| CENA 01 | Continuação do capítulo anterior. Noite. Bar Ponto de Encontro. Interior do salão principal. Carlos aponta a arma para Darlan. Janaína está tensa.
JANAÍNA: Fica calmo, Carlos... Não faz nenhuma besteira, por favor.
DARLAN: Você pode se arrepender de... (pausa)
CARLOS (bravo/grita): Cala essa boca! Não mandei ninguém falar. Cala a boca! (pausa/respira) Eu te dei todas as chances de voltar pra mim... Mas nunca quis, não foi?! Ainda ta apaixonada por esse paspalho aí não é?! Nunca percebeu que apesar de tudo... (hesita) Eu sempre te quis de verdade?
JANAÍNA: Você não sabe o que diz. Quem gosta de verdade não faz o que você fazia comigo. Tem noção do que eu sofri em suas mãos? Você me humilhou da maneira mais sórdida possível, me agrediu de todas as formas. Isso que você sente não tem relação alguma com amor, é um sentimento obsessivo de posse.
CARLOS: Tu não sabe do que ta falando. Tudo que eu fiz foi tentar manter as coisas como eram antes desse cara aparecer. Mas eu vou resolver isso agora mesmo. Vou tirar ele do nosso caminho, pra sempre. E aí tu volta pra mim.
Carlos engatilha a arma e engole em seco. No reflexo, Darlan também retira uma arma escondida na parte detrás da calça e aponta para Janaína, que arregala os olhos, surpresa.
DARLAN (frio): Antes eu acabo com ela!
Carlos se surpreende, fica acuado. Janaína não entende.
JANAÍNA: O que está fazendo?
DARLAN: É um acerto de contas, não é?! Pois bem.
JANAÍNA: Não to entendendo...
DARLAN: O tempo todo era eu, Janaína.
JANAÍNA: Do que você ta falando?
DARLAN (frio): Dos atentados. Eu estava por trás de todas as tentativas contra a sua vida medíocre. Depois de toda a humilhação a qual você me submeteu eu não podia simplesmente deixar você ilesa, sem pagar por tudo que fez.
JANAÍNA (incrédula): O quê? Não pode ser... Não pode ser.
DARLAN: Acredite.
JANAÍNA: Mas você disse que me amava. E eu sei que era verdade. Eu sei que era! Me pediu em casamento, disse que nunca tinha sentido nada parecido quando estava comigo. E por várias vezes vinha aqui... Eu acreditava que fosse por mim. Mesmo depois do que aconteceu, eu sentia que você ainda gostava de mim.
DARLAN (sorri/debochado): Gostava. Até tomar conhecimento do quão baixo é o seu nível. Depois eu só passei a frequentar esse lugar pra ver o Marcelo e confesso, também pra estudar o momento oportuno. E parece que ele chegou.
JANAÍNA (chorando): Me recuso a acreditar...
DARLAN (cínico): Francamente, Janaína... Você acha mesmo que um homem de prestígio nacional como eu. Um dos melhores advogados desse país! Poderia ter qualquer tipo de relacionamento com uma mulher da sua categoria? (ri nervoso) As pessoas falariam... E certamente isso se refletiria consideravelmente em minha imagem pública. E eu não posso deixar isso acontecer.
JANAÍNA: Não! Não pode ser! Me nego a acreditar que isso que está me dizendo seja verdade. Eu via nos seus olhos o sentimento que havia entre nós dois. Não pode ter sido mentira esse tempo todo. Fala a verdade, Darlan... Por que tudo isso? Me diz a verdade.
DARLAN: A verdade é que você nunca deveria ter cruzado o meu caminho.
Ele engatilha a arma. Carlos grita com ódio e dispara três vezes contra Darlan, que solta a arma e cai no chão, jorrando sangue. Janaína grita, horrorizada. Policiais invadem o local, seguidos dos republicanos.
POLICIAL: Mãos ao alto. Você está preso.
