No
capítulo anterior, Imã recebe a pior notícia que poderia ouvir. Carlito e Rui
estão em um mundo subaquático.
CAPÍTULO 08 - É A TIANA
—
C3, acha que esse é um daqueles momentos em que um milagre acontece e a gente
se safa?
—
O quê? Cara, sei lá, mas fica perto de mim.
—
C3...
—
Dá pra ficar quieto um minuto?
—
Por que eles tão parados?
Do
meio da multidão surge um grito.
—
Viva nosso Sal!
Gritos
de euforia e gargalhadas explodem ao redor deles, junto com brados repetidos.
—
Sal! Sal! Sal!
Rui
e Carlito trocam olhares.
—
C3, tá entendendo alguma coisa?
—
Eles tão gritando “sal”, mas não faço a menor ideia do que seja.
—
Sal?
—
É, não tá ouvindo?
—
Só ouço algazarra. Vai me dizer que tá entendendo os cabeça-de-camarão?
É
exatamente o que acontece, enquanto Rui tem o poder de criar um escudo plásmico
do próprio mar, Carlito consegue se comunicar com as criaturas ao redor. mas, a
euforia que o povo “cabeça-de-camarão” como disse Rui, impede que haja uma
conversa pacífica nesse momento, pois o barulho é ensurdecedor. Diferente do
que parecia inicialmente, os rapazes não são agredidos, muito pelo contrário,
Rui vira o centro das atenções, as criaturas o aclamam como se fosse um
verdadeiro herói. Os rapazes estão imobilizados tentando entender a situação,
até que agarram Rui por baixo e o levantam, arrastando-o através da multidão.
Carlito tenta segurar a mão do amigo, mas tudo acontece rapidamente e acabam se
separando.
Uma
das criaturas se aproxima de Carlito e o puxa pela mão.
—
Venha, vamos, você e Sal, devem ver o Rei.
—
Sal? Que Sal? — Carlito não resiste ao convite.
—
Ele. — apontando para Rui que já vai longe — Sal, o herói que libertou o Reino
de Pemagoá do Caramuru, aquele que vocês chamaram de Mega... Mega-o-quê mesmo?
—
O Megalodon?
—
Isso, o Sal derrotou o Caramuru-Megalodon com um só golpe, nunca vimos isso.
Venha, vamos festejar!
Após
nadar por algum tempo, eles chegam a uma imensa planície multicolorida, que se
estende a perder de vista, milhares de criaturas parecem festejar, rajadas de
bolhas são atiradas para superfície, como se fossem fogos de rojões. Tem
batuques com instrumentos de percussão, gritos e passagens de criaturas por
todos os cantos.
Carlito
tentava atravessar a multidão para chegar em Rui, mas a dificuldade era grande.
Subitamente, um “cabeça-de-camarão” abre passagem numa abertura na parede ao
lado. Carlito é levado até um grande salão muito bem iluminado, “certamente é o salão do Rei”, pensa.
Logo surge um grande trono onde senta o maior dos “cabeças-de-camarão”.
—
Saudações meu nobre visitante. Seja bem vindo ao Reino de Pemagoá, de onde
vocês são?
—
Saudações, senhor Rei, nós viemos de um mundo que não pertence a esse reino.
—
Ah, sim, isso percebemos. Eu e meus conselheiros estamos cientes de seus
poderes, por isso nós potiwares queremos expressar nossa mais profunda
gratidão. O caramuru tem atormentado por muito tempo e nossas defesas são
inúteis diante do poder dele. Por aí você faz ideia do quanto somos gratos.
—
Sim, senhor, vejo pela alegria que estão festejando, mas nós não poderemos
ficar muito tempo, é que...
—
Ó, por favor, insistimos para que fiquem conosco mais algum tempo. Faremos o
que for preciso para tornar a sua estada agradável.
“O que for preciso”? Carlito sabe que
essa frase nunca é acompanhada de boas intenções.
—
Senhor, eu entendo perfeitamente suas preocupações, mas é que temos que achar
uma pessoa que estava conosco e não sabemos onde e nem como ela está.
—
Ah, sim, nesse caso, talvez possamos ajudar, temos batedores que podem varrer
grandes extensões de área e enviá-los-ei nesse momento para que vasculhem cada
pedra, cada alga até achar sua amiga. Enquanto isso, por favor, aceite nossas
acomodações.
Antes
que possa responder, dois potiwares tomam os braços de Carlito, levando-o para
fora do salão.
O
aposento em que deixam Carlito, é finamente decorado, o que é uma surpresa,
para quem acha que potiwares não têm padrões de conforto. O amplo salão tem
abertura de vidro para contemplação do imenso oceano à frente, poltronas largas
e acolchoadas, estantes com pergaminhos, um cômodo com vasilhames transparentes
contendo líquido de cores variadas, som ambiente em uma frequência que acalma o
ouvinte e Rui...
—
Rui? Cê tá aqui? Como?
—
Cara, essa galera é fantástica, olha só, me deram esses braceletes e um elmo
que parece de ouro, cheio de imagens de guerras... — Rui retira o elmo e passa
a observá-lo.
—
Rui, presta atenção, tem alguma coisa errada aqui. Esse pessoal, os potiwares,
não são o que aparentam.
—
Também acho, para quem parece camarão, tão sabendo de muita coisa da nossa
cultura. Mas, pô, os caras são maneiros e eles tão me tratando superbem. Ganhei
até essas estrelas do mar pra botar no peito, olha!
—
Você tá parecendo o Homem-Sereio! — apesar da piada, Carlito está concentrado.
O
entusiasmo de Rui não é novidade, ele sempre fica assim quando as meninas do
colégio o elogiam, mesmo que seja por interesse próprio, e Carlito sabe disso.
Ele anda pelo cômodo e encosta o ouvido na porta, depois tenta a maçaneta e
descobre que está trancada. Rui não percebe a aflição do amigo porque ainda
está experimentando os apetrechos.
—
R2, temos que sair daqui.
—
O quê? Não, vamos ficar um pouco, precisamos descansar, ver o que vai rolar.
—
Você sacou que estamos presos, né?
—
Preso num conforto desses? Brincou!
—
É? Então tá, tenta abrir a porta. Se tem uma coisa que eu aprendi é que não
temos que julgar nada pela aparência, por enquanto a gente só conhece um lado
dos fatos e isso é perigoso.
—
Se a gente for julgar pela aparência não tem como ajudar ninguém, porque esses
cabeças-de-camarão são feios pra daná.
—
Não tô falando isso. Pensa, se a gente chegasse no fim da segunda guerra
mundial e desse com os nazistas sendo atacados por vários exércitos, a gente ia
ajudar os nazistas?
Assim
que Rui chega à porta, ela é aberta por um potiwar, ele faz gestos para que a
dupla o siga. “O que ele quer, C3?” “Não faço ideia, mas vamos obedecer por
enquanto.” Os amigos sussurram.
No
salão do Rei, os rapazes são recebidos com pompa, milhares de camarões urram
com gritos de “Sal! Sal! Sal!”, o Rei se levanta do trono e os saúda com largo
sorriso (ou o que um camarão faça quando está satisfeito) e gesticula para que
os rapazes se aproximem. Ainda sem entender direito, Rui apenas acompanha
Carlito, atendendo ao chamado.
—
Meus amados potiwares, eis vossos heróis, eles estão aqui para provar-lhes que
terminarão a missão que lhes foi destinada. Nosso amado Sal e seu companheiro
comandarão nosso exército para exterminar de vez do nosso maior inimigo.
A
euforia explode de vez, o entusiasmo dos potiwares é imensurável. Rui tenta se
entender com Carlito.
—
C3, o que tá rolando?
—
O Rei tá nos levando pra enfrentar o megalodon, eles chamam de caramuru.
—
Pô, tranquilo, é só a gente fazer aquele lance de novo e partir pro abraço.
—
Sei não, R2, tem alguma coisa me dizendo que isso não tá certo.
Sem
poder recusar, Carlito e Rui são levados por milhares de potiwares até a ponta
de um coral, olhando para baixo, eles conseguem avistar uma imensa mancha negra
imóvel no fundo. O general potiwar aponta o alvo aos rapazes. Carlito impede
que Rui se projete.
—
O que você quer fazer?
—
Deixa eu falar com ele primeiro, fica aí.
Carlito
desce sob as vistas desconfiadas do general, chegando mais próximo, acena para
o animal e consegue chamar-lhe atenção, o caramuru se aproxima. A repentina
mudança de comportamento assusta o general potiwar e ordena o ataque. Rui leva
alguns segundos para tomar uma atitude, mas acompanha o avanço, quando vê a
movimentação Carlito se volta para o exército de potiwar e ordena com um grito.
—
Parem, é a Tiana!
O
animal abre a boca e engole Carlito de uma só vez, Rui fica paralisado de medo.
O animal contorce o corpo e joga a cauda em cima dos potiwares, matando
centenas deles de uma só vez.
Com
a manobra, os soldados recuam apavorados, eles ficam atrás de Rui, que tenta se
concentrar para acumular energia e disparar no monstro, mas assim que abre os
olhos, não vê mais nada, pois o caramuru sumiu na imensidão azul. Rui é
reconduzido ao Reino Pemagoá.
A
escuridão envolve Carlito, ele se julgava morto, mastigado pelas imensas
mandíbulas, mas surpreendentemente vê-se deitado sobre uma superfície musgosa,
seus olhos demoram a acostumar com o ambiente. Com algum esforço consegue
levantar e manter equilíbrio, claramente o caramuru está em movimento.
—
Carlito? É você? — a voz vem de um canto escuro.
—
Quê? Quem?
—
Sou eu, Tiana.
—
Dona Tiana, sim sou eu, onde a senhora está?
—
Aqui, vem, segue a minha voz.
Poucos
passos a frente e Carlito encontra a tia de Imã sentada. Eles se abraçam.
—
Dona Tiana, graças a Deus, a senhora tá bem?
—
Estou e você? Cadê seu amigo?
—
Ele ficou lá fora com os potiwares...
—
Quem?
—
Deixa, é uma longa história.
—
Quando ouvi a sua voz, comecei a gritar, não sei como sair daqui.
—
E eu a ouvi, pensei que a senhora era esse caramuru. Não sabia que estava aqui
dentro.
—
Você está com a ciranda aí?
—
Não, estão com o Rui, a senhora sabe como podemos usá-lo?
—
Enquanto cuidei do avô da Imã, aprendi alguma coisa. Mas, nunca acreditei
nessas aventuras.
—
Por que a senhora não ajudou Imã quando ela precisou?
—
Ah, meu filho, depois falamos nisso, agora precisamos sair daqui e encontrar o
Rui.
—
Acho que consigo, espera aí. — Carlito se volta para a cabeça do animal e solta
um grito — Seu caramuru, poderia nos libertar?
Subitamente
a sensação de movimento cessa e aos poucos, a boca do animal abre, a água sobe
de nível, Tiana tenta manter a cabeça levantada, mas Carlito a tranquiliza
mostrando que conseguem respirar submersos.
—
Incrível, você consegue falar com eles?
—
Sim, acho que ganhei algum poder quando viemos para cá. O Rui pode acumular uma
energia que permite ter superforça. Os potiwares tentaram nos alistar em seu
exército para podermos enfrentar esse caramuru.
Uma
voz diferente surge nos ouvidos do Carlito.
—
Eu não sou inimigo dos potiwares, mas preciso me alimentar e eles precisam ser
controlados, ou destruirão o equilíbrio natural e todo nosso mundo acabará.
—
Eu suspeitei disso antes mesmo de você me abocanhar sem comer.
