| CENA 01 | “MÚSICA: Filosofia de Bar – Jovelina e Seu Jorge”. Fim da manhã. A câmera mostra imagens da grande São Paulo. Corte de cena. Bar Ponto de Encontro. Interior. No balcão central, Chad faz algumas anotações, com uma calculadora ao lado. O local está razoavelmente cheio, as pessoas começam a chegar para o almoço. Melissa vem vindo da cozinha. O som é ambiente, volume baixo.
CHAD: Cadê a Bruna hein? Daqui a pouco esse povo começa a pedir comida e a cozinheira ainda não tá aqui.
MELISSA: Calma, meu amor. Deve ter acontecido um imprevisto, mas ela já deve tá chegando.
CHAD: De qualquer maneira vou ligar.
MELISSA: Deixa de tanta preocupação, Chad. Você vai acabar tendo uma síncope. Aí sim é que a gente nunca vai casar. Se bem que você ia adorar se isso acontecesse.
Chad responde lhe dando um olhar mortal. Corta para a entrada do bar. Darlan entra no local com uma aparência não muito boa, e vai em direção ao balcão central, sentando-se em um banco à frente de Chad.
CHAD: (curioso) Tudo bem, seu Darlan?
DARLAN: Eu estou com cara de que tá tudo bem? Não responde. Me prepara um wisk, por favor.
CHAD: É pra já.
| CENA 02 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Isabel está sentada no sofá, lendo uma revista e à espera de seus filhos para o almoço. A campainha toca e ela vai atender. Ao abrir a porta:
ISABEL: (surpresa) Janaína?
JANAÍNA: (voz trêmula) Você é a única que pode me ajudar, Isabel.
Isabel percebe as malas de Janaína no chão.
JANAÍNA: (olhos lacrimejados) Ele descobriu tudo, amiga.
ISABEL: Meu Deus! Entra, senta um pouco.
Janaína pega às malas e entra no apartamento, indo em direção ao sofá.
ISABEL: Você quer uma água?
JANAÍNA: Não, não precisa.
ISABEL: Me explica isso direito. Como ele descobriu?
JANAÍNA: Não sei. Mas isso só pode ter sido coisa daquele cretino do Carlos. Ele deve ter descoberto onde ficava o escritório do Darlan e mostrou umas fotos minhas. Ele descobriu da pior maneira possível, amiga.
ISABEL: Vamos combinar que quando se trata de você, as coisas sempre acontecem da pior maneira possível né. Nunca vi alguém com tamanha falta de sorte. Mas eu te disse que ele acabaria descobrindo. Você errou em não ter falado logo.
JANAÍNA: Eu sei. Mas me faltou coragem. É muito fácil pra quem está de fora julgar, mas só Deus sabe como foi difícil mentir esse tempo todo ‘pro’ homem que eu amo, Isabel.
ISABEL: E no fim das contas, pra que serviu isso tudo? Pra ele te expulsar da casa dele. Você não devia ter sustentado essa mentira por tanto tempo.
JANAÍNA: Agora é tarde demais. Eu não tenho onde ficar Isabel, você é minha única esperança. (pausa) Eu posso ficar aqui por um tempo?
Close em Isabel, indecisa.
| CENA 03 | Bar Ponto de Encontro. Interior. O local agora está mais cheio. Corta para a entrada do bar. Bruna e Marcelo entram e Melissa grita histérica por Bruna. O casal se aproxima do balcão central, onde Darlan ainda está bebendo em excesso e com pensamento distante.
MELISSA: Graças a Deus você apareceu minha filha! Esse aqui (para Chad) já estava a ponto de ter um ataque de pelanca. Já pensou se eu fico viúva antes mesmo de casar, que tragédia?!
BRUNA: Desculpa pelo atraso gente. Não vai acontecer de novo.
CHAD: Aposto que ficaram de chamego depois da aula e perderam a noção do tempo né. Sei bem como é isso. (nostálgico) Aah meus tempos de juventude!
Melissa não gosta do que Chad diz. Marcelo nota a presença do pai ali.
MARCELO: Bruna, acho melhor eu ir. Mais tarde a gente se vê.
Darlan reconhece a voz do filho, e vira-se levantando em sua direção. Bêbado, ele pronuncia.
DARLAN: Filho... Fica longe dessa garota. Ela deve ser uma vagabunda feito a mãe dela!
Tensão no ar.
| CENA 04 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Isabel e Janaína continuam sentadas no sofá.
ISABEL: (nervosa) Eu... Eu não sei se é uma boa ideia, Janaína. Imagina a reação dos meus filhos quando souberem que eu abriguei a assassina do pai deles na nossa casa?
JANAÍNA: (séria) Eu não matei seu marido e você sabe muito bem disso.
