| CENA 01 | Continuação do capítulo anterior. Manhã. Bar Ponto de Encontro. Exterior. Janaína acabara de se encontrar com Carlos na porta do bar.
JANAÍNA: Como você me encontrou aqui?
CARLOS: Pra você ver, boneca. Eu nem contava com isso. Acho que era pra ser, benzinho...
JANAÍNA: Me deixa em paz!
Janaína tenta encerrar o assunto e sair dali. Carlos segura em seu braço com força. Ela faz cara de dor.
JANAÍNA: Me solta.
CARLOS: (passional) Tava sentindo falta disso, não tava? Confessa, vadia! Eu sei que tava.
Ele chega bem próximo dela e lhe cheira o pescoço, excitado. Sussurra ao ouvido dela
CARLOS: Eu sei que tu gostava quando eu te pegava de jeito.
Janaína consegue se soltar.
CARLOS: Mas agora que eu te achei tu não vai mais fugir de mim não. Tu vai voltar pra nossa casa. Vai ser tudo como era antes.
JANAÍNA: Você é um doente. Eu NUNCA vou voltar a viver naquele inferno que era minha vida ao teu lado.
CARLOS: (alterado/grita) É o granfino, né? Aquele corno continua contigo mesmo depois de saber quem é a bisca com quem resolveu se juntar?
JANAÍNA: Então foi você que mostrou aquelas fotos? Eu sabia que tinha teu dedo imundo dessa história. Seu cretino. Por sua causa o Darlan me escorraçou da vida dele.
Carlos dá uma risada assustadora.
CARLOS: (debochado) Precisava ter visto a cara daquele palhaço quando viu as fotos. Ele não acreditou quando viu que a mulherzinha dele É DE TODO MUNDO! (sério/passional) Mas não é não... Não é não... DE TODO MUNDO NÃO, OUVIU BEM? TU É MINHA MULHER! SÓ MINHA. E se não for. Não vai ser de mais ninguém.
Carlos se vai completamente desorientado, deixando Janaína com muito medo.
JANAÍNA: Meu Deus do céu. Ele tá completamente louco.
Janaína tenta se recuperar e enxuga as lágrimas que escorreram durante a conversa com Carlos. Ela respira fundo, e se concentra nas compras que tem que fazer. Caminha pela mesma calçada do bar. Um carro preto que estava estacionado ali perto começa a andar a mínima velocidade. Um casal cruza o caminho de Janaína passando pela mesma calçada, mas na direção contrária. Na outra calçada, há uma mulher passeando com seu bebê e outras pessoas caminham ali também. Janaína nota que o carro está em uma velocidade muito abaixo do normal e olha para trás desconfiando de que está sendo seguida. Ela passa a caminhar mais rápido, tentando disfarçar. Close no carro preto. Efeito câmera lenta. O vidro preto do lado do carona sendo baixado. Uma mão envolvida numa luva preta sendo posta pra fora do carro. A mão segura uma arma calibre 38 apontando-a na direção de Janaína que olha para trás mais uma vez e se desespera ao ver que está prestes a ser baleada. Fim do efeito. Ao avistarem aquela arma exposta, os passantes começam a gritar e correr. Um tiro. Janaína corre desesperadamente e acaba esbarrando com um grupo de jovens que vinha em sua direção. Outro tiro, mas esse disparo atinge um dos jovens que cai imediatamente no chão. O carro acelera e Janaína continua correndo desesperada. Novos disparos são ouvidos até que a sirene do carro da polícia espanta o carro preto que se vai. Janaína para exausta apoiando as mãos nos joelhos, respiração ofegante, tentando entender o que aconteceu.
| CENA 02 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala. Celso, Jaqueline e Celina acabam de chegar da sessão de fisioterapia. Eles estão reunidos na sala. Jaqueline está sentada no sofá, Celso em sua cadeira de rodas.
CELSO: Eu não quero que você fique faltando na aula pra ir me ver na sessão de ‘fisio’. Já basta eu ter perdido todo o semestre. Você tem que estudar.
JAQUELINE: Eu quero enfrentar isso junto com você, Celso. Quero ficar o máximo de tempo do seu lado. E não é um grande sacrifício faltar aula.
CELSO: Você diz isso agora. Mas futuramente pode se arrepender.
JAQUELINE: Ok, senhor certinho. Você venceu. Vou indo então que ainda dá tempo de assistir a última aula.
Jaqueline dá um beijo no namorado e quando vai sair em direção à porta lembra-se de algo.
CELSO: (sorrindo) Quê que foi? Desistiu?
JAQUELINE: Celso... Eu preciso te dizer uma coisa sobre o Cláudio, o meu irmão e a sua mãe. Não é justo que você não saiba e eu to me sentindo mal por ter omitido esse tempo todo.
CELSO: Não consigo ver que o que esses três possam ter em comum.
JAQUELINE: (constrangida) Eu nem sei como falar isso. Mas você precisa saber.
CELSO: Você tá me deixando curioso...
JAQUELINE: Sua mãe está mantendo um caso com o Cláudio e com o meu irmão.
CELSO: (abismado) Como é que é?
JAQUELINE: Olha, amor. Eu não aguentava mais esconder isso de você. No início eu duvidei do Igor, mas ele me provou que era verdade. Quanto ao Cláudio, bom, desde que a dona Suzana o conheceu no hospital que eles não se desgrudam. E pra ser sincera, sua mãe já demonstrou provas do caráter que ela tem.
CELSO: É bem a cara dela mesmo... Mas como o Cláudio teve coragem de fazer isso? Na situação em que eu me encontrava. Isso não se faz, cara!
JAQUELINE: E o pior é que agora os dois bobões apostaram quem consegue primeiro fazer sua mãe se apaixonar. Não é ridículo?
CELSO: O Cláudio me paga.
| CENA 03 | Universidade Campelo Costa. Segundo andar. Interior. Sala do curso de Administração. O professor encerra sua aula.
PROFESSOR: Espero que tenha esclarecido todas as dúvidas pendentes. Como todos sabem, a primeira avaliação parcial é semana que vem. Estão liberados.
Os alunos começam a arrumar seu material. Marcelo deixa o caderno cair no chão e de dentro dele sai um pedaço de papel. Do fundo da sala, Valeska diz para si mesma.
VALESKA: Antes tarde do que nunca.
Curioso, Marcelo examina o papel e lê o que tá escrito.
MARCELO (off): Abre o olho que a santinha da Bruna de santa não tem nada!
Marcelo coça a cabeça, estranhando o bilhete.
MARCELO: Que palhaçada é essa?!
Valeska ri sarcasticamente lá do fundo da sala. Ela levanta-se da cadeira, pega seu material, enfia na bolsa e passa por Marcelo, desfilando.
VALESKA: Tá com piolho, amore? Conheço um shampoo que é tiro-e-queda.
Ela passa por ele com sorriso de missão cumprida.
| CENA 04 | Bar Ponto de Encontro. Interior. Janaína entra ainda ofegante em seu local de trabalho. Chad e Melissa, aflitos, correm para amparar a funcionária.
CHAD: Janaína! Tá tudo bem com você?
MELISSA: Que tiroteio foi esse aí fora?
JANAÍNA: Eu... Eu... Não sei...
MELISSA: Você não viu quem era?
JANAÍNA: Uns caras num carro preto.
CHAD: Estranho... Isso nunca aconteceu aqui.
JANAÍNA: Eles me seguiram. Apontaram à arma pra mim.
Melissa põe a mão na boca surpresa. Nesse momento chegam Bruna e Marcelo vindos da faculdade, alvoroçados.
BRUNA: Quê que aconteceu lá fora? Acabou de sair uma ambulância levando alguém ferido.
JANAÍNA: (desembucha) Tentaram me matar, filha.
Close em Bruna, chocada.
| CENA 05 | Universidade Campelo Costa. Interior. Estacionamento. Luciano está saindo do estacionamento dentro de seu carro quando Fabiana se coloca na frente dele fazendo-o frear bruscamente. Ele revira os olhos. Ela dá a volta e entra no carro, sentando-se no banco do carona.
