Capítulo III – A TEMPESTADE
O aguaceiro se estendeu por cerca de sete dias. Jamais se vira tamanho dilúvio na região do Tejuco, próximo à confluência dos rios Pururuca e Grande. Após a chuva cintilante que deixara boquiabertos os tejuquenses, o caos se instalou no povoado. Troncos de árvores, rochedos e casas de tapera foram arrancados pelas rajadas de vento. A terra infiltrada pela força das águas arrastou os barrancos e as paredes de adobe, soterrando mulheres e crianças. Os telhados de capim seco e folha de palmeira se incendiaram, assolados pelos raios. Animais de criação sucumbiram, tragados pela força da correnteza que descia do Ibitira. Os moradores apavorados sentiram sob os pés os tremores de terra, dias após o desaparecimento da Acaiacá. O Capitão Veiga tentava desesperadamente restaurar a ordem.
— Ô Barbosa, sustenta cá esta parede com aquelas vigas. Manuel, traga as mulas ó gajo. Fernão, tu não me entendes? Avisa ao padre para abrigar a todos na capela. Santo Antônio há de nos prover! Zwanga, vá salvar as sacas de farinha no porão — seus gritos se perdiam entre os roncos dos trovões e de nada valiam — Zwanga, és um verme! Não me ouviste?
Muitos de seus comandados eram
mamelucos e falavam mal o português. Ele próprio, o Veiga, dominava um pouco do
dialeto tupi-guarani e de tanto tempo a comandar bandeiras, havia desposado uma
índia cativa, de nome Anahí, e com ela tivera 5 filhos, o mais velho então com
cerca de 13 anos. Possuía um escravo africano de origem angolana, de nome
Zwanga, o qual sempre o acompanhava, presente de amigos bandeirantes a subir
repetidas vezes o curso do Jequitinhonha. Era feroz com os bugres da serra, mas
cuidava de suas posses com fervor, até aquela noite.
No sexto dia após a chacina dos Puris o temporal continuava, quase incessante. Algumas poucas horas havia em que estiava, mas logo as lufadas de vento traziam novamente as nuvens densas, com a chuva voltando a castigar o vilarejo. A morada do embrutecido bandeirante resistia a duras penas, rangendo ao sabor da intempérie. Anahí advertiu seu marido, já extenuado pelos dias sombrios e pelas dezenas de mortes no povoado.
— “O sinhô num sabe o que fez.
A mãe terra tá se vingano. Orun Tutak já...”
— Cala-te ó bugra! — Veiga,
então, desferiu uma violenta bofetada ao pé do ouvido da pobre índia, que caiu
batendo a cabeça na quina da mesa de carvalho da sala. Vendo o sangue escorrer
pelo piso de madeira molhada, o capitão se aproximou... com horror percebeu o
crânio afundado da esposa, já sem vida. Seus filhos, revoltados, se atiraram
contra ele, mas não eram páreo para o português enfurecido, sendo expulsos a
pontapés.
— Malditos! Todos vocês! O que
estou a fazer aqui, neste fim de mundo, cheio de selvagens e superstições!
Sumam todos daqui! Valei-me Nosso Senhor Jesus Cristo!
— Zwanga, Zwanga, onde estás? Apareça logo maldito! — nenhuma resposta — Zwanga, te ponho a ferros, desgraçado!
Rodrigues Veiga, cego pela fúria e pelo remorso, desceu a escadaria de tábuas velhas de sua casa. Andou sem rumo pela tempestade, à procura de seus filhos e do negro Zwanga. A enxurrada de lama justificava o nome indígena Tejuco. Horrorizado, viu várias construções desabadas, de onde brotavam gemidos de dor e gritos de socorro.
— Meu Deus, meu Deus.... Zwaaaanga! Maldito seja, ó negro!
Subiu a colina até a capela de Santo Antônio, ao fim da rua principal. A construção só possuía uma torre, pois a segunda ainda dependia do envio de mais ouro para Portugal. Com certeza lá encontraria todos os sobreviventes da grande chuva, incluindo o padre Nóbrega, Jesuíta catequizador dos bugres.
— Que diabos! Onde está esse
padre? Onde estão todos? Por Deus...
Max Rocha
Elenco Mauro Mendonça como Rodrigues Veiga Adanilo Reis como Tomás Bueno Stênio Garcia como Piracaçú Dira Paes como Cajubi Roberto Bonfim como Corupela Giselle Motta como Anahí Carlos Vereza como Padre Nóbrega David Junior como Zwanga Tema Acaiaca Índios Puri Intérprete Wagner Cinelli
Direção
Carlos Mota
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
Copyright © 2024 - WebTV
www.redewtv.com
Comentários:
0 comentários: