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O Eleito: Capítulo 02

Minissérie de João Sane Malagutti
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O ELEITO - CAPÍTULO 02





FADE IN:


1.      EXT/TENDA DE MALIK/NOITE                                  

 

Retoma de onde parou. Suspense Instrumental. MENEWÁ descobre a MALIK e ANTHENOKEN, vira o rosto, decepcionado, ao comprová-los nu.

 

NEMEWÁ

(decepcionado)

Vistam-se. Não... posso alimentar uma farsa, se demorarem.

 

MALIK veste a túnica. ANTHENOKEN permanece sentado ao chão cabisbaixo e em sofrimento recolhe as peças de roupa. NEMEWÁ vai para cima de MALIK enfurecido e com a espada em riste.

 

(Cont’d) (irado) És o culpado por dominar e abusar do príncipe de Luxor. Tens que pagar, prisioneiro!

                                        

MALIK fecha os olhos apertados e abaixa a cabeça preocupado. NEMEWÁ toma impulso com a espada para cortar a cabeça do prisioneiro. ANTHENOKEN segura a sua mão. Detalhe: ANTHENOKEN com os olhos lacrimejantes.

 

ANTHENOKEN

Sem sangue. Apenas os escravizem para as barragens do Nilo. É uma ordem!

 

ANTHENOKEN, envergonhado evita olhá-los. Se arruma e SAI. Atrás, NEMEWÁ conduz com brutalidade o prisioneiro. Suspense.


2.      INT/APOSENTOS DOS IRMÃOS/NOITE                            

 

Instrumental triste. Cena de comoção. SHENK olha pela janela com olhos lacrimejantes. No outro lado, TUTANCAN aos soluços com lágrimas escorrendo sentado em seu dormitório.

 

SHENK

(incrédulo)

Não dá para acreditar nisto! Todos amavam ao vovô! Porque esta mulher fez isto com ele?

 

Caminha até TUTANCAN e segura o rosto do irmão.

 

(Cont’d) Chora, “Tuta”. Seu coração está dilacerado. Sei que amava ao avô.

 

Abraça o irmão e TUTANCAN deixa irromper o choro grutural.

 

(Cont’d) Prometo que, se um dia eu tornar-me o Faraó de Luxor, evitarei que o mal lhe aconteça, irmão. Pois, sei das intempéries de sua alma.

 

Beija o rosto do irmão e o embala como um bebê.


3.      INT/CALABOUÇO/NOITE                                       

 

NERFIRI com braços amarrados abertos e pernas imobilizadas por uma parafernália de madeira. Calabouço na penumbra com apenas uma tocha. Ela está sozinha.

 

NERFIRI

(gritando)

Me soltem! Sou inocente. Ela está mentindo! Tragam-me o meu filho! Tragam-me Nemewá! (choro) Meu filho amado. Tragam o fruto de meu ventre.

 

Drama. Choro alto. Deixa o corpo cair e fica pendurada no ar.


4.      EXT/DESERTO/NOITE                                         

 

Fileira de soldados traz os beduínos, à pé, amarrados uns aos outros pelas mãos. Instrumental de Suspense. À frente a carruagem de NEMEWÁ com MALIK amarrado como prisioneiro e boca tapada. Panorâmica revela mais adiante, ANTHENOKEN que segue perdido em pensamentos e olhos marejados. A fotografia e instrumentalidade, deve buscar a vergonha e o sofrimento do homem por trás do príncipe altivo.


5.      INT/SALA DO TRONO/NOITE                                   

 

A fusão da cena anterior mantêm a tônica. TRAVELLING IN pelo salão revela ANTHIEPT em pensamentos. Alisa o trono.

 

ZARAH (V.O.)

Em poucas horas o sol romperá o horizonte.

             

6.      INT/SALÃO DO TEMPLO/NOITE                                 

 

ZARAH caminha de um lado para o outro no templo sob os olhos de OMAR e demais sacerdotes. Corpo do ANOUNAK sobre uma esteira próximo à fonte.

 

ZARAH

Será o amanhecer mais triste de todos. (emotiva) Pergunto-me como Anthenoken reagirá à morte do pai?

 

OMAR

(triste)

Terá de ser forte. Há de desabar quando estiver em seus aposentos. Caberá aos vossos braços acolher ao príncipe que, está cada vez mais próximo do dia em que subirá ao trono.

 

ZARAH

Anseio que tamanha tragédia não endureças o coração de meu marido.

OMAR

Um anseio de todos! Precisamos de um rei forte e pacificador. É hora de unir este canto das terras de Kemet.

 

Olha para Omar com curiosidade. Olha para o defunto e caminha pelo salão de braços cruzados ensimesmada.

 

(Cont’d) Vá descansar, princesa. Tão logo o vosso marido chegar, inicia-se o ritual de embalsamento do Faraó.

 

ZARAH assente afirmativamente com a cabeça e SAI.


7.      EXT/DESERTO/DIA – ALVORECER                       

 

Caravana descansa sob um céu que divide-se entre tons de laranja, amarelo e azul. Vento balança as vestimentas de ANTHENOKEN sentado na sua carruagem admirando os céus. Drama instrumental. NEMEWÁ se aproxima.

 

NEMEWÁ

Não precisa ficar assim, Anthenoken. Alguns homens passam por experiências como estas. Não foste a mulher dele!

 

ANTHENOKEN imóvel. Finge não ouvir.

 

(Cont’d) Os soldados estão orientados ao silêncio. A farsa deve sobrepor à realidade. (T) Foste, tu, obrigado a se submeter ao ataque do beduíno. Foi isso o que aconteceu. Certo?!

 

ANTHENOKEN

Errado! Nada aconteceu!

 

NEMEWÁ

Compreendo. Guardarei o teu segredo. Pode se abrir comigo quando quiser. Podes falar do que sente. Tenho em ti, um irmão mais novo, Anthenoken. O que aconteceu não deve lhe abater.

 

ANTHENOKEN

Não abaterá. (T) Foi decisão própria.  Pela primeira vez estive no lugar de meu filho. Agora sei o que Tutancan sente diante um homem. Compreendo o impulso. (em si) É incontrolável!

 

NEMEWÁ lhe deposita a mão no ombro com um aperto de consolo. Se afasta alguns passos.

 

(Cont’d) (chama) Nemewá!

 

NEMEWÁ se vira.

 

(Cont’d) Sou grato por ter cuidado do silêncio. Somente as areias sabem da verdade. (T) Assim deve ser!

 

Afirmativa de cabeça por NEMEWÁ. CAM passeia por entre os beduínos exaustos e revela troca olhares misteriosos. Mais adiante MALIK amarrado à carruagem. Uma lágrima escorre do beduíno. Retorna à ANTHENOKEN perdido em pensamentos a olhar o céu.


8.      INT/CASA DE NEMEWÁ/NOITE                                  

 

NEVERA caminha até a janela, abre e respira fundo.

 

NEVERA

Tinhas razão, Nerfiri. Foi a última vez que lhe vi.

 

Suspense. NEVERA pensativa.


9.      INT/TEMPLO DE OSÍRIS/DIA                              

 

SETNIAK dorme sentado. ANTHIEPT ENTRA. Luzes por frestas. CAMINHA pelo templo. Abre os braços e deixa as luzes tocar a sua face. Respira fundo. Vista do alto: ANOUNAK caminha até ela e andam em círculos. Uma conversa espiritual.

 

ANOUNAK

Fizeste um belo trabalho, Anthiept. Usaste de minha bebida preferida para me seduzir. Não teria pensado em algo melhor para me vingar de alguém.

 

ANTHIEPT

Nunca traia uma filha de Osíris. Buscamos justiça e vitória, acima de tudo. Devias saber disso, Faraó.

 

ANOUNAK

Não houve traição. Traição, é quando há amor envolvido. Não é o caso.

 

ANTHIEPT

Eu te amei. Muito! Está doendo em mim, Anounak...

 

SETNIAK acorda e se ajeita na cadeira. Fica em silêncio.

 

(Cont’d) Talvez não conheças essa dor porque nunca amaste, meu Senhor.

 

ANOUNAK

Amei. (T) Foi Nerfiri! Desde que a vi. Era tarde! Tu tinhas tomado a minha vida. Mesmo assim continuei a amando em segredo e a amarei pela eternidade.

 

Um giro da CAM revela NERFIRI sozinha em pé. Apenas SETNIAK a ouve. Uma personificação de loucura.

 

(Cont’d) A liberte desta tragédia. Ela merece ir comigo. Somos almas que pares. Preciso dela caminhando comigo. A quero embalsamada, ao meu lado para quando retornarmos à vida.

 

ANTHIEPT

A libertarei da couraça que a amarra neste mundo. Mas, jamais ocupará a câmara ao teu lado. (chora) Nem que eu tenha que morrer para impedir esse encontro. (triste) Queria ter o vosso amor, como ela o teve (T) Estou à beira do trono; lugar que jamais quis. Este é o teu lugar. Sei que amas o poder. Dividir-te com o trono foi aceitável, mas... com ela? Jamais!

 

ANOUNAK gargalha com eco. Misto de loucura.

 

(Cont’d) Não zombes de mim!

 

SETNIAK

Rainha? És tu! Reconheço a voz!

 

Luzes somem. A Rainha cai em si e está em pé sozinha, diante do cego. Leva a mão à testa num gesto de arrependimento.

 

ANTHIEPT

(para si)

Estou perdendo a o equilíbrio d’alma!

 

Corre pelo templo e SAI. Suspense.

 

SETNIAK

Até que o nub passe pela psicostasia, estará preso aqui. Quanto à rainha, o peso da culpa, por Osíris, é o pior dos julgamentos em vida aos injustos.


10.     EXT/RUAS DE LUXOR/DIA                                    

 

ANTHIEPT corre pelas ruas da cidade. Em algumas esquinas e entre barracas de feiras, intervalo de casas, vê ANOUNAK a sorrir e a olhá-la com um semblante de maldade. Ela chora e tenta desviar das visões. Loucura explícita.


11.     INT/CASA DE NEMEWÁ/DIA                                    

 

NEVERA penteia os cabelos quando a porta se abre e ANTHIEPT cai diante dela de joelhos. NEVERA se curva em reverência.

 

NEVERA

Rainha! Em que posso servi-la?

 

ANTHIEPT

(chora)

Leve-me ao palácio em segurança e lhe serei grata. Estou sendo perseguida.

 

NEVERA

Como desejardes!

 

Suspense. NEVERA a levanta. Percebe a sua fragilidade e a enrola em véus. A segura pelo braço e SAEM.


12.     EXT/RUA DE LUXOR/DIA                                 

 

INSTRUMENTAL. Cidade em movimentação cotidiana. Caravana do exército passa com os beduínos escravos. Burburinhos do povarel. ATHENOKEN sem entender os rostos de piedade. Faz um gesto interrompendo a caravana. Desce de sua carruagem e aproxima de NEMEWÁ.

 

ATHENOKEN

Os alimente! Conheçais a vossa cultura e os informe que trabalharão na barragem. Trate-os com dignidade para que sejam servis. Quanto ao... prisioneiro. O instrua ao silêncio e descubra as suas intenções. O quero servindo no palácio.

 

NEMEWÁ

(estranha)

Depois do... Pretendes levar o homem para debaixo de vosso teto? Quer mesmo alimentar essa insanidade?!

ANTHENOKEN

(quase segredando)

Os motivos... são pessoais; sabes bem e, assim, encerra-se este assunto! (T) Agora, deixe-me seguir sem mais perguntas; o olhar de piedade desta gente me assusta.

 

O príncipe sobe na carruagem e segue em disparada. NEMEWÁ preocupado. Suspense instrumental.


13.     INT/APOSENTO DO REI/CORREDOR/DIA                          

 

ANTHIEPT, deitada, recebe um copo das mãos de ZAHRA e cheira antes de beber. Após, entorna o líquido. Abatida, devolve o copo a ZAHRA.

 

ANTHIEPT

(à Nevera)

O que posso fazer para retribuir ao seu gesto de bondade junto de mim?

 

NEVERA

Não mereço. Fiz o que deveria, Rainha.

 

ANTHIEPT

Não seja modesta. Peças o que quiseres de paga.

 

Olhar fissurado para com a Rainha. ZAHRA desconfiada.

 

NEVERA

Se é de vosso agrado, senhora, permita-me realizar um sonho: gostaria de ser uma serva neste Palácio. Tenho profunda admiração pela senhora.

 

ZAHRA

A rainha possui muitos servos nesta casa. Um colar, uma joia, outra coisa material, que seja, não lhe contenta?

NEVERA fica sem palavras. ANTHIEPT senta e intercede.

 

ANTHIEPT

Se queres servir aqui, principalmente a mim, serás bem-quista nesta casa por desígnio meu. (olha torto para Zahra) Uma rainha não pode ser ingrata a um fiel súdito que a acolhe em desespero. (T) Como posso me referir a ti?

 

NEVERA

(contém a felicidade)

Nevera, minha rainha. Esta é para mim, uma grande satisfações em vida.

 

Se curva. ANTHIEPT sorri simpática.   

 

ANTHIEPT

Preciso de uma sesta! (T) Zahra lhe mostrará como proceder neste palácio.

 

ZAHRA

Como a rainha desejar. (contrariada) Nevera, virás comigo.

