FADE IN:
1. EXT/SAARA/LUXOR/DIA-ENTARDECER
MAKTUB I (Marcus Viana). Areia voando. Desfoque de
mormaço. Patas de camelos cruzam a cena. CARAVANA DE BEDUÍNOS cruzam o deserto
com bagagens, carros e animais. TAKES da travessia. MALIK de rosto encoberto
desce do camelo e segue até o cume apoiado em um cajado. A CAM o segue por
trás, avança em panorâmica e revela uma cidade à beira do Rio Nilo (Luxor).
CLOSE: Descortina o rosto e revela MALIK.
MALIK
(obcecado)
Armem as tendas. Suspense.
2. INT/CASA DE NEMEWÁ/ANOITECER
Rapaz se curva diante o
General e SAI. Suspense.
NERFIRI
(pensativa)
Não vá!
Pense! (Se aproxima dele) É a vossa oportunidade, filho!
Segura o rosto dele entre
suas mãos.
NEMEWÁ
O que
tens em mente?
NERFIRI
Deixe que
eu lhe fale. (T) Ele tem de o reconhecer. És o herdeiro legítimo!
NEMEWÁ
(chateado)
Mas, não
o eleito...
NERFIRI
Mas,
será! (T) Nem que me custe a vida, Nemewá.
Silêncio. Ele empurra as
mãos dela e as beija.
(Cont’d) Buscarei o que é teu.
Apressada, se enrola num véu. Ruma sentido à porta.
3. EXT/RUAS DE LUXOR/ANOITECER
Suspense.
CAM segue NERFIRI pelas ruas. Figuração ativa. Passa por adultos e crianças
comendo nas portas de suas casas. Escravos em fila conduzidos por militares.
Para diante do palácio e desenrola o véu. Olha deslumbrada e respira fundo.
Aproxima-se da guarda e se apresenta. Permitem a entrada. Ela pisa na porta e
olha para trás furtivamente (close).
4.
INT/CASA DE NEMEWÁ/NOITE
NEVERA
pega água de um jarro de barro. NEMEWÁ sentado numa banqueta perdido no tempo
com olhar ao longe. NEVERA se aproxima; conversa furtiva.
NEVERA
Deixe-a
resolver as coisas. Tua mãe sabes o que tem de fazer, sobrinho.
NEMEWÁ
Não me
parece o momento adequado. Não quero ter que ser o carrasco de minha própria
mãe. Adultério é crime.
NEVERA
Ela não
cometeu adultério algum. Sempre fora solteira. Ele sim, é o criminoso! Quem tem
de pagar é ele!
NEMEWÁ contrariado.
(Cont’d)
Deixe-a! Nerfiri é sagaz feito um feneco. Ela resolve.
NERFIRI
(V.O.)
És
teu filho!
5. INT/SALA
DO TRONO/TORRE/NOITE
TRAVELLING IN pelo salão
durante o diálogo entre o ANOUNAK e NERFIRI revela ANTHIEPT ouvindo a conversa
escondida.
NERFIRI
Sabes que
tem o mesmo direito ao trono que Anthenoken. É o mais velho. Deve ser
considerado o herdeiro invés de ser renegado.
ANOUNAK
(imponente)
Dei-lhe o
poder ao que me há de mais caro e importante neste reino. Ele é o general e
está entre os meus mais fiéis sacerdotes deste reino.
NERFIRI
Sacerdote!
General! Se podes ser Faraó? Ele não tem culpa de nosso passado.
ANOUNAK
Escolheste
tu por ele, tal destino. Negou-me envolvimentos quando a procurei. Medo de
reprimendas e punições?! (T) E, pensar que um dia estive disposto ao divórcio!
ANTHIEPT segura o choro com
a mão na boca.
(Cont’d.)
Me encantei por teus caprichos. (sincero) Noites pensando em ti ao meu lado,
mesmo deitado ao lado de Anthiept. Eras tu, em meus pensamentos.
ANTHIEPT lacrimeja e SAI
pisando em ovos sem ser notada.
(Cont’d) O tempo calou esse
desejo.
NERFIRI
Continuei
desejosa de ti, Anounak. Mas, não poderia correr o risco de ter a morte como
punição; deixar meu filho órfão, às minguas.
ANOUNAK
Quem
atreverias acusar o Faraó de traição sem antes ser punido? EU; a própria reencarnação
de Rá! (escroto) O tempo fez-me descobrir que não vales o sal. Fiz bem manter
meu Anthiept viva. Tudo foi interesse, trama; hoje, sei!
NERFIRI
Tens
razão. O tempo derrubou as mentiras. Poupei-me de deitar ao lado de um traidor
que não respeita a esposa. (T) Onde estive com a cabeça? Preferi mulheres a ti.
Elas, sim, me deram prazer; o de ser única. (provoca) Algo que jamais foste
capaz. Mesmo que um homem poderoso!
Tumulto
e correria em outros cômodos. ANOUNAK se coloca de pé e exasperado.
ANOUNAK
O que se
passa aqui?
TRANSEUNTE
(da porta)
Convocação
do General e do príncipe para afrontar os beduínos além das fronteiras de
Luxor.
TRANSEUNTE SAI. Tensão.
ANOUNAK preocupado.
NERFIRI
Avisar-lhe-ia,
acerca disto... Porém, o meu filho é prioridade. (T) Anthenoken não é dado às
artes da guerra, pode ser que não volte. Seus netos ainda são crianças... Logo
o herdeiro legítimo, tem mais chance de voltar vivo. (T) Seja sábio; pense nisso: o assuma!
Se
aproxima de ANOUNAK bem próximo ao ouvido. ELE desconfiado.
(Cont’d) Um
conselho: tire Anthiept do caminho, antes que ela o faça; por vingança, ao
descobrir que o general da guarda, és na verdade, um privilégio dado ao filho
fora do casamento. Uma mãe não suportaria ver o seu perder o trono ao outro.
(T) E, respondendo a sua pergunta sobre a delação: uma rainha poderia acusar,
sim, o faraó de adultério e ainda assumir o trono em seu lugar... assim que
souber de tudo!
Se encaram desafiadoramente.
ANOUNAK
Não seria
capaz!
NERFIRI
Não tenho
mais a perder além do que já perdi.
NERFIRI sorri dominante.
Tensão. SAI.
-- TORRE:
ANTHIEPT
aparece apressada e debruça na torre olhando a correria do alto. Em lágrimas de
ódio:
ANTHIEPT
(para
si)
Não aceitarei esta afronta!
Close:
Irada, limpa as lágrimas e olha para o movimento com desdém. CAM localiza, do
alto, NERFIRI a correr na multidão.
6.
INT/CASA DE NEMEWÁ/NOITE
NEMEWÁ pega uma espada.
NEVERA o segura pelos braços.
NEVERA
(baixo)
Faças o
que tem de ser feito! Ele não precisa ver quem o atinge. Nem sentir. Seja
rápido e indócil!
NEMEWÁ contrariado a encara.
(Cont’d)
Grandes homens constroem o próprio destino, Nemewá. Seja grande, meu sobrinho!
NEMEWÁ
SAI firme. NEVERA se lança à porta e espia preocupada.
7. EXT.
FACHADA DO PALÁCIO – NOITE
ANTIEPTH, ao lado de ZAHRA, abraçam ANTHENOKEN.
ZAHRA
Maus presságios sobre, Anthenoken.
ANTHENOKEN
Limpe o coração e eleve o pensamento aos deuses! Apenas
deseja-me o próspero, Zahra.
ANTHIEPT
Zahra tem
razão, filho! Não dê as costas ao azar. Cuide-se. (joga) O que nos destrói,
está no meio de nós.
ANTHENOKEN
Desconfias
de quem, minha mãe?
ANTHIEPT
Não
desconfio, apenas não confio. O exército é fraco com Nemewá à frente. És o
príncipe, tome, tu, a rédea se preciso.
ANTHENOKEN
(incrédulo)
Não vejo pessoa melhor para cuidar
do batalhão. És um homem fiel, fomos criados juntos!
