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Laços de Amizade: Capítulo 30

Novela de Diogo de Castro
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LAÇOS DE AMIZADE - CAPÍTULO 30

| CENA 01| Dia. Condomínio Almirante. Apartamento 210. Interior. Suzana está frente a frente com Cláudio e Igor, este com uniforme da escola e mochila nas costas.

CLÁUDIO: O que você quer? E por que esse cara tá aqui?

IGOR: É. Por que chamou a gente? Eu tive que fugir da escola. Se minha mãe sonha...!

SUZANA: Calma, meninos. Nada vai acontecer.  Chamei os dois aqui pra me despedir. Estou voltando pra Florianópolis.

OS DOIS (surpresa): O quê?

SUZANA: Isso mesmo. Agora que meu filho está se recuperando e continua sendo o mesmo quadrado de sempre, não tenho mais o que fazer por aqui. A brincadeira acabou.

IGOR: Mas... (pausa)

CLÁUDIO: E a gente? Como é que a gente fica?

IGOR: Não! Como é que A GENTE fica?!

SUZANA: Como assim?

CLÁUDIO: É que eu pensei que...

SUZANA: Pensou que eu escolheria um dos dois pra levar comigo? (ela ri) Por favor, meninos! Eu já tenho um filho.

IGOR: Você não pode nos dispensar assim depois de tudo que a gente viveu.

CLÁUDIO: É.

SUZANA: Eu nunca prometi nada a nenhum dos dois.  Foi só diversão e vocês sabem disso. Não entendo o porquê desse drama todo.

CLÁUDIO: Você é uma sem coração. Isso não se faz!

IGOR (ofendido): Um dia alguém vai fazer o mesmo que você tá fazendo com a gente agora.

SUZANA: Duvido muito, querido. Bem. Era isso que eu tinha pra dizer.

Ela vai até o início do corredor que dá acesso a seu quarto e começa a se despir.

SUZANA: Mas... Pra mostrar pra vocês que eu não sou tão desalmada como pensam, darei a oportunidade dos dois provarem do meu sabor pela última vez.

Igor e Cláudio se entreolham, salientes.

SUZANA: Sempre tive a fantasia de levar dois pra cama!

Eles vão a sua direção. Ela corre para o quarto.

| CENA 02| Condomínio Almirante. Apartamento 209. Cozinha. Interior. A empregada coloca os guardanapos na bandeja.  Close nas mãos dela dando um giro 180° na badeja com copos e biscoitos, tirando-a dali pra continuar a limpeza da mesa. Isabel, que estava abrindo a geladeira, não percebe. Ela volta-se para a empregada.

ISABEL: Pronto, criatura?

EMPREGADA: Prontinho, senhora.

ISABEL: Ótimo. Você já está liberada pra ver sua irmã, como me pediu.

EMPREGADA: Obrigada.

Isabel pega a bandeja e se retira da cozinha.

| CENA 03| Hospital. Sala de fisioterapia. Celso está deitado na cama, enquanto doutor Humberto realiza alguns exercícios nas pernas de seu paciente.

DR. HUMBERTO: Que bom que decidiu ampliar as horas de fisioterapia. Apesar de não achar certo que você perca o semestre na faculdade.

CELSO: Eu não vou voltar até conseguir caminhar.

DR. HUMBERTO: Isso é uma bobagem.

CELSO: Pra você pode ser. Não é pra você que aquele bando de mauricinhos e patricinhas vai olhar torto, com pena. Isso me irrita!

DR. HUMBERTO: As pessoas demoram um pouco pra aceitar as deficiências alheias, Celso. Mas, de perto, ninguém é tão normal. Todo mundo tem, de alguma maneira, certo tipo de deficiência.

CELSO: Mas não é todo mundo que tem uma deficiência tão visível.

DR. HUMBERTO: Eu sei muito bem como é ser olhado com diferença. Não esqueça que está falando com um gay.

CELSO: Mas você é muito discreto. Olhando assim, ninguém diz que você é.

Humberto ri.

DR. HUMBERTO: Mas eu sou. E muita gente não aceita o fato. Eu já tive que aguentar muita coisa por isso.

CELSO: Imagino.

DR. HUMBERTO: Mas, tudo bem. Não falemos mais sobre.

CELSO: Não gosta de falar disso?

DR. HUMBERTO: Não é fácil falar disso.

CELSO: E por que comigo é diferente?

DR. HUMBERTO: É que… Bem. Não sei. Eu acho que... (pausa)

CELSO (tom de brincadeira): Não vai me dizer que tá a fim de mim?!

O médico empalidece e gagueja.

DR. HUMBERTO: Eu...

Celso percebe que falou demais.

CELSO: Doutor, me desculpe. Eu tava brincando...

DR. HUMBERTO (sério): Brincadeira ou não, o que você disse é verdade. E é mais do que uma simples atração, Celso. Eu gosto de você.

Close na porta do quarto. Jaqueline, que acabara de chegar, ouvira tudo. Celso e Humberto ficam desconcertados ao notarem a presença dela.

| CENA 04| Condomínio Almirante. Apartamento 209. Sala de estar. Interior. Janaína folheia a revista deixada no sofá por Isabel, que chega a sala segurando a bandeja. Ela deixa a bandeja na mesinha de centro e senta-se no sofá.

ISABEL: Aqui está, Janaína. Espero que goste.

JANAÍNA: Não precisava se incomodar.

Janaína fala pegando um dos copos de suco. Isabel faz o mesmo e ingere o suco, deixando menos da metade no copo.

ISABEL: Mas então, como andam as coisas?

JANAÍNA: Tensas. Você não sabe o que tem me acontecido nos últimos dias. Tem alguém tentando me matar.

ISABEL (atônita): Como você descobriu?!

JANAÍNA (desentendida): Oi?!

ISABEL (séria/nervosa): Janaína... Eu sinceramente sinto muito por isso. É... Sei que você fez muito por mim, pela minha família, mas eu não podia correr o risco de... (pausa)

Isabel começa a passar mal, falta-lhe o ar.

JANAÍNA: Isabel, você está bem?!

ISABEL (confusa): Eu... Mas... Como?!

Janaína se desespera.

JANAÍNA: Isabel...! Quê que tá acontecendo?

ISABEL (ofegante): Veneno... Veneno...

Isabel levanta-se do sofá e tenta caminhar, mas cai no chão, tentando respirar. Ela se arrasta num ato de desespero.

ISABEL: Me ajuda...

Ela perde as forças e fecha os olhos. Janaína tenta reanimar Isabel, sem sucesso. Se desespera.

JANAÍNA (gritando): Meu Deus... Socorro! Socorro! Alguém...!

Igor, Cláudio e Suzana invadem o apartamento vizinho, assustados com os gritos. Ao ver Isabel no chão, Igor se desespera.

IGOR: Mãe?! Mãe!!! Acorda... O que você fez com ela?

Cláudio olha Janaína, sem entender.

SUZANA: Vou chamar uma ambulância.

| CENA 05| Hospital. Sala de fisioterapia. Humberto está visivelmente envergonhado ao perceber que Jaqueline ouviu sua declaração. Ela continua parada na porta, sem saber o que dizer.

DR. HUMBERTO: Jaqueline... Eu... Eu não queria que... (pausa)

JAQUELINE: Eu nem sei o que dizer!

CELSO (despistando): Amor, não leve a sério. Ele tava brincando.

O médico encara Celso.

JAQUELINE: Não pareceu brincadeira.

DR. HUMBERTO: Olha... (pausa)

O clima tenso é interrompido pelo toque do celular de Jaqueline. Ela retira o aparelho da bolsa e o coloca no ouvido.

JAQUELINE: Pronto. (pausa/apavorada) O QUÊ?!

| CENA 06| Hospital. Sala de espera. Cláudio está sentado num sofá branco, com as mãos na boca, ao lado de Suzana. Igor se estressa com Janaína, ambos em pé.

