Estamos no ano de 2023. Os raios do sol se escondem por entre os arranha-céus da grande cidade de São Paulo. A noite lentamente vai chegando, trazendo uma certa nostalgia. As luzes lembram contas de rosário enfileiradas, acesas, contornando as extensas avenidas movimentadas. As buzinas denotam a impaciência dos motoristas.
Eu, Maria, aqui no décimo quinto andar de um prédio da Zona Norte, observo da ampla sacada, o céu ainda em nuance, onde pássaros buscam também seus abrigos. Já é hora de retornar aos ninhos. Em pios, vão se aninhando em algum lugar disputado entre eles. Alguns ainda insistem em, permanecerem nos fios dos postes, a enamorar.
Lá embaixo tudo é miniatura. Uns carros indo, outros voltando. Motos que ziguezagueiam por entre os automóveis, driblando o tempo. As pessoas apressadas voltando para casa, após um dia exaustivo de trabalho. Tudo é movimento, pressa, agitação...
Se misturando às tantas lâmpadas acesas, as luzes natalinas piscam em cores distintas: verdes, amarelas, vermelhas... Grandes, pequenas... distribuídas em todos espaços possíveis. Árvores gigantescas suportam os tantos penduricalhos. O Natal se aproxima! Nas vitrines tudo é cor, tudo é magia. Os Papais Noéis inflados e, ao sopro do vento, ora pra esquerda, ora pra direita... às vezes assustadores. Outros andando a pé, distribuindo balas e sorrisos cansados sob barbas disformes, convidando ao consumismo. Crianças esperneiam querendo seu brinquedo favorito, pago em infindas prestações. As lojas abarrotadas de espécies. Tudo lembra alegria e festa, mas longe do verdadeiro sentido do Natal. O aniversariante nem é lembrado.
O sino da Catedral badala a hora do ngelus. Convite aos fiéis, ao novenário à chegada do Menino Jesus.
Lembro-me! Há tempos, sabíamos que era Natal, porque tínhamos que rezar novenas, benditos, ladainhas... à luz de velas. A energia elétrica ainda muito distante de nossa realidade.
Percorríamos a estradinha de areia até chegar ao vilarejo São Sebastião. Não havia queixas pois a vó Dorinha já dava as ordens: não pode isso, não pode aquilo... Falava enquanto fumava seu cachimbo e as baforadas eram levadas pelo vento. O cheiro ainda está impregnado em minha memória. Um velho candeeiro sobre a cabeça, clareava aquela alva areia e, após longas pernadas enfim, chegávamos ao destino. Antes, bebíamos água de pote de barro, na casa do velho Chico, o sacristão.
Era tão lindo! vó Dorinha puxava a reza, enquanto respondíamos.
No presépio só faltava Jesus. Os Magos, José, Maria, os pastores... estavam ali como nós, esperando Jesus nascer. Ninguém ousava pegar em nada. Já era avisado: se olha com os olhos e não com as mãos!
Não conhecíamos Papai Noel e nem desembrulhávamos presentes. De chinelos carcomidos e roupas até remendadas, sorríamos a contento.
Daquela capela, os hinos ecoavam porta afora. A criançada se misturava aos adultos, em coro: Natal é vida que nasce! Natal é Cristo que vem...
Noite após noite se passava. E parecia uma eternidade essa espera. Até que chegou o grande dia: 25 de Dezembro. Jesus nasceu! Jesus nasceu! A alegria tomava conta daquele lugar ermo. As chamas das velas pareciam também se alegrar com aquele momento espiritual e divino. Bailavam de um lado para o outro. E todos a cantar em gratidão: “Noite Feliz! Noite Feliz!”... Esse hino ecoa até hoje.
Agora Jesus na manjedoura. A família de Nazaré, estava completa: Jesus, Maria e José.
Mãe Dorinha pega Jesus com cuidado e cada criança O coloca no colo. Que lindo!
Ao longe posso ouvir os cantos vindos da Catedral. Entre soluços e lágrimas permaneço ali. De companhia a solidão e a saudade.
Que Jesus nasça e viva em nossos corações. Feliz Natal!
Conto escrito por
Maria Eunice
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Gisela Lopes Peçanha
Paulo Mendes Guerreiro Filho
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
ProduçãoBruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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