Antologia Sempre ao Meu Lado: 3x02 - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

O que Procura?

HOT 3!

Antologia Sempre ao Meu Lado: 3x02

Conto de Diamitsui
Compartilhe:







Sinopse: Após sofrer um acidente em um zoológico, Luan adquiri traumas de todas as espécies de animais, porém, ao ter seu trabalho roubado por uma cachorra de rua, o garoto conhece seu novo melhor amigo, Levi. A amizade durou por 13 anos, mas para o rapaz, o seu melhor amigo sempre estará em suas eternas memórias.


3x02 - Seu nome será Levi
de Diamitsui

— Pode entrar — disse a doutora com sua voz rouca e firme para mim atrás da porta.

Entrei e ela desviou seu olhar para o cachorro em meu colo. Coloquei-o ao meu lado e sentei na cadeira, a doutora sorriu e me ofereceu uma água, mas recusei acariciando o Levi.

— Tudo bem, Luan? — perguntou e eu assenti com a cabeça — você pode começar me dizendo como conheceu o... Levi — mandou checando um papel.

— É claro — falei fechando os olhos e respirando fundo. Embarcar nas melhores memórias que eu já tive era sempre um prazer.

Eu tinha 12 anos na época, e meu maior pavor era animais. Eu gosto de colocar a culpa na minha mãe por não ter me segurado quando cai no lago dos crocodilos no zoológico da cidade ao lado no meu aniversário de 7 anos. O portão estava fechado, mas não trancando, assim, encostei nele para conseguir ver melhor e tive a grande surpresa de rolar até eles.

— Luan! — gritou minha mãe chamando a atenção de todos em volta.

— Mamãe! Mamãe! — berrei tentando não me afogar. O lago não era fundo, mas o medo havia congelado minhas pernas.

Felizmente, os crocodilos foram alimentados a poucos minutos atrás — por isso o portão destrancado —, e quando estão satisfeitos, não procuram encrenca com alguma presa, porém não passava na minha cabeça que um crocodilo próximo a mim iria me empurrar com sua cabeça até a beira do lago revestida de cimento.

— Respirou muita água? — perguntou um homem com roupas laranjas me carregando até minha mãe enquanto outro afastava os crocodilos. Naquele dia, mesmo sendo salvo por animal feroz, passei a temer qualquer animal, desde insetos até ursos.

Eu caminhava para a escola com meu trabalho de geografia sobre rochas que acabei de imprimir na papelaria. Não tinha pasta, então era mais seguro ter em mãos.

— Droga! — resmunguei olhando meu relógio de pulso, eu estava atrasado, então só me restava um caminho mais rápido, o atalho pela sorveteria.

Nesse trajeto, acabei encontrando o meu pior pesadelo.

Um animal...

Uma cachorra de rua estava deitada na calçada olhando para mim, de longe eu pensava que era algum saco de lixo ou um objeto jogado, mas era um animal que me fez paralisar dos pés à ponta do cabelo.

A cachorra correu até a minha direção sem dar um latido e mordeu meu trabalho de geografia o levando para uma rua estreita fora do caminho à escola.

— Não! Não! Não! — resmunguei pensando se seria uma boa opção correr atrás, infelizmente foi a única se eu não quisesse reprovar em geografia pela segunda vez.

Eu não era de correr, mas a cachorra pilantra não era tão rápida como as outras que já vi na televisão ou internet. Ela saltitava por um caminho que parecia ser familiar para ela, desviando de todos os obstáculos de lixo com muita precisão, além que o lugar na qual corria estava ficando assustador.

— Au au! — tentei latir com uma voz grossa, mas como já era esperado, ela nem sequer olhou para trás, apenas parou de correr quando chegou em uma rua de terra perto de uma varanda com tralhas. Colocou meu trabalho em cima de uma caixa de papelão e foi para trás vigiando meus movimentos.

Estranhei o comportamento da cachorra que se afastou em uma distância boa para que eu pudesse pegar meu trabalho e correr.

Aproximei lentamente fitando o animal e peguei meu trabalho com o formato dentário do cão, porém, minha atenção focou em outra coisa que eu havia visto... aquilo que a cachorra escondeu com as folhas de papel.

Havia um cãozinho... com poucos pelos e bem magrinho. Não consegui ter medo, apenas compaixão... eu estava tendo compaixão... por um animal?

— Um filhote... — falei acariciando o animal com meu dedinho, a cachorra se aproximou de mim e lambeu meu dedo, e só agora percebi o quanto ela estava magra e com as patas avermelhadas. Ela parecia estar morrendo.

Pegou o filhote pela boca e o colocou na minha palma da mão, empurrando com seu focinho meu corpo. Ela queria que eu levasse seu filhote, ela só queria que alguém fosse gentil.

Acariciei a cachorra, mesmo suja, e peguei um pedaço de pão da minha mochila e dei. Fiquei com ela até que acabasse de comer, em seguida, voltou a me empurrar e a latir com choramingo, assim, peguei uma toalha de rosto e coloquei o filhote que dormia.

— Aqui — mostrei-o pela última vez, e ela lambeu minha mão.

Deitou no lugar de seu filho como se estivesse esperando a morte e latiu quando comecei a partir. Olhei para trás...

Ela estava caída e a vi lentamente parando de mexer suas patas vermelhas.

Meus pais me deixaram cuidar do cãozinho, já que a psicóloga havia sugerido meses atrás a adoção de algum animal de pequeno porte para curar o trauma.

— Já escolheu um nome, Luan? — perguntou minha mãe.

— Sim! — falei animado — pensei em Levi.

Ela sorriu e me abraçou rapidamente. Levi era o nome do meu irmão mais velho que nunca nasceu.

Meu pai era meio cético em relação a ter bichos em casa, minha mãe precisou de muitas premissas para convencê-lo, no entanto, era nítido sua face emburrada.

Ensinei Levi a levar o lixo na esquina;

A colher as bolinhas depois de brincar;

Ter modos com as visitas;

Só não consegui ensiná-lo a cagar no mesmo lugar, e seu excremento irritava meu pai que tinha mania de limpeza.

— Quem diria — falou Tereza, minha tia parte de mãe —, que o garoto que tinha medo até de joaninhas tem um cãozinho... e é a coisa mais fofa! — Acariciou a barriga de Levi.
Tudo estava maravilhoso. Eu ganhei um novo melhor amigo, e quando digo melhor, é pelo fato de ele estar comigo sem mesmo o chamar. Ele não era mais um cachorro, ele era meu Levi... e doeu muito, quando fui obrigado a deixá-lo morrer.

— Você trancou aquela peste? — perguntou meu pai enquanto dirigia para o shopping.
— Tranquei — respondi seco, odeio quando alguém desrespeita meu amigo.

Eu não tranquei. Levi nunca faria algo de terrível, como pegar a chave da moto e passear, mijar no sofá enquanto mastiga o controle ou por fogo nas cortinas, ele era dócil e cortês.

Quando chegamos em casa eu queria morrer.

— Levi! — gritei olhando a destruição.

Ele quebrou a casa inteira, sujou todos os móveis e até as paredes com barro da chuva e destruiu algumas roupas com mordidas. Levi estava escondido no armário e só saiu de lá quando minha mãe fez meu pai parar de gritar feito um demônio.

Puxou-me pelo braço e me levou no carro, dirigindo até uma pista de terra, na qual mandou deixá-lo na tempestade.

— Mãe... — falei enquanto derramava lágrimas, não queria soltar meu único amigo de volta no mundo que matou sua mãe. Ela apenas me olhou e acariciou minha perna.

— Joga essa peste na terra, senão eu vou te jogar para os crocodilos, moleque! — gritou dando socos no volante.

Abri a porta do carro e o coloquei na terra molhada. Meu pai logo acelerou o carro e olhei por trás o meu Levi parado enquanto a chuva encharcava seus pelos.

No dia seguinte, meu pai arrependido apareceu de tarde com um peixe dourado, mas o joguei na descarga bem na sua frente e nunca mais o olhei diretamente. Na noite do mesmo dia, acordei com latidos durante a madrugada e eu já sabia de quem vinha.

Parecia um sonho, eu pensava estar sonhando. Levi havia voltado pelo longo caminho e estava imundo com barro. Eu o abracei e prometi cuidá-lo pelo resto da minha vida.

Consegui convencer Tereza para deixá-lo viver lá quando contei o que meu pai havia feito. E assim continuei a vida, indo três vezes ao dia visitar e cuidar do meu cãozinho — que infelizmente estava crescendo bem depressa.

Meses se passaram e anos depois consegui me formar e alugar uma casa em outra cidade, e nada me bloqueou de viver com Levi.

Casei-me com 23 anos e minha esposa sempre amou o Levi, afinal ela tinha uma gata, Dalila.

A doutora respirou fundo terminando de anotar em seus papéis e me ofereceu um pouco de água, dessa vez eu aceitei.

— Uma linda história, caro Luan — falou limpando uma pequena lágrima que se formou no olho direito —. Entre toda sua trajetória com o Levi, qual é a parte que você mais sente falta? — perguntou bebericando uma xícara de chá.

Peguei a foto que havia colocado ao meu lado quando sentei e respondi apertando o quadro no meu coração:

— O fato de ele estar sempre ao meu lado, nos dias de sol, de chuva, e até mesmo… — olhei para a psicóloga — nas minhas eternas memórias.

Levi morreu há 2 anos. E um pedaço de mim, morreu com o meu melhor amigo naquela maldita madrugada.

Conto escrito por
Diamitsui

CAL - Comissão de Autores Literários

Agnes Izumi Nagashima

Gisela Peçanha

Paulo Mendes Guerreiro Filho

Rossidê Rodrigues Machado

Telma Marya


Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

""

Copyright 
© 2024 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução




Compartilhe:

Antologia

Antologia Sempre ao Meu Lado

Episódios da Antologia Sempre ao Meu Lado

No Ar

Comentários:

0 comentários: