Rota de Fuga
de Edson Tavares
Final de
semestre numa universidade federal do Norte. O curso de Psicologia leva-me a
entender mais e melhor o outro, mas principalmente a mim mesmo. Fiz importantes
progressos neste período que ora termina.
Naquela tarde, chovia,
ora torrencialmente, ora fininho, mas sem parar, como costuma ser o inverno por
estas bandas. O vento frio soprava constante, ignorando magistralmente os
agasalhos. Trovões distantes soavam.
Eu estava na
quase vazia praça de alimentação – uma ou outra lanchonete aberta, os donos
praticamente sozinhos, um ou outro aluno sentado, divagando, olhando para a
chuva, fumando e jogando fumaça em quem estava por perto.
Tentando fugir
da passividade fumante, atravessei o pequeno pátio que me separava do prédio
principal, lutando para não me molhar muito, corria para baixo de marquises
distribuídas pelo caminho. Bobagem: a velocidade com que nos deslocamos na
chuva parece ser diretamente proporcional ao quanto ela molha.
Quando alcancei
a última estrutura em que procurei me abrigar, antes de chegar ao meu destino,
o toró aumentou e me segurou um pouco, a calcular se valia a pena precipitar-me
o resto do espaço, até o prédio, ou se seria mais prudente esperar um pouco a
chuva dar uma amainada.
Abrigando-se sob
a mesma proteção, um carinha jovem pediu-me um trocado. Respondi meu clichê de
negação e continuei meus cálculos. Enquanto media o caminho a percorrer, o
quanto já me molhara, e o quanto ainda poderia me encharcar, meus olhos
percorreram o pedinte: camiseta molhada, colada ao corpo, calção folgado, meio
rasgado, e um volume que me atraiu a atenção. Procurei disfarçar, mas vez ou
outra lancei meu olhar sobre o corpo dele.
Enchendo-me de
coragem e já me preparando para atravessar a chuva que dera uma relativa trégua,
disse-lhe, sem olhá-lo, e já saindo: “vem comigo!” Sentia meu coração
disparado, enquanto corria até a entrada do prédio, e tentava entender se a
disritmia era emocional, pela ousadia do convite, ou física, pelo forçado
exercício.
O saguão estava mais
vazio que a praça de alimentação. Olhei instintivamente para trás, e qual não é
a minha surpresa ao perceber o rapaz se esgueirando, colado à parede, evitando
se molhar muito, e se dirigindo ao lugar onde eu estava.
Devagar, para
que ele não me perdesse de vista, mas sem dar a perceber a alguma porventura e
indiscreta câmera, subi a escada que me levava ao pavimento superior. Na volta
do primeiro lance, dissimulei o olhar e o vi caminhando para a mesma escada.
Enquanto subia ao outro andar, buscava na imaginação para onde poderia
atrai-lo.
No mais completo
silêncio do terceiro andar, portas fechadas e a semiescuridão provocada pela
chuva que aumentara novamente, dirigi-me a uma das últimas salas, no final do
corredor, que eu sabia aberta. O barulho do temporal abafava meus passos e eu
não queria me voltar para constatar se o carinha vinha atrás de mim. Entrei e,
segundos depois, ouvi passos e ele assomou à porta. Notei-lhe a já excitação.
Sem emitir uma
palavra sequer, fui até ele, aproximei-me, incisivo, de sua boca e a beijei;
fui prontamente correspondido. Intuitivamente, fui empurrando-o para um dos recantos
e pressionei seu corpo com o meu contra a parede, sentindo-lhe a rijeza;
abaixei-me diante de seu corpo meio molhado e lhe fiz Adão, libertando um falo
rígido, que pulsava e conversava com meus lábios, língua e boca, enquanto ele
abafava gemidos.
Com uma
habilidade que eu não julgava possuir, plastifiquei aquele falo, que não se fez
de rogado: encontrou o meu caminho e foi aos poucos se penetrando. Eu me
contorcia, recebendo aquela visita que se esgueirava, cuidadosa e devagar, até
não mais poder entrar. Sentia-lhe o corpo úmido colado ao meu, mordiscando-me
de leve e sussurrando-me pieguices pornofônicas.
O natural
movimento teve início no devagar do cuidado e foi aumentando no intensificar do
tesão. O barulho da chuva lá fora abafava o choque de coxas e nádegas, e os
gemidos mútuos ecoavam no ambiente oco. Eu podia ouvir nitidamente o tamborilar
no meu peito. Sua mão fria procurou minha rigidez, acariciou-a, envolveu-a no
seu ritmo próprio, coordenado, concatenado.
Intensidades
aumentadas, frente e verso, e senti-lhe crescer, num grunhido fanhoso, enquanto
raios de energia circundavam sua mão. A tempestade rugiu, furiosa. O ribombar
de um trovão que parecia dentro daquela sala, reverberou no ambiente. Outras explosões
foram simultâneas. Parecia que meu vulcão era continuação do seu, lava em
profusão espalhando-se, estrepitosa, pela parede encardida e buscando o chão,
em reto caminho, deixando comprido rastro líquido.
Ofegante, apoiei
a cabeça na parede, olhos fechados, aproveitando cada segundo dos espasmos
finais. Meu corpo todo tremia. Meio trôpego, fiz o caminho de volta, sem lhe
dirigir a palavra, sem sequer olhar para trás.
Ao sair do
prédio, um apenas sereno reinava, e o carinha ainda estava sob a mesma marquise.
Passei por ele, sorri, e, em silêncio, depositei-lhe uma cédula, entre os dedos
frios, mas suaves, que propositalmente toquei, antes de me afastar, olhos fixos
e ansiosos no caminho a minha frente, minha rota de fuga.
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
Copyright © 2022 - WebTV
www.redewtv.com
Comentários:
0 comentários: