| CENA 01 | REPÚBLICA / QUARTO GOIABA / INT. / NOITE.
Continuação do capítulo anterior. Cláudio está furioso com a visita surpresa de Igor, que se apresenta na defensiva.
CLÁUDIO: Veio ver se conseguiu acabar comigo? Deve tá decepcionado ‘né’!
IGOR: Eu vim na paz, cara. E outra, eu não queria que isso tivesse acontecido. Eu não tive culpa e você sabe que esse era um risco ao qual todo mundo tava exposto. Você sabia que a qualquer momento podia aparecer um carro, um caminhão ou sei lá o quê.
Cláudio não responde.
IGOR: E então, como é que você tá?
CLÁUDIO: Quebrado, não tá vendo? (voz embargada) Mas quem ficou na pior foi o Celso.
IGOR: Me disseram lá embaixo. Eu sinto muito por ele.
CLÁUDIO (bravo): Sente nada. Tu tá pouco se lixando pra ele. Fala aí na real, o que é que tu tá querendo com essa visitinha surpresa? Se tá pensando que tua dívida tá perdoada, tá muito enganado seu ‘pela’. A corrida não acabou. Não teve vencedor.
IGOR: E como é que você pretende correr novamente nesse estado? Vamos esquecer isso, Cláudio. Eu não tenho como conseguir essa grana.
Cláudio ri debochado.
CLÁUDIO: Se vira, ‘moleque’.
Igor levanta a sobrancelha direita, desafiador.
IGOR: Ah é? E se eu não pagar? O que você vai fazer? Me colocar na justiça? Corrida ilegal é crime, cara. Se você for mexer nessa história vão acabar descobrindo como o acidente aconteceu e vai todo mundo em cana. É isso que você quer? Ferrar todo mundo? Pensa bem.
Igor sai do quarto, deixando Cláudio mais furioso ainda.
CLÁUDIO: Que droga! Esse desgraçado tem razão.
| CENA 02 | REPÚBLICA / QUARTO UVA / INT. / NOITE.
Luciano está na poltrona bege com olhos fixados em um livro. Marcelo acaba de entrar no quarto e senta-se na cama ficando de frente para o amigo. Luciano faz que não percebe e continua a leitura. Marcelo permanece calado observando o amigo. Luciano é vencido e acaba por encarar Marcelo por cima do livro.
LUCIANO: Quer me dizer alguma coisa?
MARCELO: Quero me declarar ‘pra’ Bruna.
Luciano joga o livro em cima da mesa do computador e abre os braços forçando uma surpresa.
LUCIANO: Não sei se reparou, mas eu não sou a Bruna.
MARCELO: (irônico) Ufa. Que bom hein!
LUCIANO: E tá esperando o quê, então?
MARCELO: Coragem.
LUCIANO: Qual é! Você nunca foi medroso, Marcelo. Que papo é esse agora?
MARCELO: Sei lá, cara. Ela me deixa desse jeito. A Bruna é especial.
LUCIANO: Esse é mais um motivo pra não ficar perdendo tempo, meu amigo. Sem essa de medo agora. Tá mais do que na cara que ela também tá muito a fim de você. Ficar perdendo tempo pra que?
Marcelo balança a cabeça confiante.
MARCELO: Você tem razão. Você tem (enfatiza) TODA razão.
LUCIANO: Eu sei.
MARCELO: Vou fazer isso. Mas antes, quero falar outra coisa contigo.
LUCIANO: Fala ae.
MARCELO: Você foi ver seu pai hoje?
Luciano muda o semblante. Agora está sério.
LUCIANO: Como sabe?
MARCELO: Passou o dia esquisito. Isso sempre acontece quando vai ver teu pai. Por que isso hein Luciano?
LUCIANO (agressivo): Eu não gosto de falar desse assunto.
MARCELO: Calma, cara. Eu só quero entender o problema de vocês ‘pra’ ajudar.
LUCIANO: Ajudar, Marcelo? Fala sério! Você não é a pessoa mais adequada ‘pra’ fazer ‘discursinho’ sobre como melhorar o relacionamento com pais. Francamente.
MARCELO: Oow também não precisa pisar!
LUCIANO: ‘Vamo’ fazer o seguinte: quando você resolver suas diferenças com o teu pai, você me dá conselhos sobre o meu, beleza?
MARCELO: Isso nunca vai acontecer.
LUCIANO: Ótimo! Assim não vou ter que ficar ouvindo esse teu papinho hipócrita. Cara chato, eu hein.
Luciano levanta-se da poltrona e sai. Marcelo fica ali.
| CENA 03 | CONDOMÍNIO ALMIRANTE / APARTAMENTO 209 / SALA DE JANTAR / INT. / NOITE.
Isabel e Jaqueline fazem a refeição em silêncio. Igor chega esbaforido da rua. Se junta as duas à mesa. Isabel toma um gole do suco de uva.
ISABEL: Onde você foi, Igor?
IGOR: Na casa de um amigo.
ISABEL: Fazer o que?
IGOR (explode): Pra que você quer saber?
Isabel se estressa. Jaqueline arregala os olhos.
ISABEL: Como é que é, garoto?
Tempo e ele suspira, calmo.
IGOR: Desculpa. As coisas não saíram como eu planejei, dona Isabel. Mas não se preocupa, não é nada demais. Fica na boa.
Isabel vai falar mas a campainha toca. Isabel se levanta para atender.
JAQUELINE: E aí? Como foi?
IGOR (bravo): Não dá pra falar agora.
Isabel surge na sala acompanhada de Janaina. Jaqueline e Igor esboçam uma reação de surpresa e raiva. Jaqueline se levanta revoltada.
JAQUELINE: O quê que essa mulher tá fazendo aqui?
| CENA 04 | REPÚBLICA / CORREDOR DOS QUARTOS / INT. / NOITE.
Bruna e Marcelo saem ao mesmo tempo de seus respectivos quartos.
MUSIC ON: (Minha vida é você- Hevo84)
Eles se olham envergonhados com a coincidência. Bruna desvia o olhar e tenta seguir seu rumo, mas Marcelo a impede.
MARCELO: Espera, Bruna. Eu quero falar com você.
Bruna para imediatamente e volta a encará-lo.
MARCELO: É uma coisa que faz tempo que quero dizer.
Bruna tem no olhar ternura. Ela assente esperançosa com a cabeça. Marcelo hesita.
MARCELO: É... bem, eu...
Bruna tenta induzir a fala do rapaz.
BRUNA: Você...?
MARCELO: Eu ‘tô’ apaixonado por você!
Close em Bruna, sorridente.
MUSIC OFF.
| CENA 05 | CONDOMÍNIO ALMIRANTE. APARTAMENTO 209 / SALA DE JANTAR / INT. / NOITE.
Agora todos estão em pé encarando Janaína, que se mostra desconcertada. Jaqueline e Igor tem raiva no olhar. Isabel se mostra surpresa com a visita.
JANAINA: Eu vim falar com a mãe de vocês.
ISABEL: Ok.
Os irmãos agora estão incrédulos.
IGOR: O quê?!
ISABEL (tom): Vamos discutir as mesmas coisas de sempre? Toda vez é isso. Vocês estão cansados de saber que a Janaina é minha amiga.
JAQUELINE: Muito me admira você ser amiga da mulher que matou meu pai, que por acaso era seu marido, se não se lembra.
IGOR: (para Janaina) Você devia tá na cadeia.
JANAINA: Eu acho melhor voltar outra hora, Isabel.
ISABEL: Não. Você fica. ‘Te convido’ pra jantar.
Jaqueline ri nervosa.
JAQUELINE: Você só pode tá de brincadeira com a gente!
ISABEL: (imponente) Eu não sou mulher de brincadeiras, Jaqueline. A Janaina janta conosco e ponto final.
JAQUELINE: (revoltada) Pois você vai jantar sozinha com essa assassina.
Jaqueline se retira do recinto.
IGOR: Cuidado pra ela não atirar em você também.
É a vez de Igor se retirar.
| CENA 06 | REPÚBLICA / CORREDOR DOS QUARTOS / INT. / NOITE.
Marcelo está com cara de tacho. Bruna não acredita no que acabara de ouvir.
BRUNA: Você tem certeza do que tá dizendo?
MARCELO: Eu acho que estou lúcido o bastante pra saber o que sinto.
BRUNA: Mas, e a Valeska?
MARCELO: Terminamos. Olha Bruna, eu gostei de você desde o primeiro dia em que você pisou aqui dentro. E eu acho que você também gostou de mim.
Bruna não responde e baixa a cabeça, mas deixa escapar um sorriso envergonhado que lhe entrega. Marcelo também sorri e levanta novamente a cabeça de Bruna segurando em seu queixo.
MARCELO: Namora comigo?
BRUNA: (sorridente) Preciso mesmo responder?
Eles trocam um sorriso descontraído.
MUSIC ON: (Minha vida é você – Hevo84, refrão da música)
Marcelo se aproxima de Bruna, envolve-a em seus braços e a beija apaixonadamente.
| CENA 07 | CONDOMÍNIO ALMIRANTE / APARTAMENTO 209 / SALA DE JANTAR / INT. / NOITE.
Isabel e Janaína estão jantando enquanto conversam.
MUSIC OFF.
JANAINA: Obrigada, Isabel.
ISABEL: Pelo quê?
JANAINA: Você nunca tinha enfrentado seus filhos dessa maneira para ficar do meu lado.
ISABEL: Você nunca veio aqui na presença deles.
JANAINA: Mesmo assim, eu agradeço.
ISABEL: Não precisa e você sabe disso. ‘Te devo’ tanto, minha amiga! Além do mais, meus filhos há muito tempo andam merecendo uma ‘liçãozinha’. Ando desconfiada que eles estão aprontando alguma. Mas deixa isso pra lá. O que te trás aqui?
JANAINA: Eu acho que encontrei minha filha, Isabel. Foi uma coincidência maravilhosa do destino. Nem acredito que vou vê-la de novo.
ISABEL: Que bom. Nem vai ser necessário contratar um investigador particular, então. Como aconteceu?
JANAINA: O Luciano, filho do cretino do Carlos. Ele mora na mesma república em que ela. Você acredita nisso?
ISABEL: Mas é muita coincidência meu Deus!
JANAINA: Foi a mesma coisa que ele disse.
ISABEL: Mas você tem que se preparar para esse encontro, Janaina. Será que ela vai querer te ver de novo? Pelo que você disse a Bruna está muito revoltada. Não deve ser fácil ‘pra’ ela.
JANAINA: Eu tenho consciência disso, Isabel. Mas minha filha tem um bom coração. Tenho certeza que depois que ela souber de tudo que passei e sofri aqui ela vai entender e acabar me perdoando. Talvez eu não consiga conquistá-la de primeira, mas aos poucos os laços que nos unem falarão mais alto. Eu acredito nisso.
Isabel sorri e oferece seu apoio, estendendo a mão a Janaina.
ISABEL: Conte comigo para o que precisar.
| CENA 08 | REPÚBLICA / CORREDOR DOS QUARTOS / INT. / NOITE.
Bruna e Marcelo continuam se beijando sem se darem conta de onde estão. Celina surge de repente no local surpreendendo-os, escandalizada. Seu sotaque é exagerado.
CELINA: No me lo creo, chicos! [Não acredito nisso, meninos!]
O casal se afasta no susto.
BRUNA (envergonhada): Celina...
Celina enfia-se entre os dois se posicionando bem no meio deles. Ela encara Bruna.
CELINA: Brunita querida, ya has leido el regulamento que yo sé. Entonces, sabes que este tipo de relacionamento es prohibido dentro de estas habitaciones ¿si? [Bruninha, querida. Você já leu o regulamento da casa que eu sei. Então, deve saber que este tipo de relacionamento não é permitido aqui dentro, sim?]
BRUNA: Desculpa, Celina. Não vai mais acontecer.
Celina encara agora Marcelo.
CELINA: Y tu Marcelo. Primero con Valeska... Ahora Bruna? Me está saliendo muy saliente ¿no sabes? [E você Marcelo. Primeiro com Valeska... Agora Bruna? Está me saindo muito saliente, sabia?!]
MARCELO: Mas você sabe de quem eu gosto realmente, não sabe?
Celina sai da pose autoritária e sorrindo, se aproxima de Marcelo lhe apertando a bochecha direita.
CELINA: Puedo ver en tus ojitos chico. Pero... Espero que esto no se repita a cá, ¿está bién?. [Posso ver em teus olhos, menino. Mas... espero que isso não se repita aqui, está bem?]
MARCELO: Tudo bem. Não vai se repetir. Já pode me soltar se quiser.
CELINA: Por supuesto. [Com certeza.]
Celina o solta, enquanto Bruna ri.
| CENA 09 | PONTO DE ENCONTRO. / INT. / NOITE.
MUSIC ON: (Filosofia de Bar – Seu Jorge e Jovelina)
Som ambiente. O local está calmo, com poucos clientes. Igor e Jaqueline estão sentados a uma mesa próxima ao balcão principal. Os dois estão lanchando.
IGOR: Dá pra acreditar que ela chamou aquela mulher pra jantar?
JAQUELINE: Dá pra acreditar que elas são amigas? Isso é absurdo demais pra minha cabeça, Igor. Aquela mulher matou nosso pai. Como a mamãe a recebe daquele jeito na nossa casa?
IGOR: Não dá pra entender.
JAQUELINE: Às vezes eu acho que tem mais coisa aí que a gente não sabe. Não é possível que depois do mal que essa mulher nos fez, nossa mãe ainda a trate como melhor amiga. ‘Me recuso’ a acreditar nisso!
IGOR: Você acha que nossa mãe esconde alguma coisa?
JAQUELINE: Não sei ao certo. Mas que essa atitude dela é muito estranha, ah é!
IGOR (pensativo): Será?!
JAQUELINE: Mas mudando de assunto. O que conseguiu descobrir lá na república?
IGOR: Falei com o Cláudio.
JAQUELINE: Então ele tá bem né. E o Celso?
Igor hesita, desviando o olhar.
JAQUELINE (aflita): Fala Igor. Ele não morreu, morreu?
IGOR: Jaque... Foi mais grave do que eu pensei. (Jaqueline estremece) O Cláudio só fraturou uma perna e um braço, mas o Celso...
Jaqueline se apavora.
JAQUELINE: Quê que aconteceu com ele?
IGOR: Ele está em coma.
Jaqueline põe a mão direita na boca, chocada com a notícia.
autor
Diogo de Castro
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