Prólogo
Ano 2000
O verão na América do Sul é a estação
mais aclamada pelos cariocas, o banho de mar noturno virou mais uma opção de
lazer. A orla praiana está sempre cheia de banhistas e os rumores sobre uma
pandemia em escala global não parece tê-los assustados:
— Cara, não acredito que semana que vem
é o Carnaval. — Guilherme, um jovem bronzeado, fala enquanto observa a praia
iluminada por gigantescos postes cheios de holofotes.
— Sei não, e essa história de pandemia? — o amigo Ricardo não tem
o mesmo ânimo.
— Pandemia? Eu quero é mais, assim os
americanos vêm todos pra cá e eu arrumo uma bolada.
— Você tem sorte, é fluente em inglês.
Eu queria ter ido pros States junto contigo.
— Deu mole, te chamei, 'cê preferiu
ficar com a Natália. Agora taí, ó. Ela tá com
outro e você aqui, caçando comigo.
— Pô, você me lembra isso toda hora.
— É pra você não cometer a mesma burrada
duas vezes.
— Ih, olha lá, o que é que tá acontecendo?
A multidão está correndo e gritando. Os
rapazes olham para a praia e centenas de corpos aparecem boiando na água. Todos
que estavam no mar parecem mortos. As pessoas entram em pânico, sirenes dos
postos de salva-vidas tocam, os bombeiros se jogam na água para o resgate, mas,
assim que mergulham, não voltam mais. As pessoas correm atropelando quem
estiver na frente. Crianças são pisoteadas:
— Ana? Aaaanaaaaa, cadê você, minha
filha, socorro, ajudem!
Muitas crianças se perdem de seus pais, Guilherme
e Ricardo ficam confusos com toda correria. Guilherme grita pelo amigo:
— Cadu, Cadu, vem pra cá, mano!
Ricardo aparece trazendo uma criança:
— Calma neném, não se preocupe, nós
vamos achar a sua mãe.
— Que merda é essa, Cadu? De quem é essa
criança?
— Pô, ela se perdeu da mãe, Gui, temos
que ajudar, né?
Súbito, um policial-praiano surge com um
cassetete
pronto a ataca-los, mas Ricardo se abaixa protegendo a criança:
— Wow! Peraí, seu guarda,
eu tô tentando ajudar, ó!
Mas, passando direto pelo trio, ele
ataca um banhista, que se aproximava. O guarda percebeu a ameaça, mas o
banhista não se perturbou com a presença e apenas se prostrou à sua frente. Sem
ação, o guarda arria o cacetete na cabeça do banhista, mas ele nem se mexe. O
homem agarra o policial e o sustenta no ar. Ricardo e Guilherme ficam
impressionados com a cena, pois o banhista puxa o guarda para perto de si e
morde o seu rosto.
— Aaaaaaahhhh!!!!
— Caramba, Gui, ajuda o cara! — Ricardo
vira o rosto da criança.
— Vai a merda, olha o que tá vindo
lá do mar!
Outros banhistas, com movimentos
irregulares, caminham para a orla e tentam agarrar qualquer um. Enquanto isso,
o banhista continua arrancando pedaços da cabeça do guarda morto em sua mão.
Ricardo apanha a criança no colo e sai
correndo, seguido por Guilherme. Eles saltam alguns corpos que haviam sido
pisoteados, alguns com fraturas expostas. Muitos gritos de pessoas sendo
atacadas pelos banhistas, sirenes de carros policiais chegam com manobras arriscadas,
pessoas são atropeladas. Os policiais desembarcam apontando armas.
— Atenção, fiquem parados, ninguém se
mexe! — o chefe da guarnição usa o megafone.
A multidão não dá ouvidos, todos estão
assustados com os ataques.
— Não atira, não atira, eu tô com
essa criança perdida, ajudem, por favor! — Ricardo levanta um dos braços,
enquanto o outro mantém a criança no colo.
— Fica parado, fica parado, senão eu
atiro! — o guarda está disposto a cumprir a ameaça.
— Pô, mano, tá doido, vai me
matar, tô com essa criança aqui no colo!
O policial titubeia e se aproxima
devagar do Ricardo, ele faz gesto para o rapaz entregar a criança. De repente, Ricardo
cai no chão com o pescoço todo ensanguentado, a criança salta de seu colo e
agarra o pescoço do policial também. Em choque, Guilherme fica sem reação
enquanto a criança balança a cabeça com os dentes cravados na jugular do
policial, que treme em convulsão. Outros policiais, diante da cena, começam a
atirar em Ricardo e na criança. Guilherme pula de lado e sai correndo. Outros
banhistas infectados atacam os policiais, a carnificina continua durante a
madrugada.
Guilherme segue pelo calçadão
desnorteado. Um bando de pessoas está transitando logo a sua frente.
Instintivamente, o rapaz se detém, aproveita a escuridão da noite para se
camuflar. Ele quer ter certeza de quem são antes de se aproximar. O
comportamento deles não parece estranho, estão quase parados, a dúvida o
atormenta: "o que eu faço, meu Deus, o que eu faço? Merda, e o Cadu...
caramba, o que tá acontecendo?" abaixado atrás da roda de um carro,
Guilherme decide se aproximar e se juntar aquelas pessoas. Um ônibus passa
rápido por ele, desvia das pessoas e colide de frente com um poste de luz,
causando um estouro, rompendo os cabos de alta tensão, todo o quarteirão fica
em completa escuridão. O rapaz volta a se esconder, porque percebeu que as
pessoas não esboçaram nenhuma reação ao desastre.
Quando uma mão pousa sobre seus ombros.
Guilherme toma um susto e grita apavorado. As pessoas que estavam distantes ouvem
o grito e começam a se locomover em direção ao jovem.
— Merda, não era pra você gritar, olha o
que você fez! — o rapaz que tocou em Guilherme aponta para a aproximação hostil
da multidão.
— Cê me puxa por trás e
quer o quê? E agora? — Guilherme cai sentado, mas apanha a mão do estranho.
— Agora mete o pé ou você vira papá
de defunto, eles estão vindo!
Os dois rapazes correm como se suas
vidas dependessem disso.
Mais e mais ocorrências tomam a cidade,
assassinatos seguidos de canibalismos são recorrentes. Os governantes decretam
estado de sítio, mas a medida de isolar as pessoas dentro de casa foi a pior
estratégia, isso porque as pessoas que se infectavam sem serem carcomidas,
tornavam-se ferozes agressores, que acuavam as vítimas e se alimentavam delas.
Nenhuma força é suficiente para
detê-los, nem tiros, nem lutas corporais. Só resta o desespero.
Introdução
Na década de 70, astrônomos comprovam a existência de
minerais preciosos em outros planetas. De olho nos lucros que poderiam ter, os
empresários resolveram investir em pioneiro projeto de exploração
interplanetária.
No deserto do Arizona, EUA, inicia-se a construção da
Biosfera 2. O curioso título deu-se porque o próprio planeta Terra foi
considerado a Biosfera 1. O objetivo era recriar um ambiente próprio para
sobrevivência humana em local totalmente inóspito e sem recursos naturais.
Então, em área de 12 km² foi erguida uma redoma de vidro e aço, onde
reproduziram o meio-ambiente da Terra.
1997
Um grupo composto por oito cientistas, quatro homens e
quatro mulheres, foi selecionado para a experiência. Os mesmos deveriam ficar
confinados e incomunicáveis por, pelo menos 2 anos. Porém, havia um problema:
como gerar uma fonte de energia suficiente que durasse esse mesmo período? A
intenção era ganhar tempo para chegar a uma solução mais duradoura, ou, na
melhor das hipóteses, o grupo conseguisse gerar a própria energia.
Devido ao fim do orçamento, os idealizadores do
projeto obrigaram os cientistas a cumprir os prazos a qualquer custo. Um grande
experimento físico chamou atenção do mundo em 1998, o início da construção de
um super gerador. O Colisor de Handróns, na fronteira da França com a Suíça,
apareceu como um recurso provisório. A comissão diplomática conseguiu
autorização da Organização Europeia de Pesquisas Nucleares, para instalar uma
ponte de alimentação, até a solução mais adequada.
1999
Com todos os equipamentos em ordem, cálculos
minuciosos e os cientistas preparados o experimento teve início operacional no
dia 01 de Janeiro do ano 2000. O evento mereceu pomposa comemoração com ampla
divulgação da imprensa internacional, a presença de autoridades e convidados
especiais. A previsão para o término da primeira fase foi marcada para 31 de
dezembro de 2002.
— O que é isso Dmitri? — A doutora se
assusta quando percebe um objeto estranho na mão do colega.
— Psiu! Fica quieta Yrina, é só um
"brinquedinho" pra distrair nas horas vagas. — Dr. Dmitri Yvanovitch
se contorce para esconder o aparelho que carrega.
— Dmitri, tá louco? Isso consome
energia, pode nos prejudicar.
