No
capítulo anterior, Imã e seus amigos passam por maus bocados em um mundo
totalmente selvagem.
CAPÍTULO 06 - AQUI DEVE SER O ÉDEN
—
Drica, vamos descansar, essa mata fechada dá sede.
—
Tá bom, Rui, mas nada de dormir, aqui a gente não pode relaxar. Tem perigo pra
tudo que é lado.
—
Perigo nada, o lugar só tem beleza pra onde eu olho. Cada flor linda com cores
maravilhosas e esse aroma, você já sentiu algo assim?
—
Bom, eu sempre quis sentir como é o cheiro daqueles perfumes caríssimos
franceses, mas acho que nada é parecido com esses, realmente, são até
relaxantes.
—
Sim, uma vez eu fui ao shopping com minha mãe e paramos numa loja de
importados, lá tinha esses perfumes. O cheiro deles é bem forte, chegava a
arder o nariz.
—
Dizem que os franceses não gostam muito de banho, por isso exageram nos
perfumes. É para disfarçar a inhaca! — Drica ri enquanto ajuda Rui a se
levantar.
—
Pô, mas também na Europa é muito mais frio que no Brasil. Se no nosso inverno a
galera pula alguns dias de banho, imagina lá que neva?
—
Eu nunca fiquei sem tomar banho um dia sequer, nem nos dias de frio.
—
Tá, vai me enganar que naqueles dias, que faz frio, você não dá uma enganada no
chuveiro? Ô, pode falar, só tem nós dois aqui.
—
Pra ser sincera, não é o mesmo banho do verão, mas tomo banho sim.
—
Ah, eu não. No máximo dou uma cheirada no sovaco, se tiver em dia, é só aquela
aguinha nas partes baixas e os pés... e olhe lá.
Drica
puxa uma fruta pendurada da árvore. O sabor a faz fechar os olhos de prazer.
Rui imita a amiga e tem a mesma sensação, começa a catar mais frutas para
encher a barra da camisa, mas as mesmas, assim que soltam do pé, apodrecem e
soltam um cheiro horrível. Rui toma um susto e deixa cair, logo em seguida
raízes brotam e recolhem os frutos afundando na terra até sumirem, Drica toma
um susto e se afasta do local.
—
Caraca, você viu isso? — Rui observa pasmo.
—
Essa coisa se mexeu, será que vai pegar a gente também?
—
Sei lá, acho que aqui, não tem essa de ficar guardando comida. Vem, vamos
embora.
Após
caminhar por algum tempo, Drica pensa na amiga.
—
R2, você tá chateado com a Imã?
Rui
pensa um pouco antes de responder.
—
Na hora fiquei chateado com ela, mas depois pensei, “alguém tinha que ficar com
a dona Tiana mesmo, que seja ela.” Dava no mesmo. Tô de boa.
A
reação de Rui surpreende Drica, que olha para o amigo com admiração, de repente
a vegetação à frente farfalha vigorosamente. Os jovens se abraçam.
Utah
e Imã seguem empurrando a maca. O quark mantém os instintos em alerta a
qualquer sinal de ameaça, enquanto a jovem se esforça para manter o foco, mas
algo a incomoda.
—
Utah, você acha que agi mal?
—
Não posso julgar o que não conheço, Princesa.
—
Eu não podia ajudar como eles queriam. Tenho outra missão.
—
Se a senhorita decidiu assim, decidido está. Por que se importa com isso agora?
Utah
está concentrado em outros problemas, o que incomoda Imã, mesmo assim não sabe
o que responder ao quark. De certa forma, ele tem razão ao ressaltar que é
inútil remoer o que já passou. Contudo, não dá para esconder que ela sofre com
o conflito.
—
Falta muito pra chegarmos?
—
Nesse ritmo devemos demorar bastante. Mas, não se preocupe, por enquanto não
corremos risco.
—
Você acha que nossos amigos estão bem?
—
Não sei dizer, mas Ema e Zara são excelentes caçadoras, acredito que têm
condições de cuidar bem de Sir Machado. Temo por Sir Gallagher e a Drica, eles
não parecem preparados para andarem sozinhos na floresta.
As
palavras de Utah são cruéis e corretas, ainda que tente se convencer do
contrário, Imã se sente responsável pelos amigos, o arrependimento bate forte
em seu peito. Dessa vez é Utah que quebra o silêncio.
