminha veste sua camisa branca de botão.
HOMEM: (grosso) Já “tô” indo, gostosa!
Dá um tapa na bunda de Janaína.
HOMEM: Tá aqui tua grana, me espera que eu volto!
Bruna encara a mãe com os olhos marejados. Janaína está completamente envergonhada.
BRUNA: Mãe... Diz que não é o que eu “tô” pensando...
JANAÍNA: Calma, filha...
BRUNA: (Alterada) Calma? Como é que você me pede calma numa hora dessas?
JANAÍNA: Eu posso explicar, Bruna.
BRUNA: Não há o que explicar, eu vi com meus olhos. Você ‘tá’ se prostituindo? Como pôde mãe?
JANAÍNA: Eu vou te explicar tudo, meu amor. Senta aqui, vamos conversar...
BRUNA: Eu não preciso e nem quero explicação. Mãe, você era o meu maior exemplo, eu tinha orgulho de você, mas agora... Agora a imagem que tenho é (hesita) é nojenta!
Bruna pega sua mala e se vai, chorando muito, sem deixar Janaína se explicar.
FIM DO FLASHBACK,
MUSIC OFF.
JANAÍNA: Eu não tive escolha, filha. Eu não tive escolha! E agora meu Deus? Onde será que está minha filha?!
Ouve-se um celular tocar. Janaína tira o aparelho da bolsa, enxuga as lágrimas e atende.
CARLOS (O.S): Escuta aqui. O ‘granfino’ que te falei desmarcou o encontro, deve ter encontrado outra piranha melhor. Mas já arrumei outro bacana pros teus serviços, ele tá chegando aí daqui a pouco. Trata bem o cliente, tá me ouvindo?
JANAÍNA: Vai ‘pro’ inferno.
Ela desliga na cara dele.
| CENA 03 | REPÚBLICA / QUARTO MAÇÃ / INT. / NOITE.
Bruna está sentada em uma cadeira de rodinhas em frente ao computador que está desligado. Distraída com a leitura do regulamento de convivência da república, a jovem se assusta com a entrada afobada de Fabiana no quarto deixando os papéis caírem no chão.
BRUNA: Ai Fabi, que susto! Quer me matar do coração?
FABIANA: Desculpa amiga, é que não queria que a Celina me visse no/
Ela hesita.
BRUNA: Não queria que a Celina te visse aonde?
FABIANA: Acho que pra você eu posso contar. Você é de confiança. Eu tava no quarto dos meninos.
Fingindo uma surpresa.
BRUNA: Você acaba de infringir a regra número 05 do regulamento da república. [Lendo a regra] Em hipótese alguma alguém do sexo feminino poderá aproximar-se e muito menos adentrar ao território habitacional do sexo masculino, e vice-versa, a menos que seja um caso de extrema necessidade.
FABIANA: Já vi que tá lendo o regulamento absurdo da Celina. Não leva isso tão a sério, ninguém aqui leva. A Celina é um tanto conservadora. Você sabia que ela vigia a gente na hora de dormir?!
A expressão de Fabiana é de como alguém que dissesse: “isso é um absurdo!”.
BRUNA: Ué, eu achei bem coerentes às regras que ela impõe.
FABIANA: Pra alguém que vive no século passado, talvez. Não tem nada mais antiquado que esse regulamento aí. Mas veja bem, ele diz que não podemos entrar no quarto dos meninos a menos que seja um caso de extrema necessidade, e de certa forma, foi um caso de necessidade sim.
BRUNA: E o que é que você foi fazer lá?
FABIANA: Sem mais delongas, eu tava no quarto com o Luciano.
BRUNA: (surpresa) Fazendo o quê?
FABIANA: (sorriso) A gente transou.
Bruna fica chocada com a declaração da amiga.
| CENA 04 | REPÚBLICA / QUARTO UVA / INT. / NOITE.
Luciano está no computador com fones no ouvido. Do banheiro, ouvimos o som da descarga do vaso sanitário. Marcelo aparece, aliviado. Percebendo a presença do amigo, Luciano retira os fones do ouvido, mas continua olhando o computador.
LUCIANO: Tinha laxante na macarronada, cara?! Espero que tenha passado desinfetante no vaso.
MARCELO: Engraçadinho. Você vai me dizer o que ‘tava’ fazendo trancado com a Fabiana aqui no nosso quarto ou não?
LUCIANO: (Irônico) Brincando de papai e mamãe certamente não era, se bem que./
MARCELO: Se bem que nada! Eu não quero saber.
LUCIANO: Então por que perguntou?
MARCELO: Você gosta do perigo, ‘né’ Luciano. Sabe do risco que corre se a Celina pega vocês dois.
LUCIANO: Isso já ‘tá’ ficando chato. Ela não vai saber de nada, cara. A menos que você dê com a língua nos dentes.
MARCELO: Sabe que não. Mas e aí, como fica a situação de vocês?
LUCIANO: Estamos ficando.
MARCELO: Fico feliz. A Fabi é uma garota legal. Agora vê se não vai fazer a menina sofrer.
LUCIANO: Não mete essa. Ficou claro entre a gente que estamos nos curtindo. Não é nada sério. Mas mudando de assunto. E a Bruna?
MARCELO: O que é que tem a Bruna?
LUCIANO: Como assim ‘o que é que tem a Bruna’? Já chegou nela?
MARCELO: Que chegou nela o quê! Você sabe que eu ‘tô’ com a Valeska.
Luciano desvia o olhar do computador e vira-se em direção ao amigo.
LUCIANO: O que eu sei é que há muito tempo a Valeska está nessa sozinha. Você não sente nada por ela e não faz questão nenhuma de esconder isso. Além do mais, ‘tá’ na cara que rolou alguma coisa entre você a Bruna. A própria Valeska percebeu, tanto é que te deu um beijo de propósito na frente da garota, só faltou dizer: esta é uma propriedade privada.
Ele ri da própria piada. Marcelo continua sério. Luciano levanta-se de onde estava sentado e aproxima-se do amigo.
LUCIANO: (sério) Que foi? Vai ficar se enganando até quando?
Luciano toca o ombro do amigo e caminha em direção ao banheiro.
LUCIANO: Toma uma atitude, parceiro.
| CENA 05 | REPÚBLICA / QUARTO MAÇÃ / INT. / NOITE.
BRUNA: Garota, você enlouqueceu? Você só pode tá brincando! Isso é errado.
FABIANA: Nossa Bruna, que reação é essa? Tá parecendo minha mãe falando. Um homem não é um monstro não. Tudo bem que alguns até agem como se fossem, mas esse não é o caso. E errado? Errado por que colega? Em que mundo você vive?
BRUNA: Sinceramente, eu não acredito que você se entregou tão fácil assim ‘pra’ alguém. Vocês pelo menos já tinham um passado amoroso ou algo do tipo?
FABIANA: Ah. A gente se enrola de vez em quando sabe, não é de hoje. Acho que eu e o Luciano somos os que moramos há mais tempo aqui. Temos alguma afinidade já. Mas ele não é do tipo que gosta de relacionamento sério. Eu também não faço questão.
BRUNA: Quer dizer que vocês não estão namorando?
FABIANA: Não exatamente. A gente tá ‘ficando’, eu acho.
BRUNA: Você pode me achar muito cafona ou brega. Mas de onde eu venho, depois de um contato tão íntimo como esse o que se espera do casal é que se casem.
Fabiana cai na gargalhada, quase não se contêm.
BRUNA: Que foi? Para de ri da minha cara.
FABIANA: Eu não acredito no que ‘tô’ ouvindo. Você tá falando sério?
BRUNA: Ué...
FABIANA: Já vi que você vai aprender muita coisa aqui dentro. Acorda Bruna. Sexo já deixou de ser um tabu há muito tempo. É a coisa mais normal do mundo. As pessoas se conhecem, acabam tendo afinidade e acaba rolando. É um processo natural e muito bom, por sinal. E no fim das contas, sabe o que é o melhor disso tudo?
BRUNA: Não...
FABIANA: Você não precisa se casar depois de ter feito.
Fabiana volta a gargalhar.
BRUNA: (convicta) Pois eu só vou me entregar a um homem quando for a hora certa. E com o cara certo.
FABIANA: E como é que você vai saber quem é o cara certo sem ter provado dos caras errados?
BRUNA: Que constrangedor, Fabiana! Eu não quero mais falar sobre isso. Você já se divertiu demais a minhas custas. Dá licença.
Fabiana não consegue parar de ri. Bruna sai do quarto.
| CENA 06 | REPÚBLIA / CORREDOR DOS QUARTOS / INT. / NOITE.
O local é um tanto estreito, lá no final há uma poltrona velha que do ponto de vista de quem sentar-se lá é possível observar a porta de entrada de todos os quartos. Bruna sai de vinda do quarto e acaba por esbarrar em Marcelo, que acabara de sair de seu quarto também. Ela quase cai com a intensidade da colisão, mas ele a segura pela cintura. Os dois ficam em silêncio ao se olhar fixamente.
MUSIC ON: (Minha vida é você – Hevo84)
Marcelo tenta trazê-la para mais perto de seu rosto, mas a garota se desvencilha dele. Sonoplastia baixa.
BRUNA: Me desculpa. Eu sai feito uma desesperada e quase te machuquei.
MARCELO: Na verdade você machucou meu pé. Mas tá tudo bem.
BRUNA: Não foi de propósito.
Ela faz que vai embora, mas ele fala.
MARCELO: Espera! Tá com medo de mim?
BRUNA: Não é isso é que...
MUSIC OFF
As trilhas se misturam.
MUSIC ON: (Exagerado – MC Naldo)
Efeito câmera lenta. Valeska entra no corredor como se desfilasse numa passarela. Ao perceber os dois ela age. Sonoplastia baixa.
VALESKA: Amor! Tava te procurando. Quê que “cê” tá fazendo com a novata?
BRUNA: Meu nome é Bruna.
VALESKA: Nomezinho bem cafona, por sinal.
MARCELO: O que é que você quer, Valeska?
VALESKA: Vim só te comunicar que a gente vai ao Ponto de Encontro daqui a pouco. Já que hoje é o último dia de liberdade, temos que aproveitar.
MARCELO: Eu não ‘tô’ no clima, Val...
VALESKA: Vamos! Vai ser legal. Parece que a ‘fubazada’ toda vai.
MARCELO: Nesse caso... Vamos também Bruna?
Valeska revira os olhos de raiva.
BRUNA: Claro. Vai ser uma ótima oportunidade para conhecer mais pessoas. Vou me arrumar.
Bruna volta para o quarto, animada. Valeska inventa uma fala esquisita para moça e imita seu modo de andar.
VALESKA: “Claro. Vai ser uma ótima oportunidade para conhecer mais pessoas. Vou me arrumar.”
Marcelo ri da gracinha de Valeska e balança a cabeça negativamente.
VALESKA: Ninguém merece!
MUSIC OFF.
| CENA 07 | UNIVERSIDADE / BAR PONTO DE ENCONTRO / EXT. / NOITE.
MUSIC ON: (Filosofia de bar – Jovelina e Seu Jorge)
Sob a luz da lua, a câmera focaliza a fachada frontal da Universidade Federal Campelo Costa, dando em seguida um giro 180° focalizando do outro lado da rua a fachada de um bar, observa-se a porta de entrada do local e acima dela uma placa iluminada em neon com a seguinte frase: “Ponto de Encontro!”.
| CENA 08 | PONTO DE ENCONTRO / INT. / NOITE.