ANTHIEPT
(apreensiva)
Mesmo assim, não facilite. Que Ptá
o proteja, filho meu!
ZAHRA
(emocionada)
Que os olhos que Hórus, que a tudo
vê, esteja em vós, meu esposo, amado e querido.
ANTHENOKEN incomodado com a
declaração beija a testa de ambas e se afasta rumo a um grupo de soldados.
ANTHIEPT
(discreta)
Desconfias de algo?
ZAHRA
(pensativa)
Não... Apenas não confio!
Por trás delas, a CAM
desfoca e revela ANTHENOKEN feliz ao abraçar NEMEWÁ. Eles sobem na carruagem. Estalos
do chicote e SAEM seguidos pela cavalaria.
8. INT/CASA
DE NEMEWÁ/NOITE
NERFIRI adentra batendo a
porta. FX: Cavalaria passa do lado de fora.
NEVERA
Êxito no embuste; sem suspeitas?
NERFIRI
Sem suspeitas até onde posso crer.
Não posso dizer que fui exitosa em mudar a condição de Nemewá. (triste) Anounak
é áspero como rocha!
NEVERA
Não se perca em desânimos. As
rochas duras se desgastam ao tempo, também. Ele vai ceder. Não desista, irmã.
Suspense. NERFIRI pensativa. NEVERA sorri com maldade.
9. INT/PÁTIO DO PALÁCIO/CORREDOR/SALÃO SACERDOTAL/NOITE
SHENK e TUTANCAN entremeados
por um tabuleiro de “Cães contra Chacais”. Servos por perto com jarros e
bandejas. Outros dois os abanam com leques de plumas. SHENK, o mais velho,
forte, másculo e musculoso, mexe uma das peças e sorri vitorioso. Pensativo e
acuado, TUTANCAN, o irmão mais novo, de porte mirrado e afeminado, move uma
peça e sorri de canto de boca revirando os olhos.
TUTANCAN
Nem sempre o mais velho é o mais
esperto. É preciso ter olhos de águia para ver soluções. E, eu, os tenho.
ANOUNAK passa ao fundo. SHENK sorri.
SHENK
É preciso ter estratégias e
sabedoria para a vitória; não esperteza.
Mexe uma pedra e sorri
vitorioso. Num ataque de fúria TUTANCAN, joga tudo para o alto de forma
histérica.
TUTANCAN
Roubaste!
SHENK
Não. Usei de estratégia para que
movesse aonde eu quis. É legítimo!
TUTANCAN vai à ANOUNAK e segura o avô pelo
braço.
TUTANCAN
Meu sábio avô, Shenk, roubou no
jogo. Precisa castiga-lo.
SHENK
Não o fiz! Usei de estratégias.
Tutancan não aceita a derrota, meu sagrado avô! Quer tudo do jeito dele! Quer
que o mundo se curve a ele, mas, não está preparado para aceitar a derrota.
TUTANCAN
(altera-se)
Roubaste, Shenk! És desonesto!
ANOUNAK
(irado)
Chega! Tenho problemas maiores para
resolver! (à Tutancan) Respeite teu irmão. Ele é o mais velho, sabes o que faz!
Aprenda com ele.
SAI. TUTANCAN encara SHENK, puxa um dos SERVOS
pelo braço e SAEM. ZAHRA ENTRA e acolhe o SHENK nos braços.
ZAHRA
Ouvi a contenda. Seu irmão ainda é
muito jovem, precisa relevar esses ataques. És o mais velho. Deves ser
centrado. Um dia, serás o Faraó!
SHENK
E, ele, precisa se controlar, mãe.
É muito impulsivo. Não pode achar que tudo e todos são extensão ou mesmo a
propriedade dele.
-- CORREDOR:
Ato acontece durante o
diálogo: TUTANCAN empurra o SERVO#1 na parede e o beija. Depois tapa a boca do
mesmo e gesticula silêncio com um dedo na boca. Abaixa-se E deixa o servo nu.
Simulação de sexo oral.
SHENK
(V.O.)
Respeito é uma condição para alguém
em sua posição. Ele não se dá e nem a mim. Parece que nem somos irmãos.
ZAHRA
(V.O.)
Tutancan precisa ser compreendido. Contrariado,
busca a satisfação de outras formas. Não percebe o mal que o comete a si e à
todos. Ainda é jovem, imaturo!
SHENK
(V.O.)
Será? Só consigo enxergar uma
característica muito ruim de sua personalidade.
-- SALÃO SACERDOTAL:
ANOUNAK atravessa o salão e para de frente a
uma fonte de ouro. Debruça e lava o rosto. Reflexo do ouro. Está triste e
preocupado. Suspense instrumental.
NERFIRI
(V.O.)
“Tire
Anthiept do caminho, antes que ela o faça”...
10. 10. INT/CASA DE NEMEWÁ/NOITE
NERFIRI e NEVERA preparam massa sobre a mesa.
Tensão.
NERFIRI
Era como se estivesse lá. Se,
porventura, ouviu ao diálogo, nada ficará como está. Dias ruins virão!
NEVERA
O que importa é a semente plantada,
minha irmã. Nemewá poderá vir a se tornar o herdeiro eleito. Não te contentas?
NERFIRI
(apreensiva)
Apenas por isso. De resto... (T)
Temo pelos rumos que as nossas vidas podem tomar. A rainha é vingativa!
NEVERA, enigmática. Suspense instrumental.
11. INT/TEMPLO DE OSÍRIS/NOITE
Iluminação dada pela
fogueira num fosso ao chão. ANTHIEPT irada se movimenta inquieta pelo salão.
SETNIAK, sentado. Tem os dois olhos brancos, segura um cajado de madeira de
apoio com ornamentos em pedrarias. Homem com toque de anormalidade.
ANTHIEPT
Não posso aceitar a traição! Vós
que sois o sábio e conselheiro. Segredas meus desejos se os contar?
SETNIAK
Não se faz necessário contar. Os
vi!
Gesticula com dois dedos em direção aos olhos.
ANTHIEPT
(ansiosa)
Devo tomar um rumo quanto a isso,
adivinho Setniak? O que dizeis?
SETNIAK
Nada que lhe disser mudará tua mente.
Kitab haya! Escrito na vida, está!
Estica os braços na direção
da fogueira com gestos místicos.
(Cont’d) As sombras dizem que reinará
poucas horas por causa do orgulho ferido que a move à loucura. (T) Vejo o nub!
Caído aos teus pés implorando por algo que não podes mais desfazer! (pesaroso)
O quer morto para sentir-se vingada, senhora.
ANTHIEPT
Com toda a força do meu coração, é
o que mais desejo, Setniak.
Instrumental árabe de suspense. Nela. Tensão.
12. INT/SALÃO SACERDOTAL/NOITE
Suspense. ANOUNAK chora diante da fonte. Lágrimas fundem na água.
13. INT/MONTANHAS/NOITE
Suspense perpassa. NEMEWÁ
caminha entre soldados observando o silêncio de todos. ANTHENOKEN se aproxima
apertando o peito.
ANTHENOKEN
Sinto mal presságio. Algo que não
sai me sai da mente. Minha mãe me disse algumas palavras antes de partirmos.
NEMEWÁ
E, o que disse a Rainha?
ANTHENOKEN
Algo em torno de... traição.
ANTHENOKEN engole seco.
(Cont’d) Diz que podemos ser
traídos. Que pode nos ser de alguém próximo.
NEMEWÁ
Nenhum homem deste exército seria
capaz de um ato tão sujo! Todos amam ao Faraó. Anounak é... (com dificuldade)
um pai... Para todos.
ANTHENOKEN
(persiste)
Não sei o que pensar. Ísis pode ter
assoprado algo em seu ouvido. Minha mãe é uma mulher devota e, agora, o sopro me
importuna. Não seria melhor abrirmos os olhos para a possibil/
NEMEWÁ
Não! (taxativo) O príncipe me
perdoe, mas, não há essa possibilidade.
ATHENOKEN o encara. NEMEWÁ enfrenta com olhar.
SOLDADO se aproxima e quebra o clima tenso.
SOLDADO #
(à Nemewá)
Estão em poucos e neste momento,
apenas dois guardam as tendas.
NEMEWÁ
(à todos)
No meu comando, nos aproximamos do
oponente.
Suspense. ATHENOKEN retorna de onde veio. NEMEWÁ apreensivo.
14. INT/SALA DO TRONO/NOITE
A cena é conduzida por
música de mistério instrumental com coro vogal. ANTHIEPT ao trono. Altiva, olha
para seu entorno e acaricia ao trono como se curtisse o seu momento “rainha”.
ANOUNAK ENTRA e surpreende-se. A cena deve ser marcada por um conflito
implícito através da tônica do diálogo.
ANOUNAK
Anthiept! O que faz... no trono?
ANTHIEPT
Quis experimentar a sensação disto.
O poder que ele nos traz. Afinal, como rainha nunca estive nesta posição.
ANOUNAK
Como se sente ao desfrute soberano?
ANTHIEPT
Muito bem! (provocante) A sensação
de poder deste assento é inebriante!
Tensão.
(Cont’d) Fico me perguntando,
porque nunca quis ter estado aqui antes. Se isso é apenas um monopólio másculo.
(T) Ou, se... nunca me quiseste aqui?
Suspense.
15. INT/CASA DE NEMEWÁ/NOITE
Batidas à porta. NERFIRI
abre a porta e se surpreende com um SERVO#2.
NERFIRI
O que queres a esta hora?
SERVO#2
Venho à mando real. O Nub quer lhe
falar, senhora. Pede rapidez e discrição.
Suspense. NERFIRI preocupada.
16. INT/SALA DO TRONO/NOITE
ANOUNAK se aproxima de NERFIRI. Clima tenso
ANOUNAK
Levante-se, Anthiept!
Ela obedece e se levanta. Ele toma o seu assento
no trono.
(Cont’d) O trono pertence aos
bravos, aos sóbrios e por fim, aos homens. Ser faraó é uma predominância
masculina.
ANTHIEPT
Outras mulheres governam em outras
cidades; possuem reinados prósperos. Com isso, entendo que pensas que sou
incapaz. Talvez, por isso, nunca tenha me deixado participar em decisões.
ANOUNAK
Isto é suposição. Não o falei de
ti.
ANTHIEPT
Por um instante pensei que não me
quisesse por perto. Que o amor que sentias por mim, depois de todos estes anos
ao vosso lado tivesse findado.
ANOUNAK
Acabar o que não se começou! Como?
ANTHIEPT com os olhos repletos de lágrimas.
(Cont’d) Tenho que respeitar o que
sinto e a ti. Nunca amei... ninguém! Acreditei ter me apaixonado. E, depois,
descobri que a paixão é como fogo crepitante e ardente que nos consome e some...
como fumaça! Os desejos mudam de direção. (enfático) O tempo todo!
ANTHIEPT
(lacrimejando)
Seja sincero! O que sentiste por
mim nesta reencarnação, Anounak.
ANOUNAK
(pesaroso)
Não sei o que senti. Agora, mais
maduro, sei que não é e nem foi amor.
ANTHIEPT
(furiosa)
Se não amou a mim, amou a quem?!
Não esconda os sentimentos! Quero a luz da verdade diante de mim. (T) Por
Osíris, diga-me a verdade sobre o amor de tua vida nesta encarnação? Quem é ela?
ANOUNAK
Este trono! O poder! Depois, meu
filho e meus netos. (T) A ti, sou grato pela devoção, apenas. Uma amiga fiel...
ANTHIEPT
(histérica)
Mentira! Mentira! Quem é ela?!
Suspense.
17. EXT/DESERTO/NOITE
Suspense se estende.
Soldados rastejam nas areias. Atrás, o príncipe ATHENOKEN em posição mais
segura. Soldados param e se posicionam estrategicamente atrás de uma alta duna.
CAM se locomove de trás e sobrevoa para a frente do grupo revelando o
acampamento beduíno.
