| CENA 01| Continuação do capítulo anterior. Noite. Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior. Quarto de Isabel. Ela acaba de fechar a porta, tentando disfarçar o nervosismo. Jaqueline segura a arma envolvida numa flanela, admirando-a.
JAQUELINE: Estou esperando uma resposta, mamãe. Por que você tem uma arma escondida dentro de casa?
Isabel pensa rápido.
ISABEL: (calculista) Como por que, filha? Pelo motivo mais óbvio. Precaução. Esqueceu que moramos numa cidade perigosa? Hoje em dia não se pode “vacilar”, como vocês mesmo dizem. Já pensou se entra alguém aqui? Temos que estar preparados pra tudo.
JAQUELINE: Isso quer dizer que você sabe usá-la?
ISABEL: Eu não estou gostando do rumo que esta conversa está tomando. Primeiro você invade meu quarto sem a minha permissão, feito uma criminosa. E agora me enche de perguntas? Onde você quer chegar Jaqueline?
JAQUELINE: Por que tá tão nervosa? Só to fazendo umas perguntas.
ISABEL: Muito inoportunas, por sinal. Eu estou com dor de cabeça. Preciso dormir.
JAQUELINE: Tudo bem, então.
ISABEL: Guarda isso. E nunca mais entre no meu quarto sem minha permissão, ouviu bem?!
JAQUELINE: Ok, dona Isabel.
Jaqueline guarda a arma onde havia encontrado e se retira sem dizer uma palavra mais. Isabel tem um semblante aflito. Ela se aproxima da cama e senta-se, nervosa.
ISABEL: Ela desconfia de alguma coisa.
| CENA 02 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Sentados no sofá verde-limão, bem próximos, Valeska passa seu braço em volta de Marcelo, que o tira grosseiramente.
VALESKA: Você já foi mais cavalheiro.
MARCELO: Eu devia saber que uma atitude infantil como essa, só poderia ser fruto de um cérebro desprovido de qualquer capacidade intelectual como o seu.
VALESKA: (chocada) Eu não acredito que você tá me chamando de burra.
MARCELO: Qual é a sua, Valeska?
VALESKA: (cínica) Será que eu posso pelo menos saber do que to sendo acusada?
Marcelo retira do bolso o bilhete que recebera mais cedo e entrega a Valeska.
MARCELO: Vai dizer que nunca viu esse pedaço de papel na vida?
Ela pega o papel.
VALESKA: Qualquer ser humano que me conheça bem, ATÉ O MENOS DESPROVIDO DE CAPACIDADES INTELECTUAIS, saberia dizer que essa letra não é minha.
Ela devolve o bilhete à ele.
MARCELO: Você mandou alguém escrever!
VALESKA: Ah, Marcelo... FRANCAMENTE, querido. Se eu quisesse plantar a dúvida na sua cabecinha a respeito da integridade da interiorana, certamente faria muito melhor que mandar bilhetinhos com recadinhos bobos. Mesmo que você me ache uma anencéfala, fique certo que eu tenho capacidade pra fazer mais do que isso. Me poupe.
Marcelo fica confuso por um momento. Valeska levanta-se do sofá e levanta-se para sair, ao chegar na escada dá uma parada brusca, voltando-se para ele.
VALESKA: Maaas... Se algum desocupado, que não tem qualquer tipo de relação mínima com você, se deu ao trabalho de escrever isso aí, e te enviou, com certeza deve ter seus motivos. Eu, no seu lugar, ficaria de olhos bem abertos com a Bruninha.
Ele se levanta, bravo.
MARCELO: Eu confio inteiramente nela. A Bruna é praticamente uma santa.
VALESKA: Talvez seja esse o seu erro, querido. As santinhas costumam ser as piores. E olha que eu to te aconselhando como AMIGA, em consideração por todo tempo que nos conhecemos. Eu já entendi que você não me quer. Portanto, azar o seu!
Valeska se retira, desfilando. Marcelo permanece na sala, bastante confuso. Ele volta a sentar-se no sofá. Celso vem da cozinha conduzindo sua cadeira de rodas.