Som ambiente. No interior do local, do ponto de vista de quem acaba de entrar no ambiente observa-se no centro um balcão em forma de circulo com apenas uma abertura na parte de trás. Alguns metros atrás do balcão há uma parede com azulejos verde-claro e um corredor que dá acesso a cozinha e os banheiros masculino e feminino. Do lado esquerdo algumas cabines e muitas mesas espalhadas e ocupadas por várias pessoas que se divertem. À direita, uma escada de degraus vazados que leva até o andar de cima do local onde fica a pista de dança. Muitas pessoas transitam, dançam, bebem e conversam por todos os lados. A câmera focaliza Cláudio e Celso que descem as escadas.
CELSO: Luciano acabou de mandar uma mensagem reclamando que a gente não esperou o resto do pessoal. Ele vai ter que trazer todo mundo no carro dele.
CLÁUDIO: Que se dane, cara. A farra não pode esperar.
Corte de cena para o balcão central onde um homem e uma mulher, conversam animados. O homem é baixo, não muito magro, tem cabelos enrolados, uma sobrancelha razoável e barbicha, além de um sorriso marcante no rosto. Ele está vestindo uma blusa floral de botão e um short jeans. A mulher é alta e leva no rosto um sorriso ainda mais marcante que o do homem, cabelos pretos e lisos abaixo dos ombros; veste uma roupa que parece um uniforme de garçonete.
HOMEM (empolgado): Santo domingo! Você salva minha semana!
MULHER: Verdade amor. Isso aqui fica tão lotado no fim de semana que dá pra compensar o movimento fraco da semana toda.
HOMEM: Principalmente hoje. Amanhã acaba a vida boa dessa garotada e as aulas na faculdade recomeçam.
Cláudio e Celso chegam ao balcão e sentam-se nos bancos ao redor. O homem recepciona os clientes com um sorriso de ponta a ponta.
HOMEM: Salve rapaziada!
CLÁUDIO: Salve, salve, dom Chad!
Eles fazem um cumprimento complicado com as mãos. Celso coloca a mão esquerda nas costas de Chad e aponta.
CELSO: Esse é o cara. Tudo bem, Melissa?
MELISSA: Tudo ótimo. E você?
CELSO: Melhor agora.
CHAD: E aí? Estão aproveitando as últimas horinhas de férias, ‘né?!
CELSO: É o que nos resta. Amanhã recomeça o semestre letivo. Adeus vida boa.
CHAD: Já que é assim. O que vocês vão beber ‘pra’ comemorar?
CLÁUDIO: Duas cervejas bem geladas. No capricho.
MELISSA: Deixa comigo.
Melissa vai buscar as cervejas. A câmera focaliza a entrada do local e observa-se Igor e Jaqueline entrando. Corta para o balcão central.
CLÁUDIO: Olha lá quem tá chegando!
Celso olha os dois, em especial para Jaqueline que logo retribui o olhar timidamente. Igor percebe o clima e chama a atenção dela dando-lhe uma cutucada. Fim da sonoplastia.
| CENA 09 | CASA DE CARLOS / SALA / INT. / NOITE.
Alguém bate na porta. Janaína vai atender. Seu cliente é um homem bem apresentado, veste uma blusa de mangas longas vermelha, calça social marrom e um relógio de pulso de ouro. Seu cabelo é meio grisalho e seus olhos são pretos. Janaína o recebe com desânimo.
JANAÍNA: Boa noite.
HOMEM: Boa noite. Você deve ser a Janaína. Eu contratei seus serviços.
JANAÍNA: Pode entrar.
O homem passa por Janaína alisando suas nádegas e depois vira-se para ela enquanto a mesma fecha a porta. Ele a observa dos pés a cabeça e lança um sorriso maroto.
HOMEM: Bem que o Carlos falou. Você é muito boa. Vou fazer de tudo contigo!
JANAÍNA: Senta um pouco. Vou buscar uma cerveja pra gente.
