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Testemunha de um Crime - Capítulo 01

Novela de Luiz Gustavo
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TESTEUNHA DE UM CRIME - CAPÍTULO 01

 

David, querido, sua mãe infelizmente está morta.

Aquele certamente foi o pior momento da minha vida, 16 de outubro de 2003, o dia do meu aniversário de sete anos de idade, eu assisti tudo pela TV, mas só pude acreditar quando a babá me disse. Ainda era pequeno, no entanto entendia tudo que estava ocorrendo, sabia que nunca mais ia sentir os braços dela, o aconchego e o seu perfume de baunilha. Os noticiários davam total atenção ao assalto no Banco Central de São Paulo, 45 milhões de reais furtados, diversas vítimas feridas e apenas duas mortes: Hugo Santos, faxineiro do prédio e a minha mãe, Maitê Fernandes, uma excelente estilista e a grande revelação da moda no Brasil daquele ano. Os bandidos nunca foram encontrados, o assassino Junior Brandão, continua solto, sem dar a mínima importância pelo sangue que derramou e pelos milhares de crimes cometidos, mas um dia eu vou olhar nos olhos deste homem e descontar tudo com a mesma moeda. Curativo nenhum tampa o buraco da dor, ao menos o tempo consegue cicatrizar as feridas. Desde então nunca mais comemorei o meu aniversário, no dia apenas me recordo do luto.

O alarme do celular começa a tocar ás 05h45min, mas parece não surtir efeito, David Assunção Fernandes continua dormindo feito uma pedra. Talvez tenha perdido o costume de acordar cedo por causa das férias escolares de verão. Ele está embrulhado em um edredom em todo corpo, devido ao frio matutino, mesmo assim prossegue batendo os queixos, por causa do ventilador de teto que permanece ligado. Ele se vira rapidamente e abre os olhos castanhos, fitando o teto branco, pega o Iphone 4s do pavimento de madeira maciça, ainda é cedo: 06h03min. Desbloqueia a tela do aparelho e verifica se tem alguma mensagem no WhatsApp, nenhuma nova.

David levanta da cama, caminha para o banheiro da suíte e escova os dentes, voltando para ao compartimento anterior. Acima da escrivaninha do computador existem diversas colagens de jornais sobre o assalto no Banco Central de São Paulo e a ficha completa criminal de Junior Brandão, o homem mais procurado do Brasil, mesmo assim as informações eram poucas e sucintas, como se ele se escondesse o tempo todo dentro de uma cúpula.

O adolescente abre uma das seis portas do guarda roupa de mogno de quase dois metros de altura e retira o uniforme azul e branco, com o nome do colégio estampado, José Vieira de Moraes, vestindo sem pressa e coloca o par de tênis. Passa a mão no cabelo, está cortado na máquina dois e bate duas vezes uma colônia masculina no pescoço moreno.

Ele desce as escadas do segundo andar, indo à cozinha comendo um pedaço de bolo de chocolate que estava no forno e toma um copo de leite quente, deixando as louças na pia, posteriormente tranca a residência e começa a caminhada, até chegar ao colégio estadual, depois de cerca de vinte e cinco minutos andando.

O garoto enxerga de longe uma multidão de alunos, pessoas de diversas etnias, cores de pele e cabelos, andando em grupos como se fossem tribos. Os novatos recém-chegados do ensino fundamental, quietos num cantinho da parede, certamente estudaram no Padre Francisco João de Azevedo, a escola pública mais próxima, cerca de quinze minutos de caminhada. David é um veterano, que se encontra em um dos primeiros na lista de chamada no 3° A, se aproxima do portão, onde aguarda o horário de entrada dos alunos e avista o seu grupo de amigos que se aproxima.

