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Antologia Contos Contemporâneos da Violência Urbana: 5x03

Conto de Gilberto Belotti
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Sinopse: Após um duplo assassinato a vida de quatro personagens; duas mulheres, um policial e um assassino se cruzam usando mentiras como principal recurso de sobrevivência.

5x03 - A  Cidade Ideal
de Gilberto Belotti


    São José do Rio Preto... Uma cidade no estado de São Paulo que fica a mais de 500 km da capital. Indo de carro leva umas seis horas de viagem, de ônibus sete. Cidade grande, uma das maiores de sua região. A cidade ideal. 

   Saindo de São Paulo dificilmente se consegue voltar no mesmo dia. Se for à procura de alguém sem o endereço correto, mesmo com indicações terá dificuldades para encontrar, pois como eu disse é uma cidade grande, tem um centro populoso, tem bairros planejados e outros sem nenhum planejamento, tem condomínios residenciais afastados e outros mais próximos do centro. A cidade ideal.

   - Oi... Boa noite. 

   - Boa noite... saudade meu amor.  

   Ele sempre telefonava às 19h, tinha até colocado um alarme com esse horário no seu celular.

   - Pensei que tinha esquecido de mim, já sabe quando vai voltar? – Ela perguntou.

   - Acho que na terça feira, depende do andamento da obra.

   - Mais um final de semana sem te ver, não é justo. – Disse ela.

   Ele nunca esteve em São José do Rio Preto, tudo que sabia foi o que aprendeu em suas pesquisas no Google... População, distância, horários de ônibus. Também olhou algumas fotos de praças e centros comerciais. Aprendeu o nome de alguns restaurantes e avenidas. 

   Para Tereza ele ia pra lá em um ou dois finais de semana por mês. Para Isabela ele viajava nos outros finais de semana que restavam. Sempre para a mesma cidade. 

   Acompanhava uma obra em um condomínio afastado do centro. Ainda sem nome, esse lugar estava sendo implantado, mas já tinha ótimas casas e outras sendo construídas, algumas já em fase de acabamento. Ruas capeadas e outras ainda esperando o asfalto. Era um lugar interessante, mas não bonito o bastante para ser fotografado ou fazer passeios.

   Para infelicidade de Tereza e Isabela o sinal de lá era péssimo. Quando estava na obra ele ficava totalmente isolado, sem nenhuma possibilidade de contato telefônico ou via internet. Os outros funcionários dormiam lá também, em um alojamento especialmente montado para sua hospedagem, logicamente o quarto dele era o melhor, com banheiro privativo, mas sem televisão, como eu disse não tinha sinal algum naquele lugar. Somente quando ia para o centro da cidade conseguia telefonar e sempre o fazia neste horário, 19 horas, ia buscar lanche para o pessoal da obra, mas tinha que voltar logo, pois não podia matá-los de fome. A conversa era curta, Tereza ou Isabela falavam sobre o seu dia a dia e ele tinha que descrever os detalhes e o andamento da obra para as duas, cada uma no seu tempo. A descrição que fazia sobre a cidade, a obra, as paisagens e até mesmo o que comia era igual para as duas. As pessoas que se relacionava na cidade, clientes e funcionários, tinham os mesmos nomes e funções. Às vezes ele pensava se as imagens que surgiam nos pensamentos delas também eram iguais, com certeza não, Tereza e Isabela eram completamente diferentes.

   Isabela tinha 36 anos de idade, não era muito bonita, mas muito agradável, gostava de ouvi-lo, ria com as suas brincadeiras, acreditava no que ele dizia e parecia admirá-lo. Na cama o desempenho era mediano para ele, mas para ela parecia ser o máximo. 

   Ela morava com a mãe em um condomínio de luxo, filha única, o pai tinha morrido a alguns anos e a mãe era muito rígida, Isabela só podia sair no domingo e tinha que estar em casa antes das 22h. Dava tempo de passear um pouco e no final do dia ficavam algumas horas em um hotel. 

   Tereza era um pouco mais velha, 40 anos, magra, melhor de cama, porém uma mulher dura, desconfiada, fechada. O casal tinha conversas mais relevantes, mas do seu jeito ela também era uma mulher agradável.

   Conheceu ambas em um site de relacionamento.

