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Estrada 34: Capítulo 11

Novela de Isa Nota
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CAPÍTULO 11



Um dos homens levantara-se e encarara Iolanda. A porta fora aberta por outro homem e todos saíram da sala em ordem.

- Não será necessário. Em poucos dias a delegada e sua família virarão cinzas. – Disse, aproximando-se da porta. – Mas antes...

- Se vocês pensam que receberão adiantado, podem tirar o cavalinho da chuva! Não vão ganhar nada até que eu veja a Bruna morta. E de preferência queimada.

- Assim não vai dar dona. Não é por nada, mas já fizemos negócios assim e fomos deixados na mão.

- Confiem no taco de vocês. Assim como pode dar certo, tem tudo para dar errado. E não contem apenas com a sobrevivência dela. Se alguém descobrir que sou eu a mandante, não terei pena de matá-los. Agora sai daqui, anda! E façam o trabalho direito.

O homem retirou-se, batendo a porta. Iolanda folheara um exemplar da última edição, que levava na capa a imagem de uma cantora. Exibia um belo sorriso, quando fora interrompida por Antônia.

- O que houve Antônia? Parece que viu um fantasma! – Indagara, folheando as páginas.

- Sabe o que é dona Iolanda... Eu estava no meu horário de almoço e quando voltei, ouvi de um jornalista que vão publicar uma reportagem sobre a senhora. E não é boa coisa!

- Qual a novidade, Antônia? Você trabalha comigo há dez anos e sabe que isso é normal.

- Não. Você não entendeu! Eles vão publicar uma reportagem dizendo que foi a senhora quem matou aquela juíza. – Antônia disse, olhando para a faca que havia em cima da mesa.

- Eu tenho dinheiro de sobra para calar a boca de todos eles, que são apenas estagiários. Eles querem atingir a marca da revista, não a mim. E outra. Que prova eles teriam de que eu matei? – Continuara a folhear, aguardando a resposta da secretária. – Antônia?

Antônia permanecia em pé, olhando para a faca sobre a mesa. Iolanda, ao perceber, atirara o objeto para longe.

- Eles não. Mas eu sim!

- Como é que é, Antônia? Isso é uma ameaça? Repete!

- Eu já vi o suficiente, Iolanda. Com licença.

- Olhe pra mim. Sou uma mulher rica, presidente de uma das melhores revistas do país. E você? Apenas uma funcionária sem valor. Quer mais? Você sobrevive graças a mim. Usa a mesma roupa todos os dias. – Fitou-a. Antônia continuava no mesmo lugar, limpando suas lágrimas. – Pode sair querida. Pensa no que te falei e cuidado onde você se mete.

 

***

Arthur, escorado na janela do transporte público, pensara em todos os momentos que convivera com a mãe. Seu olhar era fixo. Os passageiros o olhavam com ar de reprovação e comentavam entre si.

- Menino, você não tem dinheiro? – Era a pergunta do cobrador. Ele possuía uma barriga avantajada e sua barba era grossa.

- Não. Eu me assustei com um homem e entrei aqui, sem querer. Pra onde o ônibus vai?

- Copacabana. – Olhou para o motorista. – Vem, vai por baixo da roleta e se senta aqui atrás. – Arthur obedecera e sentara-se no assento ao lado do cobrador.

O coletivo dera uma freada brusca, assustando todos os passageiros. Adentrara três homens encapuzados, com a cabeça baixa. Forçaram a roleta e mostraram disfarçadamente a arma para o cobrador.

- PAREM O ÔNIBUS! É UM ASSALTO! – Um dos bandidos pulara a roleta e mirara para alguns dos passageiros. – Passem tudo! Dinheiro, celular, relógio...

- E você, pivete? – Outro bandido pôs a arma no queixo de Arthur. – Tem grana não?

- Não tenho nada.

- Ihh... Acha que a gente vai cair no seu papo é? Tu é rico que eu sei! Passa a grana de uma vez!

- Não ouviu o menino? Ele não tem nada! Saiam daqui antes que a polícia apareça. – O cobrador falou um pouco receoso.

Ouviram uma sirene. Um dos bandidos fitara os outros saírem do coletivo e dera uma coronhada na cabeça, o que fizera a criança desmaiar.

***

Rafaela Muniz descera as escadas, indo para a cozinha, trajando um short jeans amarelo e uma blusa de renda sem manga branca, transparecendo seu sutiã da mesma cor. Utiliza uma rasteirinha dourada fechada no calcanhar. Abre a geladeira e retira uma jarra de vidro contendo água, derrama uma pequena quantidade num copo de vidro e ingere três goles.

Ouve a campainha. Aproxima-se da porta, com o copo na mão e a abre. Vê uma mulher de cabelos castanhos encaracolados nas pontas, trajando um belo vestido vermelho acima do joelho. Utiliza óculos de sol arredondados.

- Pois não, senhora? – Rafaela indaga, ingerindo mais alguns goles de água.

- Não está me reconhecendo, Rafaela? – Retirara os óculos e colocara sobre a cabeça. – Sou eu, Dora Araújo. Avó paterna da Giulia.

Num ato brusco, Rafaela tenta fechar a porta, derramando o líquido que restara em sua blusa, deixando o copo cair estilhaçando-se em grandes pedaços. Dora, no entanto, consegue forçar a porta e adentra na residência.

- A Giulia não tem pai. Portanto, não há como ser avó dela... – Abrira a porta. – Faça o favor de se retirar!

- Eu tenho um recado do Fausto. – Disse, aproximando-se de uma poltrona. – Posso me sentar?

Rafaela, um tanto incomodada assentira com a cabeça e fechara a porta, sentando-se no sofá.

- O Fausto quer se aproximar da Giulia. – Dora disse, fitando Rafaela. – Eu sei que ele lhe fez muito mal quando era menina ainda. Mas ele está arrependido. Quer recomeçar a vida do zero.

- Disse muito bem: me fez muito mal. E não quero arriscar. Não por mim, mas pela Giulia. Ela é uma criança, acredita que o pai está morto.

- Você é louca!

- Louca eu seria se a deixasse conviver com o pai. Dora me perdoe, mas o seu filho é um marginal! Eu fui irresponsável de brincar com ele de maneira incorreta. Paguei pelo erro sozinha! O Fausto não se deu ao trabalho de perguntar o sexo da criança.

- Ele era muito jovem. É comum...

- Jovem? A única jovem da história era eu! O Fausto era maior de idade, tinha seus vinte e poucos anos. E eu, uma menina de quinze anos começando o segundo colegial! Eu carreguei um bebê, criei, passei humilhações horríveis por causa do seu filho mimado. Chegou a me dopar e me levar para uma clínica de aborto clandestina!

- E não abortou por orgulho.

- Eu seria uma assassina! Eu fui irresponsável sim. Mas não poderia responsabilizar a criança por um erro meu! A Giulia é a única coisa boa que seu filho me deu.

- Você tem seus motivos para odiar o Fausto. Mas a verdade tem que aparecer. Uma hora ou outra você terá que dizer a verdade e...

- Não tenho coragem de dizer para ela que o pai é um drogado, traficante, estuprador, assassino... Ela foi criada por mim sem a presença paterna. E continuará assim pelo menos até alcançar a maioridade. Daí ela decide o que faz com a notícia. Mas eu estou fazendo meu papel de mãe que é protegê-la.

- Vim te avisar que o Fausto sairá dentro de alguns dias da penitenciária. E vai fazer o impossível para se aproximar da menina.

- Dê o meu recado a ele. E diga que a Bruna agora é delegada. Antes, o prendeu como policial. Se ele mexer com a menina já sabe o que lhe aguarda.

Dora fita Rafaela por alguns segundos. Levanta-se em silêncio e fecha a porta. Rafaela observa a mulher entrar em seu carro, enquanto caem lágrimas.

*** 

Os passageiros do coletivo socorrem Arthur. Ele recobra a consciência e uma mulher, com cabelo amarrado a um rabo de cavalo baixo, trajando uma camiseta branca lisa e uma calça jeans preta e utilizando um tênis velho ajoelha-se próximo ao menino.

- Onde estão os seus pais? – Indagou.

- Eu não sei... Eu fugi da escola. Meu pai... Não sei! Minha mãe morreu.

- Meus pêsames. Não sabia!

- Saiu em todos os jornais, tia.

- Esse menino é herdeiro daquela mulher rica! Eu o levo pra casa e faturo uma grana alta com o resgate. – Pensou. – Garoto, eu sei quem é seu pai. Ele está muito preocupado com você! Venha, eu lhe levo para a minha casa e ele te busca. Pode ser?

- Sim!

A mulher em questão o pega na mão e o leva até seu assento. O menino coloca a cabeça sobre seu ombro, enquanto ela exibe um grande sorriso.

*** 

Bruna e Guilherme estão de pé, atrás de um segurança que analisa imagens da câmera do colégio de Arthur. Bruna chega próxima ao segurança enquanto Guilherme, impaciente, senta-se numa cadeira ao lado da porta.

- Aqui! É ele, Guilherme? – Indaga Bruna.

- Sim. Mas ele parece correr para longe!

- Ele deve ter pegado um ônibus ou seguido a pé. Ele deve ter feito isso no descuido do segurança e para não ser pego, foi até a outra parada. Agora, se ele fugiu a pé não deve estar muito longe!

***

Maria Paula Albuquerque adentra em seu quarto. É um local limpo: uma cama de casal, uma escrivaninha, um hack com uma televisão de LED, um guarda-roupa de casal e um banheiro. Traja um vestido florido e utiliza uma bolsa a tiracolo, onde retira uma sacola plástica que contém uma faca ensanguentada. Retira os edredons, o lençol e a capa que protege o colchão. Ajoelha-se a frente da cama, ao lado da porta. Põe a mão num buraco que há no colchão e retira uma carta. Depois, finca o objeto dentro do colchão e arruma a cama. Adentra no banheiro e lava suas mãos. Senta-se na cadeira que há na escrivaninha e lê a carta, de forma silenciosa.

Após a leitura, põe a mão sobre a testa e respira fundo. Abre a segunda gaveta e vê o retrato de um homem.

- Você me fez muito feliz, Luciano! Deu-me um presente maravilhoso que, infelizmente, foi tirado de mim injustamente. Acreditou em pessoas falsas e preferiu morrer a encarar a situação. Mas ainda assim, continuo lhe amando!

***

Passam-se das dez horas da noite. Arthur está sentado numa pequena mesa retangular de seis pessoas. Ele serve-se pela segunda vez, enquanto uma mulher o observa, enquanto lava a louça.

- Tia, você falou com o meu pai? – Indagara Arthur.

- Falei sim. Mas sabe o que é? – Limpara suas mãos num pano de prato. – Ele disse que não quer mais saber de você!

- Isso não é verdade. Eu fugi porque estava com medo do que estava acontecendo! Agora eu sei!

- Cala a boca, garoto. O seu pai nem sabe que tu ta aqui comigo. Nem sei quem tu é na verdade.

- Mas você disse...

- Você devia ser mais esperto. Aceitou minha ajuda como se eu fosse mesmo querer te ajudar. – Pressionou o braço do menino. – Agora limpa aquela louça suja e depois lava o banheiro.

- Mas eu não posso fazer isso! Sou só uma criança.

- Você deve ter mordomia na sua casa, mas aqui não. É cada um por si! Eu mando e você obedece. Faça o que eu disse.

- Não! – Correu para a porta e tentou abri-la. Estava trancada.

- Não tem como você sair. – Aproximou-se do menino e tentou puxá-lo. Porém, ele mordera seu braço. – Droga!

Arthur vira a janela aberta. Pulara. Era uma altura pequena e, portanto, não houve problemas na queda. Vira a mulher gritando e correra o mais longe que pudera e chegara à praia de Copacabana. Respirara fundo e sentara-se num banco.

***

Próxima a praia, Guilherme e Bruna indagam as pessoas com uma foto de Arthur em mãos. Todos balançam negativamente a cabeça.

- Guilherme. Já passam das dez horas da noite. Se não o encontramos ainda, não vai ser agora que isso vai acontecer.

- Você diz isso porque não é seu filho!

- Presta atenção! Eu estou aqui, com você, procurando o seu filho. Eu devia estar na delegacia trabalhando. Eu já vi e investiguei inúmeros casos assim e infelizmente, aqui no Brasil, a polícia só age depois de vinte e quatro horas. É melhor você ir para casa e descansar. Se eu o encontrar, eu lhe aviso.

- Eu já liguei para todos os coleguinhas dele, Bruna. Ninguém sabe... Ninguém viu. Ele tem só sete anos! Sabe se lá o que aconteceu com ele.

- Eu sei Guilherme. A sua angústia é completamente compreensível. Você precisa manter a calma. O jeito é esperar!

Os dois se abraçaram. Caminharam para seus respectivos carros e seguiram caminhos diferentes, pensando um no outro.

***

Rafaela traja uma camisola curta. Seu cabelo está preso a um coque. Ela ingere dois goles de um chá. A jovem para na porta do quarto da filha, Giulia, de dez anos, que traja a mesma camisola para seu tamanho. A menina dorme. Rafaela aproxima-se da cama da menina e deita-se ao lado, fazendo cafuné em sua cabeça. Ela tem uma lembrança, mas vira para o lado e beija a testa da filha.

- Eles não te farão mal, minha filha. Não vão! – Levantara-se e ajeitara a menina. Por fim, dera um beijo e desligara a luz.

***

Bruna Muniz dirige o carro em uma velocidade mediana. Olha para os lados, procurando por Arthur. Freia bruscamente, fazendo com que outros carros buzinem. Ela aproxima-se do acostamento, sai do carro deixando-o ligado e vai até um banco da praia, onde uma criança está deitada.

- Oi! Qual o seu nome?

A criança levanta-se assustada. É Arthur.

- Não precisa dizer, já sei quem é. – Exibira um sorriso simpático que tranqüilizara Arthur. – Eu sou amiga do seu pai. Vou levar você para casa, tudo bem?

- Sim...

Bruna colocara sua mão sobre a testa do menino. Estava quente. Seu corpo tremia. Sua cabeça estava baixa.

- Você está ardendo em febre! – Bruna pegara a criança e levara para o carro, deitando-a sobre os assentos de trás. O menino logo pegara no sono.

Antes de entrar no carro, o celular de Bruna, que estava em seu bolso, tocara. Era da delegacia.

- Perdoe-me a hora delegada. Mas nós descobrimos uma nova pista do assassinato da Lana. E não é uma simples prova. É uma confissão! – Disse a outra voz.

  

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