- Infelizmente, você caiu em uma sala diferente, David. – Lamenta Jefferson, um rapaz gordinho de cabelos escuros e cacheados, usando um casaco preto, ao iniciar a conversa que gera risos entre eles.
- Não vou mais copiar as lições de matemática do Google. – David ironiza, olhando para o outro amigo, Matheus, que tinha ganhado este apelido devido a sua inteligência. Matheus é branco dos olhos verdes e o mais magro do "trio parada dura", que se conheceram na quarta série em uma escola da prefeitura, o Centro Educacional Unificado da Cidade Dutra. 
- Mas tem um lado bom nisso cara.
- Qual?
- Andressa Yamashita, a japonesinha que te conquistou.

David deu um leve sorriso malicioso e tímido nos cantos lábios, ao saber que a garota que está apaixonado caiu justamente na mesma sala que a sua, ela é a primeira na lista de chamada, a dona do seu coração e também, por ironia da vida, sua vizinha de rua. O portão de ferro azul é aberto, os alunos descem uma extensa escadaria que liga ao pátio, a aula demora mais de uma hora para começar, enquanto isso David conversava com os amigos.

- Brother. Podemos ir à sua casa hoje de noite jogar?
- Não. – David responde. – Eu tenho que sair com meu pai e arrumar umas coisas, ele disse que tem um presente para mim.

O barulho irritante do sinal inicia e para depois de dez segundos, quando a coordenadora de sala mal-encarada, coloca nas paredes os horários de aula do dia.

Jefferson olha para os amigos e brinca.

- Essa mulher parece a Carminha de Avenida Brasil. 
- Igualzinha. – Matheus sorri. – Sorte na aula de português mano, tomara que não pegue aquela velha do ano passado. 
- Rezo por isso, Google.

Enquanto os amigos continuam no pátio, David sobe as escadas, indo para o segundo andar e depois o terceiro, termina o percurso chegando ao fundo do corredor, na sala 18, onde divisa alguns rostos conhecidos e outros nem tanto, a professora abre a sala, não é aquela do ano passado e sim uma mais nova e bem mais simpática. Ele se acomoda na penúltima carteira da primeira fileira perto da janela, Andressa é a última a chegar e senta-se na frente da segunda fileira, sozinha. As salas do colégio eram parecidas umas com as outras, azul e branco, a cor do uniforme dos alunos e nas prateleiras antigas de alumínio, os livros escolares. Em seguida os alunos começam a se apresentar e dizer o que pretende do futuro, David afirma que continua indeciso sobre tudo, mas a professora Maria manda-lhe um recado:

- Nem todo mundo sabe o que deseja David, com o tempo você acaba descobrindo o seu dom, o meu é educar, uns é de cantar, outros atuar, de vadiar e por aí vai, todo mundo tem o seu. 
- Uma hora eu descubro o meu. – David responde. 
- Exato.

A próxima a se apresentar foi Andressa, que deseja ser uma perita científica, os dois já estudaram juntos nos anos anteriores do ensino médio, mas pouco se falavam, apenas o básico. Assim que o sinal tocou novamente, David é chamado pela professora, após todo mundo sair. 

- Temos algo em comum. – Maria certifica. 
- Você também está lendo Sob a Redoma do Stephen King?

Ele avista o livro em cima da mesa.

- Também, é referente ao assalto no banco em 2003, nós dois fomos vítimas, perdemos pessoas que amamos. 
- Como assim?

David faz uma cara de desentendido.

- Hugo Santos, o faxineiro, era o meu irmão.

Os olhos de Maria começaram a marejar, ela pega uma foto de dentro do Diário dos Professores, mostrando ao aluno.

- Eu até hoje quero me vingar deste homem, Junior Brandão.
- Também professora. Ele destruiu a vida de várias pessoas.
- Uma vez o enxerguei em Niterói, mas o perdi de vista, se tivesse outra chance, sabe Deus o que eu ia fazer.

Eles se olharam fixamente e deram um sorriso confortante, como se fossem abraçados sem nem sentir o toque um do outro. A coincidência deixa David estimulado, logo depois se retira da sala e encara Andressa Yamashita, que estava do lado de fora escutando a conversa.