  Teresa morava com os pais e trabalhava no escritório da carceragem de um presídio feminino na zona norte de São Paulo, plantão noturno, inclusive nos finais de semana. 

   Normalmente almoçavam juntos no domingo e passavam a tarde naquele mesmo hotel que frequentava com Isabela. Ele a deixava à noite no seu trabalho.

   A primeira conversa com as duas aconteceu na mesma semana. Menos de um mês depois se encontraram e a partir daí ele não conseguia decidir-se com qual deveria ficar.

   “Construtora Almeida Duarte - Consultoria e construção civil”. Fazia pouco mais de dois anos que ele trabalhava nesse escritório, eram duas salas e uma recepção no quarto andar de um prédio no centro antigo de São Paulo. Uma das salas era do dono da empresa cujo nome não era Almeida nem Duarte, o chamavam de Dr. Daniel, mas todos sabiam que esse também não era seu nome verdadeiro. A outra sala tinha duas mesas e quatro aparelhos de telefone e era usada por quatro pessoas, incluindo ele, eram intitulados de consultores. Seu trabalho consistia em contatar pessoas ou empresas que precisavam de serviços de construção ou de reforma de imóveis, faziam o primeiro contato visitando as obras e anotando os serviços a serem feitos, daí passavam o cliente para o Dr. Daniel que fazia o orçamento e o fechamento final, quando era o caso.

   A “Construtora Almeida Duarte” não possuía nenhuma máquina, trator ou ferramenta. Não tinha engenheiros e arquitetos nem pedreiros ou qualquer outro funcionário além daqueles quatro consultores e uma recepcionista. Os poucos serviços fechados eram repassados para construtoras de verdade. O Dr. Daniel ficava com uma porcentagem do valor e nós com uma porcentagem dessa porcentagem.

   Dona Inez era a recepcionista, com certeza a funcionária mais importante da empresa. Ela ficava na sala da frente. Não recepcionava ninguém, pois ninguém nos visitava, mas atendia as linhas telefônicas em um aparelho de PABX transferindo as ligações e isso era fundamental. Como os consultores trabalhavam quase integralmente em atendimento externo, era ela a principal ferramenta de contato, anotando recados e principalmente elevando o status dos consultores. Para ela todos eram engenheiros e arquitetos. Mesmo estando lá sem ter o que fazer para Dona Inez sempre estávamos ocupados em reuniões ou visitando alguma obra, Dona Inez se divertia inventando estórias;

   - Dr. Fernando está em reunião com a diretoria e não pode atendê-lo no momento, deseja deixar recado?

   - O Engenheiro Alberto está em diligência para inspeção de obras no litoral, posso ajudá-lo?  

   Ela mantinha uma agenda sobre sua mesa na recepção onde os consultores faziam as anotações de onde estavam ou onde estariam e também o que ela deveria dizer para cada cliente. 

   Na agenda da Dona Inez constava que todas as quintas feiras o Dr. Adriano viajava para São José do Rio Preto e voltava somente na terça.

   Ele sentou-se num dos bancos do balcão. A pizza daquela padaria não era muito boa, mas gostava do atendimento. Assim que sentou o rapaz da copa serviu uma dose caprichada de vodca gelada e uma lata de cerveja, ele pediu que trocasse a lata por uma garrafa, pretendia ficar um pouco mais tempo. O lugar não era longe da sua casa e não perto o bastante para encontrar conhecidos. 

   Era sábado, naquele final de semana decidiu que não sairia com nenhuma das duas e viajou duplamente para São José... Fazia alguns meses que estava naquela vida, às vezes seu cérebro parecia que dava um nó.

   18:40h, primeiro ligou para Tereza. Conversaram por trinta minutos enquanto tomava a cerveja e bebericava a vodca, depois telefonou para Isabela, pediu outra dose e foram mais trinta minutos de conversa. Repetiu o mesmo para as duas, incluiu a visita de um cliente a obra e o desentendimento entre dois peões, sempre acrescentava detalhes para reforçar a credibilidade. Tomou uma terceira dose e terminou a cerveja, depois pediu dois pedaços de pizza. Naquele dia a pizza estava especialmente ruim, não conseguiu comer o segundo pedaço. Quando levantou do banco percebeu o quanto estava bêbado.