FABIANA: (séria) A gente precisa conversar.
LUCIANO: (ríspido) A gente não tem mais nada pra conversar.
FABIANA: Você acha que se eu tivesse alternativa eu estaria aqui falando contigo?
LUCIANO: Mas você tem alternativa. Aliás, você teve mais de uma alternativa. Só que a primeira você já perdeu por causa dos seus amiguinhos.
FABIANA: Você é um canalha mesmo! Como eu me arrependo de ter me envolvido com você. Em pensar que há essa hora eu podia ter feito a maior burrada da minha vida.
LUCIANO: E fez, Fabiana. Você fez sim a maior burrada da sua vida. Ou você acha que desistir desse aborto foi uma atitude inteligente da sua parte? Se toca, garota. A partir de agora sua vida vai virar de cabeça pra baixo. Esse filho que você tá esperando vai acabar com todas as perspectivas e sonhos que você poderia pensar em ter. Só que EU não to disposto a abrir mão dos meus sonhos por filho nenhum e você sabe muito bem disso. Portanto, não conte comigo pra nada. Esse filho não tem pai!
FABIANA: Como eu pude me enganar tanto com você? Como uma pessoa muda tanto assim? No fundo eu te amava, Luciano...
LUCIANO: Ah! Não me venha com...
Fabiana interrompe a fala do namorado com gritos. Ela chora.
FABIANA: Em momento nenhum você pensou em mim. EU PODIA TER MORRIDO. NOSSO FILHO PODIA ESTAR MORTO AGORA. Você só queria se livrar do problema a qualquer custo. Que espécie de ser humano é você, afinal?
Fabiana começa a bater em Luciano, descontrolada. Ele a contém com sua força.
LUCIANO: Quer dizer que a culpa toda é minha agora? Eu não te obriguei a fazer isso, Fabiana. Você não queria esse filho tanto quanto eu. Então não venha me julgar porque de vítima nessa história você não tem nada.
FABIANA: Mas eu to me sentindo culpada por isso. To arrependida. Diferente de você que se pudesse faria tudo de novo.
LUCIANO: (deboche/ironia) Aah tá arrependidinha, tá? TARDE DEMAIS pra isso, garota. Porque na hora de topar fazer o aborto você não pensou duas vezes!
FABIANA: Você me pressionou tanto que eu acabei cedendo num momento de desespero... Mas agora só de lembrar do que poderia ter acontecido... Só de lembrar do que eu ia ser capaz de fazer porque VOCÊ estava me deixando louca pra isso... Sinto vergonha, náusea.
LUCIANO: Só que isso não muda os fatos. E quando essa criança nascer e um dia souber do que a mãezinha dela QUASE fez. Ela vai te odiar.
Fabiana entra em desespero.
FABIANA: VOCÊ É UM MONSTRO, LUCIANO! TANTO QUANTO SEU PAI!
MÚSICA: “O que é que eu faço pra tirar você da minha cabeça – Ivo Mozart”.
Luciano engole em seco a fala de Fabiana. Ela abre a porta do carro e sai de dentro dele. Luciano a olha pela última vez e suspira arrancando com o carro logo em seguida. Fabiana sente-se sem chão, sozinha no estacionamento. As lágrimas não param de cair pelo seu rosto.
FABIANA: O que é que vou fazer agora, meu Deus?
Ela fica ali parada, desolada e com olhar distante. Imaginando como será daqui pra frente. Fim da sonoplastia.
| CENA 06 | Bar Ponto de Encontro. Interior. Janaína está sentada no balcão central com um copo de água com açúcar na mão. Chad, Melissa, Bruna e Marcelo estão ao seu redor.
BRUNA: (aflita) Mas como? E por quê?
JANAÍNA: Eu não sei, filha. Um carro começou a me seguir logo que eu saí do bar e quem tava dentro começou a atirar. O tiro pegou num rapaz, mas era pra mim. Eu sei que era porque eles me seguiram e apontaram à arma pra mim. Foi por pouco.
MARCELO: Mas quem faria uma coisa dessas com você?
MELISSA: Você tem inimigos, Jana?
CHAD: Gente, ela saiu daqui com uma quantia em dinheiro. Deve ter sido um assalto.
MELISSA: Como assalto, amor? Só eu, você e ela sabíamos que ela tava com dinheiro. Não tinha ninguém aqui. E nem era tanto dinheiro assim vai.
JANAÍNA: Não foi assalto, Chad. Tentaram me matar. E eu acho que sei quem foi.
Close em Janaína, séria.
| CENA 07 | “MÚSICA: Em busca da fé – Chimarruts”. Noite. República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Hora do jantar. Celso, em sua cadeira de rodas, espera o jantar ser servido. Celina e Marcelo colocam os pratos na mesa enquanto José mexe uma panela no fogão.
CELSO: Alguém sabe o paradeiro do Cláudio?
MARCELO: Não o vi o dia todo.
CELSO: Hum. E esse rango sai, ou não sai, José?
JOSÉ: Calma, jóvene. La prisa es enemiga de la perfección. [Calma, rapaz. A pressa é inimiga da perfeição.]
MARCELO: Ê vida boa essa sua hein, Celso? Não precisar ter que fazer nada, só esperando tudo cair em suas mãos.
CELSO: Nem tão boa assim, Marcelo.
MARCELO: Foi mal, cara. Eu não queria ser insensível.
CELSO: Tudo bem.
MARCELO: Por falar nisso. Como está se saindo na fisioterapia?
CELSO: O doutor Humberto acha que eu tenho chances. Mas, sei lá.
CELINA: Si el médico dijo, está dicho. Volverás a caminar, muchacho. Hay que tener fé. [Se o médico disse, está dito. Você vai voltar a caminhar, rapaz. Tem que ter fé.]
CELSO: Tô me esforçando.
CELINA: Y para comemorar tu regresso a nuestra casa, José está haciendo la mejor Paella mexicana. [E para comemorar sua volta a nossa casa, José está fazendo a melhor Paella mexicana.]
CELSO: Vou logo avisando. Eu sou exigente hein.
JOSÉ: Dejarás de ser así que probes mi paella. [Você deixará de ser, assim que provar da minha Paella.]
Risos. Valeska surge na cozinha, vinda de seu quarto.
VALESKA: Já podemos jantar.
CELINA: Y tu hermana? [E sua irmã?]
VALESKA: Disse que não tá com fome.
CELINA: ¿Qué pasa com ella, chica? Hace tiempo Vanessa ya no es la misma. [O que está acontecendo com ela, menina? Faz tempo que Vanessa já não é mais a mesma.]
VALESKA: Achei que só eu tinha percebido isso. Mas, ultimamente a Vanessa anda muito antissocial mesmo. Eu não sei o que tá acontecendo até porque ela nunca me fala nada da vida dela. Sempre foi assim.
MARCELO: Talvez ela nunca tenha encontrado espaço em meio a seu ego tamanho G.
Valeska põe a mão no peito fazendo-se de ofendida.
VALESKA: Quanto ódio nesse coraçãozinho, amore. Quê que eu te fiz, hein?
CELSO: Ih não comecem, pessoal.
VALESKA: Por acaso tá descontando em mim a raiva que tá sentindo de alguém?
MARCELO: Quê que você tá querendo dizer com isso?
VALESKA: Nada. Só que de repente, você poderia ter tido um dia ruim, sei lá. Algo inusitado poderia ter acontecido e tirado sua paciência. Nunca se sabe né!
Marcelo lança um olhar cortante para Valeska, matando a charada.
MARCELO: Foi você, não foi?
VALESKA: Não sei do que você está falando...
MARCELO: (bravo) Foi você quem... (hesita) Vem aqui. Quero falar a sós contigo.
Marcelo segue em direção à sala.
VALESKA: (cínica) Adoooro falar a sós com você.
Ela vai logo em seguida. Celina e Celso trocam um olhar.
CELSO: Valeska é um caso perdido.
CELINA: (portunhol) Quizá! Mas su hermana sei que no es. Então voy a verla e intentar descobrir qué está acontecendo. [Talvez! Mas sua irmã, sei que não é.]
| CENA 08 | Condomínio Almirante. Exterior. Fachada do prédio. O portão está fechado e não há movimentação aparente no local. Posicionados na calçada do condomínio estão Cláudio e dois indivíduos, um magro e alto, o outro, gordo e alto. Os três vestem roupas nada convencionais, trajes típicos de Mariachis mexicanos. Cláudio tem nas mãos uma viola e usa um bigode falso ridículo. Os outros dois tentam afinar os violinos que levam.
CLÁUDIO: Ae rapaziada. Valeu pela força hein. ‘Vamo’ fazer tudo como o José mandou. Hoje eu conquisto o coração dessa dama de ferro. Só que não.
Os três riem, debochados.
Corta para. Condomínio Almirante. Apartamento 210. Interior. Quarto de Suzana. Debaixo do edredom estão Suzana e Igor, abraçados.
IGOR: Depois dessa, nem preciso perguntar se você curtiu as flores que te mandei, né?
Suzana começa a ri de tal maneira que tiraria a paciência do ser humano mais calmo do mundo.
SUZANA: Então foi você que me mandou aquelas flores mixurucas?
IGOR: Quê que foi? Não gostou? E o poema? Eu mesmo escrevi, se quer saber.
Suzana exagera no deboche. Igor perde a paciência.
IGOR: Qual é a sua? Toda mulher gosta dessas baboseiras!
SUZANA: (rindo muito) Seus versinhos pareciam terem sido escritos por uma garotinha da escola primária.
Suzana não consegue conter a risada. Igor está irado.
SUZANA: O que você pretendia com isso, afinal?
IGOR: (desconfiado) Nada, ué. Só queria te agradar.
Suzana respira fundo e se recompõe.
SUZANA: (desconfiada) Sei... Escute aqui, rapazinho...
Ele a interrompe grosseiramente.
IGOR: Eu DETESTO quando você se refere a mim no diminutivo.
SUZANA: (maliciosa) Não seria por que isso lhe remete a algo que você tem e que também é muito pequenininho, seria?
IGOR: (altamente ofendido) EU NÃO ADMITO QUE VOCÊ FALE ASSIM DO MEU...
SUZANA: Calminha, bebê. Quem está falando é você...
Igor bufa de raiva. Emburrado, ele tira o edredom de cima de si e senta-se na cama para se vestir. Suzana, apenas de camisola de seda preta, o agarra por trás.
SUZANA: Ficou bravinho, amor? Eu sei como fazer isso passar... (sussurra em seu ouvido) Ainda não estou satisfeita.
Ela começa a acariciá-lo em seu peitoral e a beijá-lo no pescoço. Ele começa a se render às carícias dela dando uma risada safada.
IGOR: Não me provoca.
SUZANA: Me mostra do que você é capaz.
Neste momento um som desafinado, ao fundo, tira a concentração do casal.
SUZANA: Mas o que é isso?
IGOR: Parece que tá vindo lá de fora.
Suzana se levanta imediatamente em direção à janela do quarto que dá vista para o terraço. Ao abri-la, se surpreende com o que vê lá em baixo, na calçada da entrada de seu edifício. Close em Cláudio e seus amigos. O trio de músicos amadores começa a tocar a canção “Bésame mucho” [clássico mexicano dos anos 40]. Cláudio solta a voz. Os poucos passantes estranham aquela movimentação e há quem xingue os ridículos. Ele aumenta o tom de voz despertando a curiosidade dos moradores do local. Alguns começam a abrir suas janelas. Ao perceber Suzana admirando a cantoria, Cláudio abre um sorriso falso. Close em Suzana, perplexa.
SUZANA: Eu devo ter tacado fogo na cruz! Só pode!
Close em Cláudio pegando um buquê de flores que estava no chão e oferecendo-o à Suzana, que sorri falsamente. Ela desaparece da janela.
CLÁUDIO: Ela caiu feito um patinho, galera.
Sirenes de polícias se aproximam do local rapidamente. Uma viatura estaciona perto da calçada do condomínio e dois policiais saem imediatamente, com cara de bravos e cacetetes nas mãos. Um deles toma a palavra.
