Romance à Moda Antiga
de Roque Aloisio Weschenfelder
Na noite de sexta-feira, Rodrigo viajou a Curitiba para se encontrar com
Aline. Haviam-se conhecido num encontro de jovens em Blumenau e conversaram
bastante sobre a vida que pretendiam levar no futuro. Não entraram em detalhes
sobre casamento, mas Rodrigo sentiu que estava nascendo um romance entre ambos.
Antes de partir, de ônibus, ele reservou um quarto em hotel na capital
paranaense. De lá iria de carro de aplicativo ou de táxi até a casa de Aline,
que residia com seus pais num bairro não longe do centro.
Aline concordou em receber sua visita no sábado à tarde. Ela gostara da
conversa e já antevia a possibilidade de manter um romance com o rapaz. Com
seus vinte e um anos, imaginava que seria interessante definir com quem viveria
de então em diante.
Rodrigo saiu de sua cidade no Rio Grande do Sul, ainda no meio da tarde
da sexta-feira. Enquanto não anoitecia, ficava imaginando como proporia a ideia
de terem um romance firme e forte à moça. Já com vinte e dois anos completos,
não pretendia viver mais tempo sozinho. Quando anoiteceu, pegou no sono.
Aline sonhou de noite que um cavaleiro traria um buquê de belas flores,
docemente perfumadas e falaria palavras ajuntadas em versos para ela. Acordou
de madrugada e teve que rir do que sonhara.
O sonho de Rodrigo foi estranho. Ele viu uma sereia nadando perto de uma
praia que tinha o nome de Aline escrita em suas escamas da cauda de peixe.
Quando o viu parado na areia, ela saiu da água transformada numa noiva, mas de
vestido todo azul e caminhava com seus pés, não tinha mais sinais de peixe. Ele
acordou e lamentou que estava sentado num banco de ônibus, com o senhor de
idade ao seu lado roncando. Pensou: “que ela seja a noiva e não a sereia”.
Quando chegou à rodoviária, Rodrigo pegou um táxi e foi ao hotel.
Já no quarto, tomou um banho e desceu ao primeiro andar pra tomar
café.
Viu um casal que parecia estar de lua de mel de tanto que se
paparicavam. O rapaz levava a xícara com leite à boca da moça e se descuidou.
Derramou o leite sobre o peito dela, que não se queimou porque o líquido era
apenas morno. Ela deu um tapa na mão dele que lhe retribuiu com um beijo na
boca.
Rodrigo terminou o café e subiu de volta ao quarto. Pegou o celular e
viu uma mensagem de Aline: “chegou bem?”
Respondeu: “sim, tomei café agora!”
Ela escreveu: “meus pais foram na minha vó materna que está bem doente.
Se fosse possível, você poderia vir de manhã. Vou fazer um almoço para nós”.
“Está bem, chegarei em seguida, mas não se preocupe com almoço, podemos
pedir um delivery.”
“Faço questão de mostrar meus dotes de cozinheira” brincou ela.
“Certo, chegarei daqui a pouco.”
Enquanto se preparou para a ida, Rodrigo pensou: “pelo jeito é moça
prendada, sabe cozinhar. Quero saber se ela trabalha, lá em Blumenau não
falamos sobre os exercícios ou não da profissão de cada um e se já tinha algum emprego ou empreendimento”.
Chamou um taxista que parava em frente ao hotel, deu o endereço de
Aline, e o motorista ajeitou seu GPS para encontrar a residência.
Em pouco tempo aportou na frente de uma casa simples, mas bem cuidada.
Tocou a campainha, e logo Aline apareceu e abriu a porta. “Seja bem-vindo,
entre” convidou ela.
Rodrigo entrou e sentou-se numa cadeira indicada pela moça. Ela lhe
ofereceu água e disse que ficaria na cozinha para preparar o almoço. Se ele
quisesse, poderia ficar na sala vendo televisão ou vir na cozinha para
conversarem durante o preparo dos alimentos.
Ele escolheu acompanhá-la na cozinha.
Aline mostrou-lhe outra cadeira perto da mesa onde serviria a refeição.
Ela pegou um pedaço de carne suína, temperou-a e colocou-a no forno elétrico.
Depois, pegou arroz que cozinharia. Apanhou duas cebolas e quatro tomates para
preparar uma salada.
Enquanto a carne assava devagar no forno, ela cortava as cebolas e os
tomates em rodelas e adicionou-lhes tempero e vinagre. O arroz cozinharia
minutos antes de almoçarem.
Ela veio sentar-se numa cadeira próxima de Rodrigo.
O moço perguntou: — você prepara o almoço todos os dias?
— Não, de segunda à sexta trabalho numa concessionária de créditos e
almoço num restaurante próximo, a mãe faz pra eles. Sábado e domingo nós nos
alternamos na tarefa — disse Aline.
— Eu dirijo nossa empresa, que é uma fábrica de uniformes para
trabalhadores. Nos últimos dias, nossa secretária pediu as contas porque vai
casar e pretende se dedicar somente ao lar. O marido dela ganha bem, então não
precisa trabalhar — comentou Rodrigo.
— Veio me oferecer essa vaga de trabalho? — riu ela.
— Claro que não. Você está bem empregada — disse ele.
— Se eu a quisesse, você me daria ela? — perguntou Aline, enquanto foi
mexer na forma de carne no forno. Um cheiro gostoso invadiu a cozinha.
— Posso pensar no caso — riu Rodrigo. — pretende sair do serviço de
conceder créditos?
— Se eu arrumar algo melhor, sim.
Aline pegou o arroz e o pôs a cozinhar. Colocou dois pratos e os
talheres na mesa, um em cada lado da mesa.
Ficou em silêncio até tudo estar pronto na mesa. Ela o convidou para o
almoço. Após provar a comida, ele elogiou o gosto e capricho da simples
refeição.
Depois de almoçar, ela foi lavar a louça, e Rodrigo disse que ia
secá-la, mas ela falou que a deixaria secar num aparelho para isso.
Pronta a função do almoço, Aline perguntou: — afinal, qual o motivo por
que quis vir me visitar? Algo normal ou especial?
— Normal e especial!
— Como assim? Não entendi!
— Normal porque nos conhecemos em Blumenau e conversamos. Gostei de
falar com você. Especial porque gosto de você.
— Gosta de mim? Que quer dizer isso?
Rodrigo segurou um pouco a respiração, então disse: — quero dizer que
quero namorar e, se der certo, penso em casar com você.
— Está falando sério. Então vai me deixar ser sua secretária na firma? —
riu Aline.
— Secretária não, sócia sim.
— Esposa-sócia? Pensa que aceitarei?
— De repente. Depende de você!
— Terei de perguntar a meus pais.
— Por quê? Você não é maior de idade?
— Sou, mas moro na casa dos pais e sempre pergunto se devo fazer isso ou aquilo.
— Quando eles retornam?
— Agora de tardezinha.
— Deixe-me perguntar-lhes.
— Primeiro eu, depois pode ser — decidiu Aline.
— Viajo de noite. Não pode ser muito tarde.
— Viaja nada. Vai dormir aqui — disse ela.
— Tenho minhas coisas no hotel — ponderou ele.
— Pode buscá-las. Você passará o domingo conosco. Quero que conheça meus
pais, e eles precisam conhecê-lo também.
— Segunda-feira preciso estar na firma.
— Pelo que entendi, seu pai também cuida lá. Ligue e diga que se virem
que você chegará durante a semana.
— Por que isso? Algum plano seu? — perguntou Rodrigo, preocupado.
— Sim, pois já lhe digo, aceito ser sua namorada. Quero sair da
concessionária, acertar as contas e viajar com você para ocupar a vaga na sua
empresa. Quando nos conhecermos melhor, poderemos casar, e eu me tornarei sua
sócia.
Rodrigo levantou-se e foi dar um abraço nela. Ela retribuiu com um beijo
na face dele.
Depois ela o convidou para sentarem no sofá da sala.
Sentaram-se abraçados e olhavam-se nos olhos. Faltaram palavras, mas
suas retinas mostravam claramente que o romance fora desencadeado e teria longa
durabilidade.
De vez em quando, trocaram beijos rápidos, até que Aline falou: — agora
um beijo na boca e depois temos de nos comportar, pois os pais já estão
voltando.
Com um beijo bem demorado, selaram o acordo de um namoro. Aline sentou
em outro sofá, e não demorou que seus pais chegaram.
— Pai, mãe, olhem esse rapaz. Posso namorar com ele? Se der certo o
namoro, também casar?
— Você é de maior já. O que decidir está perfeito — antecipou-se a mãe.
— Sim, é verdade — completou o pai.
— Deixem-me perguntar, aceitam então que eu possa ser seu futuro genro?
— perguntou Rodrigo.
— Aline é que vai decidir, nossa palavra está garantida. Você é gaúcho,
e gaúcho geralmente é pessoa correta — ponderou o pai de Aline.
— Nem todo gaúcho é verdadeiro, aliás, não somos melhores que os demais
brasileiros. De mim podem ter certeza de que ela não se arrependerá.
Ambos os pais foram trocar de roupa, voltando, em seguida, com vestes mais à vontade que a
domingueira.
Rodrigo chamou um carro para ir ao hotel buscar sua mala.
De noite, dormiu no quarto de hóspedes da casa.
Durante o domingo, falaram dos planos e como viajariam à cidade de
Rodrigo. O pai de Aline disse que compraria um carro seminovo que daria de
presente a ela.
Na segunda-feira, Aline foi à concessionária onde pediu demissão. Como
tinha urgência, o acerto de contas seria no dia seguinte.
Os dois jovens decidiram que a viagem seria na quarta-feira no carro de
apenas três anos de uso dado pelos pais de Aline. O pai de Rodrigo pediu que
não demorassem pra voltar porque precisariam decidir se aceitariam o pedido de
uniformes de uma nova empresa na cidade que teria centenas de empregados.
Chegaram na quinta-feira de tarde na casa de Rodrigo, e Aline pediu um
quarto separado. Não pretendia dormir com o namorado, isso seria só depois do
casamento.
Ela se tornou a nova secretária da firma, e os funcionários, por ora,
não deviam saber que se tratava da namorada de Rodrigo.
Após um mês de namoro e muitos desejos de ambos para que ele não durasse
muito, com a certeza de que se amavam, marcaram o casamento.
Queriam que fosse no mesmo dia no religioso e no civil, com a presença
dos pais de ambos.
Só então, os funcionários, vários novos, inclusive, em virtude da grande
demanda da firma, ficaram sabendo que Aline seria a esposa de Rodrigo e sócia
da firma, ficando no papel de secretária. A mãe dele continuaria a ser a
cozinheira da família, que receberia a ajuda da filha mais velha da irmã dele,
que estudava de tarde e gostava de aprender com a avó as receitas cheias de
muito amor.
O romance estava se consolidando entre Rodrigo e Aline.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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