   Andou os três quarteirões até sua casa. Subiu os dois andares pela escada se apoiando nas paredes, o prédio tinha quatro andares sem elevador. Por sorte não cruzou com nenhum outro morador.

   Seus dois vizinhos de parede representavam dois extremos. De um lado uma moça linda, jovem e educada, morava sozinha no seu apartamento e morava também nos sonhos eróticos de Adriano. Janaina era pequena, loira, olhinhos azuis. Não fazia barulho, chegava e saía sem que ninguém notasse. 

   Do outro lado, no outro apartamento morava Julinho. Um estúpido, truculento e mal-educado. Sempre com o aparelho de som ligado com volume alto tocando músicas sem sentido, todas as músicas pareciam idênticas. Ele tinha aqueles músculos de quem passa metade do dia na academia tomando esteroides e a outra metade se olhando no espelho. Adriano não gostava de encontrá-lo no corredor, o ar de vigor e alegria de Julinho o faziam sentir-se velho e solitário.

   Quando chegou ao prédio naquele sábado, ouviu suas músicas idiotas desde os primeiros degraus da escada.

   Ainda sentia fome, tinha um pão num saquinho de papel sobre a mesa. Abriu a geladeira e só encontrou um pote de margarina e uma lata de cerveja. Havia também uma garrafa de gin no armário sob a pia, tomou uma dose, abriu a cerveja e comeu o pão com margarina, estava melhor que a pizza.

   O som agora parecia mais alto, não conseguiria dormir, sentou-se na cama, recostou, tudo rodava, realmente não conseguiria dormir com aquela música cada vez mais alta.

   Levantou-se, andou em direção a porta e saiu para o corredor do prédio. A porta do apartamento do Julinho estava semiaberta, por isso o som parecia tão alto. Na verdade, ele tinha medo do tal Julinho, ele era jovem, mais baixo, porém muito mais forte. 

   Empurrou a porta, não havia ninguém na sala, caminhou até a cozinha, também vazia. A bebida tinha alterado seu comportamento, não sentia medo, ia exigir que desligasse aquele som.

   Julinho estava no quarto com Janaina, ele sem camisa e com as calças arriadas se movia entre as pernas dela que gemia com a blusa aberta, os seios de fora e a saia levantada acima da cintura, eles não o viram. Ia voltando para seu apartamento, mas não conseguiria dormir. Parou na sala, olhou em volta, num canto haviam acessórios de ginástica e alguns halteres, um deles era vermelho com uma impressão em baixo relevo... 2K. 

   O primeiro golpe foi na cabeça de Julinho e o segundo em Janaina, também na cabeça. Atingiu os dois várias vezes até ter certeza de que não se moviam.

   Voltou ao seu apartamento, apagou as luzes e se trancou lá dentro. Ouviu quando os corpos foram encontrados por vizinhos e quando a polícia chegou. Várias vezes bateram em sua porta e sempre depois das batidas seguiu-se o comentário de que ele devia estar fora, ficou lá por dois dias, trancado. No domingo telefonou para Tereza e para Isabela. A uma disse que voltaria na terça e poderiam se ver no final de semana e para outra que teria de ficar em São José por mais uma semana.

   Na terça feira a noite bateram na porta e ele finalmente abriu. O sargento Dantas depois de se apresentar perguntou se sabia do sucedido, disse que sim, que um vizinho havia lhe contado pela manhã quando chegou de viagem.

   - O senhor pode me dizer qual dos vizinhos lhe falou?

   - Foi um rapaz do primeiro andar, apartamento 16, não sei o nome dele.

   - O que ele disse?

  - Que foi assassinato duplo, meus dois vizinhos de parede. Provavelmente um namorado ciumento, ou namorada, fiquei chocado.

   - O Sr. os conhecia?

   - Quem, os namorados?

   - Não, as vítimas.

  - Só de vista, nos cumprimentávamos no corredor, mas só isso. Nunca conversei com nenhum deles.

   - Sabia seus nomes?

   - Acho que é Janaina e Júlio, o chamavam de Julinho.

   O policial lhe mostrou um cartão de visita que estava em suas mãos desde o começo da conversa, “Construtora Almeida Duarte - Consultoria e construção civil”

   - É onde o Sr. trabalha, não é? - perguntou o policial.