HOMEM: Vai lá.
| CENA 10 | PONTO DE ENCONTRO / INT. / NOITE.
O movimento de pessoas pelo ambiente continua intenso. O som de fundo agora é um hit eletrônico. No balcão central, Celso e Cláudio tomam uma cerveja. Igor e Jaqueline estão de pé de frente para os dois.
IGOR: (irônico) Ora ora se não os ‘bunda-moles’ arregões!
CLÁUDIO: (irônico) Não é meio tarde pra crianças estarem fora de casa? Cadê a mãezinha de vocês?!
IGOR: (impaciente) Cala a boca, seu pela saco!
CLÁUDIO: Quer dizer então que você não desistiu dessa história maluca de revanche. Eu se fosse você arranjaria a grana que tá me devendo ‘pra’ não ter que dá outro vexame. E ficar ainda mais endividado.
IGOR: Você se acha muito bom ’né’? Amanhã a gente decide essa parada. Aí a gente vai ver quem é o melhor dos dois.
JAQUELINE: Amanhã, Igor? Amanhã recomeçam as aulas!
CLÁUDIO: É gatinha. Quanto mais rápido resolvermos essa parada, melhor!
CELSO: Se é assim. Porque que vocês dois não desistem dessa grande burrada e esquecem essa história de racha?
JAQUELINE: Até que enfim alguém falou algo sensato aqui.
CLÁUDIO: Não antes do seu irmãozinho aí pagar o que me deve.
IGOR: Eu não vou precisar te pagar nada. Amanhã você vai comer poeira, seu ‘zé mané’, e depois disso a dívida está quitada.
CLÁUDIO: Veremos.
Cláudio toma um gole da cerveja direto da boca da garrafa. A câmera focaliza os moradores da república adentrando ao local.
| CENA 11 | REPÚBLICA / SALA / INT. / NOITE.
A câmera dá um close em Celina que desce as escadas chegando até sala e indo em direção a uma grande estante branca localizada à direita da porta de entrada. A mexicana veste uma roupa tradicional de sua terra que consiste num vestido rodado, sem mangas, que vai até o tornozelo, a cor base do traje é vermelha contrasta com as cores chamativas das rosas espalhadas no tecido e um excesso de bordado na parte do peito. A barra da saia é de renda branca. Sobre os ombros Celina tem um xale preto também decorado com bordado e um colar de bolinhas cor de ouro enorme no pescoço. Seu batom é vermelho sangue e sua cara está mais pintada do que nunca. O cabelo está em forma de coque e sustenta uma grande rosa amarela. A mulher ergue a cabeça realizada.
CELINA: !Libertad no tiene precio! [Liberdade não tem preço]
Ela caminha até a estante e chegando lá observa a fileira de CD’s empilhados como se procurasse algum álbum em específico. Celina encontra o que procurava e, rapidamente abre a capa tirando-o de dentro. Após apertar um botão no aparelho de som enfia o disco na bandeja. Um som começa a tocar baixo. Ela aumenta o volume.
MUSIC ON: (El mariachi loco)
Celina grita empolgada.
CELINA: Arriba!
Em seguida, a mexicana abre um sorriso espontâneo no rosto e começa a arriscar uns passinhos de dança. Aos poucos vai se empolgando e começa a girar freneticamente balançando a saia ao som da cúmbia mexicana enquanto cantarola a letra da música. Corte de cena.
| CENA 12 | PONTO DE ENCONTRO / INT. / NOITE.
Os moradores da república, que acabaram de chegar, começam a se espalhar pelo local. Valeska que já entrou praticamente dançando ao som de um hit eletrônico puxa Marcelo em direção às escadas que dão acesso a pista de dança, no andar de cima. Vanessa vai atrás. Restam Luciano, Fabiana e Bruna ali no meio da multidão.
FABIANA: Vem. Vou te apresentar ‘pro’ dono do bar.
Fabiana puxa Bruna pelo braço, Luciano as acompanha. A câmera segue os três até o balcão onde estão Chad e Melissa trocando uns beijinhos.
FABIANA: (direcionado a Chad e Melissa) Ih gente, primeiro o trabalho. Depois a diversão hein...!
Chad desgruda da namorada e vira-se para os três abrindo um sorriso de uma ponta da orelha à outra. Melissa faz o mesmo.
CHAD: Olha só quem resolveu dar o ar da graça! Que bom que vieram, pessoal!
LUCIANO: Também somos filhos de Deus ‘né’!
Melissa nota a presença de Bruna
MELISSA: Tem gente nova no pedaço é?
FABIANA: É isso aí. Essa aqui é a Bruna. Nova moradora lá da república. E Bruna, esses são Chad, proprietário do bar e Melissa, sua namorada.
Melissa, ainda sorrindo, ergue a mão direita mostrando o anel de compromisso no dedo anelar.
MELISSA: Agora é noiva. Tá, meu bem!
Chad passa o dedo no pescoço. Luciano ri.
LUCIANO: Se ferrou, meu amigo.
CHAD: Sem comentários meu caro. Mas seja muito bem vinda, minha querida Bruna. Isso aqui é o ‘point’ de encontro dos universitários da Campelo Costa.
MELISSA: Como vai, Bruna? Espero que goste do nosso bar.
BRUNA: Já ‘tô’ amando. E parabéns pelo noivado.
FABIANA: Já não era sem tempo ‘né’!
MELISSA: Pois é, Fabi. Esse aqui já me enrolou tempo demais. Dessa vez ele não me escapa.
CHAD: Ô amor. Isso não é hora ‘pra’ falarmos de coisas desagradáveis.
Melissa lança-lhe um olhar mortal e lhe dá um tapa nas costas.
MELISSA: Ah você me paga seu cachorro.
CHAD: Brincadeirinha meu pão de queijo suíço. Você sabe que o que eu mais quero nessa vida é me casar com você.
MELISSA: (incrédula) Mente que nem sente...
Todos caem na risada.
CHAD: Mas então, o que vocês vão beber? Cervejinha, caipirinha, drink especial?
LUCIANO: Uma cerva bem gelada ‘pra’ mim.
FABIANA: Pra mim e pra Bruna também.
BRUNA: Não. Eu não bebo.
FABIANA: Isso realmente não me surpreende, sua careta. Um suco de laranja ‘pra’ ela, então.
| CENA 13 | PONTO DE ENCONTRO / SEGUNDO ANDAR / INT. / NOITE.
Na pista de dança. Ainda ao som de uma música eletrônica, Valeska e Vanessa dançam freneticamente no meio da multidão. Elas chamam atenção de todos no local. Marcelo, por sua vez, arrisca uns movimentos tímidos com o corpo. Valeska puxa o namorado para perto e o beija sensual enquanto Vanessa segura vela para os dois. Após o beijo Valeska respira e olha no olho de Marcelo.
VALESKA: ‘Tô’ com sede!
MARCELO: Tudo bem. Vou buscar alguma coisa pra gente beber.
Enquanto Marcelo sai Valeska vira-se para a irmã ficando de costas para o namorado e volta a dançar na pista. No meio do caminho de Marcelo surge uma garota magra de cabelos lisos e negros, vestida com um modelo tomara que caia verde muito colado ao corpo. Sem sequer se apresentar para o rapaz a garota agarra-o pela nuca e lhe dá um beijo intenso deixando Marcelo sem reação. Não muito longe dali Vanessa observa a cena e logo avisa a irmã apontando os dois. Valeska fica furiosa ao ver o que acontecia e se aproxima imediatamente dos dois. Chegando ao local ela agarra os cabelos da garota com tanta força que ela se inclina para trás.
VALESKA: (furiosa) Perdeu a noção do perigo, sua vaca?
Close na cara da garota de vestido verde, sua expressão é de dor e surpresa.
autor
Diogo de Castro
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