No
capítulo anterior, vô Táquio e Imã, tentando ajudar um Rei, encontram a maga
Cuca para adquirir um objeto mágico que o ajudaria a defender seu reino. Porém,
a maga tinha outros planos e obrigou a dupla a se separar.
CAPÍTULO 02 - AJUDAR A QUEM PRECISA
A
manhã parecia ser tranquila, típica do outono. O ar é fresco e as ruas quase
vazias, exceto pela menina que perambula distraidamente tendo às mãos um livro,
uma cena rara nos subúrbios do Rio de Janeiro. Entretanto, sua concentração é
quebrada quando Tudão e Cerol passam por ela correndo e gargalhando, quebrando
os poucos instantes de paz da região, quem mora no local faz ideia do que
aquilo significa.
A
menina guarda o livro na mochila e volta pelo mesmo caminho em que os garotos
saíram. O que ela encontra não a surpreende, se aproxima do garoto gordinho
estatelado no chão.
—
Você tá bem?
—
Tô, só a minha cabeça que tá doendo um pouco por causa daqueles moleques.
—
O que eles levaram?
—
Só o celular.
—
Você tem celular?
—
Tinha, né?
A
menina faz força para puxar o gordinho do chão.
—
Obrigado.
—
Você não sabe que é perigoso andar sozinho por aqui, ainda mais com celular?
Os
dois retomam o caminho para escola.
—
Eu tavo esperando meu amigo, mas ele
atrasou e eu não queria chegar depois que o portão fechasse. — passando a mão
no galo da testa — Minha mãe vai ficar boladona comigo.
Assim
que chegam próximo ao portão, os dois ouvem um chamado.
—
R2! R2! Desculpe o atra... cara, o que aconteceu contigo? — outro rapaz, mais
alto e magro, chega esbaforido.
—
Pô, fui assaltado!
—
Caramba, por que não me esperou, cara? Só atrasei um pouco.
—
Ah, sei lá, achei que tava de boa.
—
R2? — a menina estranha o apelido.
—
Pô, foi mal, esse é meu amigo, o C3. —
depois se volta para o rapaz — Ela me ajudou a vir pra escola.
—
Prazer, eu sou Carlito e esse é o Rui. Mas, a gente se chama assim porque...
—
Os dois são CDFs?
—
“Nerd”, a gente prefere ser chamado de nerd.
—
Bem, agora que os meninos estão seguros, vou seguir a minha vida. — a menina se
despede com um sorriso no rosto.
—
Aí, você não me disse seu nome.
—
Eu sei, vocês não perguntaram.
No
fim do turno escolar, a menina encontra uma amiga para voltarem juntas. Mas
ambas são abordadas pela dupla de nerds.
—
A gente pode ir com vocês? — Carlito abre o sorriso de orelha a orelha.
—
Agora não tem perigo, com a rua cheia, os malandrinhos estão dormindo. — Imã
responde distraída.
Rui
se mostra mais eufórico.
—
Não é por isso não, o C3 tá me enchendo o saco pra te conhecer. E também estou
em dívida contigo.
—
Valeu, R2. Você sabe que é gordo, né? Por isso ninguém te suporta. — Carlito
fica envergonhado.
—
Vai começar a gordofobia?
—
Gente, na boa, vocês não me devem nada. Só fiz o que meu avô me ensinou a
fazer, ajudar a quem precisa. Agora dá licença, vamos indo Drica?
—
Quem são esses aí?
—
Ah, eu não guardei os nomes, mas um é o R2 e o outro C3. Não é isso?
Os
meninos sorriem aprovando, Drica também. O quarteto caminha junto.
—
Por que usam esses nomes, vocês gostam de bingo, é isso?
—
Não, Drica, eles são nerds. — a menina acha que está esclarecendo.
—
Drica, eu gostaria muito de saber o nome da sua amiga. — Carlito tenta ser
ousado.
—
Ué, ainda não perguntou a ela?
Os
meninos trocam olhares constrangidos devido à obviedade.
—
Imã, meu nome é Imã. Nossa, quanto mistério. — levanta os olhos para o céu.
Enquanto
atravessam a praça, os quatro não percebem a aproximação de Tudão e Cerol.
—
A galerinha aí poderia me entregar os celulares? Na disciplina, valeu? — Tudão
aborda ameaçando.
O
susto paralisa os quatro, menos a Imã.
—
Eu não tenho.
—
Brincou! Mostra a mochila aí. — Cerol é mais agressivo.
Irritada,
ela tira a mochila das costas e abre, o rapaz mete a mão lá dentro, separa o
livro e apanha alguns objetos diferentes.
—
Orra é essa aqui? — Cerol manuseia o
objeto.
—
Nada, devolve! Isso não tem valor! Era do meu avô.
—
Então vale pra você, né?
Carlito
empurra Imã para trás e fica de frente pro assaltante.
—
Pô, cara, toma aqui, não tenho mais nada, nem grana, só esse telefone.
Tudão
pega o aparelho e empurra Carlito, que cai sentado.
—
Ih, olha o heroizinho. Tá de sacanagem comigo? Essa merda não vale nada! — joga
o aparelho no chão.
Cerol
ainda está com os objetos na mão.
—
E aí, quanto vai me dá pra ter esse bagulho de volta?
—
Você não vai ter nada.
Imã
fecha os punhos e investe contra o Cerol, tentando pegar os objetos. Rui também
aproveita e usa o corpo para fazer carga, Drica começa a gritar pedindo
socorro, Carlito levanta e fica de frente para o Tudão. Surpreendidos com o
enfrentamento, e a chegada de outros estudantes, os assaltantes resolveram
fugir, atiram os objetos de Imã no chão. Rui ameaça segui-los, mas percebe que
Imã e Carlito ficam parados e desiste.
—
Caramba, jamais imaginaria conhecer uma tecnofóbica. — Rui resmunga enquanto se
aproxima de um dos objetos.
—
O quê? — Imã não entendeu a referência.
—
Você, tecnofóbica.
—
Quem disse que eu sou isso aí? — Imã parece irritada.
—
Pô, nunca vi uma jovem da sua idade sem celular, só pode ser tecnofobi...
—
Se você repetir isso mais uma vez, eu vou te dar uma porrada. Não tem nada a
ver. Eu só não tenho celular, só isso.
Enquanto
conversam, Carlito esfrega as nádegas e é amparado pela Drica.
—
Obrigado.
—
Tá doendo muito?
—
Não, tô legal, acho que o nível de endorfina está alto, quando baixar é que
devo começar a sentir os efeitos das concussões.
—
Nossa, você deve ser nerd mesmo, nunca vi ninguém falar desse jeito depois de
uma briga.
Os
alunos começam a dispersar, alguns ainda ficam conversando, outros olham
enquanto comem os lanches e logo vão embora, não fica mais ninguém na praça.
Rui chega próximo de um dos objetos e se abaixa para pegá-lo. Imã tem um
pressentimento ruim.
—
Não!
De
repente um tremor balança o chão, um som agudo atravessa os ouvidos, seguido de
uma breve escuridão e o ar em torno dos jovens é distorcido, como se uma onda
passasse por eles. Rui cai sentado.
—
Caraca! O que foi isso?
Imã
corre para perto do menino.
—
O que você fez? O que foi?
—
Eu? Não fiz nada não. O quê? — Rui está perplexo, olha em volta e depois para
as mãos.
Carlito
e Drica se aproximam deles.
—
Vocês viram isso? Viram? — Carlito está agitado.
—
E-eu vi, C3. Sei lá, parece que alguma coisa passou por mim. Deve ter sido
alguma descarga eletromagnética. Olha, só, olha meu braço, todo arrepiado.
—
E meu cabelo? Aqui R2, põe a mão, olha, tudo pra cima.
Depois
que Imã guarda os objetos na mochila, Drica a puxa para longe dos rapazes.
—
Pra quê você traz isso pra escola? Olha só, você quase perdeu.
—
Eu não posso deixar isso em casa, não posso correr o risco de alguém destruir
as cirandas. A sua, cadê?
—
Não se preocupe, está guardadinha.
—
“Cirandas”? É isso mesmo, você disse cirandas? — Carlito ouviu os comentários.
Drica
e Imã trocam olhares. Imã puxa os rapazes para se agacharem e fala em tom mais
baixo.
—
Escuta aqui, vocês não podem falar nada disso pra ninguém, entenderam? E, pra
segurança de vocês mesmo, é melhor que esqueçam.
—
Tá, tá bem. — Carlito se assusta com a veemência da amiga.
Rui
parece não ter ouvido uma palavra da advertência.
—
O que são esses objetos, que ciranda é essa, leva pra onde? Caraca, deixa eu
ver de novo?
—
Não! — Imã é enfática.
—
Vem R2, acho que é melhor a gente ir embora.
Ao
se recompor, antes de seguir com o amigo, Rui volta para Imã.
—
Tá, eu vou, mas só pra você saber, o C3 vai tomar uma surra por causa do
celular que ele perdeu pra te proteger, só isso.
Imã
fica em silêncio, ela realmente tinha esquecido esse detalhe e vai até os
rapazes.
—
Não precisa se preocupar com isso, Imã, a gente vai andando. — Carlito puxa o
Rui.
—
Olha... desculpe. — Imã reconhece que foi rude — Valeu mesmo.
Antes
que os meninos se afastem, Imã pega no braço de Carlito e o abraça. Drica e Rui
olham sorrindo. Um pouco mais à vontade, Carlito aproveita para anotar o
telefone da casa de Imã.
Ao
se despedirem, Drica comenta com a amiga.
—
Imã, fez bem em guardar segredo.
—
O quê? Na verdade, Drica, eu tava
pensando... — Imã fica olhando na direção dos rapazes — Talvez eu precise de
ajuda.
—
Ai, Imã, de novo isso? Você esqueceu o que quase aconteceu?
—
Não esqueço, Drica. Mas, eu preciso fazer alguma coisa.
—
Olha amiga, tem coisas que não dá pra envolver mais ninguém.
—
Eu sei, Drica. Todo dia eu penso nisso...
Imã
chega na portaria do prédio, o condomínio é fechado e seguro, por isso se sente
segura para refletir sobre o que aconteceu na praça. “Talvez a Drica tenha razão, mas preciso de ajuda.”
No
dia seguinte, Imã e Drica procuram os rapazes na saída da escola, mas só
encontram Rui.
—
Cadê C3?
Rui
fala distraído.
—
Ah, ele vai ficar uns dias sem vir.
—
Ué, por quê? — Imã fica preocupada.
—
Certamente deve ter apanhado do pai, por causa do celular e tá com vergonha de
vir. Pelo menos até as marcas sumirem.
Rui
revela que a vida de Carlito não é fácil, o pai alcoólatra, sem emprego fixo e
a mãe é uma viciada em redes sociais de internet, não sai do telefone e
notebook. Como a vida deles é difícil, qualquer gasto é punido severamente,
muitas vezes com uma surra. C3 é o mais velho dos 3 filhos e sobrecarregado de
afazeres. Imã fica mal por se sentir culpada pela situação e estranha o
comportamento distraído de Rui.
—
O C3 é seu amigo e parece que você não se importa.
—
Vocês acham que é a primeira vez? Já tô acostumado, mas não esquenta, é só na
hora que eles se descontrolam, acho que o vício destrói alguns neurônios e os
pais deles não vão nem lembrar o que aconteceu.
Drica
também fica constrangida.
—
Mesmo assim você devia ser amigo dele. Podia ao menos ligar pra saber se ele tá
bem.
—
Ligar como? Ele perdeu o celular. Olha, vocês deviam ver o dia que ele apanhou
de arame, tem cada marcão nas costas... mas, e aí, o que vocês querem com a
gente? Trabalho de pesquisa, fazer cartaz...
Imã
e Drica estão arrasadas demais para entender as insinuações de Rui.
—
Hã? O quê?
—
As meninas só nos procuram quando é pra fazer algum trabalho de aula. Normal.
Imã
se recompõe.
—
Primeiro vocês precisam melhorar essa autoestima, esse comportamento de homem
babaca não vai ajudar ninguém e segundo, eu quero conversar com os dois juntos.
—
É por causa das cirandas? A gente não falou nada pra ninguém, juro. Eu e o C3
já somos taxados de malucos, falar sobre isso só ia piorar nossa reputação.
Ninguém acredita na gente mesmo.
—
Quando o C3 aparecer a gente se fala. Até lá bico calado, tá?
Rui
passa os dedos nos lábios como se estivesse fechando o zíper, se despede das
meninas e sai correndo sozinho. Imã e Drica observam até dobrar a esquina.