 

Climão. As duas se curvam e SAEM. ANTHIEPT se coloca a chorar. Drama instrumental.

 

-- CORREDOR:

 

ZAHRA pega NEVERA pelo braço.

 

ZAHRA

Sob este teto vive-se um dos piores dias desse reino. É indigno usar a fragilidade dela como moeda de troca.

 

NEVERA

(mente)

Não queria usufruir de nada; viste que a rainha assim o quis.

ZAHRA

(desconfiada)

Porque servir a este palácio se tens outros meios lucrativos de pagamento?

 

NEVERA

A matéria, um dia, acaba, senhora. Servir a família real é um luxo que não se finda além das vidas e mundos.

 

ZAHRA

(incrédula)

Belas frases não se sustentam!(T) Seja feita a vontade de minha sogra; mas, saiba que estarei de olhos bem abertos até que prove que mereça a confiança de todos por aqui. (T)

Siga-me.

 

ZAHRA SAI seguida por NEVERA.


14.     INT/SALÃO NOBRE/DIA                               

 

MALIK é forçado por guardas a se sentar. NEMEWÁ entra e manda os guardas saírem com gesto de cabeça. Coloca um chicote sobre um caixote. MALIK olha apreensivo.

 

NEMEWÁ

Não temeis; não usamos de violência física aos invasores. Pesa sobre eles o trabalho escravo.

 

MALIK evita contato de olhar.

 

(Cont’d) Porque Luxor?

 

Silêncio. MALIK de cabeça baixa. NEMEWÁ se aproxima.

 

(Cont’d) Se calar-te, e irás para a barragem com os teus. Se preferires ao diálogo, poderás servir ao príncipe. 

MALIK o olha com mais interesse.

 

(Cont’d) É visto que o príncipe lhe desperta interesse. (T) Direto: porque vieste à Luxor?

 

MALIK

Somos comerciantes. Andamos pelo deserto em busca de oásis e às vezes, uma civilização próspera para os negócios...

 

Suspense. NEMEWÁ pega o chicote e tenta se controlar.

 

NEMEWÁ

Não são os primeiros beduínos a cruzar as fronteiras. Tua gente já saqueou os túmulos de nossos antepassados pelas nossas riquezas. Quer que acredite que esta seja apenas uma visita comercial?

 

MALIK

O mundo árabe é grande e precisa se unir para sobreviver aos ataques estrangeiros. Luxor é um lugar próspero e alguns de nós procuramos esposas prósperas para nossa gente.

 

NEMEWÁ

Procuras uma esposa?! (T) Não pareceu quando o vi debaixo do príncipe.

 

MALIK abaixa a cabeça envergonhado.

 

(Cont’d) Isso não é problema meu. (T) Não permitimos invasores aqui. Todos serão escravizados e servirão nas barragens do Nilo! Quanto a ti, o príncipe o quer mais próximo. (T) O servirá; em tudo! Entendeste?!

 

MALIK se joga aos pés de NEMEWÁ.

 

MALIK

Tenha piedade! Deixe-nos voltar ao deserto para nossas vidas e jamais nos aproximaremos de Luxor novamente.

 

NEMEWÁ

Soltá-los é permitir que voltem com uma matilha maior e mais aguçada. Tens a minha palavra que não haverá maltrato sem motivos.

 

MALIK

Insisto, senhor! Faço qualquer coisa pela nossa liberdade! Qualquer coisa!

 

Suspense. MALIK lacrimeja.

 

NEMEWÁ

Esqueça a liberdade. Viverás entre a realeza e desfrutará de regalias que nem a nossa gente tem. (T) Certamente, terás o teu leito aquecido e visitado pelo...

 

NEMEWÁ engole. MALIK o encara. A tônica é o interesse de NENEWÁ em explorar a fraqueza do príncipe.

 

(Cont’d) (sorrateiro) O que houve? Foi espontâneo?

 

MALIK

O que fica entre dois homens, à eles, e somente à eles pertence.

 

NEMEWÁ

Teu segredo tem preço! Pode ser a liberdade de alguns dos seus. A tua não. Você é útil a mim. (T) Se sabes guardar segredos, façamos um trato!

 

Suspense. MALIK acuado.


15.     INT/SALÃO SACERDOTAL/DIA     

             

VOCAL ÁRABE. Frestas do raio de sol sob o corpo de ANOUNAK. O defunto apresenta marcas roxas de envenenamento. Ao chão, debruçado sobre o corpo, ANTHENOKEN chora copiosamente.

 

OMAR (V.O.)

Entregou-se rápido como a luz.

 

SETNIAK (V.O.)

Ainda sóbrio! Oposto à. mãe. A Rainha já não habita a realidade

 

Desfoque de ANTHENOKEN revela OMAR e SETNIAK ao fundo.

 

OMAR

(ao ouvido do profeta)

Urge o debate sobre o sucessor!


16.     INT/CORREDOR/DIA                                          

 

ANTHIEPT caminha de braços dados com TUTANCAN e o faz mimos durante o diálogo a seguir.

 

SETNIAK (V.O.)

A rainha, não! A sua alma adoeceu.

 

OMAR (V.O.)

Shenk é o próximo, caso o príncipe... adoeça ou se perca.

 

SETNIAK

Não adoecerá. O destino ainda reserva mais tragédias sobre os herdeiros de Anounak. Eu vejo sombras obscuras!

 

CAM avança o corredor e encontra SHENK pensativo a olhar pela janela. Suspense.


17.     INT/SALA DO TRONO/DIA                                    

 

ZAHRA sendo abanada por escravos. NEMEWÁ ENTRA com MALIK preso pelos braços. ZAHRA levanta de sobressalto vai até ele investe a tentativa de um tapa. Ele segura a sua mão. Ela cospe no rosto.

 

NEMEWÁ

A princesa tem motivos para fazê-lo?

 

ZAHRA

Todos os motivos! (irada) Teu sangue é ruim! Tua família é amaldiçoada! Ponha-se distante de nós nesta hora!

 

NEMEWÁ

(sem entender)

Como desejar, princesa. (T) O escolhido para servir ao príncipe, está entregue em vossas mãos.

 

Empurra MALIK para frente. ELA os olha com desdém.

 

ZAHRA

O deixe com os serviçais antes de sair.. (espumando) Desejo com a força de minha alma, que vós e vossa mãe morram da pior forma possível assim como a morte que promoveram ao nub.

 

NEMEWÁ

(baqueado)

Anounak! Está morto? (choro contido) Não pode ser!

 

Suspense. ZAHRA se aproxima dele na tentativa atazaná-lo.

 

ZAHRA

Essa tristeza não passa de mentira! Anthenoken pode não perceber a sua falsidade, mas, eu a vejo... Eu a sinto a exalar de sua pele. Assim como a de sua mãe.

 

Ele a olha lacrimejando e tentando esconder a tristeza. MALIK se emociona como se soubesse de algo.

 

NEMEWÁ

Não sabes de nada! Julga-me sem conhecimento.

 

ZAHRA

Basta conhecer um assassino para saber de todos! (T) Vi a tua mãe adentrar os aposentos do rei. Por sorte, a rainha a flagrou o dando veneno. (T) Ela poderia estar longe daqui se não a prendêssemos.

 

NEMEWÁ a afasta dele.

 

NEMEWÁ

Ela não merece tal suplício! Não ousem tocar em minha mãe. Vou interceder ao príncipe por ela e desfazer esse mal-entendido!

 

ZAHRA

Não se atreva a aproximar dele ou/

 

NEMEWÁ

Ou? ...Me matarás?!

 

ZAHRA

Se preciso, o farei.

 

NEMEWÁ a segura pelo braço e a ergue do chão.

 

NEMEWÁ

Morreria com gosto se verdade fosse tudo o que dizes. No entanto não o é. (ameaça) Não se atrevas a um desatino ou terei que defender a minha honra e de minha amada mãe. Lembre-se: tens filhos também!

 

A solta e SAI apressando. ZAHRA massageia o pulso com dor.


18.     EXT/MARGENS DO NILO/DIA-POENTE                            

 

ANTHIEPT e TUTANCAN param no cais e seguram uma tocha.

 

TUTANCAN

Qual o motivo segredar-me aqui?

 

ANTHIEPT

Os servos poderiam nos ouvir. Não confio segredos sobre nós a esta gente! (T) Ouça bem a tua avó: todos o dizem fraco, meu neto, mas, não creio nisto. Para mim, é o mais forte e o mais parecido comigo. Por isso, estamos aqui. (T) Vingarei a morte de teu avô e preciso de tua ajuda... Não confiaria isso a outro que não ao meu predileto. O que faremos e falarmos aqui, morre aqui: nas margens do Nilo. (T) Ajuda-me Tutancan?

 

Por trás de cestos empilhados NEVERA espia a conversa.

 

TUTANCAN

(medroso)

Não sei como posso!

 

ANTHIEPT

(alucinada)

Vêde as embarcações? Todas nossas!

 

TUTANCAN nota o olhar transtornado da avó. Fica apreensivo.

 

(Cont’d) Aquela, acolhe os grãos que vendemos aos demais. (T) Preciso que prepares amarras e derrame óleo sobre tudo. Podes fazer isso enquanto busco a prisioneira?

 

TUTANCAN

(acuado)

Torturarás a mulher que o envenenou?

 

ANTHIEPT

Sim! (T) És tão perspicaz, meu neto! (T) Achas cruel puni-la? (inflama) Tão cruel quanto a morte de teu avô?!

 

TUTANCAN

Não tão cruel... (ressentido) Diante do que fez, ela merecia ser extirpada de Luxor! (T) Aceito fazer a justiça.

 

ANTHIEPT comemora com um sorriso; o segura pela mão e vão à nau. Pegam barris e despejam o óleo. A rainha o deixa embebendo e segue para as montanhas à beira do Nilo. De longe, o olha empenhado na tarefa. Retoma o caminho.


19.     INT/SALÃO SACERDOTAL/DIA-POENTE                           

 

Suspense. NEMEWÁ ENTRA apressado e afasta o príncipe do corpo de ANOUNAK e se debruça sobre ele. Começa a chorar.

 

ANTHENOKEN

Afaste-se, general! (T) Como te atreves a tirar-me a despedida junto ao meu pai?

 

NEMEWÁ

Precisas saber, Anthenoken: o nub era... (engole) muito querido a mim, apesar de ignorar-me completamente. Eu... o amava. Ele... (entrega) é meu pai.

 

ANTHENOKEN estarrecido. NEMEWÁ chora.

 

(Cont’d) O segredo deveria ter se revelado em vida. Sou o teu irmão, Anthenoken. (T) Anounak desposou a minha mãe enquanto casado com a tua. (T) Foi um adúltero/

 

ANTHENOKEN

(irado/revolta)

Mentira! (grita) Mentira! Queres o trono e desmoralizar a mim.

 

NEMEWÁ

Não, não é mentira! Ontem minha mãe veio lhe cobrar para que assumisse a mim como filho. E, quem sabe, ter os privilégios que tivestes. A mim, nada disso de fato importa. Bastava-me tê-lo me chamado de filho ao menos uma vez. Esta riqueza, tu tiraste de mim.

 

Tapa de ANTHENOKEN. Lágrimas de NEMEWÁ escorrem enquanto se abaixa submisso.

 

ATHENOKEN

Não calunies diante o corpo sagrado do Faraó. Não o basta como morreste?! (revoltado) És dissimulado de chorar sobre àquele que dizes pai, quando o algoz, foste a tua própria mãe!

 

Tensão.

 

(Cont’d) Saia! (T) Guarde as tuas forças para o julgamento de vossa mãe em breve! (T) Saia!

 

NEMEWÁ

(de joelhos)

Clemência à ela, príncipe.

 

ATHENOKEN

Clame aos deuses. Pois de mim, terá morte igual; (com asco) ou pior!

O humilha empurrando com o pé e lhe derrubando.

 

(Cont’s) (tom baixo) Agora, saia!

 

Suspense. NEMEWÁ limpa as lágrimas levanta-se e põe-se de frente a ANTHENOKEN. Troca de olhares intimidadores.

 

(Cont’d) Saia! Eu disse para sair! (T) Sai!

 

NEMEWÁ obedece e SAI. OMAR se aproxima de ANTHENOKEN e deposita a mão em seu ombro.

 

OMAR

O ritual deve se iniciar. O príncipe tem que ir se purificar em banhos. Acometeu-se pelos nervos. Descanse enquanto cuidaremos de tudo por aqui.

 

ANTHENOKEN assente, se aproxima do ouvido de ANOUNAK.

 

ANTHENOKEN

Até breve, meu pai!

 

Beija o rosto do defunto e o acaricia. Lágrimas escorrem.


20.     EXT/TRILHA NAS MONTANHAS/NOITE                            

 

Vento mexe as roupas e cabelos de ANTHIEPT. Apresenta cansaço. Para e respira pelo trajeto.

 

SETNIAK(V.O.)

Não pretendes contar ao príncipe que a mãe do general é inocente?

 

OMAR (V.O.)

Não. Isso pode arruinar este reinado.

 

SETNIAK (V.O.)

A verdade não se esconde, Sacerdote. Até aquilo que está sob as areias, um dia, o vento revela. O trono voltará a quem se destina.

 

Ventania de areia passa sobre ANTHIEPT. Suspense.