IGOR (grita): O que você fez com ela sua assassina? Não foi suficiente acabar com a vida do meu pai? Isso não vai ficar assim, ouviu bem?! Se minha mãe morrer eu acabo com você.

CLÁUDIO: Calma, cara. Isso aqui é um hospital.

IGOR (revoltado): Cala a boca!

SUZANA: O que foi que aconteceu, afinal?

JANAÍNA: Eu não fiz nada, Igor. Por mais que não acredite. Sua mãe tentou me envenenar.

SUZANA (abismada): O quê?

IGOR: Sua mentirosa. Ela não teria motivo algum pra isso! Eu vou te matar...

Igor tenta partir pra cima de Janaína, mas Cláudio o segura. Janaína chora.

JANAÍNA: Ela tomou o suco que era pra mim, Igor. Por algum motivo ela se enganou. Mas há essa hora eu era quem deveria estar na sala de cirurgia.

SUZANA: Meu Deus.

CLÁUDIO: Você tem certeza disso, Janaína?!

Jaqueline surge na sala de espera, desesperada. O médico também aparece na sala.

MÉDICO: Parentes da senhora Isabel Felício, por favor.

JAQUELINE (preocupada): Cadê minha mãe?!

MÉDICO: Sua mãe ingeriu uma quantidade significativa de veneno de rato e acabou de passar por um procedimento de lavagem estomacal de urgência.

Jaqueline olha Janaína com ódio.

JAQUELINE: Foi você, não foi?!

IGOR: Como é que ela tá, doutor?

MÉDICO: A princípio correu tudo bem. Felizmente ela foi trazida a tempo. Mas seu estado ainda é instável e ela precisará ficar em observação por tempo indeterminado. Pediu pra ver os filhos.

| CENA 07| Hospital. Quarto de Isabel. Jaqueline e Igor entram no quarto e se emocionam ao ver mãe fraca e pálida, na cama.

JAQUELINE: Como você ta, mãe?

IGOR: O quê que aquela mulher te fez?

Isabel fala com dificuldade.

ISABEL: A Janaína... Ela não me fez nada, meus filhos. Durante todo esse tempo, ela só me ajudou. Chegou a hora de você saberem da verdade.

JAQUELINE: Do que você ta falando?

ISABEL: A Janaína não matou o pai de vocês.

IGOR: O quê?

Ela respira fundo e começa.

ISABEL: Naquele dia eu tinha bebido demais... Estava sob o efeito do álcool, e a raiva me cegou. Mais uma vez o pai de vocês chegou tarde em casa. Eu já desconfiava que ele tinha outra. Mas, não imaginei que ele seria capaz de me dizer todas aquelas coisas horríveis...

JAQUELINE: Você ta querendo dizer que... (pausa)

ISABEL: Não foi a Janaína quem atirou no pai de vocês. Fui eu.

IGOR: Não pode ser...

ISABEL (chorando): Eu tava fora de mim. Na mesma hora me arrependi, mas já estava feito. O Ernesto estava caído no chão do meu quarto, sangrando, sem vida. A Janaína chegou por acaso e ao ouvir o tiro correu pro quarto. Foi então que implorei pra que ela me ajudasse. E pra que vocês não ficassem desamparados, ela foi capaz de assumir a culpa.

JAQUELINE: Agora tudo faz sentido. Por isso você ajudou a tirá-la de lá. Por isso essa amizade entre vocês que a gente nunca conseguiu entender! Eu já desconfiava que você escondia alguma coisa em relação a morte do meu pai, mas, não imaginava que fosse algo assim! Como você foi capaz, mãe?

IGOR: Durante todo esse tempo a gente crucificou uma inocente.

JAQUELINE (inconformada): Por que nos escondeu isso durante todo esse tempo?

ISABEL: Eu só pensei em vocês, meus filhos. O que seria de vocês dois com a mãe presa?

JAQUELINE: Isso não justifica! Você tinha que pagar pelo seu crime. Coitada daquela mulher, meu Deus! Pagar por um crime que você cometeu e como se não bastasse, ter que ser acusada a vida inteira de assassina!