—
Peço desculpas pelos maus modos, mas não havia outro jeito. Além do mais, tem
essa sua irmã que surgiu dentro de mim e eu não sabia como tirá-la. Tentei
falar contigo antes, mas o seu outro irmão me golpeou e tive que fugir.
—
Carlito, o que vocês estão conversando? — Tiana não ouve o caramuru, mas
percebe as atitudes do rapaz.
—
O seu caramuru tá explicando o que tá acontecendo.
—
Vocês estão bem? — o caramuru retoma a conversa.
—
Sim, senhor, obrigado por nos explicar. Prometo que não vamos interferir, mas
precisamos de uma ajuda.
—
O que posso fazer?
—
Temos que voltar ao Reino Pemagoá para pegar meu irmão e voltarmos ao nosso
mundo.
—
Isso é complicado, assim que eles me virem, certamente me atacarão, apesar de
ser inútil, mas se seu irmão estiver com eles, pode acabar se ferindo.
—
Não se preocupe, eu me encarrego de cuidar dele. Por favor, nós não sabemos nem
pra que lado ir.
Caramuru
abre a boca e Carlito puxa Tiana de volta para dentro.
No
Reino Pemagoá, Rui pode não entender nada, mas é impossível ignorar que está no
meio de um fervoroso debate. O general potiwar está diante do Rei gesticulando
freneticamente.
—
Senhor, o caramuru derrubou metade de nosso exército com um movimento, não
tínhamos como revidar!
—
E o Sal? Vocês não estavam com o Sal? Por que não o usaram?
—
O Sal ficou paralisado, ele não moveu um músculo. Seu irmão foi devorado vivo
pelo caramuru. Tentamos resgatá-lo, mas foi tarde demais.
—
E agora, seus incompetentes, o que vamos fazer? Sem o apoio do Sal, estaremos
novamente à mercê daquele monstro. — o Rei se dirige ao Rui — E você, senhor
Sal, por que não nos ajudou?
Rui
percebe que o Rei fala com ele, mas não sabe o que responder.
—
Senhor, acho que o Sal não nos entende, apenas o irmão dele fala conosco.
—
Ah, perfeito, temos uma arma e não podemos usar porque ele não fala nossa
língua.
Um
dos conselheiros se aproxima do Rei.
—
Senhor, se me permite, talvez possamos resolver essa situação. Temos uma
ferramenta que nos ajudará na comunicação com o Sal, dê-nos algumas horas.
—
Têm permissão, mas não tenho muito tempo.
Mal
o Rei acaba de advertir e a sirene ecoa por todo reino.
—
O caramuru está de volta e parece bastante irritado. Protejam-se!
De
fato, a velocidade com que o animal se aproxima não permite aos potiwares
aprontar as defesas, o pânico se estabelece e todos procuram abrigo, Rui é o
único que permanece no lugar. Quando ele entende que é um ataque, nada até a
frente do reino e se concentra nas mãos provocando um brilho intenso. “Você vai pagar caro por comer o meu amigo!”
A
onda provocada pela energia é tão grande que varre o oceano, deslocando grande
massa líquida, Rui dispara ao encontro do caramuru. O animal tenta se esquivar,
mas é impelido com forte abalo, sendo carregado até o fundo do mar. Rui retorna
e aponta para onde o animal caiu, sobe até a superfície e retorna com força
total, certamente o golpe será fatal, porém, à sua frente surge Carlito,
seguido da Tiana. Surpreso, Rui tenta frear, passa pela dupla rapidamente e
atinge o caramuru com pouca intensidade.
Ao
ver o animal imóvel no fundo do oceano, milhares de potiwares saem dos
esconderijos para atacar, Rui se aproxima de Carlito e Tiana e os abraça quase
chorando.
Carlito responde ao carinho, mas pega as cirandas e mostra a Tiana. Rui ameaça voltar para ajudar os potiwares, cujo ataque não surte nenhum efeito no caramuru, mas Carlito o detém. “Deixe-os!” Tiana segura nas mãos dos rapazes e desaparecem.
M. P . Cândido
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Carlos Mota
Bruno Olsen
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