- Eu estava te esperando. – Ela justifica. 
- Sei...
- Mas acabei ouvindo o diálogo de vocês, sou humana.
- Que doido, né?
- O mundo é cheio dessas reviravoltas.

Andressa está usando o uniforme do colégio e um casaco rosa escuro, segurando a bolsa pelos ombros. Os dois seguem juntos até a sala oito de sociologia, sentando próximos.

- Você é a única pessoa que conheço daqui desta sala.
- Eu conheço algumas. – David começa a falar. – Mas prefiro ficar sozinho, a perder tempo com esse tipo de gente. 
- É como falar com aqueles bonequinhos amarelinhos, sabe?
- Qual?
- Os Minions, só saem besteira da boca. 
- Pelos menos os bonequinhos são fofinhos.

As aulas passavam lentamente e David conhece melhor a garota que gosta, mesmo assim aparenta que ela esconde algum misterioso no olhar, um segredo a ser desvendado. A manhã chegava ao fim, como todo primeiro dia de aula qualquer, apenas apresentações e dialetos de professores e alunos.

David encaminha-se a metalúrgica do patriarca próximo do Autódromo de Interlagos, depois da morte da esposa ficou difícil para Roberto Assunção sustentar a vida na zona oeste, tendo que mudar-se e se adaptar à nova classe social. No escritório o adolescente almoça uma "marmitex", posteriormente indo para casa.

O garoto está pouco cansado, apenas toma um banho, troca de roupa e se joga na cama ligando a televisão, fechando os olhos e consequentemente dormindo, acordando depois de duas horas com o barulho do filme: O Espetacular Homem Aranha 2, em uma cena chocante do final do longa metragem em qual a personagem Gwen Stacy é morta ao ser jogada de uma torre do relógio pelo Duende Verde.

David coloca os pés descalços no chão frio e olha pela fresta da janela, a noite já acoberta a cidade, ele se arruma e traja uma camiseta cinza com o nome da Hollister estampado e uma calça jeans, desligando a televisão com o controle remoto.

Ás oito horas da noite em ponto escuta uma buzina de carro, trata-se do pai, ele desce rapidamente e adentra no veículo, curioso para saber qual é o "presente". O palio cinza desloca-se pela cidade por cerca de quarenta minutos devido ao trânsito, parando num lugar com o nome ascendido destacado em vermelho: VINIL.

- Este é o seu presente, hoje você se tornará um homem. 
- Pai... 
- Não tenha medo filho, quando é assim a mulher sabe como agir.

Os dois saltam do automóvel juntos e caminham para a entrada do lugar. David nem sabe como se comportar em um ambiente daqueles. Transpassam numa porta pequena, onde é levado para um local chamado de "Inferno no Céu", as mulheres dançavam no pole dance, como se estivessem sendo expostas numa vitrine de vendas ao som de músicas eletrônicas americanas.

- Pode apontar para a que você gostar, filho.

David manteve contato visual com uma mulher, jovem e bonita, com cabelos pretos e brilhantes caindo sobre seus ombros nus. Usava apenas uma calcinha fio dental vermelho, sapatos brancos de salto agulha e um colar de bolinhas que escorregava entre seus peitos fartos, a escolha perfeita. David confirma interesse.

A mulher foi encontrá-lo num quarto, ela fecha a porta e depois as cortinas brancas. O espaço é pequeno, com uma pia, instalações sanitárias e claro, uma cama. David escuta os gemidos dos aposentos ao lado, de clientes completamente satisfeitos. Os cômodos das garotas de programas ficavam um perto do outro, com uma parede fina de madeira, não precisava de muitos enfeites para manter um centro de prostituição aberto e sim de mulheres.

