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Projeto Biosfera 2: Capítulo 01

Minissérie de Marcelo Oliveira
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Prólogo

Ano 2000

O verão na América do Sul é a estação mais aclamada pelos cariocas, o banho de mar noturno virou mais uma opção de lazer. A orla praiana está sempre cheia de banhistas e os rumores sobre uma pandemia em escala global não parece tê-los assustados:

— Cara, não acredito que semana que vem é o Carnaval. — Guilherme, um jovem bronzeado, fala enquanto observa a praia iluminada por gigantescos postes cheios de holofotes.

Sei não, e essa história de pandemia? — o amigo Ricardo não tem o mesmo ânimo.

— Pandemia? Eu quero é mais, assim os americanos vêm todos pra cá e eu arrumo uma bolada.

— Você tem sorte, é fluente em inglês. Eu queria ter ido pros States junto contigo.

— Deu mole, te chamei, 'cê preferiu ficar com a Natália. Agora taí, ó. Ela  com outro e você aqui, caçando comigo.

— Pô, você me lembra isso toda hora.

— É pra você não cometer a mesma burrada duas vezes.

— Ih, olha lá, o que é que  acontecendo?

A multidão está correndo e gritando. Os rapazes olham para a praia e centenas de corpos aparecem boiando na água. Todos que estavam no mar parecem mortos. As pessoas entram em pânico, sirenes dos postos de salva-vidas tocam, os bombeiros se jogam na água para o resgate, mas, assim que mergulham, não voltam mais. As pessoas correm atropelando quem estiver na frente. Crianças são pisoteadas:

— Ana? Aaaanaaaaa, cadê você, minha filha, socorro, ajudem!

Muitas crianças se perdem de seus pais, Guilherme e Ricardo ficam confusos com toda correria. Guilherme grita pelo amigo:

— Cadu, Cadu, vem pra cá, mano!

Ricardo aparece trazendo uma criança:

— Calma neném, não se preocupe, nós vamos achar a sua mãe.

— Que merda é essa, Cadu? De quem é essa criança?

— Pô, ela se perdeu da mãe, Gui, temos que ajudar, né?

Súbito, um policial-praiano surge com um cassetete pronto a ataca-los, mas Ricardo se abaixa protegendo a criança:

Wow! Peraí, seu guarda, eu tentando ajudar, ó!

Mas, passando direto pelo trio, ele ataca um banhista, que se aproximava. O guarda percebeu a ameaça, mas o banhista não se perturbou com a presença e apenas se prostrou à sua frente. Sem ação, o guarda arria o cacetete na cabeça do banhista, mas ele nem se mexe. O homem agarra o policial e o sustenta no ar. Ricardo e Guilherme ficam impressionados com a cena, pois o banhista puxa o guarda para perto de si e morde o seu rosto.

— Aaaaaaahhhh!!!!

— Caramba, Gui, ajuda o cara! — Ricardo vira o rosto da criança.

— Vai a merda, olha o que  vindo lá do mar!

Outros banhistas, com movimentos irregulares, caminham para a orla e tentam agarrar qualquer um. Enquanto isso, o banhista continua arrancando pedaços da cabeça do guarda morto em sua mão.

Ricardo apanha a criança no colo e sai correndo, seguido por Guilherme. Eles saltam alguns corpos que haviam sido pisoteados, alguns com fraturas expostas. Muitos gritos de pessoas sendo atacadas pelos banhistas, sirenes de carros policiais chegam com manobras arriscadas, pessoas são atropeladas. Os policiais desembarcam apontando armas.

— Atenção, fiquem parados, ninguém se mexe! — o chefe da guarnição usa o megafone.

A multidão não dá ouvidos, todos estão assustados com os ataques.

— Não atira, não atira, eu  com essa criança perdida, ajudem, por favor! — Ricardo levanta um dos braços, enquanto o outro mantém a criança no colo.

— Fica parado, fica parado, senão eu atiro! — o guarda está disposto a cumprir a ameaça.

— Pô, mano, tá doido, vai me matar,  com essa criança aqui no colo!

O policial titubeia e se aproxima devagar do Ricardo, ele faz gesto para o rapaz entregar a criança. De repente, Ricardo cai no chão com o pescoço todo ensanguentado, a criança salta de seu colo e agarra o pescoço do policial também. Em choque, Guilherme fica sem reação enquanto a criança balança a cabeça com os dentes cravados na jugular do policial, que treme em convulsão. Outros policiais, diante da cena, começam a atirar em Ricardo e na criança. Guilherme pula de lado e sai correndo. Outros banhistas infectados atacam os policiais, a carnificina continua durante a madrugada.

Guilherme segue pelo calçadão desnorteado. Um bando de pessoas está transitando logo a sua frente. Instintivamente, o rapaz se detém, aproveita a escuridão da noite para se camuflar. Ele quer ter certeza de quem são antes de se aproximar. O comportamento deles não parece estranho, estão quase parados, a dúvida o atormenta: "o que eu faço, meu Deus, o que eu faço? Merda, e o Cadu... caramba, o que tá acontecendo?" abaixado atrás da roda de um carro, Guilherme decide se aproximar e se juntar aquelas pessoas. Um ônibus passa rápido por ele, desvia das pessoas e colide de frente com um poste de luz, causando um estouro, rompendo os cabos de alta tensão, todo o quarteirão fica em completa escuridão. O rapaz volta a se esconder, porque percebeu que as pessoas não esboçaram nenhuma reação ao desastre.

Quando uma mão pousa sobre seus ombros. Guilherme toma um susto e grita apavorado. As pessoas que estavam distantes ouvem o grito e começam a se locomover em direção ao jovem.

— Merda, não era pra você gritar, olha o que você fez! — o rapaz que tocou em Guilherme aponta para a aproximação hostil da multidão.

—  me puxa por trás e quer o quê? E agora? — Guilherme cai sentado, mas apanha a mão do estranho.

— Agora mete o pé ou você vira papá de defunto, eles estão vindo!

Os dois rapazes correm como se suas vidas dependessem disso.

Mais e mais ocorrências tomam a cidade, assassinatos seguidos de canibalismos são recorrentes. Os governantes decretam estado de sítio, mas a medida de isolar as pessoas dentro de casa foi a pior estratégia, isso porque as pessoas que se infectavam sem serem carcomidas, tornavam-se ferozes agressores, que acuavam as vítimas e se alimentavam delas.

Nenhuma força é suficiente para detê-los, nem tiros, nem lutas corporais. Só resta o desespero.

Introdução

Na década de 70, astrônomos comprovam a existência de minerais preciosos em outros planetas. De olho nos lucros que poderiam ter, os empresários resolveram investir em pioneiro projeto de exploração interplanetária.

No deserto do Arizona, EUA, inicia-se a construção da Biosfera 2. O curioso título deu-se porque o próprio planeta Terra foi considerado a Biosfera 1. O objetivo era recriar um ambiente próprio para sobrevivência humana em local totalmente inóspito e sem recursos naturais. Então, em área de 12 km² foi erguida uma redoma de vidro e aço, onde reproduziram o meio-ambiente da Terra.

1997

Um grupo composto por oito cientistas, quatro homens e quatro mulheres, foi selecionado para a experiência. Os mesmos deveriam ficar confinados e incomunicáveis por, pelo menos 2 anos. Porém, havia um problema: como gerar uma fonte de energia suficiente que durasse esse mesmo período? A intenção era ganhar tempo para chegar a uma solução mais duradoura, ou, na melhor das hipóteses, o grupo conseguisse gerar a própria energia.

Devido ao fim do orçamento, os idealizadores do projeto obrigaram os cientistas a cumprir os prazos a qualquer custo. Um grande experimento físico chamou atenção do mundo em 1998, o início da construção de um super gerador. O Colisor de Handróns, na fronteira da França com a Suíça, apareceu como um recurso provisório. A comissão diplomática conseguiu autorização da Organização Europeia de Pesquisas Nucleares, para instalar uma ponte de alimentação, até a solução mais adequada.

1999

Com todos os equipamentos em ordem, cálculos minuciosos e os cientistas preparados o experimento teve início operacional no dia 01 de Janeiro do ano 2000. O evento mereceu pomposa comemoração com ampla divulgação da imprensa internacional, a presença de autoridades e convidados especiais. A previsão para o término da primeira fase foi marcada para 31 de dezembro de 2002.

— O que é isso Dmitri? —  A doutora se assusta quando percebe um objeto estranho na mão do colega.

— Psiu! Fica quieta Yrina, é só um "brinquedinho" pra distrair nas horas vagas. — Dr. Dmitri Yvanovitch se contorce para esconder o aparelho que carrega.

— Dmitri,  louco? Isso consome energia, pode nos prejudicar.

— Não seja idiota, gasta menos que um pisca-pisca, ninguém perceberá.

A equipe se despede dos familiares, acena para o público presente, entra na abóbada e tranca as portas.

Durante todo ano o planeta é bombardeado por meteoritos oriundos dos mais longínquos recantos do espaço sideral e muitos deles transportam vírus e bactérias estranhas à natureza terrestre. Inclusive, alguns organismos geram doenças que até hoje não se sabe a cura, como: malária, ebola, gripe suína, AIDS e outras. Porém, essa informação é mantida em completo sigilo.

Entretanto, a comunidade científica alertou para a mais recente descoberta: uma lasca de meteorito com resíduos de diamantes, também trouxe o fóssil de microorganismos com cadeia de DNA muito semelhante ao organismo humano. Essa lasca é precursora de um corpo celeste com destino ao planeta.

A descoberta seria uma importante comprovação da existência de vida inteligente em outro ponto do universo. Porém, alguns líderes mundiais resolveram que não seria o momento de lidar com essa realidade e decidiram classificar a descoberta como ameaça. Logo, o meteorito com a forma de vida foi monitorado desde a sua chegada à nossa atmosfera para ser destruído, caso sobreviva ao atrito de reentrância.

Ignorando qualquer evento externo, dentro da Biosfera 2, o grupo dividiu as tarefas de acordo com a especialidade de cada um. A equipe é composta pelos seguintes membros:

Dr. Zhao Lee, chinês, geólogo e coordenador;

— Dr. Dmitri Yvanovitch e Dra. Yrina Stepanenko, russos, engenheiros responsáveis pela manutenção da estrutura da abóbada e equipamentos;

— Dra. Carmen Sampuska, chilena, bioquímica e botânica, para monitorar a flora;

— Dr. Armand Samperes, espanhol e Dra. Emilia Watson, inglesa, biotecnólogos responsáveis pela saúde da equipe;

— Dr. Dilson Martins, português e Dra. Suzana Acuña, mexicana, ambientólogos, para o meio ambiente e zoonoses.

Após as acomodações e um "briefing" sobre segurança, Dr. Lee alerta que somente os aparelhos elétricos relacionados previamente são permitidos, pois, eles precisarão de toda energia que conseguirem economizar. Logo que se instala, Dmitri conecta o brinquedinho. Apesar da ínfima carga que consome, os cálculos justíssimos não consideraram qualquer acréscimo, o que provocou pequeno desvio de corrente elétrica. Os sensores de proteção supersensíveis empregados para transportar a energia, apresentam falhas e interrompem o fornecimento.

Assim que a base toma conhecimento do defeito, aciona os operadores para fazerem varreduras no sistema. Todo o processo não demora mais que alguns minutos. Dentro da Biosfera surge apenas um sinal de alerta, mas nada é percebido porque os geradores compensam a interrupção.

Enquanto isso, temendo ser descoberto, Dmitri recolhe o aparelho e o esconde. Na base, após severa supervisão do circuito, sem encontrar nada que justificasse a pane, os técnicos decidem religar as fontes imediatamente. Mas, a ação repentina provoca uma liberação de energia acumulada nos bancos de capacitores, a descarga emite um raio iônico para o céu, rompendo as barreiras eletromagnéticas do planeta.

Esse evento abre uma janela nas estratosferas e coincide exatamente com a entrada do meteorito contendo o organismo extraterrestre. Sem qualquer resistência de atrito, a pedra espacial invade nosso ecossistema incólume.

Já prevendo a falha atmosférica, os astrônomos haviam determinado a possível área de pouso, em algum lugar do oceano Pacífico. Em prontidão, um grupo de mergulhadores é enviado para identificar o meteorito e alvejá-lo com armas de fogo. Assim que avistam o brilho no céu, eles apontam suas armas e esperam a ordem para atirar.

Uma explosão estraçalha a embarcação, ninguém sobrevive. Assim que o meteorito atinge as águas, um submarino o recolhe e desaparece sem deixar vestígios.

— Atento Ninho 2, operação executada com sucesso? Ninho 2, responda, câmbio!

Na base dos mergulhadores, a equipe não consegue restabelecer contato, ou detectar vestígios do mineral, então os consideram mortos, supostamente atingidos pelo meteorito que foi destruído junto.

NÃO PERCA, NESTA SEXTA, O SEGUNDO CAPÍTULO DA MINISSÉRIE "PROJETO BIOSFERA 2", AQUI NA WEBTV.

Minissérie de
Marcelo Oliveira

Personagens
Dr. Zhao Lee Dr. Dmitri Yvanovitch Dra. Yrina Stepanenko Dra. Carmen Sampuska Dr. Armand Samperes Dra. Emilia Watson Dr. Dilson Martins Dra. Suzana Acuña Participações Especiais Guilherme Ricardo Doug Théa
Direção
Carlos Mota

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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