NEMEWÁ, nervoso, limpa a mão
suada nas vestes. Tensão. O desfoque revela ATHENOKEN a lhe observar.
NERFIRI
(V.O.)
Sinto o cheiro de tragédia.
18. INT/CASA DE NEMEWÁ/NOITE
NERFIRI se enrola no véu com
a ajuda de NEVERA. Tensão.
NEVERA
Deixe de medo! Está a alguns passos
de conseguir o que sempre desejou.
NERFIRI
Eu sei. E, isso vai mudar muita
coisa. Muitas vidas serão destruídas por tais acontecimentos.
NEVERA
Apenas viva esse momento!
NERFIRI
(pesarosa)
Tens razão. Deseje-me boa sorte.
Abraçam-se emotivamente. NERFIRI SAI em slow-motion sob cânticos e instrumental.
19. EXT/DESERTO/NOITE
Suspense. MALIK passa enrolado com véu pela
cintura de uma tenda a outra. CAM passeia na areia até revelar o exército
egípcio armado e atocaiado na areia. Estão lado a lado NEMEWÁ, um SOLDADO# e
ATHENOKEN.
SOLDADO#
Aquele; é o chefe do bando.
NEMEWÁ
Vou tentar surpreendê-lo. Ao meu
comando vocês descem e atacam.
Levanta-se para sair e ATHENOKEN o segura pelo
braço.
ATHENOKEN
Vou em seu lugar.
NEMEWÁ
Não! Eu sou o general. Esta é a
minha função.
ATHENOKEN
E, eu o sucessor do Faraó.
Tensão.
(Cont’d) Estou tomando as rédeas de
nossos destinos antes que o reinado de meu pai possa ser traído. (T) Não ouse
me impedir!
Suspense. NEMEWÁ se desvencilha; à contragosto oferece gentil e ironicamente para que o príncipe siga. ATHENOKEN desce as dunas furtivamente e caminha até uma das barracas. Abaixa-se entre os carregamentos diante os grunhidos dos animais. Beduíno# passa armado por ele sem o notar.
20. INT/SALA DO TRONO/NOITE
ANOUNAK e ANTHIEPT retomam a discussão.
ANTHIEPT
(triscando)
Não disseste quem é a mulher pela
qual te tornaste adúltero. Quem é que teve o privilégio de ter o nub em sua
cama?
ANOUNAK
(joga)
Porque parte do pressuposto que
pudesse ser uma única? E, mulher?!
ANTHIEPT
De tão árduo, desejas os homens
também?
ANOUNAK se levanta caminha
até ela com um sorriso amarelo no rosto a fim de se esquivar da conversa.
ANOUNAK
Como lhe disse: o desejo é volátil.
Muda, se perde e se encontra em formas diversas e infinitas. (T) Fique apenas
com a informação de que nunca lhe amei. Já é o suficiente para que sofras.
Dá-lhe tapinhas nos ombros e segue para sair do
salão.
ANTHIEPT
(jogando)
Sacrifico os crocodilos aos deuses se
preciso for...
Ele para de costa para ouví-la.
(Cont’d) Mas, eu descubro o nome. A
não ser que prefira dizer-me o nome dela por tua própria boca.
Ele respira fundo e SAI.
21. INT/SALÃO SACERDOTAL/NOITE
Conversa sussurrada entre ANNOUNAK e OMAR
(Homem de idade avançada, careca).
ANOUNAK
(preocupado)
Ela sabe! Está convicta!
OMAR
Um saber recente, nub.
ANOUNAK
Sempre fui discreto!
OMAR
Discrição não basta. Devias ter
feito o certo desde o início, Anounak.
ANOUNAK
Aborto? Não do primogênito! Se os deuses
não me dessem outro? Quem me sucederia? (preocupado) Será que ela sabe da
existência dele?
OMAR
Não mataste o primogênito para este
mundo, mas, não lhe reconhece como o teu filho legítimo. Quer morte mais triste
que esta, em vida?
ANOUNAK
(chateado)
Ele veio do adultério. (T) Sinto-me
perdido, Omar. Tu, que és um sábio, diga-me o que fazer?
OMAR
Dizeis a verdade! Ou espere que ela
tenha essa confirmação pelo oráculo.
ANOUNAK
Setniak?! O adivinho não revelaria-me
à rainha. Por tudo o que for sagrado!
OMAR
Deixe de ser crédulo! Olhe lá se já
não o fez! Pediste a minha opinião e a teve: diga-lhe a verdade. (T) O que
podes ela contra o rei?
ANOUNAK
Requerer a minha punição? Ou, como mulher
com orgulho ferido, atacar à Nerfiri e Nemewá.
OMAR
És o soberano de Luxor. És, em si,
a lei deste local. Esqueças a maldita ética que levou seu pai ao túmulo e não
tenha medo dela. Cuide para que não chegue à Nerfiri e Nemewá, que por destino,
deves assumir o trono quando partires. Ele é o eleito!
ANOUNAK angustiado.
(Cont’d) Sejas estratégico! Ataque
ao oponente e não serás atacado!
Suspense.
22. INT/TENDA DE MALIK/NOITE
MALIK sem roupa se banha ensimesmado.
Espada aproxima do pescoço dele. MALIK imóvel, engole seco. Aos poucos a CAM se
abre e revela a nudez do rapaz e ATHENOKEN na ponta da adaga.
ATHENOKEN
Porque ousas invadir Luxor,
estranho?
MALIK
(mente)
Somos comerciantes, senhor. Vimos
em busca de prosperar ao vender nossos produtos.
ATHENOKEN
Beduínos não são bem-vindos à
Luxor. Ao menos desta vez! Levanta-te!
MALIK obedece. ANTHENOKEN
corre os olhos pelo corpo dele.
Desce a espada até o seu
púbis com desejo hesitoso.
(Cont’d) Parece que o perigo brinca
e lhe desperta algo, estranho?
MALIK, sem pudor, o encara sedutora
e astutamente.
MALIK
Não desperta a ti, também, meu amo?
A minha crença não me permite desejar outro homem. Sou sujo diante do meu Deus,
mas, de seu povo e sua crença, não. Por isso, desejo adentrar essas fronteiras
libertinas.
ATHENOKEN
Se, eu não fosse desposado, conceder-lhe-ia
a soltura de tua gente em troca de seus favores com o corpo. (desejoso) Essa
pele alva me agrada.
MALIK
Entregue-se a mim. Ninguém saberá
de tuas aventuras. Um segredo entre dois homens é sempre um segredo entre os
dois homens.
Troca de olhares. Tensão sexual. MALIK puxa ATHENOKEN para um beijo ardente. Ele reluta e aos poucos cede. Suspense.
23. INT/SALÃO DO TRONO/NOITE
NERFIRI, enrolada no véu, tampando parte do rosto, entra sorrateira. Sem ser notada, ZAHRA observa por trás de algumas colunas. Suspense.
24. INT/APOSENTOS DO REI/NOITE
ANTHIEP, seminua degusta
algumas frutas. ANOUNAK ENTRA. E observa ela a sorrir para ele. Ela se levanta
e caminha em sua direção com volúpia.
ANOUNAK
O que significa esses... trajes?
ANTHIEPT
Não me importa que tiveste outra,
ou outro; ou outras. Compreendi que essa desventura foi minha culpa. Não fui a
mulher ideal para as tuas lascívias.
ANOUNAK
Não precisas mais fazer tal papel
se não quiseres. Está livre de tuas obrigações de rainha e mulher, à partir de
agora.
ANTHIEPT
(misteriosa)
Não quero. Quero que me prendas aos
teus desejos. Como as outras! Eu quero! Eu preciso disto, Anounak. Me tome por
sua!
ANOUNAK
Quero contar-lhe algo. Pode ser que
não queiras mais após ouvir.
ANTHIEPT
Depois! Depois contas (sensual) Em primeiro,
quero que o nub prestigie os gracejos de tua rainha. Não me negues, Anounak!
Insinua com a dança do ventre. Aos poucos ele
quase cede.
