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Projeto Biosfera 2: Capítulo 04

Minissérie de Marcelo Oliveira
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CAPÍTULO 04 (ÚLTIMO CAPÍTULO)

Parte 3

— Carmen, você está ferida? — Dilson se assusta com a poça de sangue embaixo da doutora.

Yrina a solta com medo. Armand se aproxima para examina-la, põe a mão sobre seu pescoço, testa e barriga:

— Ela está abortando.

— O que? — todos interrogam ao mesmo tempo.

Carmen não para de chorar e tremer.

— Desde quando você sabia? — Dmitri grita nervoso.

— Deixe-a em paz, Dmitri! — Yrina a protege.

As batidas nos vidros aumentam, Yrina abraça Carmen, a colega está em vias de um choque nervoso, Armand tenta achar algum calmante pela delegacia, mas teme se afastar do grupo. Zhao e Yrina se aproximam de Carmen:

— Carmen, Carmen, preste atenção, olha pra mim. Tente se controlar, eles não vão entrar aqui, está bem? As janelas são reforçadas, estamos seguros.

"Ela está entrando em convulsão." Zhao sussurra no ouvido de Yrina, a engenheira apenas olha para ele. Dmitri se afasta das mulheres e fica debaixo das janelas. Armand retorna sem ter encontrado nada que pudesse administrar para a gestante.

Um gemido do lado de fora causa arrepios dentro da delegacia. Os cientistas ficam ainda mais confusos. Dmitri comenta com seu colega:

— Armand, eu não sei tudo, mas, acho que pode incluir o olfato entre os sentidos do pós-mortem. — olhando com raiva para a doutora, Dmitri dá as costas e se abaixa perto da janela.

— O que você acha da gente passar no meio deles abrindo caminho na porrada? — Dilson tenta uma ideia.

— Não dá, já disse, eles são lentos, mas são fortes. Além do mais, tem as meninas. E... peraí, cadê a Emilia?

— Não a vejo desde que entramos na delegacia. — Dilson olha em torno.

De repente a biotecnóloga reaparece:

— Pessoal, encontrei esse rádio-frequência, vamos poder mandar sinal de socorro... o que aconteceu com a Carmen?

— Pô, não faz mais isso, mulher. Temos que ficar juntos, entendeu? Ou pelo menos avisa antes de se afastar. — Dmitri adverte desviando a atenção de Emilia.

— Tudo bem, você está certo. Toma Dmitri, tenta ver se consegue falar com alguém... Mas, Carmen...

— Não se preocupem, eu cuido dela. — Dr. Lee se abaixa para segurar a amiga.

Dmitri arruma a fonte, mas sem energia elétrica não há como ligar o rádio. Dilson lembra que, talvez, as baterias dos carros possam ter alguma carga. Mas a rua está tomada pela estranha multidão. Emilia também encontrou uma passagem para o telhado. Armand tem a ideia de chamar a atenção das criaturas fazendo barulho na parte de trás do prédio, isso daria alguma chance para pegar o que precisassem.

Todos concordam: Yrina, Emília e Armand vão para o telhado, Dmitri e Dilson aguardam a chance de abrir a porta e correr para os carros, Zhao ficou abraçado a Carmen. A sala fica cada vez mais escura, e os zumbis continuam tentando quebrar as janelas. Carmen entra em desespero imaginando uma fissura no vidro. Zhao tenta tapar os olhos dela.

Um tiro estoura nos fundos do prédio. Os zumbis param de atacar e começam a se locomover.

— Dmitri, é agora!

— Espera um pouquinho só.

— Esperar o que? Olha, já foram, só ficaram alguns poucos, a gente dá conta. Vamos! Quero ver se dá pra matar eles só estourando a cabeça.

— Não,  maluco? Se a gente começar a atirar o barulho vai chamá-los de volta e aí, danou tudo. Toma, se precisar usa machadinha da caixa de incêndio, mas tente não se aproximar muito.