—
Princesa, permita um conselho: nem pense em voltar sozinha para ajudar seus
amigos, agora só vai piorar a situação. Primeiro temos que deixar a sua tia em
segurança, depois pensamos em como faremos para encontrá-los. Não devemos
esquecer que cada um é responsável pelo que decide.
Tomar
consciência da situação, de alguma forma, enche Imã de energia e começa a andar
mais rápido. Utah acompanha o ritmo.
Ainda
na floresta.
—
Eu podia ser cego, surdo e mudo e ainda assim encontrava vocês. — Carlito
surge, com um largo sorriso.
Rui
e Drica correm para abraçá-lo.
—
Seu maluco, nunca mais faça uma coisa dessas! — Drica dá um soco no ombro de
Carlito.
Belchior
começa a entoar uma melodia que enche os corações de felicidade. Zara e Ema
também compartilham a alegria.
—
É mesmo, se a gente dependesse de você pra ficar escondido seria um desastre. —
Zara graceja.
Ema
olha para ela reprovando o comentário.
—
Vocês estão bem?
—
Tranquilo, a gente foi atrás de vocês, mas acabamos nos perdendo na mata.
—
Onde está a Princesa Macar? — Carlito olha em volta.
—
Hã! Ela e Utah ficaram para trás para cuidar da dona Tiana, — Rui disfarça.
Drica
concorda com a decisão do amigo. Com o grupo novamente reunido, todos se põem
em marcha para a aldeia quark, Ema e Zara vão a frente, com Belchior cantando
no ombro de Carlito, mas Rui é curioso.
—
E aí, como foi que pegaram aquele porcão brabo e ainda o Belchior aí, são e
salvo?
—
Mano vou te contar, mil vezes melhor do que qualquer documentário do Animal
Planet. O bichão parou pra descansar, porque achou que tava tranquilo pra ele,
mas a Ema e Zara já tavam cercando.
Elas são o máximo, são muito rápidas, deram a volta quando viram que ele tava parado, aí saltaram em cima. Era
sangue e grunhido pra tudo que é lado. O bicho rodava pra cá, rodava pra lá,
tinha que ver.
—
E você? — Drica está apreensiva.
—
Ah, eu cheguei depois, eles são muito rápidos, quando vi o bicho estava
estrebuchando no chão.
—
E o senhor Belchior? — Rui quer ouvir mais.
O
pássaro responde.
—
Quando tudo escureceu ao meu redor e aqueles caninos quase me mastigando, não
tive dúvidas, voei goela adentro do animal e me escondi no estômago dele.
Quando o bicho parou comecei a cantar.
Ema
completa.
—
Eu ouvi e tirei de lá.
—
Caraca! — dessa vez Rui e Drica falam juntos.
—
Mas, essa não é a pior parte.
—
Tem mais?
—
Assim que conseguimos salvar o senhor Belchior fomos cercados por vários
desses... como é mesmo o nome, choiro?
Zara
confirma com a cabeça, Carlito continua.
—
Durante a briga, o bicho gritou tanto que alertou o bando, aí não teve jeito.
Assim que achamos que já tava tudo
bem, tinha tanto choiro que não dava pra ver nem uma arvorezinha sequer.
Rui
e Drica estão de olhos arregalados, enquanto Carlito exagera da dramaticidade.
—
Quer saber? Eu pensei “dane-se, vou morrer lutando, como um verdadeiro
cavaleiro” e levantei os punhos.
—
Sir Machado foi muito valente. — Zara ajuda.
—
Peraí, ‘cê tá me dizendo que saiu na
mão com os porcões? — os olhos de Rui brilham admirados.
—
Nem foi preciso. O senhor Belchior entrou em ação, ele começou a cantar tão
forte que o som de sua voz abafou qualquer ruído da floresta, os choiros
ficaram confusos e tentaram atacar o senhor Belchior...
—
Só fiz o que tinha de fazer. — Belchior volta a pousar no ombro do Carlito.
—
E nos salvou com seu canto. Os choiros começaram a cair no chão se contorcendo,
pareciam sentir muitas dores.
—
As criaturas das sombras não suportam a beleza e a harmonia. — Zara completa o
raciocínio.
—
É, talvez seja isso. O mais importante é que eles fugiram sem nem olhar pra
trás. Foi uma cena épica.