Sem reagir, Carlos põe a arma no chão e é algemado por um policial. Ele olha Janaína pela última vez. Ela abaixa a cabeça, só chora. Bruna a abraça. Marcelo se aproxima do corpo do pai, incrédulo. Fabiana, Valeska, Melissa e Chad também estão presentes e sem entender nada. Marcelo encara Janaína com semblante de dúvida.
MARCELO: O que aconteceu?
JANAÍNA (chorando): Era ele o tempo todo... Seu pai... Ele era o mandante dos atentados.
Todos recebem a notícia com surpresa. Marcelo abraça Janaína.
| CENA 02 | República Universitária Laços de Amizade. Sala. Interior. Todos reunidos no local, espalhados pelo sofá, poltronas e puffs. Janaína toma um copo de água. O clima está tenso.
BRUNA: Você tava certo sobre seu pai, Marcelo.
Ele afirma com a cabeça, sentido.
MARCELO: Mas... Lá no fundo eu queria acreditar que ele era diferente. Quando vi aquela arma apontada na direção dele, senti remorso por tudo que já discutimos. Agora, sinto alívio por sempre ter tido razão. E ao mesmo tempo, um vazio. É estranho.
VALESKA: Eu to chocada. Eu sabia que o Darlan tinha lá seu ar de mistério, mas, jamais cogitei a possibilidade dele ser o vilão da história.
FABIANA: Tá todo mundo abalado.
JANAÍNA (chorando): Eu não posso acreditar que ele me queria morta só pra manter uma droga de status social.
BRUNA: Não fica assim, mãe. Já passou. Ele não merece suas lágrimas.
Neste momento, Cláudio e Vanessa entram na casa. Ela visivelmente abalada.
VALESKA: Vanessa... Onde você andou, criatura?
Ela não responde.
CLÁUDIO: Longa história.
MARCELO: Tá tudo bem com vocês?!
CLÁUDIO: Agora ta. Mas e por aqui? Quê que ta pegando?
JANAÍNA: Nem sei como é que vai ser a partir de agora.
Celina e José surgem na sala. Ela senta-se ao lado de Janaína e segura suas mãos.
CELINA: Pero yo sé. Vas a levantar la cabeza y superarlo! Todos los problemas se fueron. Y esto digo a todos ustedes: ahora es el momento para ser feliz! [Mas eu sei. Você vai erguer a cabeça e superar. Todos os problemas acabaram. Agora é o momento de ser feliz.]
Eles se olham, esperançosos.
| CENA 03 | MÚSICA: Caiu na Babilônia – Strike. A câmera sai pela janela da casa e mostra o céu azul escuro da noite paulista. Nasce um novo dia. Flashes variados de pontos turísticos da cidade. A correria diária da metrópole, trânsito caótico.
LEGENDA: Dias Depois
| CENA 04 | Dia. Jardim Botânico. Em meio ao verde do jardim acontece a celebração de um casamento. No altar o padre benze a união de Melissa, com um vestido branco de calda longa e um sorriso de ponta a ponta, e Chad, de terno cinza com um cravo la lapela. O casal se beija. Os convidados sentados nas cadeiras organizadas em filas levantam-se e batem palmas para o casal. Os dois começam a caminhar pelo imenso tapete vermelho que finda na porta de entrada de um fusca branco, todo enfeitado.
Fim da sonoplastia.
| CENA 05 | Bar Ponto de Encontro. O local está repleto de gente. Devidamente decorado para uma festa de casamento. As mesas ocupadas pelos convidados. Chad, sem o terno, e Melissa, agora de vestido branco e curto colado, passeiam entre as pessoas recebendo os cumprimentos e felicitações. Igor e Jaqueline, conduzindo a cadeira de roda de Celso entram no local.
Som ambiente: Filosofia de Bar – Seu Jorge e Jovelina.
CELSO: Ótimo! Agora ‘ta’ todo mundo olhando o cadeirante entrar na festa. ‘Vamo’ embora daqui, Jaque.
JAQUELINE: Deixa de bobagem. Não tem ninguém olhando. Ta todo mundo se divertindo.
Chad e Melissa se aproximam.
CHAD: Olha só quem chegou. Sejam muito bem-vindos, garotos.
MELISSA: Finalmente decidiu sair da toca, coelho.
CELSO: Só porque é o casamento de vocês hein.
MELISSA: Fiquei lisonjeada agora.
JAQUELINE: A festa ta linda, gente!
IGOR (dando tapinhas no ombro de Chad): Se ferrou hein, amigo.
CHAD: Que é isso, meu caro Igor. Pelo contrário! Fiquem a vontade, beleza?!
O grupo se aproxima do ‘mesão’ dos republicanos. Janaína levanta-se para cumprimentá-los, Celina vestida com seu traje mexicano típico, e José, também.
JANAÍNA: Desejo sinceramente que sejam muito felizes, meus amigos.
MELISSA: Brigada, amiga.
Abraço triplo. Jaqueline cutuca Janaína
JAQUELINE: A gente pode falar um instante?
JANAÍNA: Claro, meninos.
Eles se afastam da turma.
CELINA: La boda está magnífica!
MELISSA: Boda seria casamento, né?!
CELINA: Sí, casamento!
MELISSA: Brigada, sua fofa! Adorei o modelito!
Eles trocam sorrisos e beijos no rosto.
JOSÉ: Felicidades!
CHAD: Muito obrigado, seu espanhol!
FABIANA: É mexicano, Chad.
CHAD: Dá na mesma.
Eles se abraçam, sorrindo.
BRUNA: Parabéns, Mê. Parabéns, chefinho!
MARCELO: Vê se agora toma jeito hein, Chad.
CHAD: Como assim gente? Falando desse jeito até parece que ando por aí “sem jeito”. Todo mundo aqui sabe que só tenho olhos pro meu doce de limão.
MELISSA: Acho bom mesmo.
CHAD: Mas claro que, pro meu tamborim!
Chad escapa dali rapidamente. Melissa revira os olhos.
FABIANA: Quê que deu nele?
MELISSA: Vejam vocês mesmo.
Ela aponta para o marido, correndo pro palco. Em outro ponto, Janaína, Jaqueline e Igor.
JANAÍNA: Vocês não têm que se desculpar por nada. Vocês não tinham consciência dos fatos. Qualquer um em seu lugar faria o mesmo.
JAQUELINE: Mesmo assim, te devemos isso.
JANAÍNA: Se é tão importante assim. Considerem-se desculpados.
IGOR: Tem mais uma coisa. Não que mereça, mas ela quer te ver por uma última vez.
JAQUELINE: É. Você não tem obrigação nenhuma de ir.
JANAÍNA: Tudo bem. Passo lá mais tarde. Agora, vamos ver o que o Chad ta aprontando.
Eles se aproximam do palco. Chad está lá, seu tamborim em mãos. Atrás dele ritmistas de escola de samba, com seus instrumentos e vestidos igualmente.
CHAD (pigarreia no microfone): Antes de qualquer coisa queria dizer que... Mê, te amo.
A galera grita. O casal troca coraçõezinhos com a mão.
CHAD: Bom. É com muito orgulho que anuncio aos presentes, nessa data tão especial da minha vida, pra animar nossa festa, a batucada D’Reponsa da Rosas de Ouro! Quero ver todo mundo caindo no nosso samba. ‘Simbora’ batucada!
Os ritmistas começam a tocar, Chad com o tamborim se posiciona em seu lugar. Os convidados começam a se aproximar do palco. Melissa sobe histérica no palco e começa a sambar sob os gritos das pessoas.
| CENA 06 | Aeroporto. Portão de embarque. Muitas pessoas circulando apressadas pelo local. Valeska e Vanessa estão abraçadas. Cláudio observa as duas, braços cruzados, um pouco mais atrás.
VANESSA (emocionada): Vou sentir tanto sua falta.
VALESKA: Ai, para. Não quero e não VOU borrar minha maquiagem com água salgada.
VANESSA: Tem certeza que é isso que quer?
