No
capítulo anterior, por causa da confusão causada pela Tiana, Imã, mais o senhor
Belchior, acordam em um mundo estranho.
CAPÍTULO 05 - SAI DAÍ, BOLO-FOFO
“Para trás, para trás, pisando leve, sem
contato visual, calma menina.” As maiores preocupações de Imã, nesse
momento, é não acordar Tiana nem chamar a atenção das criaturas-felinas. Com
movimentos lentos, ela abaixa e tenta se camuflar no meio dos tufos de grama.
Dá
uma rápida olhada para Tiana e, ainda bem, continua desacordada. Mas, e agora,
onde estarão os outros e cadê o Belchior? O que fazer? “Talvez se eu sair correndo, posso fazer as criaturas me perseguirem e
afastar o perigo da Tiana, mas se ela acordar?” Imã não consegue pensar em
nenhum cenário onde a situação acaba bem.
De
repente um ronco, Tiana se mexe na grama. Imã arregala os olhos. “Não, não, não!” A menina não arrisca
olhar para trás, fica paralisada, concentra a atenção nos ouvidos para captar
qualquer ruído, por isso retesa a musculatura para saltar e sair correndo para
o lago, direção oposta de onde estão as criaturas. É impossível que elas não
tenham ouvido o barulho da mulher. “o que
eu faço, o que eu faço?” Imã aproveita cada momento para raciocinar, passa
os olhos sem erguer muito a cabeça, para ver a localização das criaturas.
Um
suor escorre pela face, as criaturas sumiram, não consegue enxergá-las, o que
leva a pensar o pior. Por um instante ela se imagina sendo massacrada por
mandíbulas vorazes, igual aos sacrifícios romanos na arena do Coliseu, as
bestas digladiando por um pedaço de sua perna e a pobre Tiana? “pelo menos morrerá dormindo!” se
conforma.
Abandonada
em um mundo desconhecido, sem amigos e, pior, sem conseguir resgatar seu avô “grande heroína eu sou, burra, burra, muito
burra, isso sim. Desculpa vô, falhei na primeira tentativa!”. Cada segundo
aumenta a tensão, seus pensamentos já não apresentam conexão com a realidade,
pois sente a carne sendo rasgada. Imã já imagina que são muito mais do que as
duas criaturas que viu, talvez um bando com centenas de carnívoros sedentos por
um pedaço de suas carnes...
—
O que você é? — a voz surge logo acima de sua cabeça.
Imã
levanta os olhos bem devagar e se assusta com a grande narina negra a menos de
um centímetro de sua cabeça. Ela volta o rosto para terra e começa a rezar.
—
Hei, você também está doente? — a mesma voz novamente.
Mas
o tom sereno e pacífico destoa de tudo que Imã imaginou. Tomada de coragem ela
vira a cabeça para ver quem está falando.
—
Hã, o-oi!
—
Você está doente? — a criatura-felina acaricia a cabeça de Imã, com um sorriso
simpático.
—
E-eu, nã-não, quero dizer, não tô, não. Hã! O quê? Quem é você?
—
Eu sou Zara, filha de Roar.
—
O-oi Zara, filha de Roar.
Súbito,
Imã olha para a Tiana e vê a outra criatura-felina levantando a mulher.
—
Não, espera!
O
grito assusta a criatura que deixa Tiana cair no chão.
—
O que foi? — Zara se aproxima de Imã — Ela tem doença?
—
Não, não, o quê? Não, eu pensei...
—
O quê, o que você pensou? — a outra criatura se afasta.
—
Ema, essa criatura está muito assustada. — Zara fica confusa.
—
Não, desculpem, é que vocês se parecem muito com uma espécie bem agressiva de
onde eu venho e pensei que você fosse machucar a minha Tia.
—
Essa aqui é sua tia? — Ema aponta.
—
Sim. — Imã começa a retomar o raciocínio. — Desculpem, eu sou a Princesa Macar.