—
Não imagino como ele conseguiu sobreviver até essa idade. — Drica desdenha.
Na
semana seguinte, finalmente Carlito retorna às aulas e Imã o encontra na saída.
—
Oi Imã, o R2 me deu o recado.
A
menina para um instante para conter a forte emoção assim que viu o amigo.
—
Como você tá?
—
Tô bem e você?
A
postura descontraída de Carlito torna a situação mais difícil ainda.
—
Eu queria me desculpar por você ter perdido o celular.
—
Ah, não esquenta. A gente vive numa cidade perigosa, isso é mais normal do que
beber água.
—
Mesmo assim, sinto que fui responsável por tudo ruim que te aconteceu.
—
Imã, não esquenta, já disse. Fala o que você precisa.
Drica
e Rui chegam também.
—
Tô com um problema e gostaria da ajuda de vocês. Vamos pro trailer, preciso de
tempo pra explicar o que tá acontecendo.
O
ponto de encontro fica entre a escola e o condomínio das meninas. Geralmente,
nos intervalos dos turnos escolares, o trânsito de alunos é intenso, mas
rápido. Os quatro separam a mesa para um canto a fim de conversarem. Imã fala
em tom mais baixo.
—
Lembram das cirandas?
—
A que você pediu pra gente esquecer? — Rui ironiza e leva um chute na canela.
—
Pô, é pra levar a coisa a sério. — Drica encara com firmeza.
—
O R2 fica meio idiota quando tá tenso, mas pode falar que ele vai se comportar.
— Carlito garante.
—
Algum tempo atrás eu e meu avô fazíamos umas viagens...
—
Já sei, vocês viajavam através de mundos de realidades paralelas e ele usava
aqueles objetos... ui! — Rui leva outro chute na canela.
—
Dessa vez ele tá certo C3. Eu e meu avô usávamos as cirandas para atravessar
portais e transitar entre mundo fantásticos, só que na última vez que isso
aconteceu ele ficou preso em um mundo, que chamamos de Emityma e me deu elas.
Ele usava pra viajar, só que eu não sei como. Quando o R2 se abaixou pra pegar
um deles aconteceu aquele lance, algo que nunca tinha acontecido antes. Daí que
eu preciso entender o que aconteceu, voltar para resgatá-lo e queria a ajuda de
vocês.
Rui
levanta a mão, Imã consente.
—
Diz uma coisa, quando o seu avô ficou preso?
—
Já tem alguns anos.
—
E ele ficando lá não é melhor do que essa vida nojenta que a gente vive?
Drica
resolve falar também.
—
O vô Táquio sempre protegeu a Imã e ele contava histórias maravilhosas. Talvez
ele esteja melhor que a gente, mas é só o espírito dele que viaja nesses mundos,
o corpo dele tá ficando aqui nessa realidade, sob cuidados médicos.
—
Eu já tentei explicar pro papai que o vô Táquio só precisa retornar do mundo
fantástico pra ficar normal, mas...
—
Eles acharam que você estava enlouquecendo por causa do trauma de separação. —
Carlito divaga.
—
E a Imã quase foi internada no hospital psiquiátrico. — Drica também ajuda a
amiga.
—
Caraca! Que maneiro! — Rui parece que está assistindo a um filme, até que
entende a situação. — Quero dizer, é uma pena que seu avô esteja desse jeito.
Mas, pô, isso dá um baita roteiro de filme. Ui!
—
R2, vamos manter o foco. — Carlito controla o amigo.
Rui
esfrega a canela e respira fundo e cerra o semblante.
— Olha, eu entendo tudo o que você disse e até acredito nesses lances de outras realidades, mas se você tá dizendo que faz muito tempo, tipo o quê? Anos? — Imã e Drica concordam — Pô, desculpa o que vou dizer, mas o seu avô já tá morto faz tempo.
M. P . Cândido
Elenco Imã vô Táquio Rei Gjorgy maga Cuca Tiana Rui Carlito Drica Tudão Cerol Renê Zara Ema Utah Sári Vento Participações Especiais Gualbe Beron Zebu Melo vó Nácia Tema Boom Boom Pow Intérprete The Black Eyed Peas
Carlos Mota
Bruno Olsen
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