VALESKA: Eu preciso. Conhecer gente nova e desapegar daquilo que me prende é minha necessidade agora. Eu preciso viver o que a vida tem pra me oferecer e principalmente, aprender alguma coisa com tudo isso.
VANESSA: Não se deu conta, mas você já amadureceu bastante.
Elas sorriem, emocionadas.
VALESKA: E você vai ficar bem?
VANESSA: Vou.
VALESKA: Me desculpa de novo por ter te metido naquela enrascada. Se não fosse por mim você não teria conhecido aquele cretino. Me sinto culpada.
VANESSA: Não esquenta. Já passou. Além do mais eu já fiz o que tinha que fazer e ele já ta pagando por isso.
Uma voz anuncia o voo de Valeska.
VALESKA: Tenho que ir. Se cuida, queridinha.
VANESSA: Vê se não some, hein! Fique online todos os dias.
Eles se olham com ternura, se abraçam. Valeska encara Cláudio, que sorri, cínico.
VALESKA: Ah! E por favor... Não caia na lábia daquele galanteador barato só porque ele deu uma de super-herói, ok?!
VANESSA (rindo): Pode deixar.
VALESKA: Bye.
MÚSICA: Exagerado – MC Naldo
Câmera lenta. Valeska gira, esnobe, e começa a caminhar em direção ao embarque, como se desfilasse numa passarela.
Fim da sonoplastia.
MÚSICA: Maré – NX Zero
Vanessa se aproxima de Cláudio.
CLÁUDIO: Aposto que antes de ir ela te disse pra não me dá bola.
VANESSA: Aham.
CLÁUDIO: E você vai obedecer, como sempre?
VANESSA: Quê que você acha?
Eles param de andar.
CLÁUDIO: Acho que...
Ela o beija com fervor.
Fim da sonoplastia.
| CENA 07 | Bar Ponto de Encontro. Interior. A festa continua animada. Na mesa dos republicanos, ouve-se o bip de um celular. Celso retira seu aparelho do bolso e lê uma mensagem.
JAQUELINE: O que foi? Quem é?
Tenso, Celso mostra a mensagem a Jaqueline, que lê mentalmente. Encara Celso.
JAQUELINE: Você vai?
CELSO: E você também.
Jaqueline se levanta.
IGOR: Vão pra onde?
JAQUELINE: Resolver uma coisinha. Fica frio.
Igor da de ombros e toma um gole do refrigerante. Em outro ponto, Janaína se aproxima do balcão central onde estão Chad e Melissa, tomando champagne.
JANAÍNA: Vim me despedir, casal.
MELISSA: Mas já, Jana? Tá cedo.
CHAD: Não pra quem vai trabalhar amanhã, não é?!
MELISSA: Ai, mô.
JANAÍNA: Mas ele ta certo, Melissa. E não se preocupem que enquanto vocês estiverem em lua de mel, eu e Bruna tomaremos de conta disso aqui como se fosse nosso estabelecimento. A Bruna inclusive está encantada com possibilidade.
CHAD: Mas disso eu não tenho dúvida. É o sonho dela meio que se realizando né.
MELISSA: Tá. Mas hoje não é dia pra falar de negócios. Fernando de Noronha, aí vamos nós!
Eles riem. Close na entrada do bar. Vanessa e Cláudio chegam. Um garçom passa e Cláudio pega duas taças de champagne, oferecendo uma a ela. Os dois vão para a pista de dança. Bruna, Marcelo e Fabiana conversam. Igor observa.
BRUNA: Quem diria hein. Vanessa e Cláudio, juntos!
FABIANA: Fato.
BRUNA: Tudo que a coitada passou, se calando esse tempo todo. Imagino como deve ter sido difícil pra ela. E se não fosse o Cláudio...
FABIANA: Ainda assim acho esse casal meio nada a ver. Os dois viviam se estranhando, gente!
MARCELO: Mas é como dizem por aí. Briga demais acaba em romance.
IGOR: Pena que não deve durar muito tempo.