Nesse
momento, Ema solta um grito.
—
Olha, lá estão eles!
O
grupo avista Utah e Imã. Drica corre na frente acenando para a amiga. Utah abre
um sorriso e olha para Imã, “viu? Eles sabem se cuidar.” sussurra, Imã fica
entre aliviada e envergonhada.
—
Princesa, encontramos nossos amigos. — Drica consola — E, não fique chateada,
eu, o R2 e C3 entendemos o que você quis dizer. Está tudo bem.
Imã
a abraçou soluçando, a amiga mexeu mais com ela do que poderia imaginar.
As
tocas dos quarks são grutas enfileiradas na encosta de uma montanha, no chão
tem uma grande fogueira onde brincam muitos quarks filhotes correndo por todos
os lados, soltando gritos de guerra, alguns mais jovens em jogos de combate,
Utah explica que a atividade é importante para preparação e fortalecimento.
Olhando as grutas, Rui sussurra ao ouvido do Carlito “parecem nossos
apartamentos”. Zara observa que o grupo deu sorte pois a estação é boa, fresca
e sem chuvas. Se fosse na época do inverno seria impossível para eles
sobreviverem. Rui acena sorrindo para qualquer um, Carlito se mantém próximo a
Imã, atento a toda movimentação.
Logo
que chegam à cabana do centro, são recebidos por Sári, mãe dos filhotes quarks.
Roar e a comitiva de machos estão visitando outras aldeias quarks. Após as
apresentações e explicar a situação, Sári providencia mensageiros para que
encontrem Vento a fim de ajudar os visitantes.
Imã
e Drica ficam impressionadas com a natureza dos quarks, pois são afetuosos e
viris na mesma proporção. Imã quer aprender mais sobre esse mundo.
—
Zara, quem é o Vento?
—
Agora é nosso amigo, ele era um Ejaro, mas quis ser o guardião dos seres da
luz, amigo de Raavé.
—
E o Raavé, quem é?
—
É o filho do Supremo.
Rui
chama Carlito num canto.
—
C3, eu posso tá enganado, mas aqui deve ser o Éden... você ouviu o que a Zara
tava contando para Princesa?
—
Sim, ouvi, mas acho que não é não, só tem algumas coisas parecidas. É um
assunto que não manjo muito, acho melhor não arriscar. Vamos esperar o tal
Vento e ver o que podemos fazer.
Enquanto
isso, Drica se aproxima da maca e verifica que Tiana dorme profundamente, “uma preocupação a menos para gente”
pensa.
Ema
ressurge chamando o grupo.
—
Venham, deitem um pouco, vocês precisam recuperar as energias depois da longa
caminhada. Já preparamos uma boa gruta para vocês, com frutas e esteira de
folhas. Vocês precisam descansar, talvez o Vento demore a vir.
Após
uma boa refeição, o grupo se recolhe, Tiana é transportada para outra cabana,
Drica e Imã dormem próximas, Belchior entoa belíssima canção que embala a
todos.
De
repente, Imã lembra do que pode acontecer, mas antes que se dê conta o cenário
mudou radicalmente.
—
O quê?
Drica
balança a amiga suavemente.
—
Imã, você tá bem?
O
escritório do apartamento está um pouco bagunçado, mas Imã percebe onde estão.
Ela se levanta lentamente olhando ao redor e os outros. Apenas Drica está
acordada.
—
Os outros não acordaram?
—
Não, só nós duas.
Imã
olha para o relógio “passaram só alguns minutos.” Pensa. Depois, ajuda Drica a
arrumar a bagunça, acomoda os amigos confortavelmente nas poltronas e leva
Tiana para a cama dela, trancando o quarto. Voltando ao escritório.
—
Por que será que só nós duas acordamos?
—
Deve ser por causa disso. — Drica mostra uma das cirandas que havia pego quando
foi verificar a Tiana na maca.
—
Caramba, como vamos voltar? Temos que voltar para trazer todo mundo.
—
Vamos tentar segurando nas mãos dos meninos, talvez a gente consiga voltar para
o mesmo mundo deles.
—
Você acha que dá certo?
—
Sei lá, não imagino nenhuma outra forma. Temos que tentar alguma coisa.
Imã
e Drica se aproximam dos meninos e fecham os olhos com muita esperança de que
dê certo.