ANOUNAK
Pare! (T) Não quero tais insinuações.
ANTHIEPT
Estais tímido. Mas, vou liberar o
nub voraz que habita em ti. Quero que me devore! Como as outras! Me tome!
Ignorando as tentativas de
rejeitá-la, ela coloca uvas na boca de ANANOUK. Com o olhar fissurado pega o
copo de barro e enche cevada e leva a boca dele. Ele empurra o copo e ela
insiste. Ela vira um gole e o beija. Suspense.
ANOUNAK
Cevada com ervas! Um mel! Ao menos
disso não posso reclamar de ti como mulher, pois sabes o meu paladar.
ANTHIEPT se vira e cospe o restante furtivamente no copo enquanto dança. Vira-se de frente dançando e lhe dá uma chave de perna sensual. Deposita o copo na boca do rei olhando em seus olhos. Ele cede e bebe todo o copo com gosto enquanto a come com o olhar. Ela sorri com a satisfação da vingança. Se afasta. Suspense.
25. INT/TENDA DE MALIK/NOITE
MALIK e ATHENOKEN nus.
Respirações ofegantes e beijos. Os dois estão envoltos no ato e não notam a
presença de NEMEWÁ. ANTHENOKEN está por cima como o “homem” da relação e por,
baixo, de costa, MALIK se derretendo em prazer. NEMEWÁ leva a espada na direção
das costas de ANTHENOKEN. Contra-Plongé – close: sofrimento de NEMEWÁ absorto
em pensamento.
NEVERA (O.S.)
Ele não precisa ver quem o atinge.
Nem sentir. Seja rápido e indócil!
Suspense.
26. INT/APOSENTOS DO REI/NOITE
ANOUNAK cambaleia e cai por
cima das coisas. Grande barulho. Vomita e leva a mão ao estômago.
ANOUNAK
O que me deste? Me envenenaste!
Assas... sina!
ANTHIEPT o olha com superioridade.
ANTHIEPT
Investi uma significativa dose de
veneno tal qual a forma que que me feriste para o adormecer, adúltero!
ANOUNAK, ao chão, se contorce.
ANOUNAK
Antídoto! Pelos deuses!
ANTHIEPT
Não posso desfazer o que me pede.
Como bem disse o adivinho, Setniak: “escrito está!”
ANOUNAK
(quase em
voz)
Por... que?
ANTHIEPT
Pelo adultério. E como prioridade
de mãe, jamais deixaria que seu outro filho tomasse o trono de meu filho!
ANOUNAK começa a se debater no chão. NERFIRI
ENTRA.
NERFIRI
(surpresa)
O que fizeste?
ANTHIEPT, forte a imobiliza pelos cabelos.
ANTHIEPT
O que fizeste tu? Será esta, a
última vez que verás ao teu nub. Ou amante?
NERFIRI
(assustada)
Clemência, senhora; pelos Deuses!
ANTHIEPT
(com eco)
Guardas! Intrusa!
NERFIRI tenta esquiva. Tensão.
Guardas aparecem e a prendem.
(Cont’d) Levem-na! Essa intrusa
envenenou ao Rei!
Levam a prisioneira. Detalhe de ANOUNAK morto. Ela se aproxima e cospe sobre o defunto. Suspense instrumental.
27. INT/TENDA DE MALIK/NOITE
Retoma de onde parou. Os
guardas adentram a tenda com os beduínos prisioneiros sob espada por vários
lados Nemewá tampa Simultaneamente MALIK e ANTHENOKEN com uma pele improvisada
ao lado de uma arca por ali. O casal ANTHENOKEN e MALIK Ficam imóveis e
intimidados com o flagra.
NEMEWÁ
(rápido/disfarce)
Saiam! O príncipe está sob a mira
do inimigo!
Os soldados obedecem. Suspense.
NEMEWÁ desgostoso. ANTHENOKEN apreensivo.
CORTA PARA O:
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P R Ó X I M
O C A P Í T U L O
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JOÃO SANE MALAGUTTI
Elenco ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA
Direção
ANDERSON SILVA
BRUNO OLSEN
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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