Igor se levanta e vai em direção a pista. Fabiana, Bruna e Marcelo se olham, desentendidos.
MARCELO: Vai começar tudo de novo.
Eles riem.
FABIANA (rindo): Voltando ao assunto. Essa regra de “muito desentendimento desencadear um romance” não se aplicou a mim.
BRUNA: Ai, amiga. Você vai ver como o Luciano vai reconsiderar e voltar pra você.
FABIANA: Mas enquanto isso não acontece - e não vai acontecer - vou me divertindo por aí.
Fabiana pisca o olho para um cara alto, forte, loiro, que se aproxima.
CARA: Tá a fim de dançar, gata?
FABIANA: Claro, man.
Ele oferece a mão a ela, que se levanta. Ambos saem. Marcelo olha Bruna.
MARCELO: Acho melhor você parar de insistir nessa história. Luciano e Fabiana não têm volta.
Bruna faz careta. Ele lhe dá um selinho.
BRUNA: Te amo.
MARCELO: Te amo.
| CENA 08 | MÚSICA: O que é que eu faço pra tirar você da minha cabeça – Ivo Mozart. República Universitária Laços de Amizade. Quarto. Interior. Luciano põe uma mochila nas costas e sai do local. Para no corredor e ao fechar a porta, observa a plaquinha que diz “Quarto Uva”, com o desenho de um cacho de uvas. Ele esboça um sorriso. CORTA PARA SALA.
Luciano desce as escadas, mochila preta nas costas. Tem um papel branco, dobrado, em mãos. Nostálgico, ele olha o local vazio, analisando todos os espaços, olhos marejados. Caminha até a cozinha, passa a mão na mesa e sorri de leve. Vai até a geladeira abrindo-a, tira de dentro uma maçã. Volta para a sala e na mesinha de centro coloca o papel que segura. Aproxima-se da porta e dá uma última olhada no lugar, saindo logo em seguida.
Fim da sonoplastia.
| CENA 09 | Presídio. Um portão de metal sujo é aberto e Carlos, algemado, vestido com uniforme de presidiário escoltado por dois policiais caminham pelo corredor. Close na expressão fria de Carlos, enquanto os outros detentos hostilizam sua entrada no local. Um dos policiais chega a uma cela e abre o portão. O outro tira as algemas de Carlos. Há quatro indivíduos dividindo o ambiente. Três deles jogam baralho e o outro está isolado num canto, cabeça baixa.
POLICIAL: Aí, rapaziada. Mais uma mocinha pra vocês darem um trato.
O policial empurra Carlos para dentro da sala. O outro a tranca com cadeado. Os três detentos fortes, uniformizados, barbudos e tatuados se levantam e encaram Carlos.
DETENTO (coçando o queixo): Carne nova no pedaço. Tava mesmo precisando. A mocinha aqui não dá mais pro gasto.
Ele aponta para um quarto detento enquanto os três riem. O quarto detento levanta o rosto. Carlos se surpreende ao perceber que é Jorge.
JORGE: Bem-vindo ao inferno.
| CENA 10 | Hospital Regional. Ala da fisioterapia. Consultório. Interior. Dr. Humberto está sentado em sua cadeira reclinável. Celso e Jaqueline de frente para ele, com a mesa separando-os.
DR. HUMBERTO: Que bom que vieram.
CELSO: O que você tem pra nos dizer?
DR. HUMBERTO (hesitante): Bem, eu... Eu só... Bom. Eu queria antes de tudo me desculpar novamente com vocês. Principalmente com você Jaque. Entendo o quão constrangedor foi pra você tudo, da maneira como se deu.
JAQUELINE: Tudo bem, doutor. Entendo. Não se pode mandar no sentimento.
DR. HUMBERTO: É. Não se pode. E é exatamente por isso que, visando o melhor pra todos nós, decidi largar o caso do Celso. Minha ética profissional está acima de tudo, e eu entendo que não seria sensato continuar o tratamento do jeito que está. Não posso.
CELSO: Mas, doutor. Preciso da sua ajuda.