— Não seja idiota, gasta menos que um pisca-pisca,
ninguém perceberá.
A equipe se despede dos familiares, acena para o
público presente, entra na abóbada e tranca as portas.
Durante todo ano o planeta é bombardeado por
meteoritos oriundos dos mais longínquos recantos do espaço sideral e muitos
deles transportam vírus e bactérias estranhas à natureza terrestre. Inclusive,
alguns organismos geram doenças que até hoje não se sabe a cura, como: malária,
ebola, gripe suína, AIDS e outras. Porém, essa informação é mantida em completo
sigilo.
Entretanto, a comunidade científica alertou para a
mais recente descoberta: uma lasca de meteorito com resíduos de diamantes,
também trouxe o fóssil de microorganismos com cadeia de DNA muito semelhante ao
organismo humano. Essa lasca é precursora de um corpo celeste com destino ao
planeta.
A descoberta seria uma importante comprovação da
existência de vida inteligente em outro ponto do universo. Porém, alguns
líderes mundiais resolveram que não seria o momento de lidar com essa realidade
e decidiram classificar a descoberta como ameaça. Logo, o meteorito com a forma
de vida foi monitorado desde a sua chegada à nossa atmosfera para ser
destruído, caso sobreviva ao atrito de reentrância.
Ignorando qualquer evento externo, dentro da Biosfera
2, o grupo dividiu as tarefas de acordo com a especialidade de cada um. A
equipe é composta pelos seguintes membros:
— Dr. Zhao Lee, chinês, geólogo
e coordenador;
—
Dr. Dmitri Yvanovitch e Dra. Yrina Stepanenko, russos, engenheiros responsáveis
pela manutenção da estrutura da abóbada e equipamentos;
—
Dra. Carmen Sampuska, chilena, bioquímica e botânica, para monitorar a flora;
—
Dr. Armand Samperes, espanhol e Dra. Emilia Watson, inglesa, biotecnólogos
responsáveis pela saúde da equipe;
—
Dr. Dilson Martins, português e Dra. Suzana Acuña, mexicana, ambientólogos,
para o meio ambiente e zoonoses.
Após as acomodações e um "briefing"
sobre segurança, Dr. Lee alerta que somente os aparelhos elétricos relacionados
previamente são permitidos, pois, eles precisarão de toda energia que
conseguirem economizar. Logo que se instala, Dmitri conecta o brinquedinho.
Apesar da ínfima carga que consome, os cálculos justíssimos não consideraram qualquer
acréscimo, o que provocou pequeno desvio de corrente elétrica. Os sensores de
proteção supersensíveis empregados para transportar a energia, apresentam
falhas e interrompem o fornecimento.
Assim que a base toma conhecimento do defeito, aciona os
operadores para fazerem varreduras no sistema. Todo o processo não demora mais
que alguns minutos. Dentro da Biosfera surge apenas um sinal de alerta, mas
nada é percebido porque os geradores compensam a interrupção.
Enquanto isso, temendo ser descoberto, Dmitri recolhe
o aparelho e o esconde. Na base, após severa supervisão do circuito, sem
encontrar nada que justificasse a pane, os técnicos decidem religar as fontes
imediatamente. Mas, a ação repentina provoca uma liberação de energia acumulada
nos bancos de capacitores, a descarga emite um raio iônico para o céu, rompendo
as barreiras eletromagnéticas do planeta.
Esse evento abre uma janela nas estratosferas e
coincide exatamente com a entrada do meteorito contendo o organismo
extraterrestre. Sem qualquer resistência de atrito, a pedra espacial invade
nosso ecossistema incólume.
Já prevendo a falha atmosférica, os astrônomos haviam determinado
a possível área de pouso, em algum lugar do oceano Pacífico. Em prontidão, um grupo
de mergulhadores é enviado para identificar o meteorito e alvejá-lo com armas
de fogo. Assim que avistam o brilho no céu, eles apontam suas armas e esperam a
ordem para atirar.
Uma explosão estraçalha a embarcação, ninguém
sobrevive. Assim que o meteorito atinge as águas, um submarino o recolhe e
desaparece sem deixar vestígios.
— Atento Ninho 2, operação executada com sucesso?
Ninho 2, responda, câmbio!
Na base dos mergulhadores, a equipe não consegue
restabelecer contato, ou detectar vestígios do mineral, então os consideram
mortos, supostamente atingidos pelo meteorito que foi destruído junto.
Personagens
Direção
Carlos Mota
Bruno Olsen
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