CELSO: Que cara é essa, Marcelo?
Ele desembucha.
MARCELO: Você acha que a Bruna seria capaz de me trair?
Close em Celso, surpreso com a pergunta.
| CENA 03 | “MÚSICA: Maré – NX zero.” República Universitária Laços de Amizade. Interior. Quarto Morango. Vanessa está deitada na cama de baixo do beliche, agarrada a um travesseiro, fones no ouvido. Veste apenas um baby dool branco com desenhos infantis. Seu olhar vermelho, cansado e distante, como se estivesse fora de seu corpo. Celina entra no quarto sem ser notada e puxa um puff que estava próximo da mesa do computador, para próximo da cama, sentando-se perto de Vanessa, que só então percebe a presença da mexicana. Fim da sonoplastia.
CELINA: ¿No quieres comer, Vanessa?
VANESSA: (contida) To sem fome, Celina.
CELINA: (penalizada) ¿Qué está pasando contigo, chica? Desde hace tiempo no eres la chica feliz, amorosa e llena de vida que era antes. Ahora me parece que estás muerta en vida. Estoy preocupada com usted. ¿Qué pasa, Vanessa? [O que está acontecendo com você, menina? Faz tempo que você não é a menina feliz, amorosa e cheia de vida de antes. Agora parece que está morta em vida. estou preocupada com você. O que está acontecendo?]
VANESSA: (contida) Não é nada, Celina. Me deixa sozinha, por favor.
CELINA: Sabes que siempre puede hablar conmigo, para todo que sea.
VANESSA: Eu não quero falar! Eu não posso falar!
CELINA: Sabes que puede...
Vanessa se levantada da cama, completamente atordoada.
VANESSA: (amedrontada) Eu não posso... Eu não posso... É perigoso! E a culpa é minha, Celina. A culpa é toda minha!
CELINA: (confusa) ¿Culpa?
VANESSA: (angustiada) É sim. Se eu não tivesse ido lá... Se eu não... A culpa é MINHA!
Vanessa se tranca no banheiro e continua se culpando. Celina está muito preocupada.
CELINA: Dios mio! Es peor de lo que pensé. [Meu Deus! É pior do que pensei.]
| CENA 04 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Marcelo e Celso estão no local. José, vindo da cozinha e tirando seu avental, anuncia para todo bairro ouvir. Celina desce as escadas neste momento.
JOSÉ: La cena se sirve! [O jantar está servido]
CELSO: Até que enfim.
JOSÉ: Preparem-se parar comer la mejor paella de sus vidas.
MARCELO: Só se for agora.
Neste momento, Cláudio, ainda vestido de mariachi, chega a casa, furioso. Ao avistar José, sua raiva aumenta ainda mais.
CLÁUDIO: Taí você né seu mexicano dos infernos. Você me paga!
Cláudio vai para cima de José, que tenta se defender como pode. Histérica, Celina se joga na frente do amado. Marcelo segura Cláudio evitando uma tragédia.
CELINA: ¿Qué significa esto, Cláudio? ¿Estás loco?
CLÁUDIO: Esse seu mexicano de uma figa quase me fez dormir na cadeia.
JOSÉ: (desentendido) ¿Yo?
CLÁUDIO: SIM. Você e essa sua história de serenata infalível quase me botaram em cana.
Marcelo e Celina começam a ri.
MARCELO: Mas que história é essa? E que roupa é essa, cara?
CLÁUDIO: (apontando para José) Pergunta pra esse maluco aí!
JOSÉ: ¿A chica no le gustó la serenata? Entoces hiciste algo errado. Quizá no cantaste la mejor canción... [A garota não gostou da serenata? Então você fez algo errado. Talvez não tenha cantado a melhor música...]
CLÁUDIO: Claro que eu fiz algo de errado. Segui seu conselho maluco e, como já era de se esperar, me dei mal. A sorte é que eles me liberaram, mas por muito pouco não passei a noite na cadeia.
Celina, Marcelo e José se divertem com a situação. O clima descontraído se desfaz com a fala de Celso.