   - Sim - respondeu - tentava manter a calma. 

   - Onde o Sr. estava no sábado a noite?

   - São José do Rio Preto.

   - Tem alguém que possa confirmar isso? - perguntou novamente.

   - Sim.

   O Sargento Dantas já havia passado dos cinquenta anos de idade. A mais de vinte anos tinha se formado em direito e entrado para a polícia com a intenção de ser delegado, comandar uma delegacia, o máximo que conseguiu foi o cargo de investigador e a partir daí investigava somente pequenos assaltos, roubo de carros, assassinato de mendigos, nada que merecesse uma notícia de jornal. Seu colega de trabalho, o investigador Lafaiete havia se tornado a estrela daquela delegacia quando prendeu um estuprador, o “maníaco da praça” e seu nome apareceu nos jornais de todo o país. A partir daí todos os casos importantes iam para ele, mas Lafaiete estava de férias e naquele duplo assassinato o sargento Dantas tinha a chance de sua vida. Resolvendo aquele caso ele com certeza seria promovido, podendo inclusive se tornar Delegado. Porém isso aconteceu no pior momento possível.

   Dantas estava perto de sua aposentadoria e como recompensa à sua pouca evidência havia conseguido uma transferência para a cidade de São Pedro do Turvo, onde morava a família de sua esposa Dona Emília ou sua ex-esposa caso ele não conseguisse a tal transferência. 

   Eles não tiveram filhos e Dona Emília não suportava mais ficar sozinha esperando o marido voltar de seus plantões e expedições sem saber a que horas seria isso ou se ele realmente voltaria. A alguns meses ela lhe deu um ultimato, caso não fosse transferido ela o deixaria em São Paulo e voltava só para casa dos seus pais lá em São Pedro do Turvo.

   Dantas amava a esposa e não a trocaria pelo cargo de delegado nem por nada nesse mundo.

   - Posso perguntar onde o Sr. conseguiu o cartão? – disse Adriano ao policial

   - Com o zelador do seu prédio.

   Ele ficou mais tranquilo, mas não se lembrava de ter dado seu cartão a ninguém daquele prédio.

   - Preciso do contato da pessoa com quem o Sr. estava no sábado.

   - Na verdade são duas pessoas, mas elas não estavam comigo, apenas nos falamos por telefone

   - Não havia ninguém com o Sr. nesta cidade?

   - Infelizmente não, eu estava só.

   - Quem são essas duas pessoas?

   - Minhas namoradas.

   - Tendo duas namoradas o Sr. viaja sozinho?

   - Viagem de trabalho.

   - Ok, me passe o endereço e o telefone de cada uma.

   - O endereço exato não tenho, a Isabela mora em um condomínio com a mãe, mas não sei em qual casa e a Tereza sei onde trabalha, mas não onde mora. 

   - Passe os telefones então. 

   - Posso lhe pedir um favor, Sr. Dantas?...

   - Pois não Sr. Agenor – disse o policial com o mesmo tom formal.

  - Uma não sabe da existência da outra. E as duas me conhecem por Adriano, é como um apelido... O Sr. entende?

   Quando o sargento conversou com Isabela e ela lhe disse que seu nome verdadeiro era Jucélia ele quase caiu na gargalhada.

   O Sargento Dantas tinha chegado antes do horário combinado na Penitenciária feminina de Santana para saber mais sobre Tereza. Requisitou sua ficha com o policial de plantão e a estava lendo naquele momento.

   Nome – Maria Tereza da conceição Vicário, condenada a 14 anos de prisão em regime fechado por assassinato, crime doloso onde a vítima, que era seu marido, foi encontrada já sem vida no apartamento onde moravam....

   Depois de alguns anos de prisão Tereza ganhara o direito de cumprir o restante da pena em regime semiaberto, saia da prisão pela manhã e voltava a noite para dormir em sua cela. Ela confirmou a afirmação do seu namorado, disse que conversaram no sábado a noite e que ele realmente estava em São José do Rio Preto a trabalho.

   Isabela ou Jucélia pediu ao sargento que conversassem na praça em frente ao condomínio onde trabalhava, disse que sua patroa era muito rígida e poderia perder o emprego se soubesse que tinha namorado ou que estava envolvida em qualquer assunto de polícia. Também confirmou o álibi de Agenor ou Adriano.