—
Uma Princesa? Que bom. — Zara se anima — E ela é minha irmã Ema, não é
princesa, mas é a primeira filha de Roar, nosso líder. Você parece com Raavé,
você é da família dele?
—
Eu sou filha do líder, acho que é uma espécie de princesa, né? — Ema não ouve a
comparação da irmã.
—
Sim, é sim. Eu não conheço nenhum Raavé. Escuta, vocês não viram mais ninguém
por aqui?
Nesse
momento, Belchior reaparece, sobrevoando o grupo.
—
Olha só quem eu encontrei na floresta?
Logo
atrás surgem Drica, Carlito e Rui, com um jovem criatura-felino.
—
Achei, achei, Sir Machado! Lá estão elas, não disse que estavam bem, sim eu
disse sim, olha e veja você, elas estão bem. — Rui é só alegria.
Assim
que chega próximo, Rui faz reverência à frente de Imã.
—
Minha Princesa, Sir Gallagher a seu dispor. Esse lugar é muito lindo, olha só
quanta beleza, os perfumes e tem umas frutas maravilhosas eu até comi algumas,
nunca senti um sabor como esse.
Carlito
e Drica interrompem Rui e abraçam Imã explodindo de felicidade.
—
Olha, Princesa, que susto você nos deu, pensamos que algo ruim tivesse
acontecido, quando abri os olhos, só tinha o Machado e Gallagher ao meu lado e,
puxa... foi uma surpresa e tanto. Aí, do nada, aparece o pocket-Belchior...
cada coisa. — Drica quase não respira.
Imã
abraça os amigos e antes que pergunte, Drica já mostra as cirandas, bem
acomodados em uma sacola de folhas e raízes que teceu.
— Santo Deus, a sua tia morreu? —
Rui toca os pés da mulher, ainda dormindo. Um ronco responde a sua pergunta.
—
Mas, o que essa criatura tem afinal de contas? — Ema ainda não compreende a
situação.
Carlito
apresenta o novo companheiro.
—
Ah, Princesa, esse é Utah, filho de... quem é mesmo seu pai?
—
O nome do meu pai era Aark, encantado, senhorita Princesa.
Imã
corresponde a gentileza.
—
O Utah é nosso meio-irmão. — Zara se entusiasma com a reunião.
Agora
com todos apresentados, Imã acha que está na hora de retomar o controle da
situação.
—
Onde nós estamos?
Dessa
vez é Ema quem responde.
—
Alguns quilômetros de Durand, a cidade dos mantis.
—
Não, eu quero saber que mundo é esse? Vocês já ouviram falar da maga Cuca?
—
Estamos em Ox Vyndeboh e não sabemos quem é essa maga.
Rui
se afasta da Tiana e fala com Utah.
—
Vocês são mantis?
—
Não, nós somos quarks. Os mantis são bem menores e tem uma cauda longa assim.
Nós somos proibidos de ir para lá, eles têm medo de que os ataquemos.
—
Caramba, quarks, mantis, tem bastante raças nesse mundo hein? — Carlito
observa.
Utah
completa.
—
Vocês só precisam tomar cuidado com os tisserots, com esses não tem conversa,
se topar com um esqueça de viver por mais tempo. Eles são terríveis.
Drica
lembra da tia da Imã.
—
Gente, temos um assunto pra resolver. Se ela acordar vai ser um caos.
—
Eu posso dar um jeito. — Zara puxa uma raiz de sua bolsa.
—
Por favor, não é para matá-la. — Imã se assusta.
—
Não, não, é só sonífero. Às vezes a gente dá para os doentes antes de
transportá-los, ela vai ficar desacordada até receber o antídoto.
—
Ainda assim, não podemos deixar aqui. — Imã continua preocupada.
Utah
tem uma ideia
—
Eu consigo fazer uma cama para ela.
Carlito,
Belchior e Rui vão juntos para ajudar. Drica, Imã, Ema e Zara continuam
conversando.
—
Então, pra quê vocês procuram por essa maga? — Ema pergunta diretamente a Imã.
—
A Cuca está com um dos nossos e queremos buscá-lo.
—
Aqui não conhecemos ninguém com esse nome.
Zara
tem uma ideia.
—
Ema, talvez Vento saiba quem é.
—
Bem lembrado, irmãzinha.
—
E como achamos o Vento? — Imã se enche de esperança.
—
Temos que voltar à nossa aldeia.
—
É muito longe? Talvez a gente precise encontrar abrigo quando anoitecer. —
Drica põe a mão nos olhos protegendo da claridade.
—
“Anoitecer”? O que é isso? — Zara estranha a expressão.
—
Ué, quando o sol se pôr, quando não houver luz do dia.
Zara
e Ema trocam olhares.
—
O único lugar que não tem luz é nas terras dos proscritos. E lá é muito
perigoso.
—
Vocês não têm noite? Nossa, e como fazem para dormir? — Drica se surpreende.
—
Ué, a gente fecha os olhos e dorme. — Zara não tem noção sobre o que Drica
fala.
Utah,
Belchior, Carlito e Rui chegam trazendo uma espécie de padiola com rodas
rústicas nos pés. O quark explica às irmãs a ideia dos visitantes, que facilita
o transporte sem precisar de muito esforço.
Com
cuidado, o grupo consegue acomodar Tiana e rumam para aldeia dos quarks. Drica
coloca as cirandas em uma cavidade da cama.
Logo
que o grupo adentra a floresta, Belchior segue a frente, sobrevoando para ter
melhor visão do caminho. De repente, Utah faz sinal para que todos parem.
Automaticamente, Zara e Ema tomam posição de defesa, se abaixam e retesam os
músculos, eriçam as orelhas e narizes. Carlito e Rui imitam os quarks, Drica e
Imã ficam ao lado da maca, protegendo a mulher, sem entender a atitude,
Belchior pousa em um galho para descansar as asas. Os quarks permanecem imóveis
por longo tempo. Desacostumados às intempéries do lugar, os jovens começam a
sentir os efeitos do calor do dia. Rápido como um raio, um enorme javali surge
do meio da mata e com a mandíbula escancarada, engole Belchior em uma só
abocanhada. Os dentes protuberantes e a baba que escorre da boca são
amedrontadores.
—
É um choiro! — o grito de Ema assusta.
Surpreso
ao avistar o grupo, o animal foge de volta para dentro da mata. Agindo por
instinto, Carlito corre atrás, seguido por Ema e Zara. Utah se coloca à frente
dos que ficaram. Rui chama pelas meninas para o seguirem, mas Imã paralisa.
—
Não, não, não!
Drica
e Rui estranham a decisão da amiga.
—
O quê? O que quer dizer? Vem, vamos temos que ajudar o C3 e Belchior. — Rui
suplica.
—
Não, não. Eu não vou. A minha missão é salvar o meu avô. E-eu não posso
esquecer isso.
—
Mas, Imã, são nossos amigos. Não podemos abandoná-los. — Drica concorda com
Rui.
—
E-eu não pedi pra que viessem comigo. Não posso deixar a tia aqui e nem me
afastar do meu objetivo. — Imã abaixa a cabeça envergonhada — Sinto muito.
Rui
a encara com seriedade.
—
O C3 jamais te abandonaria. Vamos Drica!
Rui
corre na frente, Drica olha para Imã pela última vez, mas ao ver que ela não se
mexe, segue atrás de Rui. Imã olha para Utah.
—
Vo-você não vai ajudá-los?
—
Não, esse trabalho é das caçadoras, eu protejo vocês. — o felino evita julgar o
acontecimento.
As
fêmeas quarks rapidamente ultrapassam Carlito que, mesmo em desvantagem, não
desacelera. Sabendo do perigo que corre, o choiro usa as árvores para desviar
de direção, tentando despistar seus caçadores. Rui e Drica estão muito atrás e
perdem a trilha.
—
E agora Rui? — Drica sente medo.
A
mata fechada à frente não indica que alguém tenha passado por ali. Rui olha em
várias direções.
—
Nã-não sei, você tem alguma ideia?
—
Quem sabe se a gente subir em uma árvore, dê pra ver onde estamos e para onde
vamos?
—
Bem pensado. Deixa comigo.
Mas
a forma atlética do cavaleiro da Princesa não ajuda muito na escalada. Drica se
cansa de ver os tombos de Rui e o afasta da árvore.
—
Sai daí, bolo-fofo. — o gracejo é mais para amenizar a tensão do que implicar
com o amigo.
A
subida não é tão fácil quanto pensava, mas a visão que Drica teve assim que
chegou o mais alto que pode, não foi das melhores. Para todo canto que olha só
enxerga o verde das copas das árvores, os gritos de Rui não ajudam sua
concentração. Ela desce, sem saber o que responder ao amigo.
—
Bom, pelo menos não precisamos nos preocupar com a escuridão da noite. Vamos
voltar por onde viemos. — Drica busca encorajamento.
Em
outro ponto da floresta, o choiro reduz a velocidade, se sente desconfortável,
mas parece que conseguiu despistar seus perseguidores. Seu ventre dói e o
impede de continuar, então solta um forte grunhido, nesse momento as duas
fêmeas saltam à sua frente.
A
luta das fêmeas é feroz, o choiro tenta usar os dentes para atacar e se
defender, enquanto Zara se esgueira para atingir a jugular e Ema ataca
diretamente, cravando suas garras no dorso do animal.
Os
grunhidos são estridentes e preocupam Ema, pois pode servir de alerta para um
grupo maior de choiros e seria um problemão para eles. O animal roda várias
vezes tentando se livrar de Ema, então abaixa a guarda, o que é suficiente para
Zara atacar a jugular com uma forte dentada, o sangue espirra por todos os
lados, o choiro ainda tenta correr, mas as forças se esvaem. Carlito alcança as
fêmeas e se impressiona com a violência do ataque. Após o último espasmo do
choiro, Ema e Zara se lambem, limpando o sangue. Carlito se aproxima reticente,
abaixa para ouvir a barriga do choiro inerte no chão.
Inesperadamente,
Ema enfia as garras no animal rasgando a carne, espirrando sangue em Carlito
que, assustado, senta no chão, até que Belchior passa por ele voando.
—
Eu o ouvi cantando, por isso tive que ser rápida. — Ema se justifica.
Belchior
pousa no ombro de Carlito.
—
Muito obrigado.
—
Você precisava ver sua cara. — Zara ajuda Carlito a levantar sorrindo. — Vocês
não caçam em seu reino?
—
O quê? Ah, não, nós desenvolvemos um sistema de armazenamento de alimentos para
que ninguém precise caçar. — Carlito tenta retirar o sangue do rosto. — Você
está bem, Belchior?
—
Eu tive muito medo, mas sabia que vocês viriam me buscar.
Zara
volta para Carlito
—
Não caçam?
—
É que nem todo mundo têm força para caçar a própria comida.
—
Que comida? A gente se alimenta dos frutos de Andurã, não precisamos caçar pra
comer, é pra defender dos inimigos.
—
O que é Andurã? — Carlito se interessa.
—
É nossa árvore-mãe, a que nos dá vida. Todos que são da luz se alimentam de
seus frutos.
—
Temos que sair daqui. Rápido! — Ema alerta.
Zara e Carlito levantam, Belchior se mantém no ombro do rapaz, porém, o grupo é cercado por dezenas de choiros.
M. P . Cândido
Elenco Imã vô Táquio Rei Gjorgy maga Cuca Tiana Rui Carlito Drica Tudão Cerol Renê Zara Ema Utah Sári Vento Participações Especiais Gualbe Beron Zebu Melo vó Nácia Tema Boom Boom Pow Intérprete The Black Eyed Peas
Carlos Mota
Bruno Olsen
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