CAPÍTULO 13
Guilherme adentra em uma
floricultura. Observa algumas flores, as cheira e por fim aproxima-se do
balcão. Uma mulher magra, de cabelo preto preso a um rabo de cavalo o atende.
– Em que posso ajudá-lo, senhor? –
Perguntara, com um sorriso nos lábios, mostrando simpatia.
- Uma dúzia de rosas brancas, por
favor. – Abrira a carteira e dera cem reais para a moça, colocando de volta o
troco. – Obrigado.
O homem parara na porta e retirara o
celular de dentro do terno. Selecionara um contato e aparecera a imagem de Bruna.
- Ué... Não me atendeu. O que
aconteceu? – Pensa alto. Pega a chave do carro e destranca o veículo, colocando
as flores no banco de carona.
Alguns quilômetros adiante, uma casa
média localizada num condomínio começara a incendiar. Os vizinhos observavam a
residência de longe, cochichando entre si.
Dentro dela, uma mulher desacordada.
Ao seu lado, o seu celular vibrando com a imagem de Guilherme. E próximo dali,
uma voz de criança podia ser ouvida do banheiro.
***
Rafaela sai de um táxi. Enquanto o
veículo se distancia, ela põe a mão sobre o peito. Uma senhora, de
aproximadamente setenta anos se aproxima.
- Tudo bem, moça? Precisa de ajuda? –
Disse pondo sua mão sobre o ombro de Rafaela.
- Não, senhora. Grata pela atenção.
Foi uma dor no peito repentina... Um mau pressentimento. Não sei explicar.
- Ah, eu já tive isso! Mas hoje meus
filhos estão ótimos e saudáveis... A gente se preocupa a toa!
- Não entendi senhora...
- Aposta quanto que esse mau
pressentimento tem a ver com seu filho? – Dera três batidas em seu ombro e
continuara a caminhar. Rafaela fitou-a, com a mão sobre o peito.
Estava à frente de uma penitenciária.
Adentrara no local. Em poucos minutos estava numa sala, em pé, virada de
costas. A porta abrira e um homem, com cabelo raspado, trajando uma camiseta
branca e uma calça marrom.
- Que surpresa! – Estendeu os braços.
Rafaela recuara e sentara-se. – O tempo lhe fez mal. Quanta grosseria!
- Eu não estou aqui pra isso, Fausto.
– Fitara-o com um olhar fuzilante. – É sobre a minha filha.
- NOSSA filha você quer dizer.
- O que você quer, hein Fausto?
Dinheiro? Porque se for eu dou um jeito! Agora... Entrar na vida da menina
depois de anos é pedir de mais.
- Eu já disse que estou arrependido!
Por que não aceita? Ainda estou pagando os meus erros que eu cometi na época.
- Eu sei que você não se arrependeu.
O que você fez não tem perdão!
- Você está sendo egoísta, Rafaela. A
garota nunca teve um pai. E já que eu sou...
- VOCÊ É NADA! Carrega nas costas um
histórico de crimes horríveis, tentativa de homicídio, estupro de crianças,
tráfico de drogas... É esse o exemplo que quer dar para ela?
- Ela não precisa saber. É um passado
que não quero dividir com ninguém.
- Sinto nojo de você, Fausto. Nojo! –
Levantara-se. – E se quiser encostar um dedo na MINHA filha, terá que passar
por cima do meu cadáver e da Bruna!
- Bruna? A sua irmã? Isso é uma
ameaça?
- Sim. Ela mesma. A que conseguiu te
colocar aqui, nesse lugar nojento. E por mais que eu queira... Não. É um aviso.
E ela tem autoridade para te colocar aqui novamente. Vai arriscar? – Sorriu.
Batera na porta, e um carcereiro a abrira.
***
Rosa, trajando seu uniforme, e
segurando uma bandeja branca com um prato de comida com arroz, salada e carne
com um copo de suco de laranja adentra no quarto de Arthur e não o encontra na
cama.
Fecha a porta, põe a bandeja sobre a
cama e o observa jogar vídeo game sentado em um puff de bola de futebol. Ela se
aproxima do menino e lhe beija na bochecha.
- Seu pai disse que você estava
doente. Não é o que eu vejo! – Falou, sentando-se em outro puff preto.
- Claro que eu estou doente. Ainda
dói! Mas eu não gosto de ficar na cama por muito tempo.
- Entendi... Eu trouxe o almoço. Você
precisa comer.
- Mas eu não tenho vontade.
- Não se trata de ter vontade e sim
precisar. Vamos, Arthur. Assim você não vai conseguir brincar, jogar...
- A minha mãe nunca me obrigava a
comer... – Falou, desativando o controle e pondo sua cabeça sobre o colo de
Rosa.
- Eu sei meu amor. Mas ela não está
mais aqui, foi morar em outro lugar. Muito mais bonito que esse, sabe? –
Acariciava seus cabelos. – Ficar assim, cabisbaixo só vai aumentar a sua dor.
Eu sei o que você sente. Mas a vida segue. A sua mãe estará sempre ao seu lado,
mesmo que você não a veja. Agora... Erga a cabeça. E mostre pra todos que você
é um menino forte. E não esqueça: a sua mãe continua viva. No seu coração! – Os
dois se abraçaram emocionados.
***
Carlos Henrique Casagrande, trajando
roupas esportivas adentrara em seu escritório particular, em sua casa, após
retornar de uma partida de futebol com seus amigos. Clarissa, trajando um belo
vestido vermelho, estava sentada numa poltrona em frente a sua mesa.
- Você aqui? Quantas vezes eu preciso
dizer que detesto quando invadem meu local de trabalho?
- Eu lhe conheço perfeitamente para
saber que você odeia isso. Mas não viria caso não fosse importante. –
Levantara-se e ficara a frente do homem.
- Seja rápida, Clarissa. O que
aconteceu?
Lara, trajando uma blusa branca
amarrada na frente com um short jeans preto com um tênis preto aproximara-se da
porta e pôde ouvir a conversa.
- Por que não me contou sobre a sua
outra filha?
- Outra filha? Eu só tenho uma. A
Lara!
- Até ontem. Por que hoje apareceu
uma garota, de vinte e poucos anos dizendo ser sua filha. Disse que a mãe dela
teve um caso com você há uns vinte anos... E não minta pra mim! Ela tem traços
seus.
- Você só pode estar de brincadei...
– Disse, tendo uma lembrança da noite que se envolveu com Fernanda. – Não! Não
pode ser...
Após ouvir, Lara saíra do local.
- Lembrou? – Cruzara os braços. –
Enfim. O que você fez no passado não importa desde que não interfira no futuro
da Lara. Ou seja, se essa garota receber um mísero centavo da herança da nossa
filha... Carlos Henrique, você será considerado um homem morto!
***
Maria Paula, trajando um vestido
preto, de óculos escuros e uma bolsa a tiracolo da mesma cor caminha nos
corredores de um cemitério, carregando um ramo de flores brancas.
Aproxima-se de um jazigo. Passa a mão
pela lápide.
- Eu te amei tanto... Mas tanto!
Deixa as flores próximas à placa:
Luciano Mendes.
***
Guilherme dirige o carro em uma
velocidade alta, mas diminui ao ver várias pessoas circularem pela rua. Ele
enxerga uma casa em chamas e se aproxima do local.
Estaciona o carro e o tranca.
Aproxima-se da casa e de alguns vizinhos.
- O que está acontecendo? – Indagou a
um homem.
- Essa casa... Do nada pegou fogo. Eu
vi a delegada, a irmã e a sobrinha entrarem, mas nenhuma saiu de lá ainda!
- E os bombeiros? Não vieram?
- Ihh, vai ser difícil. Quer dizer,
disseram que estavam a caminho. Isso há dez minutos! Até quando vai ser assim?
– Indagou a Guilherme, porém o vira tirar o terno e entrar na casa.
Música: Sol de Paz – Strike.
Guilherme fita Bruna, desacordada no
sofá. Observa o incêndio e após, pega Bruna no colo e a retira da casa, e não
ouve os gritos da criança, trancada no banheiro.
No lado de fora, Guilherme deita
Bruna no chão e põe sua cabeça em suas pernas, batendo levemente em seu rosto.
- Bruna! Por favor, Bruna! Reage! – A
beijara na boca. Todos permanecerem em silêncio por cerca de seis minutos. – Eu
te amo... – Dera um beijo em sua testa e logo após, Bruna recobrara a
consciência tossindo muito.
Guilherme a fitara aliviado, enquanto
ouvira o som de ambulância e bombeiros.
Um táxi para em frente a casa em
chamas. Rafaela sai, pegando suas chaves na bolsa que carregava. Ela fita a
residência, deixando cair a bolsa e as chaves.
Sente novamente uma dor no peito.
Olha para a ambulância e enxerga a irmã recebendo primeiros-socorros e os
bombeiros tentando controlar o fogo.
- TEM UMA CRIANÇA DENTRO DA CASA! –
Gritara, ao perceber a ausência da filha.
- Moça, não tem ninguém na casa. Por
favor, deixe-nos fazer nosso trabalho em paz.
Antes de o bombeiro terminar sua
frase, Rafaela entrara na casa, assustando-se com o que caía em sua frente.
- Filha? Você está aí? Me responde! –
Gritara.
- Mãe! – A voz estava sem força. –
Aqui. No banheiro!
Rafaela abrira a porta. Giulia estava
em pé, na pia. Pegara a criança no colo e a levara para a porta, quando um
lustre a acertara fazendo-a desmaiar.
- Mãe? Mãe? Fala comigo! – Giulia,
com pouca força, puxara a mãe para o lado de fora, onde ficaram visíveis aos
bombeiros e paramédicos. – Alguém me ajuda! A minha mãe...
***
Música: Esperta – Ana Carolina.
Iolanda Cavalcanti observara a ação
dos bombeiros e paramédicos dentro de seu carro, estacionado pouco a frente da
casa. Aborda um homem que caminha na rua.
- Ei, você. Sabe o que está
acontecendo ali? – Mirou na casa de Bruna. – Alguém morreu?
- Não dona... No máximo algumas
escoriações. A delegada que mora ali está fora de perigo, segundo os
paramédicos. A outra moça e a criança estão recebendo atendimento agora. Talvez
a moça seja internada, mas nada sério.
- Obrigada. – Revirou os olhos,
fechou o vidro e partira em disparada.
***
Antônia, trajando uma blusa branca e
calça jeans azul com sapatilha preta, com o cabelo amarrado a um coque.
Ela adentra em uma sala, onde uma
secretária mexe no computador.
- Boa tarde. Precisa de ajuda? –
Indagou a secretária.
- A diretora marcou uma reunião
comigo. Poderia avisá-la que estou aqui? Não tenho muito tempo!
- Um minuto, senhora. – A secretária
levantara-se e batera em outra porta, em seguida entrara.
Em menos de dois minutos, Antônia
estava sentada em frente à diretora do colégio de Liz, Suzana Vieira.
- A minha filha se comportou mal? Foi
mal em uma prova? O que aconteceu, diretora?
- Não, Antônia. Nada com o desempenho
da Liz no colégio. Aliás, ela tem tirado ótimas notas. Todas acima da média.
Parabéns! – Sorrira, mas logo o fechara. – Eu lhe chamei aqui por outro motivo.
- Outro? Se não é sobre o
comportamento da Liz é...
- Faz cinco meses que você não paga a
mensalidade da menina... Por isso, tive que tomar uma decisão.
- Que decisão? – Indagara preocupada.
- Caso as mensalidades atrasadas não
sejam pagas até o final do mês a matrícula dela será cancelada e não poderá
mais frequentar a escola.
- Como?! – Apoiara seu cotovelo na
mesa e passara a mão pela testa. – A Liz adora o colégio, as amigas, os
professores, os projetos. Passa mais tempo aqui do que em casa!
- Eu poderia relevar se fosse o
primeiro ou segundo mês, Antônia. Eu adoro a sua filha. Ela é adorável! Mas eu
não posso mais. Entenda-me.
- Eu lhe entendo. Mas o prazo é
curto. Falta pouco mais de uma semana para o mês seguinte...
- Sinto muito, Antônia. É quitar a
dividida de mil reais até o final do mês ou a Liz deixa de ser aluna da
instituição. – Fitou Antônia. – E se for o caso, eu mesma cuido da
transferência da menina. Conheço escolas públicas ótimas.
Antônia concordara com a cabeça, e
saíra sem dizer nada. Enquanto Suzana a fitava entristecida.
***
Guilherme, trajando a camisa do
terno, branca de manga comprida segurando as rosas brancas senta-se em uma das
poltronas da sala de espera do hospital, enquanto Rafaela, Giulia e Bruna são
levadas para atendimento.
Quinze minutos depois, Guilherme
conversa com um médico e aproxima-se do quarto onde Bruna, Rafaela e Giulia
estão. A última recebe apenas medicamentos. Rafaela continua desacordada e
Bruna descansa na cama do hospital.
Guilherme adentra no quarto e fita
Bruna, que desperta aos poucos e sorri ao ver Guilherme.
- Eu ia marcar para nós almoçarmos
juntos e quase perdi você – Guilherme cochicha, entregando as flores.
- São lindas, Guilherme. Não sei se
estaria viva se não fosse por você. Obrigada. De coração. – Ambos sorriem.
***
Um carro preto para em frente à sede
da Revista Maxxes. O motorista abre a porta direita do banco de passageiro. Um
homem de aproximadamente quarenta anos sai, ajeitando seu terno. Outro homem,
de sessenta anos ficara ao seu lado. Ambos fitaram a placa que havia no local,
indicando o nome da revista.
- Chegou a sua hora,
Conrado. Chegou a hora de você tomar o que é seu de direito!
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