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Crônicas do Despertar - Fortaleza Perigosa: 4x01

Série de Jonnathan Freitas
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PRÓLOGO 01


Década de 1960. Brasil. Um jovem cabeludo em pé de frente a um espelho, de olhos fechados, recita uma oração em voz baixa numa língua estranha. Repentinamente, abre os olhos que agora estão com as pupilas vermelhas e bate a testa contra o espelho. Cai por sobre almofadas que estavam espalhadas pelo chão.

As pupilas voltam a sua cor normal e a rachadura do espelho embebe o filete de sangue deixado pela testa cortada e desaparece aos poucos. O espelho logo está novinho em folha. O jovem acorda com um sorriso natural e prova do sangue descendo do lado do rosto. Pega seu caderno ao lado e começa a escrever mais uma canção, logo estará compondo uma música com seu violão Gianini que estará fazendo muito sucesso entre os revolucionários nestes tempos de ditadura.

Alguém bate a porta. Um jovem negro entra e diz:

- Está tudo pronto, Caetano? Ele fez contato novamente?

- Oh meu rei, dessa vez foi ainda melhor, não sabe? E Você vai gostar muito dessa letra, Gil.

- Vamos dar para os jovens despertos dessa vez. Eles estão trazendo novidades com a tal guitarra.


PRÓLOGO 2

O garoto perdido


Estava frio e escuro. Saio da cabana abandonada. Um monte de tábuas velhas com buracos de ratos e reentrâncias por onde adentram raios de luz do luar. Uma grande lua cheia lá fora.

Estava esplêndida, e banhava toda a floresta a minha frente com aquela opaca claridade de beleza que estranhamente me causou calafrios.

Não queria ver o que estava prestes a ver. Ele veio ao longe da estrada escura que entrecortava a paisagem. Vinha correndo com toda a velocidade que só uma criatura magnífica como aquela poderia alcançar.

Mesmo com medo me aproximei espantado ao vê-lo de perto enquanto ele diminuía o trotar ao diminuir a distância que nos separava.

Incrível! Era um lindo cavalo de olhos vermelhos brilhantes e tinha a pele ardendo em chamas. Seu comportamento era natural com o fogo, não demonstrando nenhuma dor.

Ele se aproximou e eu senti o calor de suas chamas quando levantou suas patas dianteiras em minha direção ao mesmo tempo que relinchava alto.

Mas antes que seus cascos ardentes como lava tocassem minha cabeça, de dentro de sua alma veio uma voz dizendo:

- Está na hora de despertar, Colin!

E eu acordei num pulo, sentindo o peito quase explodindo.

Já era a terceira vez que tinha o mesmo sonho.

O que será que ele quis dizer?


PRÓLOGO 3

O garoto da periferia


Estava correndo como um louco. Lá na rua a gente dizia que quando se corre assim é porque corre tanto que as pernas batem na bunda.

Cara, estava a mil por hora.

Tinha uns caras de facção do bairro correndo atrás de mim e eu escutava tiros pra cima e risadas.

Atravessei a avenida que cruza o bairro e leva até o Bairro José Walter. Entrei noutra rua escura, vi a entrada de um terreno. Não pensei em outra, entrei correndo.

Suava cansado e em desespero. Era a merda do meu fim. Quando cheguei no muro no final do terreno escutei o tiro e a bala acertar o muro perto de mim.

- Para, pivete. Tá pensando que o nego é otário?

Escuto a ordem e paro quase chorando.

- Eu não fiz nada, irmão. Também sou da quebrada. Me dispensa aí, vai lá?

Me viro devagar e a pistola está apontada para a minha cara. Não vejo direito o rosto do Filha da Puta.

- Tu vai morrer e é agora, elemento!!

Ele puxa o gatilho. A bala sai em minha direção. Vejo tudo em câmera lenta. 

Mas no meio da trajetória, a bala é impedida por uma criatura flamejante, um pássaro gigante. Uma... Fênix!!

O pássaro de fogo se coloca no meu caminho e não só impede a bala como também ataca os meus inimigos incinerando seus corpos e acabando com suas vidas como se fossem bonecos de pano.

A ave deve ter uns dois metros e meio de altura e a envergadura de suas asas é enorme também. Ela se volta para mim e me cobre com suas asas ardentes e antes que eu perceba estou no meio de suas chamas. Estou pegando fogo dentro daquele pássaro.

Então uma voz de dentro dela diz:

- Você é muito mais do que pensa. Desperte, Márcio. 

E eu acordo assustado. Mais uma vez a merda desse sonho.

Mas agora é hora de levantar e ir pra escola.




4x01 - ENCONTRO NADA CASUAL

Márcio Oliveira, 16 anos, negro nascido da periferia de uma capital nordestina. Ama livros e história antiga. Estuda numa escola estadual de ensino médio e sonha em ser professor universitário. No período da tarde está estagiando num programa para jovens em repartições públicas. Ele está na secretaria de educação e de vez em quando precisa pegar ou levar documentos para escolas ou faculdades.

O jovem fortalezense costuma usar suas comuns calças jeans, uma camiseta com estampa do anime Naruto ou Harry Potter, e seus tênis azuis gastos. Sem falar da inseparável mochila que sempre tem um lanche ou algo pra ler. Usa óculos redondos e ainda tem a mania de ler no busão, em vez de enfiar a cara na tela do smartphone como os outros adolescentes.