Imã
é a primeira a acordar, Drica e Carlito levantam logo em seguida, Rui resmunga,
vira para o lado, mas acorda também. Ao saírem da toca, avistam Ema e Zara
treinando luta e descem para encontra-las. Imã saúda as felinas.
—
Olá, obrigada pela acolhida, vocês são muito gentis.
Ema
esboça um grande sorriso.
—
Vocês são nossos convidados, temos que tratá-los bem. Já comeram?
—
Sim, mas eu quero saber onde está a minha tia, estou preocupada com ela.
—
Está ali. — Ema aponta para uma choupana.
Em
seguida a aldeia entra em polvorosa, alguns quarks apontam o céu, onde pontos
brilhantes se destacam preenchendo o grande espaço azulado. Imã e Drica correm
para encontrar Tiana.
Ao
entrarem na cabana sentem a temperatura agradabilíssima, quase refrigerada e
Sári está ao lado da maca. Uma raiz funciona como seringa e introduz líquidos
no corpo dela para mantê-la hidratada e com boa saúde, mas a fêmea quark
alerta.
—
Vocês precisam acordá-la, não dá para ficar nesse estado por tanto tempo.
Imã
concorda e olha para Drica.
—
Ai, tomara que ela não entre em pânico.
Sári
aproxima um fruto aromático no nariz de Tiana que espirra forte, sentando na
cama. Ela leva alguns momentos para firmar os olhos em Imã, que está parada bem
em frente ao seu rosto.
—
Meu Deus, e-ele é um anjo? A gente morreu?
O
espanto de Tiana, surpreende Imã e Drica que não entende a frase até olhar para
trás. Um homem alto, belíssimo e com um sorriso angelical está parado à porta.
Saindo da maca, Tiana se ajoelha diante dele.
—
É o anjo da morte, se ajoelhem meninas.
—
Eu não sei o que é um anjo da morte, mas asseguro a vocês que não sou eu. Foi a
mim que mandaram chamar.
—
Vo-você é o Vento? — Imã está pasma.
—
Sim, e você é a Princesa Macar? — a voz de Vento é tão suave e agradável que
encanta as meninas.
Drica
e Imã se apoiam, enquanto Vento se aproxima de Tiana e a levanta.
—
Vocês não precisam temer, vim para saber como posso ajudar.
Rui,
Carlito e Belchior chegam na cabana e se sentam com o grupo. Imã está acabando
de explicar toda situação, Tiana está calma e admirando Vento, que pede para
ver as cirandas. Drica retira da maca e as coloca alinhadas no chão.
—
Infelizmente não sei como ajudá-los, nunca vi nada igual a isso. Não faço a
menor ideia de como ativar esses portais, talvez os Everrins saibam alguma
coisa, mas precisarei de tempo para ir lá e trazer as respostas. Os Everrins
são Ejaros responsáveis por registrar a memória e sabedoria de todo mundo.
—
Não, não, nós não temos muito tempo, eu preciso encontrar meu vô, preciso sair
daqui o mais rápido possível. — Imã não consegue conter a angústia.
Carlito
se aproxima dela e a abraça.
Rui
sussurra para Carlito.
—
E eu tô preocupado com nossos corpos.
Carlito
desdenha estalando os beiços e se aproxima colocando a mão no ombro de Imã.
—
Calma, Princesa, nós vamos dar um jeito...
—
Não, me solta, você não entende? E-eu não fui sua amiga, desculpe, eu... — Imã
sai correndo da barraca. Tiana chama pela menina.
Vento
se entristece.
—
Desculpem, mas acho que não sou de grande ajuda.
—
Não é culpa sua, seu Vento. A Princesa está passando por muitas coisas. — Drica
se justifica e faz gestos para que só ela vá atrás.
—
Imã? — Drica se aproxima com cuidado.
A
jovem se volta para a amiga e a abraça, seu coração está pesado, não suportou
conter o remorso por mais tempo, precisa colocar para fora a tristeza. Ela sabe
o que os meninos estão tentando fazer por ela e sente que tudo está acontecendo
por sua culpa.
—
Minha amiga, nós a amamos, não tem ninguém reclamando. Tente esquecer o que
passou.
Belchior
sai de dentro da cabana gritando.
—
Princesa, Princesa, corre, anda...
—
O que foi senhor Belchior?
— Sir Gallagher, Machado e dona Tiana sumiram.
M. P . Cândido
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