ISABEL: Me perdoem... Mas eu já estou pagando por isso. Acreditem.

JAQUELINE: Espera... Mas, e essa história do veneno?

ISABEL: Foi uma tentativa desesperada de manter a Janaína calada. (hesitante) Eu ia matá-la.

IGOR (horrorizado): Você é um monstro!

ISABEL: Eu tive medo da reação de vocês quando descobrissem a verdade. E pelo visto tinha motivos. Não me olhem assim! Foi um ato impensado e num momento de desespero... Eu amo vocês e não suportaria conviver seu desprezo.

Jaqueline enxuga as lágrimas com o antebraço.

JAQUELINE: Pois agora vai ter que aprender. Porque a partir de hoje é isso que você vai ter de mim.

Jaqueline sai dali arrasada. Igor olha a mãe mais uma vez, e também sai. Isabel chora desconsoladamente.

| CENA 08| MÚSICA: Semente – Armandinho. Imagens externas da grande São Paulo. O cotidiano turbulento da metrópole. Pessoas caminhando apressadas pelas calçadas do centro da cidade. Carros presos no engarrafamento. Anoitece. Corta.

| CENA 09| Bar Ponto de Encontro. Cozinha. Interior. Janaína, Bruna, Marcelo, Melissa e Chad reunidos no local.

BRUNA: Então quer dizer que a Isabel era a responsável pelos atentados?

JANAÍNA: Ao que parece, sim. E eu pensando que era o cretino do Carlos! Apesar de ter achado muito estranha a visita inesperada da Isabel no Ponto, jamais passaria pela minha cabeça que ela tentaria me matar. Não acredito até agora!

CHAD: Como tem gente ruim nesse mundo.

MELISSA: Sabia. Tenho olho clínico pra essas coisas e nunca fui com a cara dela.

JANAÍNA: Eu ainda to tentando assimilar os fatos, gente. Como pôde depois de tudo que fiz por ela?

MELISSA: Mas bem feito! Teve o que mereceu.

MARCELO: E como ela ta?

JANAÍNA: Bem, o pior já passou. Só espero que ela aprenda alguma coisa com isso. Porque eu aprendi.

CHAD: Se o pior já passou, vamos voltar ao trabalho né. Hoje isso aqui promete bombar!

Chad, Melissa e Janaína vão saindo. Bruna olha Marcelo, sorrindo.

MARCELO: Que foi?

BRUNA: Eu ainda não te agradeci.

MARCELO: Pelo quê?

BRUNA: Por não ter duvidado de mim. Qualquer cara no seu lugar perderia a cabeça. Mas, você, mesmo com toda aquela situação montada pela Valeska, em nenhum momento pensou que eu tava lá por livre e espontânea vontade.

MARCELO: Eu confio plenamente em você.

BRUNA: Hoje comprovei. E te amo ainda mais por isso.

MARCELO: Ama, é? Então demonstra...

Eles riem, salientes. Se beijam. Chad aparece na porta da cozinha e tosse. Eles se afastam.

MARCELO: Foi mal. Já to indo.

| CENA 10| Bairro Santa Felícia. Casa de Carlos. Interior. Sala. Carlos está sentado a pequena mesa de madeira, tomando uma cerveja, olhar fixo na parede, pensativo. Ronaldo entra na casa, sorridente.

RONALDO: E aí, cara!

Carlos não reage. Ronaldo vai em direção a geladeira, abrindo-a e tirando uma cerveja de dentro. Volta pra sala.

RONALDO: Ei, cara! Taí dentro?

Carlos percebe a presença de Ronaldo.

RONALDO: Quê que foi?! Deixa eu adivinhar... Pensando na Jana!

Carlos toma o último gole da cerveja.

CARLOS: Aham. Pensando que já esperei tempo demais pra acabar com essa história.

RONALDO: Tá falando do quê?

CARLOS: Hoje mesmo faço a Janaína voltar pra casa.

Close em Carlos, seu olhar transborda ódio.


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