Parte 2
Yrina e Carmen têm uma crise nervosa. Zhao senta numa cadeira
e tenta conter o formigamento do braço esquerdo, enxuga a testa extremamente
suada. Dmitri aparenta uma estranha euforia, puxa Dilson para dentro da
delegacia com intenção de encontrar armamento. Armand, com os olhos
esbugalhados e tremendo, tenta raciocinar:
— Dr. Lee, o senhor tem alguma ideia do que está
acontecendo?
— Se-sei tanto quan-quanto o senhor, dr. Samperes.
Nunca via nada parecido antes!
Dmitri reaparece:
— Olha aqui, parem com essa palhaçada de
"doutor". Vocês nunca viram filmes de zumbi? Está claro que a merda
estourou, a humanidade está praticamente dizimada, só sobraram esses porcarias
e a gente para repovoar a Terra, simples assim. — Dmitri distribui armas para
todos no grupo.
— O que? — Dr. Lee grita subitamente. Não entende nada
do que foi dito.
— Olhe, doutor, o seu grito parece ter chamado atenção
deles. — Armand continua vigiando da janela. — Mas, porque não vêm para cá? O
que estão esperando?
— Hum, talvez seja a luz do sol, veja, estão
amontoados à sombra do prédio... — chegando na janela Dmitri observa. — A merda
é que já está escurecendo.
Em outro canto, Dilson tenta convencer as meninas a
apanhar as armas:
— Olha, eu sei que a situação é caótica. Mas,
precisamos nos proteger, para depois tentar resolver, até lá, temos que ficar
unidos.
— Nã-não, por favor, nós não temos treinamento para
isso. Somos cientista, pelo amor de Deus! — Carmen protesta.
— Ninguém aqui tem treinamento, Carmen, mas precisamos
ficar vivos. Vocês não podem ser mais uma preocupação. Entende?
Yrina solta seu braço e levanta.
— Ele está certo, Carmen, nós precisamos lutar juntos,
se ficarmos paradas só iremos prejudicar o grupo. — Yrina apanha as duas armas
e entrega uma para a amiga.
Tremendo muito, Carmen deixa a arma cair no chão,
provocando um barulho.
— Olhem! Os últimos raios de sol sumiram e eles estão
vindo para cá. — Armand alerta ao grupo.
Dmitri se aproxima e olha pela janela.
— Hum, eles são lentos, devem ter perdido a
elasticidade muscular. Escutem bem, é o seguinte...
— Dr. Yvanovitch, como sabe tanto dessas coisas? —
Zhao parece impressionado.
— Cultura nerd, meu caro Zhao, a vida não é só manuais
e revistas pornôs, sabia?
Zhao ignora a insinuação, Dmitri continua:
— Como eu ia dizendo: esse tipo de zumbi é molezinha,
eles têm movimentos lentos, mas o maior perigo é te agarrarem, porque eles têm
uma força tonelérica nas mãos, deve ser alguma coisa com a tal
rigidez cadavérica...
— Essa palavra "tonelérica" existe? —
Dilson parece disperso.
— Cala a boa Dilson, deixa o Dmitri explicar! — Yrina
fica impaciente.
— Pessoal, vamos manter o foco! — Armand intervém,
depois faz sinal para Dmitri continuar, sem sair da janela.
— Tá, voltando: é só furar a cabeça deles
que os bichos, meio que, como posso dizer? Eles morrem... de novo, entenderam?
Zhao pede a palavra:
— Não, não entendi. Você quer dizer que nós temos que
acertar a cabeça deles de longe? Temos que matar essas pessoas?
— Tá, olha gente, a primeira coisa que
vocês precisam aceitar é que, "aquilo" lá fora não é mais gente...
— Hã! Dr. Lee. — Armand chama atenção.
— Agora não Armand, não nos interrompa. — Dmitri
começa a perder a paciência.
— Dr. Yvanovitch, por favor... — Armand insiste.
— E para com essa palhaçada de doutor, pelo amor de
Deus, isso já tá me irritando.
— Tá, tá, mas, vem aqui dar uma
olhadinha...
— O que fo... — assim que chega na janela Dmitri
engole as palavras.
A rua está tomada por centenas de pessoas perambulando
sem destino, praticamente todas sem coordenação motora.
— O que? — Zhao dá outro grito.
Um amontoado olha na direção da delegacia. Os
cientistas se abaixam.
— Zhao, se você der mais um gritinho desses, eu te
jogo no meio daqueles passa-fome dos infernos, entendeu? — Dmitri fala com
raiva.
— Dmitri, o que vamos fazer? — Dilson retoma o raciocínio.
— Os carros não ligam mais, e mesmo que ligassem, tem muita gente entre nós e
os carros.
— Por enquanto vamos ficar tranquilos, acredito que a
delegacia deve ter janelas blindadas e grades em todos os cantos, então não
entrarão aqui. Também temos água. Mas, não podemos ficar muito tempo, a gente
precisa comer.
— O melhor é tentar fazer contato com alguém e voltar
pra Biosfera. — Armand é o mais sensato.
Enquanto discutem, Yrina se aproxima de Carmen,
encolhida em um canto, parece em estado de choque, pois ela não para de se
tremer.
— Calma, querida, nós vamos sair daqui. Tenha fé. —
Yrina pega na mão da colega.
— Vo-você não ouviu o Dmitri? Nós vamos ter que matar
essas pessoas. O que está acontecendo? Onde está todo mundo? — Carmen se
contorce, põe a mão sobre a barriga.
O movimento dela deixa Yrina ainda mais preocupada:
— Eu sei que o momento é tenso, mas não adianta
processar o que está acontecendo sem informações. Lembra o que o Dilson falou?
Temos que ficar unidos para sairmos daqui e depois encontrar as respostas.
— Si-sim, e-eu sei, mas, isso tudo é loucura, e-eu
acho que não vou conseguir...
— Claro que sim, todos nós conseguiremos. Vamos seguir
juntas, está bem?
— Menos a Suzana, e-ela foi devorada, você viu? Viu?
Yrina fica calada e abraça a amiga.
— Dr. Yvanovitch, eu queria me desculpar pelo
descontrole, é um movimento involuntário quando estou em situação de estresse
extremo e...
— Cala a boca Zhao, temos que ficar em silêncio...
As criaturas chegam à porta da delegacia e tentam
empurra-la, as sombras de seus vultos passam pelas janelas.
— Antes de morrermos, a visão é o primeiro sentido que
perdemos, e a audição é o último. — Armand sussurra para explicar o fenômeno a
Dmitri.
— Hum, faz sentido...
Súbito, os zumbis começam a dar cabeçadas nas janelas.
A cada batida, Yrina sufoca os gritos de Carmen tapando sua boca com a mão. As
pancadas vão sucedendo umas às outras, as janelas aguentam firme, talvez seja
questão de tempo até se romperem.
— Como é que pode? Mesmo em silêncio eles querem
entrar, não entendo como sabem que estamos aqui, se não podem nos ver ou ouvir.
A resposta surge logo atrás deles, um odor forte de
sangue empesteia o ar.
Personagens
Direção
Carlos Mota
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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