DR. HUMBERTO: O que podia fazer eu já fiz. Você reage bem aos exercícios. Além disso, vou indicar um médico da minha confiança com o qual não haverá problemas. Mas, eu não posso continuar.
JAQUELINE (irritada): Você não ta pensando em todos nós. Só em você. Trocar de médico agora seria uma perca de tempo tremenda. Novos exercícios, a adaptação com o novo médico, tudo isso só vai tornar a recuperação do Celso mais lenta. Você só ta pensando em você.
DR. HUMBERTO (calmo): Não, Jaque. Estou pensando em vocês dois. O processo de recuperação do Celso acontece no tempo em que tem que acontecer, cada paciente reage à sua maneira. A troca de profissionais não necessariamente vai ocasionar um atraso na recuperação dele. Cogito até a possibilidade de isso somar a favor do Celso. Não queiram ensinar Medicina a quem dedicou uma vida inteira a isso.
Silêncio.
DR. HUMBERTO: Você não diz nada, Celso?
CELSO (hesitante): Acho que... Você sabe o que é melhor pra mim. (pausa) Obrigado por isso. (sorrindo) Você merece ser feliz, cara.
DR. HUMBERTO (sorrindo): Obrigado, cara.
| CENA 11 | Hospital. Quarto. Interior. Isabel está deitada numa cama, com aparência de doente. Janaína entra e coloca uma cadeira próxima a cama, sentando-se em seguida.
ISABEL: De verdade. Não achei que você viesse.
JANAÍNA: Os meninos disseram que você queria me ver. E pra quê?
ISABEL: Você já deve imaginar. Você é um ser evoluído, Janaína. Mesmo com todas as coisas horríveis que fiz contra você, desde quando te envolvi na morte do Ernesto até agora... Você não foi capaz de alimentar o sentimento de ódio por mim, por mais que eu merecesse.
JANAÍNA: Eu não desejo o mal pra ninguém.
ISABEL: A vida toda eu tentei esconder um segredo por medo de perder o amor e o carinho dos meus filhos, não me importando o que tivesse, ou quem tivesse de tirar do caminho pra isso. Nossa amizade foi por água abaixo graças a mim, não me dei conta, mas isso era a única coisa boa que eu tinha, além de meus filhos. E no fim das contas, o que eu temia aconteceu. Sem filhos, sem amiga. Sozinha. Foi uma vida sem sentido, Janaína.
JANAÍNA: Mas você está tendo a chance de recomeçar. Ainda pode reconquistar o amor da Jaqueline e do Igor.
ISABEL: Não. Não posso. E não vou fazer nada para mudar isso, porque no fundo eu sei que não mereço. Não sou digna.
JANAÍNA: Toda mãe é digna de um filho, Isabel. Não diga isso.
ISABEL: Depois de tantas barbaridades que cometi contra você, eu não posso ser feliz. Não tenho esse direito. Eu só queria te pedir perdão. Por favor.
JANAÍNA: Eu te perdoo.
Entre lágrimas, Isabel sorri.
ISABEL (soluça): Ah minha amiga...
JANAÍNA: Como vai ser depois que você sair daqui?
ISABEL: Não sei. Não quero voltar pr’aquela casa e perceber que meus filhos não estarão lá. Nem sei se quero voltar.
JANAÍNA: Não se esqueça de que a vida está te dando uma nova oportunidade, apesar de tudo. Cabe você aproveitá-la, ou não. E se quer um último conselho de amiga: aproveite.
Isabel assente com a cabeça.
| CENA 12 | MÚSICA: Senhor do Tempo – Charlie Brown Jr. O dia vai passando na grande São Paulo. Cai à noite. Bar Ponto de Encontro. Exterior. Fim de festa. Os convidados estão do lado de fora do bar, observando Chad e Melissa entrarem num fusca branco, todo enfeitado. Eles jogam arroz no casal que se beija, é a maior festa. Bruna e Marcelo se despedem dos dois, depois Fabiana, Vanessa e Cláudio. Chad abre a porta do fusca branco para Melissa que entra. Ela sorri, feliz. Ele da à volta e antes de entrar no lado do motorista acena para as pessoas que ficam. O carro se vai com as latinhas arrastando no chão.
| CENA 13 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. O local está vazio, ouvem-se vozes agitadas se aproximando. A porta é aberta por ela entram Bruna, Marcelo, Fabiana, Celso, Vanessa e Cláudio, cansados da farra. Bruna senta-se no sofá tirando os sapatos.