POLICIAL: Recebemos uma denúncia contra baderneiros que estão perturbando a ordem pública. Alguém confirma?
Close em Cláudio, tenso. Close na janela de Suzana. Ela aparece rindo da situação.
CLÁUDIO: Eu posso explicar, seu policial.
POLICIAL: Vai explicar pro delegado. Na delegacia.
Cláudio olha para o andar de Suzana, onde ela está debochando do rapaz. Igor surge por trás da amante.
IGOR: Se deu mal, hein...!
CLÁUDIO: Seu filho da mãe!
POLICIAL: Os três, no camburão. Agora!
| CENA 09 | Bar Ponto de Encontro. Interior. Cozinha. Bruna corta algumas verduras com muita habilidade, sob o olhar de Janaína.
JANAÍNA: Você gosta mesmo de cozinhar né, filha?
BRUNA: (sem tirar o olho das verduras) É o que eu mais gosto de fazer na vida. É como uma terapia, mãe.
Bruna conduz a tábua com as verduras em direção à panela que cozinhava no fogão. Ela despeja as verduras na comida e volta à mesa.
JANAÍNA: Você lembra quando sua vó cozinhava e você se metia pedindo pra ajudar? Acabava inventando moda e fazendo a maior bagunça.
BRUNA: Mas sempre acabava dando certo, né?
JANAÍNA: Você tem talento pra isso.
O clima nostálgico cessa quando Janaína fica séria.
BRUNA: Quê que foi, hein? O pior já passou mãe.
JANAÍNA: Eu to com medo, Bruna. O Carlos vai tentar de novo.
BRUNA: Você nem tem certeza se foi ele mesmo. Aliás, quem garante que foi mesmo um atentado?
JANAÍNA: Minutos antes de acontecer, eu encontrei com o Carlos na saída do bar, filha. Só pode ter sido ele.
BRUNA: Se vocês se encontraram minutos antes, como ele teve tempo de entrar num carro, colocar uma luva e atirar em você? Não faz sentido.
JANAÍNA: Você não conhece aquele homem. Ele é capaz de tudo.
BRUNA: Calma. Você tá impressionada com isso tudo. Vai ficar tudo bem.
Janaína olha com aflição à filha, que retribui o olhar.
JANAÍNA: Se me acontecer alguma coisa... Promete que vai ser feliz, e me perdoar por não ter sido a mãe que você merecia?
BRUNA: Não diz besteira. Não vai acontecer nada com você.
Bruna dá a volta na mesa para abraçar a mãe, que se sente protegida. Close na porta da entrada da cozinha e Melissa entrando no recinto, assustando as duas.
MELISSA: Oh que lindinho o momento fraternal entre mãe e filha. Mas Bruna, o pedido da mesa 10 já está pronto, querida?
BRUNA: Sim. Só um momento Melissa.
| CENA 10 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior. Sala de estar. Jaqueline surge vinda de seu quarto em direção à sala. Desconfiada, ela caminha para o corredor. Corta para. Interior. Quarto de Isabel. Jaqueline abre a porta do quarto lentamente certificando-se de que a mãe não está. Ela adentra ao recinto e começa a procurar por algo em todos os móveis do quarto. Ela abre o guarda-roupas, tira umas caixas verificando o que tem dentro, devolve-as em seguida. Abre as gavetas revistando as roupas da mãe. Vai até uma cômoda próxima à cama abrindo as duas gavetas. Ao abrir a gaveta de baixo ela nota algo estranho, enrolado em um pano. Imediatamente a garota desenrola e se assusta ao ver uma arma calibre 38. O barulho de porta batendo deixa Jaqueline aflita.
JAQUELINE: Droga...!
Isabel abre a porta de seu quarto e se surpreende ao ver a filha ali.
ISABEL: O que você está fazendo no meu quarto, filha?
Jaqueline vira-se para a mãe. Seu semblante agora é desafiador.
JAQUELINE: Por que você guarda uma arma no quarto, mãe?
Close em Isabel, encurralada.
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