 

OMAR (V.O.)

Deixe que o vento revele. Não serei o portador dos conflitos familiares.


21.     INT/CALABOUÇO/NOITE                                       

 

ANTHIEPT ENTRA e depara-se com o soldado que a reverencia. Ela estende a mão e olha para a adaga em sua cintura. Ele a entrega. Ela faz sinal com a cabeça para que saia. SOLDADO SAI. Suspense instrumental. ANTHIEPT admira a adaga. A cena deve mostrar a falsidade e a frieza da rainha.

 

NERFIRI

(acuada)

Clemência, rainha! Deixe-me ver o meu filho novamente! Não me mate!

 

ANTHIEPT sorri e coloca a adaga ao chão. Empurra devagar com o pé para próximo de NERFIRI. NERFIRI engole seco.

 

ANTHIEPT

Trilhamos um caminho sem volta.

 

NERFIRI a olha com desconfiança e medo.

 

(Cont’d) Não importas o que dizeis, pesa sobre ti a pena pela morte do rei. (T) Se quer clemência, a ofereço com uma condição única: viro-me e saio. Pegas esta adaga à sua frente como conseguir e livra-te das amarras. Vá ao cais e tomeis a primeira nau da frota comercial. Suma de nossas vidas levando o segredo daquela noite contigo de uma vez por todas ou, fique aceite a pena de morte.

NERFIRI

(desconfiada)

Quem me garante que não me caçarás pelos cantos do deserto, ou punirás ao  meu filho.

 

ANTHIEPT

Tens a minha palavra que não. Quero evitar os rumores que tirem Anthenoken do trono. Ao teu filho, manteremos a mais alta patente como está. À mim, dói a existência deste adultério. Você some, a história some! E, sigo em paz. (mente) Tudo o que quero no que me resta de vida.

 

NERFIRI         

Se aceitar tal condição, assumo um assassinato que não cometi e abro mão dos direitos do meu filho. (pensativa) Mas, sei do peso de sua posição contra as minhas verdades. De qualquer forma serei a culpada aos olhos dos outros.

 

ANTHIEPT

És inteligente! Pense que em alguns anos verás Nemewá novamente. Quando as poeiras do deserto encobrir tudo isso. Por ora, posso dizer que Anthenoken o respeita demais para castiga-lo ou atentar contra a sua vida.

 

Suspense. NERFIRI pensativa.

 

(Cont’d) Tens a chance de sumir e em alguns anos voltar a ver o teu filho. (T) Tens o Nilo como companheiro de viagem e a liberdade do outro lado dele; se optar por ficar, terás poucos dias e a devida punição. (T) Sejas sábia na tua escolha!

 

ANTHIEPT lhe dá as costas e com um sorriso maldoso SAI.


22.     INT/SALÃO DO TRONO/LAVATÓRIO/NOITE                        

 

ANTHENOKEN ENTRA visivelmente irritado e senta-se. ZAHRA se aproxima dele e deita a cabeça em seu colo. Pega a mão dele e coloca em sua cabeça para carinho. Ele suspende a mão.

 

ATHENOKEN

Traga-me o novo escravo. Quero me banhar. Quero que ele me servindo.

 

ZAHRA

Posso lhe banhar, meu príncipe. Afinal, quero mais tempo ao teu lado.

 

ATHENOKEN

Banhos são para os serviçais. À mim, terás em nosso leito. Por ora, deixe que os servos façam o seu papel.

 

ZAHRA engole a fala, assente e SAI. ANTHENOKEN respira acelerado várias vezes e o choro começa a descer, começa a tirar suas vestimentas e as joga no chão em prantos.

 

-- LAVATÓRIO:

 

Fonte cheia de água. Servas preparam o banho com folhas e MALIK observa. ELAS SAEM. ANTHENOKEN ENTRA e se posta diante de MALIK. Estende a mão e MALIK o apoia para entrar na fonte. Suspense instrumental. ZAHRA observa a cena escondida. MALIK inicia o banho passando a mão molhada pelo rei.

 

Passa a mão pelo pescoço e aperta. ANTHENOKEN leva a mão do escravo para baixo e movimenta.

 

ANTHENOKEN

Tens que lavar bem todas as partes.

 

O escravo começa o vai-e-vem mais ágil. ANTHENOKEN tomba a cabeça de prazer e MALIK fica mais ofegante. ZHARA lacrimeja e SAI de cena. MALIK encosta o boca no pescoço do príncipe e ele se esquiva.

 

(Cont’d) (sussurra) Agora não.

 

MALIK se afasta decepcionado e volta ao banho. ANTHENOKEN disfarça o arrependimento pigarreando e fechando os olhos.


23.     EXT/CAIS DO NILO/NOITE                                    

 

ANTHIEPT assente com a cabeça para alguém. TUTANCAN procura com os olhos alguém em volta. NEVERA se aproxima abaixada por entre caixotes. Vê um guarda e se esconde acuada atrás de uma pilha de badulaques. Close nela apreensiva.

 

TUTANCAN

(preocupado/à si)

A noite está mais breu que o usual. (triste) O céu prepara-se para o embalsamento de meu avô!

 

ANTHIEPT se aproxima dele e o abraça.

 

ANTHIEPT

Me prometas, acima de tudo, que o que vires e fizeres aqui, estará bem preso em tua boca! (sincera) Dei esse passo para guardar um segredo e proteger o trono para a nossa família!

 

TUTANCAN

Que segredo? O poderia nos afastar do trono, avó?

 

ANTHIEPT

Tens que confiar em mim, meu neto. Não deveis se informar sobre isto agora. Como um sábio que estais prestes a se tornar, apenas confie nas ações.

TUTANCAN

O que faremos é moral? Ela virá?

 

ANTHIEPT

Justiça é moral. Acalme-se. Ela virá!

 

JUMP CUT:

 

CAM busca NERFIRI com a roupa e adaga sujas de sangue. Ela parte para cima da rainha com fúria e adaga em riste. TUTANCAN entra na frente de ANTHIEPT em defesa e NERFIRI para.

 

NERFIRI

Mentirosa! O guarda me perseguiu e me atacou. Queres me ver morta!

 

ANTHIEPT

(dissimulada)

Cometera outra atrocidade? Ele tinha ordens de lhe escoltar até aqui.

 

NERFIRI

Ele tentou me matar. Por sorte não me desfiz da adaga. Não me deste isso sem pensar na possibilidade de me defender, não é?

 

ANTHIEPT

Causaste a fúria até entre os servos ao assassinar o rei. Querias andar livremente e desarmada?! Entende a gravidade de sua presença? (T) Deves partir e evitar mais tragédias.

 

NERFIRI

Sabes que não parti/

 

ANTHIEPT

O barco está preparado. Siga-me. E, se contenha! Não vais querer a alcunha de matar a rainha também, vais?

Aponta para a nau e segue. NERFIRI ergue a adaga e acompanha. Olha para TUTANCAN que está logo atrás e visivelmente nervoso. Suspense instrumental. NEVERA temerosa tenta mudar de posição com a rainha sem sucesso. Andam pelo convés, TUTANCAN adentra a nau e se esconde atrás dos cestos de grãos.

 

ANTHIEPT

Agora que estamos sós, a verdade.

 

Frente a frente. NERFIRI aponta adaga para o peito da rainha.

 

(Cont’d) Devo agradecer que aceitou sair de nossas vidas; por deixares os rastros que a tornam a única culpada por tudo o que aconteceu e acontecerá aqui (sorri).

 

Suspense. Música domina a cena que denota loucura. NERFIRI a olha sem entender. TUTANCAN derruba o cesto de grãos e distrai NERFIRI. Rápida, ANTHIEPT, vira a adaga e a desfere contra NERFIRI que cambaleia para trás e tenta estancar o sangue no peito; pisa nos grãos e cai. TUTANCAN a amarra as mãos, NERFIRI balbucia algo e reluta. ANTHIEPT coloca um chumaço de pano na boca de NERFIRI. Descem da nau e empurram do leito. A nau segue a correnteza e vai rápida para longe das margens. NEVERA tampa a boca horrorizada. Lágrimas escorrem. ANTHIEPT e TUTANCAN correm para perto de um soldado. ANTHIEPT pega o arco com flecha do soldado e amarra um pano embebido de óleo na ponta da flecha. TUTANCAN, transtornado, olha para ela. Ela deposita a ponta da flecha na tocha e o fogo acende. Arma o arco e a flecha, mira e atira na direção da nau que começa a queimar. Urros de NERFIRI dominam a cena. NEVERA tapa a boca e chora. TUTANCAN tenta esconder o choro. ANTHIEPT olha alucinada para a nau em chamas. Luzes do fogo colorem a cena musicada.

 

CORTA PARA O:

 

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P R Ó X I M O   C A P Í T U L O

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Minissérie de
JOÃO SANE MALAGUTTI

Elenco
ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA

Direção
ANDERSON SILVA

Produção
BRUNO OLSEN


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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