CELSO: Tava mesmo querendo falar contigo, Cláudio.
CLÁUDIO: Qual é a parada, mano?
CELSO: ‘Vamo’ jantar. Depois a gente conversa.
| CENA 05 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Interior. Sala de estar. Jaqueline está esparramada no sofá, distraída na leitura de uma revista. Ao ouvir a porta bater, ela joga a revista na mesinha de centro e encara Igor, que acabara de entrar.
IGOR: Que foi?
JAQUELINE: Ela tem uma arma guardada no quarto.
IGOR: (surpreso) A mamãe?
JAQUELINE: E quem mais seria, seu burro?!
Jaqueline se ajeita no sofá, sentando-se. Igor se aproxima dela para sentar-se também.
IGOR: Mas você viu essa arma? E o que ela disse?
JAQUELINE: Disse que era por precaução. “Nunca se sabe quando um bandido vai entrar aqui, e temos que estar preparados pra qualquer coisa.”
IGOR: Mas isso faz sentido, Jaque. São Paulo é uma cidade muito perigosa.
JAQUELINE: De qualquer maneira, não to totalmente convencida disso.
IGOR: Você tá ficando paranóica, garota. Se liga!
JAQUELINE: Não sei, não...
IGOR: Ah! Você não sabe da maior. O otário do Cláudio pagou o maior mico na frente do prédio. Tu acredita que ele fez uma serenata pra Suzana? Ela riu da cara dele e ainda chamou a polícia. Ele foi parar na delegacia.
JAQUELINE: Vocês ainda não desistiram dessa bobagem?
IGOR: Quando eu entro numa parada é pra ganhar. E pelo visto dessa vez não vai ser diferente. Mas sabe de uma coisa, Jaque. Essa mãe do seu namorado é completamente maluca. Ela não curtiu as flores e chocolates que mandei e ainda zombou da minha cara.
JAQUELINE: Isso não me surpreende.
IGOR: Mas que tipo de mulher não gosta de receber flores, chocolates e poemas?
JAQUELINE: A Suzana é um caso à parte. E eu te avisei que essa história era perca de tempo. Ela é quem deve tá se divertindo à custa dos dois babacas!
IGOR: Será?
JAQUELINE: O Celso já sabe de tudo viu.
IGOR: Como é que é?
JAQUELINE: Eu não ia ficar omitindo uma coisa dessas pro meu namorado. Ele tinha que saber.
IGOR: Tanto faz. Eu não tenho nada a perder com isso.
JAQUELINE: Já o Cláudio...
IGOR: Bom. Deixa eu ir dormir que essa sua sogrinha insaciável me deu uma canseira danada.
JAQUELINE: Seu cachorro, sem vergonha!
Ela lhe dá um tapinha no braço. Ele ri com saliência.
| CENA 06 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Quarto Goiaba. Close na porta do quarto se abrindo. Cláudio passa por ela e a segura para que Celso passe com sua cadeira de rodas. Dentro do quarto, Celso se posiciona no centro, enquanto Cláudio fecha a porta. Depois disso, ele caminha rumo ao banheiro tirando a roupa de mariachi que ainda estava usando.
CLÁUDIO: Tu precisava ver o ridículo que eu passei na frente de todo mundo, cara. Vestido feito um palhaço e entrando naquela viatura da polícia.
CELSO: Sei...
Cláudio reaparece trajando apenas um calção florido e indo a direção ao guarda-roupas.
CELSO: A propósito, Cláudio. Quem foi a felizarda que te fez se fantasiar desse jeito?
Num rápido reflexo, Cláudio para o que estava fazendo, desconfiado.
CELSO: Deve gostar muito dela, né... Não vai me contar quem é a gata que fisgou teu coração, meu amigo?
Cláudio se vira para ele, desconcertado. Coça a cabeça.
CLÁUDIO: (gaguejando) Ah, cara. É uma mina aí. Nesse tempo que você ficou no hospital aconteceram umas paradas...
Celso interrompe-o.
CELSO: Você é muito cara de pau.