- Você é bonito. – Disse a mulher, erguendo os olhos para ele e se aproximando para um beijo. 
- Qual é o seu nome?
- Amanda. – A meretriz esboça um sorriso. – E o seu?
- David. 
- Belo nome, aliás, você é belo em tudo.

Amanda passa a mão no pênis de David que está ereto, tirando sua camiseta, beijando a barriga do adolescente, seguindo para o "caminho da felicidade", abrindo a calça e deleitando-se no sexo oral. Amanda se levanta e David, bate duas vezes em sua bunda, sua carne era macia e estritamente feminina.

- Essa vai ser sua melhor primeira vez, David.

O garoto meio descuidado joga a meretriz no pé da cama, monta pelo seu corpo e ambos os sexos se encontraram. Amanda gemia e clamava por mais, desejava aquele garoto, como se fosse o seu primeiro sexo, como se fosse o seu primeiro amor, mas isso é apenas parte do trabalho, ou não? A química é acertada num beijo. A cama balançava a cada metida e posição. O suor amargo que escorria do corpo masculino, deixava-o completamente ensopado, David é mais um cliente saciado.

Depois de duas transas enlouquecedoras, Amanda caminha para fora da cama e tira da bolsa um maço de cigarro. Ela o ascende, traga e salta à fumaça, fazendo o garoto tossir.

- Quanto te devo, Amanda?
- Já está pago, boy. O seu pai cuidou de tudo.

David começa a se vestir e segura à maçaneta, em seguida, olha para trás e vê a mulher fumando o cigarro literalmente pelada, contemplando o nada, . Posteriormente tranca a porta, com um sorriso no rosto como os outros caras, indo para fora do pequeno prédio.

O veículo da família não estava no estacionamento, David liga diversas vezes para o pai e nada de ser atendido, apenas caixa de mensagem. O adolescente então resolve ir andando, com os pensamentos voltados naquela mulher, mas não pode se apaixonar assim, não por uma pessoa da vida, não pela Amanda.

As pernas obedecem aos comandos do cérebro, faltava pouco mais de 15 minutos para chegar em casa, estava ficando tarde e quase não tinha ninguém nas ruas da capital. David avista uma imagem que o deixa curioso ao atravessar a rua, esconde-se detrás de um poste de energia e a frente do Banco do Brasil, um rapaz permanece parado, usando moletom e fumando maconha, provavelmente esperando alguém.

O carro de luxo para e em seguida, um homem vestindo terno e gravata salta da picape. David conhece muito bem aquela face dos recortes nos jornais, Junior Brandão, o assassino da sua mãe, diversos flashes surgem em sua mente, sendo finalizado com o barulho de tiro, Junior tinha matado mais uma pessoa. O corpo do homem cai no calçamento, estirado no chão com três buracos de balas no peito e o cheiro de pólvora.

O celular de David começa a tocar naquela maldita hora, os dois se olharam rapidamente. O facínora e a vítima. Vinte metros os separavam, o adolescente começa a correr velozmente, enquanto o homicida atirava em direção da testemunha.


 
 
INSPIRADO EM UMA HISTÓRIA REAL
 
 
autor:
 
LUIZ GUSTAVO
 

 elenco
 
DAVID ASSUNÇÃO
 
 AMANDA LOPEZ
 ANDRESSA YAMASHITA
 
 HERBERT VIANA
 
 NICK SMITH
 ADAM SMITH
 
 FRANK SALVATORE
 BRUNO LIMA
 
 PROFESSORA MARIA
 ROBERTO ASSUNÇÃO
 
 MATHEUS
 JEFERSON
 
 DONA HILDA
 SÁVIO MESSIAS
 JUNIOR BRANDÃO
 
 PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:
 
 MARCELO MIRANDA
 MÔNICA VELARDO
 
 COLABORAÇÃO:
 
MÁRCIO GABRIEL
 JULIANA CORDEIRO

 
 PRODUÇÃO:
 
BRUNO OLSEN
 CRISTINA RAVELA

 

 
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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