ISABEL: Claro que sei. Mas eles, não. Como eu vou dizer isso a meus filhos? Se só o fato de nós sermos amigas, mesmo com o que você supostamente fez, já é no mínimo estranho pra eles. Imagina com você morando aqui. É claro que eles vão desconfiar de alguma coisa.
JANAÍNA: Mas eu não te pediria uma coisa dessas, se eu tivesse alternativa. Eu não posso voltar pra casa do Carlos. Prefiro morar na rua a ter que me submeter às sacanagens que ele me obrigaria novamente. A Bruna mora de favor naquela república. Eu não tenho saída amiga.
Isabel está hesitante.
ISABEL: Tudo bem. Por tudo que você fez por mim, eu vou te ajudar. Você pode ficar no quarto de hóspedes.
JANAÍNA: (aliviada) Muito obrigada, Isabel. De verdade.
ISABEL: Não quero nem pensar no que vai acontecer quando o Igor e a Jaque chegarem do colégio.
| CENA 05 | Bar Ponto de Encontro. Interior. Os ânimos começam a se exaltar. Darlan, sob efeito do álcool, fala sem pudor. Chad, Melissa e Bruna estão paralisados e incrédulos com o que acabaram de ouvir. O semblante de Marcelo é de raiva.
MARCELO: Quem você pensa que é pra falar assim da minha namorada?
Darlan segura os ombros do filho.
DARLAN: Escuta, meu filho. Larga essa garota. Se ela for tão baixa quanto a mãe, e deve ser porque quem sai aos seus não degenera, você está em maus lençóis. Tal mãe, tal filha!
Marcelo se desvencilha do pai.
MARCELO: Seu bêbado doente!
DARLAN: Você sabia que sua ex-futura mamãe é uma prostituta?
Melissa põe a mão na boca, chocada. Chad não acredita no que acabara de ouvir.
BRUNA: Então o senhor já...
Darlan a interrompe grosseiramente.
DARLAN: Cala a boca, mocinha. Não ouse me dirigir a palavra. A conversa é entre eu e meu filho. Ouça Marcelo, saia dessa enquanto é tempo. Você é um Rezende. Essa garota não serve pra você, deve ser uma mulherzinha de quinta categoria, assim como a mãe.
Marcelo se descontrola e dá um soco no próprio pai. Os poucos clientes começam a cochichar e assistir de camarote a cena.
MELISSA: Faz alguma coisa Chad!
Chad limita-se a olhar Melissa, sem reação.
MARCELO: (bravo) Lava essa boca suja pra falar da Bruna. Aliás, você não tem moral nenhuma pra falar de ninguém! Só quem te conhece de verdade sabe do que to falando. Você fez um grande favor a Janaína terminando com ela. Você é um lixo de pessoa!
Darlan se recompõe, com a mão no queixo.
DARLAN: (incrédulo) Você me bateu?
Ele aumenta o tom de voz, para chamar atenção das pessoas no local.
DARLAN: Vocês estão vendo? Meu filho. Meu ÚNICO filho. Sangue do meu sangue... Acaba de me dá um soco! (para Marcelo) Você vai se arrepender de tudo isso.
Darlan retira a carteira do bolso, e de dentro dela, uma nota de R$ 100,00 colocando-a em cima do balcão e se retira do local. Marcelo perde o controle e tenta ir atrás do pai.
MARCELO: (grita) Que foi? Resolveu mostrar sua verdadeira face?! Perdeu a postura de bom moço na qual você quer que todo mundo acredite?! Volta aqui! Assassino! Seu assassino!
Bruna o impede de sair.
BRUNA: Calma meu amor. Calma! Deixa-o ir.
MELISSA: (exagerada) Geeeente. Que babado foi esse?! Tô passada, engomada e de alma lavada.
CHAD: Isso não é hora pra brincadeiras.
Marcelo se tranquiliza.
MARCELO: Desculpa por isso, Chad. Mas esse cara me faz perder o controle.
CHAD: Tudo bem, Marcelo. Mas as coisas não precisavam ter chegado a esse extremo. Você agrediu seu próprio pai.
MARCELO: (convicto/grosso) Eu não tenho pai.
MELISSA: (curiosa) E isso que ele falou da sua mãe, Bruna... Sobre ela... Bom... Você sabe...
BRUNA: Sim, Melissa. É tudo verdade. Mas é uma longa história.
CHAD: Que você não vai contar agora porque já está em serviço. Vamos pessoal, vamos ao trabalho!
| CENA 06 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior. Reunidas à mesa de jantar estão Janaína e Isabel, fazendo a refeição enquanto conversam.
ISABEL: Todo santo dia é a mesma coisa. Eu os espero para o almoço, e eles me aparecem aqui quase na hora do jantar. Preciso dá um corretivo nesses meninos.
JANAÍNA: Eles são adolescentes, Isabel. Você tem que saber lidar com isso.
Ouve-se o barulho de porta batendo e uma voz masculina
VOZ: O almoço tá pronto? To varado de fome!
Igor e Jaqueline surgem na sala de jantar e se surpreendem com a presença de Janaína.
JAQUELINE: Quê que eu essa mulher tá fazendo aqui?
ISABEL: (nervosa) Calma, meninos. Calma. A Janaína está precisando da nossa ajuda e nós vamos acolhê-la aqui em casa por um tempo.
IGOR: (bravo) Como é que é?
JAQUELINE: Eu não acredito no que eu to ouvindo. Mãe... Você enlouqueceu? Ou esqueceu que essa mulher é a assassina do meu pai, SEU marido! Como é que você tem a audácia de trazê-la pra dentro da nossa casa?
IGOR: Isso é um absurdo!
JANAÍNA: Eu não sou quem vocês pensam meninos...
Isabel interrompe a fala de Janaína, com receio.
ISABEL: (autoritária) A Janaína é uma grande amiga. Que sempre me ajudou quando precisei. Agora, quem está precisando de ajuda é ela, e eu vou ajudá-la no que for possível, mesmo que seja contra a vontade de vocês. Estamos entendidos?
JAQUELINE: Pois você vai ter que decidir. Porque eu não vou dividir o mesmo teto com uma criminosa.
Jaqueline sai inconformada. Igor a segue. Isabel olha para Janaína.
ISABEL: E agora?!
| CENA 07 | “MÚSICA: É preciso – Jota Quest”. Passagem de tempo. Noite. República Universitária Laços de Amizade. Interior. José e Celina estão organizando a mesa para o jantar. Na sala, sentados no sofá estão Bruna, Marcelo, Luciano e Fabiana. Cláudio desce as escadas e se joga entre os dois casais, de propósito. De onde estão, os republicanos tentam entender a conversa entre o casal de mexicanos. Fim da sonoplastia.
CELINA: Sabe José, a veces me quedava mirando nuestras fotos y los recuerdos venian todos a la mente. Era maravilloso, pero doloroso. [Sabe José, às vezes ficava admirando nossas fotos e as lembranças vinham todas a minha cabeça. Era maravilhoso, mas ao mesmo tempo, doloroso.]
JOSÉ: Ahora no hay más dolor, mi amor... Solo amor! [Agora não há mais dores, meu amor... Só amor!]
CELINA: Te quiero tanto!
JOSÉ: Yo también!
Eles se beijam. Corta para a sala.
CLÁUDIO: Alguém entendeu alguma coisa do que eles disseram?
BRUNA: Alguma coisa do tipo “te quero muito” e “eu também”...
CLÁUDIO: Já vi que vou ter que andar com um dicionário de espanhol pra poder falar com o José.
MARCELO: É...
BRUNA: Bom. Janto quando chegar. Tenho que voltar ‘pro’ bar. Não posso me dá ao luxo de chegar atrasada, duas vezes, no mesmo dia.
CLÁUDIO: (irônico) ‘Cê’ devia ter ido com o tico e o teco então.
FABIANA: A Bruna? No mesmo espaço em que Valeska e Vanessa? Acho que não né.
MARCELO: Que sem noção Cláudio. (para Bruna) Eu levo você, Bruna.
CLÁUDIO: Partiu! Vou com vocês. Deixa só eu pegar minha carteira.
Cláudio sobe às escadas correndo.
FABIANA: Quem chamou ele?!
BRUNA: Esse Cláudio... (para Fabiana e Luciano) Mas e vocês? Vão ficar aí com cara de quem comeu e não gostou?
LUCIANO: Eu não ‘tô’ com o menor saco pra balada.
E se levanta, sem mais explicações.
FABIANA: Ai amiga, eu também não vou não. Tenho uma prova pra estudar.
MARCELO: Já vi que vou ter que ficar de bobeira à noite toda e sem companhia.
BRUNA: Antes só que mal acompanhado. Da última vez não deu muito certo, por isso, fique longe da Valeska.
MARCELO: (debochado) Sim senhora.
FABIANA: Ai que susto! Pensei que tivesse falando de mim.
BRUNA: Claro que não boba.
MARCELO: Bom, vamos?!
Bruna pega sua bolsa, que estava jogada na mesinha de centro. Os dois caminham até a saída. Apenas Fabiana permanece na sala. Ela liga a TV. Celina surge na sala, empolgada.
CELINA: La cena se sirve! (desanimada) Dónde están todos? [O jantar está servido! Cadê todo mundo?]
Close em Fabiana, observando Celina.
| CENA 08 | São Paulo. Trânsito. Um carro cinza desliza pela pista até parar diante de um sinal fechado. Os pedestres começam a atravessar na faixa. Corta para o interior do veículo. Marcelo está no volante, Bruna no carona e Cláudio no banco de trás.
BRUNA: Seu pai tava completamente desequilibrado, Marcelo. Eu nunca pensei vê-lo um dia perdendo a compostura daquele jeito. E na frente de todo mundo!
MARCELO: Esse é o Darlan que poucos conhecem, Bruna. Ele não é quem você pensa. Já conseguiu falar com a sua mãe?
BRUNA: Ainda não. Ela não atende. Pra onde será que ela foi Marcelo? To preocupada. Eu disse que ela contasse logo a verdade. Sabia que essa mentira não ia durar muito tempo.
O sinal abre.
MARCELO: (olhando para ela) Não se lamente tanto por ela. Acredite, ter se livrado do meu pai foi o melhor que podia ter acontecido com sua mãe.
Ele beija Bruna de leve.
CLÁUDIO: Ow vocês aí! O sinal já abriu pombinhos!
MARCELO: Vai se danar, cara.
Bruna ri.
CLÁUDIO: Eu hein!
| CENA 09 | Bar Ponto de Encontro. Interior. A movimentação está intensa. No andar de cima a galera dança freneticamente na pista, ao som de um hit eletrônico. No andar de baixo, algumas mesas ocupadas. A música eletrônica que tocava dá lugar a:
MÚSICA: “Exagerado – MC Naldo”.
Andar de cima. Close nas irmãs Peduzzi abalando na pista. Valeska chama a atenção de todos com seu desempenho especialmente na música que toca agora. Enquanto balança o esqueleto, ela toma uma bebida e provoca os rapazes ao seu redor. Vanessa tenta imitar a irmã, mas logo desiste. Abre-se um círculo diante da loira de olhos azuis, o que a faz se sentir uma estrela de Hollywood, dançando como se fosse a última música de sua vida sob os olhares de desejo dos rapazes e sob os olhares recalcados das outras garotas que por ali estão. Vanessa puxa o saco da irmã como pode. Corte de cena. As duas vêm descendo às escadas em direção ao andar de baixo, exaustas, mas animadas. Som ambiente.
VANESSA: Ai que tudo! Há tempos a gente não agitava isso aqui hein! Você ARRASOU na pista, maninha.
VALESKA: Nem me fale, querida. Ainda bem que ninguém se lembra mais do meu vexame no concurso gastronômico. Voltei em grande estilo!
VANESSA: É isso aí!
Ao descerem todos os degraus, elas caminham até uma mesa, onde se sentam. Close em Ronaldo, o homem de olhos fundos, amigo de Carlos. Ele veste uma blusa gola-polo vermelha, e uma calça jeans azul e observa Vanessa fixamente. Ela percebe.
VANESSA: Mana, olha lá aquele gato... Acho que tá olhando pra você!
VALESKA: Claro que não sua anta. É pra você.
VANESSA: (surpresa) Pra mim?!
VALESKA: Quer apostar? Dá um sorrisinho atraente pra ele.
VANESSA: Tem certeza?
VALESKA: Se você não der, eu dou hein...
Imediatamente Vanessa sorri para o homem, que ergue o copo de wisk que estava em sua mão, levando à boca logo em seguida. Vanessa encara a irmã, eufórica.
VALESKA: Contenha-se garota. Não demonstre mais do que ele precisa saber. Eu vou ao banheiro, enquanto isso o chame pra cá com o olhar. Ele parece ser um cara mais velho, então, vê se não faz ou fala besteira. Bye!
VANESSA: Espera, não me deixa aqui sozinha...
Valeska ignora a irmã e se retira. Vanessa fica acuada por um instante, mas volta a trocar olhares com Ronaldo. Ele chama um garçom e cochicha em seu ouvido. O garçom se retira. Ronaldo vai ao encontro de Vanessa que está imóvel, com sorriso exagerado e paralisado.
RONALDO: Oi, gatinha.
Close em Vanessa, paralisada.
| CENA 10 | República Universitária Laços de Amizade. Corredor. Interior. Fabiana caminha pelo corredor até se posicionar a frente da porta do quarto Uva. Ela bate, e fala.
FABIANA: A Celina tá chamando pro jantar, Luciano.
Ela não obtém resposta.
FABIANA: Tem alguém aí?
Luciano abre a porta. Olha no olho da namorada, mas não diz nada. Prepara-se para sair, mas Fabiana o impede.
FABIANA: Antes eu queria falar uma coisa.
LUCIANO: Fala.
FABIANA: (tensa) Eu tomei uma decisão. Eu não vou tirar nosso filho.
Baque em Luciano, surpreso.
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