CLÁUDIO: (estranhando) Qual foi, Celso? Tá maluco?
Celso impõe a voz.
CELSO: A Jaqueline me contou que você e o irmãozinho dela tão tendo um caso com a minha mãe, seu canalha. E como se já não bastasse, agora inventaram uma competição ridícula pra ver quem consegue conquistar o coração dela. Essa serenata fez parte da disputa de vocês né?!
CLÁUDIO: Eu posso explicar, cara...
CELSO: (bravo) Explicar o que? Que você é um canalha, cafajeste, que não tem consideração alguma por aquele dizia ser como um irmão pra você? É isso que você chama de amizade, Cláudio?
CLÁUDIO: Calma, cara. Eu sei que... (pausa)
CELSO: O Igor, tudo bem. Eu sou capaz de entender que ele faria isso de propósito, pela rixa que ele tem com a gente ou por ciúme da Jaque. Mas, você...?! EU TE CONSIDERAVA UM IRMÃO.
CLÁUDIO: (rapidamente) E eu também, Celso. Você é o irmão que eu não tive. Você é o meu melhor amigo aqui dentro.
CELSO: (gritando) Você não é amigo de ninguém, cara. (tom normal) Você não sabe o que a palavra amizade significa. Porque se soubesse não me trairia dessa maneira. Enquanto eu tava lá naquela cama de hospital, entre a vida e a morte, ao invés de me apoiar, o garanhão tava lá, cantando a minha mãe, que pode não ser a melhor pessoa do mundo, MAS É MINHA MÃE!
CLÁUDIO: Eu fiquei o tempo todo contigo naquele hospital, Celso. E foi aí que eu conheci tua coroa. Eu sei que não devia ter feito isso, cara. Mas ela me provocou de todas as maneiras que ficou difícil resistir. Eu juro que tentei, mas eu sou homem, pow! A carne é fraca. Eu sei que tu entende porque tu também é.
CELSO: Eu jamais ficaria com a tua mãe. Principalmente só por diversão...!
CLÁUDIO: Mas ela só quer diversão!
CELSO: O fato é que você foi um calhorda que não teve a mínima consideração por essa amizade que pra mim acaba aqui.
CLÁUDIO: Peraí, cara. Também não é assim...
CELSO: Pra mim você tá morto, Cláudio.
| CENA 07 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. Close na porta de entrada da casa se abrindo. Janaína e Bruna entram, ambas com cara de cansadas.
JANAÍNA: Hoje o dia foi puxado.
BRUNA: Nem me fale.
Elas notam a presença de Marcelo, sozinho, sentado no sofá.
BRUNA: Ainda acordado, meu amor?
MARCELO: Tava te esperando.
Bruna abre um sorriso e corre para os braços do namorado.
JANAÍNA: Bom. Eu vou dormir o sono dos justos. Boa noite pra vocês, e juízo hein!
MARCELO: Boa noite, Janaína.
BRUNA: Boa noite, mãe.
Janaína sobe as escadas. Marcelo e Bruna se olham por um momento trocando sorrisos. O casal se beija com fervor. Bruna segura na nunca de Marcelo. Ele passa sua mão direita pela cintura dela e vai descendo até sua perna, levantando de leve a saia amarela que ela usava. Bruna não se importa e enfia sua mão por debaixo da blusa dele. Marcelo conduz sua mão até o zíper da saia de Bruna, e quando vai abri-la, ela se afasta bruscamente levantando-se, assustada.
BRUNA: Não, Marcelo...
MARCELO: Mas, Bruna...
BRUNA: Você sabe que eu ainda não... Você sabe!
MARCELO: (frustrado) Uma hora vai ter que rolar.
BRUNA: Mas eu ainda não to pronta. Você disse que ia esperar.
MARCELO: Tudo bem. É que é mais difícil do que parece.
Bruna volta a sentar-se ao lado de Marcelo. Ela o observa por um instante e volta a beijá-lo. Ele se esquiva.
BRUNA: Que foi?
MARCELO: Bruna... Você seria capaz de me trair?
BRUNA: (surpresa) Que pergunta mais sem propósito. Eu te amo. E quem ama, não trai.
Ele assente com a cabeça.
BRUNA: Mas, por que tá me perguntando isso?
MARCELO: (hesitante) É que... Bem... Ah! Deixa pra lá. Eu também te amo.
Eles trocam um sorriso e ela deita-se no peito dele.
| CENA 08 | No dia seguinte. Bela Vista. Casa de Darlan. Interior. Sala de estar. Close em Darlan, sentado no enorme sofá marfim, de pernas cruzadas saboreando um whisky. Solitário, olhar distante. A campainha toca. Uma empregada surge na sala indo atender a porta. Ao ouvir os passos da visita, Darlan pronuncia.
DARLAN: Espero que você tenha boas notícias para mim, querida.
Close no rosto da visita, Valeska.
VALESKA: Ele desconfiou.
DARLAN: Eu disse que esse seu plano era óbvio demais.
VALESKA: Mas não se preocupe. Consegui contornar a situação e acho inclusive que estou começando a semear a discórdia entre o casalzinho. Não está muito cedo para bebidas alcoólicas, sogrinho?
DARLAN: Sim. Mas é uma ocasião especial e eu quero brindar com você. Aceita uma bebida?
VALESKA: Uma caipirinha, please. Mas não muito forte, tenho que chegar sóbria a faculdade.
Darlan levanta-se do sofá e se dirige a um bar localizado ainda na sala de estar. Ele prepara a bebida dela, enquanto fala.
DARLAN: Acho melhor você esquecer essa ideia dos bilhetes. Precisamos ser mais objetivos, Valeska. Esse seu plano requer um tempo que não temos mais.
Ela vai a direção ao bar e senta-se num banco perto do balcão.
VALESKA: E o que você propõe?
DARLAN: Vamos armar um flagrante e acabar de uma vez por todas com essa aventura do meu filho. Você vai contratar um rapaz que seduza a Bruna de alguma maneira e faça com que Marcelo flagre os dois. Mas tudo tem que parecer real, para que não restem dúvidas da índole dessa garota.
Darlan oferece a bebida a Valeska que a pega, receosa. Ele percebe.
DARLAN: Quê que foi?
VALESKA: Sogrinho, você sabe que eu não sou o tipo de mulher que se dá por vencida facilmente. Mas creio que Marcelo seja inteligente demais pra cair nessa história da carochinha. Além disso, eles se gostam de verdade.
DARLAN: Conheço meu filho, Val. Ele diz que não, mas é muito parecido comigo.
VALESKA: Ah, isso é verdade!
DARLAN: Além disso, ele é um pouco é imaturo e de gênio forte. Não aceitará essa “traição”.
VALESKA: Pode ser...
DARLAN: Mas o que houve com você, hein? Não estou lhe reconhecendo. Cadê aquela Valeska determinada que sempre brigava com as coleguinhas da escola pela atenção exclusiva do Marcelo?
VALESKA: Cresceu. E talvez ela tenha se dado conta de que contra o sentimento verdadeiro não há quem possa. Ai! EU NÃO ACREDITO QUE DISSE ISSO. Retire o que disse imediatamente, Valeska!
Darlan deixa escapar um risinho frouxo.
DARLAN: Você é muito novinha, filha. Tem muito que aprender ainda. E aí vai a primeira lição, hein: se você deseja alguma coisa, lute até o fim por ela. Eu a conheço desde moleca, e sei que você é dessas que está disposta a tudo para alcançar seu objetivo. E é justamente isso que me agrada em sua personalidade. Sei que você gosta do meu filho de verdade e é a garota certa pra ele.
VALESKA: Eu amo o Marcelo.
DARLAN: Não duvido. Mas, você vai ter de encarar o que for pra ficar com ele.
VALESKA: Nem precisa repetir.
Os dois brindam e tomam um gole de suas bebidas.
VALESKA: Posso fazer uma pergunta? Por que, de repente, você decidiu separá-los? Até onde eu sei você e a garota de programa, mãe da Bruna...
Ele a corta.
DARLAN: A Janaína foi muito desonesta comigo. Certas coisas nessa vida não tem perdão. Sem falar que somos de mundos bem diferentes. Eu não podia continuar numa relação com alguém que nunca seria igual a mim...
VALESKA: Então, é isso?
Darlan ignora a pergunta de Valeska e olha fixamente em seu olho.
DARLAN: É você quem eu quero como nora, Valeska. Isso é tudo que precisa saber, minha pequena.
Darlan toma mais um gole de seu whisky. Close em Valeska, que sorri inocentemente.
VALESKA: Você me dá uma carona?
DARLAN: Com maior prazer.
| CENA 09 | Hospital Regional. Interior. Sala da fisioterapia. Dr. Humberto prepara alguns aparelhos para a sessão de fisioterapia de Celso, que entra na sala neste momento, em companhia de Jaqueline.
DR. HUMBERTO: (com um sorriso de ponta a ponta) Bom dia!
CELSO: (desanimado) Bom dia, doutor.
DR. HUMBERTO: Que ‘bom dia’ mais sem empolgação. Ânimo, Celso! Hoje você vai progredir ainda mais nos exercícios.
JAQUELINE: Eu já disse a ele, doutor. Mas o Celso é muito cabeça dura.
CELSO: (conformado) Eu só acho que isso é perca de tempo. Eu não vou mais voltar a andar.
DR. HUMBERTO: (sério) Você tem razão, Celso. Você não vai mais voltar a andar.
JAQUELINE e CELSO: (chocados) O QUÊ?
O médico ri, de leve.
DR. HUMBERTO: Se você continuar pensando dessa forma, é bem provável que você não volte a andar mesmo. Antes de qualquer coisa, é necessário que você acredite que vai conseguir. Pode não parecer, mas essa é uma etapa fundamental para o processo de recuperação. Eu não vou ficar repetindo isso toda hora né, cara?
JAQUELINE: É isso aí, meu amor. Eu sei que você é capaz.
CELSO: (impaciente) Tá, tá, tá. Vamos logo começar com isso.
JAQUELINE: Eu preciso ir pra escola. (para o médico) Cuida bem dele, hein!
DR. HUMBERTO: Pode deixar, Jaque.
Jaqueline beija Celso na boca. Em seguida, se despede do médico e sai. Dr. Humberto troca um olhar com Celso.
| CENA 10 | Bar Ponto de Encontro. Exterior. Um Gol branco estaciona poucos metros antes da entrada do restaurante. Close em Isabel, no interior do veículo. Ela tira um óculos de sol de sua bolsa e o coloca em seu rosto, desconfiada. Corta para.
| CENA 11 | Bar Ponto de Encontro. Interior. Janaína e Melissa estão sentadas nos bancos encostados ao balcão central, jogando conversa fora, enquanto o movimento no bar ainda está fraco. Há uma bandeja de alumínio no balcão. Melissa está com o braço direito apoiado nele e cara de poucos amigos. Janaína, de pernas e braços cruzados. Ambas vestidas com o uniforme do bar.
JANAÍNA: Não se preocupe, Melissa. Quando você menos esperar o Chad se dará conta do quanto perde adiando esse casamento de vocês.
MELISSA: (desanimada) Eu sou muito persistente, sabe. Mas tá ficando difícil, minha filha. Ô homem difícil meu Deus!
Janaína dá um sorriso fraco.
JANAÍNA: Vou organizar a cozinha pra quando a Bruna chegar.
MELISSA: Eu te ajudo.
Janaína se levanta, Melissa a segue. Quando se preparam para começarem a andar, um barulho estranho assusta as duas mulheres. Elas se viram imediatamente em direção a entrada, assustadas. Diante das duas, parado, está um indivíduo todo vestido de preto, com capuz cobrindo seu rosto, mãos cobertas por uma luva e apontando uma arma para a cabeça de Janaína. Melissa arregala os olhos de medo.
HOMEM: Dessa vez você não vai escapar.
Close em Melissa e Janaína, ambas em pânico.
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