VANESSA (sentando-se no sofá): Isso é o que eu chamo de festa de arromba. To morta.
CLÁUDIO (sentando-se ao lado de Vanessa): Mas a nossa festinha particular ainda nem começou!
VANESSA: Vai sonhando, vai...! Aposto que a Celina ta no corredor pronta pra fazer a ronda!
Eles riem.
CELSO: Também to cansadaço!
CLÁUDIO (irônico): É. Ficar sentado 24 horas por dia nessa cadeira deve mesmo ser cansativo.
CELSO (bravo): Escuta aqui... (pausa)
MARCELO: Oh não comecem, galera. Sem briga beleza?!
Bruna percebe o papel na mesa.
BRUNA: Quê que é isso aqui?! (vendo a dedicatória) É pra você, Fabi.
Fabiana pega o papel das mãos da amiga e lê mentalmente.
MARCELO: O que é?
VANESSA: Fala, garota. To curiosa.
FABIANA (escondendo a tristeza): Ele foi embora.
MARCELO: O quê? Deixa eu ver isso.
Todos olham Marcelo, que confirma com a cabeça.
CELSO: Covarde.
Bruna abraça Fabiana.
BRUNA: Mas você não está só, amiga.
FABIANA: Eu sei.
Marcelo senta-se no braço do sofá verde-limão. Todos, de algum modo, se aconchegam no meio da sala.
MARCELO: É... Parece que nada vai ser como antes.
Silêncio. Bruna ri, fraco.
BRUNA: Lembram do dia em que cheguei aqui?! Não fosse pela Celina, não sei o que seria de mim hoje.
VANESSA: Se lembro! A Val tascou um beijo no Marcelo, deixando a Celina maluca! Naquele dia você ganhou uma grande inimiga (ri).
MARCELO: Ela percebeu desde o começo que eu e a Bruna nos apaixonamos. Apesar de tudo, vou sentir falta das maluquices dela.
CLÁUDIO: Eu não.
VANESSA: Cláudio! Tá falando da minha irmã na minha frente! Ela podia ser inconsequente, mas era a alegria dessa casa.
FABIANA: Apesar de tudo eu achei a gente nunca ia se separar.
CELSO: É. Mas o grupo se desfez. Muita coisa mudou. Amizades terminaram.
FABIANA: Romances também.
CLÁUDIO: Mas em compensação, outros começaram né.
Ele dá um selinho em Vanessa.
MARCELO: Faz parte pessoal. A vida é isso. Mudança constante.
BRUNA: Mas mesmo com todas essas mudanças, de alguma forma, sempre estaremos ligados. Perto ou longe, brigando ou sorrindo, se amando ou não.
CLÁUDIO: Chega dessa melação toda. Partiu cama!
VANESSA: Me espera...!
Eles sobem as escadas.
FABIANA: Precisa de ajuda, Celso?
CELSO (sorrindo): Sempre.
FABIANA: Boa noite, casal.
Fabiana conduz a cadeira de Celso, deixando Bruna e Marcelo a sós.
MÚSICA: Algo mudou – Liah
BRUNA: Percebeu que em meio a todas essas mudanças, a única coisa que não mudou foi... (pausa)
MARCELO: O nosso sentimento.
Ela o olha, e afirma com cabeça, emocionada.
MARCELO: Isso porque existe um laço mais forte que a amizade. O laço de amor verdadeiro que une duas pessoas... Pra sempre.
BRUNA: Pra sempre.
Marcelo acaricia o rosto de Bruna. Eles se beijam.
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