Dilson acena com a cabeça concordando. Eles dão uma última olhada pela janela e abrem a porta lentamente. Assim que põe o pé na calçada, Dilson dispara em direção a um zumbi e, gritando com euforia, desce a machadinha no crânio dele. Infelizmente, o golpe não foi forte o suficiente para quebrar a cabeça, o zumbi se volta para ele e o agarra. Dmitri tenta ajudar o amigo, mas nenhum dos seus golpes abala o agressor.

— Desgraçado, larga meu amigo, larga, anda!

— Fo...me!

Dilson se debate sufocando, apesar de corpulento, o zumbi-falante levantou-o do chão só com a força do braço e o abocanhou no rosto arrancando pedaços da face.

— Vo-vocês falam? — Dmitri tenta raciocinar, mas os olhos sem-vida do bicho o aterrorizam.

— Fo...me!

Pendurado no braço do zumbi, tentando salvar o amigo, Dmitri percebe seu erro: deixaram a porta da delegacia aberta e vários zumbis entram. Só foi possível ouvir os gritos de Carmen e Zhao:

— Não, por favor, eu estou grávida, não, não, nãããã...! — Carmen usa o único argumento que dispõe.

— Carmen, eu sinto muito... aaaaaaaaaaahhhhhhh! — Zhao não resiste.

O som de ossos quebrando, mordidas e mastigações podem ser ouvidos de longe.

Desesperado, Dmitri solta o zumbi-falante e corre na direção da rua, ele ouve gritos e tiros. Assim que vira a esquina, o engenheiro dá de cara com uma multidão de mortos-vivos, porém não parecem perceber a presença dele. "Cegos, eles são cegos. Eles se guiam pelos sons." Mas, suas passadas chamaram atenção. As criaturas se voltam para a direção dele e se aproximam.

Dmitri fica paralisado, os zumbis passam por ele, sem importuná-lo. Porém, o medo o faz transpirar excessivamente e o cheiro é percebido por alguns. Eles param quase em frente ao engenheiro esperando ouvir qualquer barulho. Mas, Dmitri permanece imóvel e pausando a respiração. A situação dura alguns segundos, até que mais um tiro é percebido, os zumbis perdem o interesse e continuam andando.

Epílogo

Uma pequena luz, vindo da estação do metrô, chama atenção do fugitivo, Dmitri se aproxima da entrada cautelosamente e toma um susto quando vê uma mulher.

Vem, anda vem logo. — a mulher sussurra.

— Vo-você não é zumbi?

— Não, anda logo, se não eles vão perceber a gente.

Dmitri arrisca se aproximar. A mulher pega em sua mão e o puxa para a escuridão. Assim que seus olhos se acostumam, ele pode perceber um grupo de pessoas. Dois homens atrás dele abaixam as portas de aço.

Outro homem se aproxima de Dmitri e o encara. Incomodado com a revista, o engenheiro se pronuncia:

— Com licença, eu sou o dr. Dmitri Yvanovitch, estávamos na Biosfera. Quando saímos não havia ninguém e viemos para cá. Agora esse pesadelo, alguém me explica o que está acontecendo?

— Por que está falando em "nós", tem mais gente lá em cima? — o homem é o único que conversa com ele.

— Sim, nós éramos oito, mas acho que 3 morreram. Quem é essa gente comendo gente?

Uma mulher o interrompe:

— Não soube do dia da invasão?

— Invasão? Não, eu nunca soube de nada disso.

— Vocês estavam na Biosfera há quanto tempo? — o homem da estação retoma a conversa.

— Entramos em 2000 e saímos agora.

— Doug, se o lugar está trancado esse tempo todo é possível que esteja limpo. O que acha?

— Espera aí que papo é esse? Ninguém vai a lugar nenhum enquanto eu não entender o que está rolando.

— É o seguinte... — o homem senta antes de continuar — logo após o ano 2000, aconteceu uma tragédia num gerador, lá na Europa que permitiu a entrada de vários organismos na Terra. Um desses vírus se misturou a água e contaminou praticamente todo o planeta quase instantaneamente. Logo depois todos que tiveram contato com as águas do mar faleceram. Depois, a própria evaporação do mar se encarregou de espalhar o vírus. Mas, uma coisa muito estranha aconteceu: os mortos voltavam a se mexer, porém, não eram mais as mesmas pessoas, perderam a visão e atacaram quem estivesse próximo, parece que o fato de comer elimina uma dor que eles sentem ininterruptamente.

— Mas, e vocês, como estão sadios?

— Nós estávamos isolados, quando soubemos dos ataques, alguns tiveram tempo de se prevenir.

— E esses mortos-vivos são sensíveis a luz?

— Não sei dizer, o que eu sei é que precisamos ficar escondidos e sobreviver.

— Por que não vimos mais ninguém quando chegamos na cidade?

— Eu te disse, 95% da população mundial morreu.

— Meu Deus! — Dmitri sente fraqueza nas pernas.

— Olha, essa Biosfera, pode nos ajudar, ficaremos lá protegidos e podemos reorganizar as coisas...

— Não, vocês não entendem, lá não comporta muita gente. Não sei se seria melhor procurarmos outro...

Uma mulher se aproxima dele e coloca a mão em seu ombro, depois desce tateia suas pernas como se estivesse examinando a saúde de Dmitri:

— Onde estão seus amigos? Eles estão seguros?

Dmitri faz uma pausa, a menção do restante da equipe o abala pela primeira vez.

— E-eu não estou certo... Nó-nós estávamos na delegacia, tentando contato, até que...

— Hei, meu amigo, eu sei que a situação é terrível, mas pense que podemos nos ajudar.

De repente Dmitri se lembra da ideia do grupo:

— Vocês têm um rádio, um telefone, qualquer coisa para fazermos contato?

— Temos sim, Théa, traga aqui aquele seu telefone celular. Mas, já adianto que não há ninguém para atender a sua ligação.

— Talvez, mas não custa tentar... Hei, isso aqui está sem bateria! — Dmitri começa a perder o controle.

— Dmitri, nos diga a Biosfera está aberta?

— Ah, sim, está. É só seguirmos pelo deserto, a uns 60 km daqui. — o russo aponta a direção.

— Obrigado amigo. Pessoal, vamos lá! — o homem se levanta repentinamente.

— Hei, espera aí. Ninguém sai daqui enquanto eu não conseguir falar com alguém. — Dmitri se assusta com a atitude inesperada.

— Você pode ficar o tempo que quiser.

A porta de aço é aberta, uma multidão de zumbis está parada bem a frente da entrada.

— Fo...me!

Todos correm para os túneis. Dmitri se levanta para segui-los, mas suas pernas estão acorrentadas. Os zumbis o cercam e atacam rapidamente.

— Não, por favor, me ajudem, eu imploro, não, não. Aaaaaaahhhhhh! — Os gritos alucinados se perdem na madrugada. Dmitri foi usado como isca-viva.

— Yrina, ouviu isso?

— Sim, Armand, ouvi. — Yrina abaixa a cabeça entristecida.

No telhado da delegacia, Yrina, Armand e Emilia sobreviveram ao ataque e ficaram protegidos até o raiar do dia. Eles pensavam que seus companheiros haviam morrido quando o prédio foi invadido.

— Parecia o Dmitri. — Emilia comenta sussurrando.

— Voltem a dormir, eu fico de guarda. — Armand empunha a arma apontando para a porta de aço que dá acesso ao telhado.

Grunhidos e arrastos ecoam de dentro da delegacia. Mas, as criaturas não alcançam o telhado. Os tiros ouvidos anteriormente foi a tentativa de salvar os amigos.

O dia amanhece, o trio desce, perambulam pelas ruas desertas, encontram comida e testam carros. Yrina consegue uma bateria para alimentar o rádio, põe para funcionar e passa para Armand. Emilia apanha revistas, mas a data é anterior a janeiro de 2000. Armand roda o botão de dial até sintonizar qualquer som que signifique alguma resposta. Emilia tenta se distrair:

— Já reparou uma coisa Yrina?

— O que?

— O ar está mais gostoso de respirar. — Emília fecha os olhos e enche os pulmões.

Yrina também aproveita o doce sabor do oxigênio livre de poluição.

— Pessoal, venham, consegui! — Armand chama entusiasmado.

"Aqui é Guilherme, do Rio de Janeiro, onde vocês estão?"

— Rio de Janeiro? Isso é onde, América do Sul?

"Sim, Brasil."

— Nós estamos em Tucson, Arizona, Estados Unidos. Você sabe nos dizer o que está acontecendo? A cidade está vazia e tem umas pessoas canibais e cegas rodando a noite.

"Vocês são da América do Norte? Pensávamos que estavam todos mortos. Não sabem de nada?"

— Estamos perdidos nesse caos, pode nos explicar?

"Bom, resumindo: por ganância de poder, grupos de políticos desenvolveram uma arma química para usar contra seus inimigos, depois perderam o controle e acabaram dizimando quase a população inteira. Nós estamos reunindo sobreviventes para recomeçar."

— E como encontramos vocês?

"Vocês têm algum lugar seguro que possam ficar até chegarmos aí?"

— Sim, temos a Biosfera, no deserto.

"Você disse Biosfera?"

— Isso mesmo, nós estávamos confinados na Biosfera desde 2000.

O silêncio no rádio preocupa.

— Alô? Alô? Câmbio! Vocês estão aí, respondam. — Yrina toma o microfone.

"Sim, estamos te ouvindo. É que tivemos um impasse aqui. Vocês são considerados responsáveis de toda essa tragédia."

— Nós? Isso é impossível. Ficamos confinados todo esse tempo, totalmente isolados. Que maluquice é essa? — Yrina está quase histérica.

Armand toma o microfone de volta e pede que Emilia afaste a colega.

— Olha, amigo, nós não temos a menor ideia de como podem nos acusar...

"A criação da arma química, só foi possível, porque vocês provocaram uma falha no sistema e abriu uma janela espacial. Um organismo extraterrestre foi aproveitado por cientistas e deu no que deu."

— Não, não, não! Isso não está certo, nós ficamos totalmente isolados... eu...

Emilia toma o microfone de Armand:

— Olha aqui Guilherme, talvez você estejam se precipitando, mas se forem cristãos como dizem que os brasileiros são, dê-nos a chance de nos defender. Por favor, ajude-nos!

Novamente silêncio, a espera é enervante. Yrina não aguenta mais um instante sem resposta, até que a voz ressurge:

"Sinto muito, vocês estão por conta própria. Não vamos ajudar quem ferrou o mundo, vocês precisam pagar pelo que fizeram."

Dessa vez é Armand quem fica histérico.

— Malditos, todos vocês, sejam malditos, nós não temos culpa de nada!

Emilia tenta ganhar tempo:

— Pelo menos confirmem que estamos seguros à luz do dia.

"Não, quem disse isso a vocês?"

— Um dos nossos colegas...

"Onde ele está?"

— Por favor, ajudem, tira a gente daqui! — Yrina suplica chorando.

Súbito, a entrada do prédio é tomada por centenas de mortos-vivos. Cansados, fracos e sem esperanças, não houve resistência de nenhum deles.



Minissérie de
Marcelo Oliveira

Personagens
Dr. Zhao Lee Dr. Dmitri Yvanovitch Dra. Yrina Stepanenko Dra. Carmen Sampuska Dr. Armand Samperes Dra. Emilia Watson Dr. Dilson Martins Dra. Suzana Acuña Participações Especiais Guilherme Ricardo Doug Théa Tema: Living In A Ghost Town Intérprete: The Rolling Stones (Alok Remix)
Direção
Carlos Mota

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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