Na tarde daquela fatídica quinta-feira ele está indo para a Praça do Ferreira no centro da cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará. Vai passar numa faculdade para pegar alguns documentos e então, enquanto caminha pela praça movimentada de pombos, pessoas e barulho, se depara com uma linda garota de olhos castanhos. Beldade encantadora mais ou menos da sua idade e que mexe indisfarçadamente com seus hormônios.

Sente imediatamente algo diferente quando olha aquela garota, algo tipo uma conexão. 

** 

Colin Aragão Smith, 17 anos, nascido em Boston, filho de uma mãe brasileira e um pai norte-americano. Sempre aprendeu a falar português com a sua mãe, mas nos últimos seis meses ficou ainda mais importante a língua desde que seus pais se separaram e Colin voltou com a mãe para o Brasil.

Adolescente sensível que tenta passar despercebido nesta terra nova, está usando uma camiseta branca de gola V embaixo de uma camisa xadrez escura, calça jeans e tênis com listras.

O jovem está sentindo muita falta de seus amigos e parentes americanos. Não aguenta mais as crises de ansiedade numa nova vida ao qual foi jogado com a separação dos pais. Teve que matar aula de novo e resolveu ir no centro da cidade comprar material para suas pinturas e esculturas que gosta muito de fazer para passar o tempo.

Logo quando chega na tal Praça do Ferreira, encontra alguém que lhe chama a atenção. Uma garota de olhos castanhos e mechas pintadas de lilás no final dos cabelos negros. Ela usa um short jeans preto desfiado nas pontas, uma camiseta cinza clara com um desenho místico no centro, uma jaqueta preta amarrada pelas mangas na cintura e um tênis All Star preto. 

** 

Marcio e Colin em pontos diferentes da praça olham para a linda garota misteriosa quando de repente escutam alto, como estando de fones de ouvido no último volume:

- “Eu quis cantar, essa canção iluminada de sol...” 

Uma canção alta e quase ensurdecedora agita seus tímpanos num susto, os fazendo perder a atenção até agora demonstrada e até mesmo a noção de onde estão.

Em poucos instantes recuperam a lucidez com a estranheza de quem escuta coisas que outras pessoas não conseguem audir. Miram então o local onde estava a garota e ela não se encontra mais lá. 

No quinto andar de um prédio das cercanias daquela praça, numa janela de umbrais antigos, a garota de olhos castanhos e pontas lilases no cabelo está olhando para a Praça do Ferreira. A seu lado se encontra um homem negro de seus 50 anos sentado numa cadeira de rodas.

- Eles escutaram a canção?

- Sim. Como lhe falei que iria acontecer.

- Você tem certeza que são eles?

- Por Hermes, claro que tenho. Squalo me revelou que eu encontraria dois ainda adormecidos com avatares de fogo. Senti a energia deles assim que pisaram nessa praça, Arthur.

- Me preocupo com você. Tome cuidado, Ravena. São apenas crianças como você... e ainda por cima nem despertaram. Se é que irão um dia...

- Para de ser pessimista, Sr. Cavalcante. A gente vai conseguir. Acredito no potencial deles.

- Então traga-os aqui. Vamos ver se você está mesmo certa. 

Quando Colin e Márcio chegam ao local onde a garota estava parada acabam se encontrando e se encarando. De algum modo, os dois tem uma leve sensação estranha de uma certa familiaridade. Como se já se conhecessem nessa ou em outra vida.

Marcio decide seguir seu caminho e Colin esboça fazer o mesmo, pronto para se afastar, quando de repente a tal garota aparece.

- Estão me procurando?

Os garotos se viram e olham para ela com uma expressão de surpresa e vergonha, como se tivessem sido flagrados fazendo algo errado.

- Parem com essas caras de bunda, seus manés. Quero falar com vocês sobre os sonhos estranhos que estão tendo. Me sigam. – Fala Ravena se virando e caminhando em direção a um prédio ali próximo.

- Espera aí, moça. Quem é você e como você sabe sobre meus sonhos? – Indaga Márcio.

- Também não estou entendendo nada. Como você sabe sobre mim e pra onde está querendo me levar? É algum golpe? – Pergunta Colin por sua vez.

Ravena para e se vira para encará-los: - Nada disso. Só vou ajudar vocês a encontrar respostas. Ou querem ficar para sempre em dúvidas sobre si mesmos e seus sonhos?

Os rapazes se entreolham e fazem um gesto espontâneo de como se não tivessem o que fazer. Então seguem Ravena em direção a uma entrada ao lado de uma loja para subir uma escada antiga.

- Por que você não nos mandou a real lá embaixo, gatinha? – Pergunta Marcio já esbaforido com a subida de escadas.

- Porque não sou eu que vou lhe dar muitas informações, vai ser Arthur.

- Espera aí, e quem é esse Arthur? – Questiona Colin.

- Logo vão saber. Chegamos. – Fala Ravena abrindo uma velha porta.

Série de
Jonnathan Freitas

Elenco
Caleb Mclaughlin como Márcio Timothée Chalamet como Colin Jenna Ortega como Ravena Morgan Freeman como Arthur Cavalcante Tema Cloud Nine Intérprete Hayden Folker
Direção
Carlos Mota

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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