   Tanto Isabela como Tereza insistiram para que o sargento não comentasse com Adriano suas condições de empregada doméstica e presidiária.

   A última visita do Sargento Dantas foi à Construtora Almeida Duarte. Dona Inêz ficou surpresa porque no primeiro momento achou que fosse um cliente, depois sentiu-se importante, nunca havia sido interrogada e esse foi seu comentário com o Sargento.

   - Isso não é um interrogatório Senhora, somente algumas perguntas para confirmar outras informações.

   - Conhece o Sr. Agenor Pereira? - Perguntou o Sargento

   - Sim... O Adriano...

   - Aqui ele também usa este nome?

   - E onde mais usaria?

   - Ele costuma viajar a trabalho?

   - Sim, quase todos os finais de semana, São José do Rio Preto.

   - A construtora tem obras lá?

   - Ainda não, mas deve estar em vias de fechar alguma, como eu disse, ele vai pra lá três ou quatro vezes por mês.

   Dona Inez posicionou a agenda para que o policial pudesse ler, virou algumas páginas e lá estavam as anotações de viagem daquele final de semana, ela continuou folheando. Em todas as quintas feiras havia a mesma anotação de viagem sempre com retorno na terça feira seguinte.

   No sábado do crime a delegacia estava desprovida de policiais, a viatura que deveria estar no plantão fora deslocada para outro bairro onde havia um evento esportivo. O sargento Dantas só tinha a companhia de um policial, um soldado sem arma que fazia serviços internos.

   Quando o telefone tocou o próprio sargento atendeu, pressentiu que o caso era grave e que a única solução era que ele fosse sozinho ao local.

   Depois de esvaziar o corredor colocando os vizinhos curiosos para fora do prédio, ele entrou sozinho no apartamento. Sabia que não havia mais ninguém vivo ali. Passou pela sala e foi direto ao quarto, os corpos estavam imóveis, um sobre o outro, foram atacados por trás, sem chance de reação, a arma do crime era uma peça de ferro vermelho, um halter, estava sobre uma poça de sangue e tinha marcas nítidas da mão do assassino, o policial tirou o lenço do bolso e espalhou o sangue sobre o ferro vermelho eliminando as digitais, olhou em volta e não viu mais nenhuma marca. Voltou para sala e repetiu o caminho feito pelo invasor, caminhou lentamente observando todos os cantos e todas as possibilidades, agachou-se onde estavam os outros halteres e pegou o cartão de visitas da construtora caído entre eles, a única pista, colocou-o no bolso e do outro bolso retirou o celular. Depois que telefonou para a central relatando a ocorrência ligou para Dona Amélia dizendo que ia atrasar um pouco, ela podia jantar sozinha que ele comeria alguma coisa na rua. 

   O Sargento Dantas estava sentado em frente a mesa do Delegado titular que terminava de ler o seu relatório sobre o “crime do cafofo”, como estava sendo chamado o caso pela imprensa sensacionalista.

   ......As vítimas não tinham relacionamentos recentes, também não tinham inimigos conhecidos. Todos os vizinhos próximos apresentaram álibis que foram devidamente verificados e comprovados......

   O relatório terminava com o resultado da investigação – “inconclusiva por falta de pistas”

   O delegado costumava falar ao telefone em voz alta, às vezes até gritando, ninguém dava importância, mas quando ele abaixava o tom da voz todos prestavam atenção.

   Assim que Dantas saiu da sala e fechou a porta, o Delegado pegou o telefone. 

   - Boa tarde Lafaiete, você volta na segunda feira. Correto? – era uma pergunta retórica.

   - Temos um caso para você.

   Ele falou no seu tom baixo de falar, mas todos na sala maior ouviram a conversa. 

   O Sargento Dantas ligou para sua esposa e disse que chegaria mais cedo, que ela colocasse umas cervejas na geladeira. Finalmente acertariam os detalhes daquela viagem... Sua transferência estava certa.



Conto escrito por
Gilberto Belotti

Desenho
Gilberto Belotti

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima Gisela Peçanha Paulo Mendes Guerreiro Filho Pedro Panhoca Rossidê Rodrigues Machado Telma Marya

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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