FADE IN:
1. EXT/CAIS DO NILO/RUAS DE LUXOR/NOITE
Retomada: Nau em chamas. Reflexo
nos olhos da rainha ANTHIEPT que admira o fogo. Atrás,
TUTANCAN, lacrimeja. Suspense.
ANTHIEPT
(à si)
O segredo
morreu em ti.
TUTANCAN
(perplexo)
O fizeste?
(T) Que segredo
ameaçador é este nos fez
ceifar aquela mulher?
ANTHIEPT
Segredos! Os mais sórdidos
que agora se foram para sempre! (T) Aprenda: Mãos
sujas, moral limpa! O poder
pelo poder!
ANTHIEPT caminha pelo cais. TUNTANCAN, ainda perplexo observa a nau. NEVERA, abalada, entre
cestos, foge em surdina.
(Cont’d) Voltemos!
Darão a nossa falta no
palácio!
TUTANCAN segue a avó mantendo
certa distância atrás.
Os poucos soldados abaixam-se
e outros curvam-se intimidados. Ela os olha com altivez e eles desviam o olhar.
-- RUAS DE LUXOR:
Suspense instrumental. NEVERA
corre pelas ruas em lágrimas. As pessoas a observam com diferentes reações (como curiosidade,
compaixão, ironia, etc). Ela para próxima a uma barraca com cerâmicas e cestos. Respira
e tenta controlar o choro. Enxuga
as lágrimas e sai apressada. Numa esquina tromba com NEMEWÁ. Ele a encara preocupado e ela irrompe
em lágrimas. Ele a segura pelos ombros.
NEMEWÁ
(assustado)
O que está acontecendo?
Ela meneia negativamente sem conseguir falar.
Ele a abraça com
compaixão. Close em NEMEWÁ.
SETNIAK (V.O.)
Ela está morta!
2. INT/TEMPLO DE OSIRIS/NOITE
Suspense. Apoiado em um cajado, o cego SETNIAK anda em
volta da fogueira no chão. Ele ergue a cabeça e revira os olhos.
SETNIAK
A rainha mesma arquitetou o plano e o
executou. (T) Agora, é esperar
que os castigos se abatam
sobre a família.
Sorriso irônico. ZAHRA sente um arrepio e cruza os braços.
ZAHRA
Quais? Que castigos,
adivinho?
SETNIAK
Todos! (T) O principal: o trono! Há o
risco de se perder entre herdeiros. (segreda) Atente-se aos teus filhos,
princesa; se não quiseres ver uma tragédia; ensine-os a se respeitarem.
ZAHRA cruza os abraços e se arrepia
preocupada.
3. INT/CASA DE NEMEWÁ/NOITE
NEVERA em prantos. NEMEWÁ contendo o misto de fúria e tristeza.
NEVERA
Nerfiri saiu daqui pressentindo que não mais voltaria! (T) Não afronte essa gente, Nemewá. São
perigosos!
NEMEWÁ visivelmente irritado para diante
dela.
NEMEWÁ
Ela não tinha que ter ido ao Palácio. Não devias tê-la deixado ir.
NEVERA
Ela
foi escoltada a mando da rainha. Foi certa de reaver o seu trono!
É um direito teu, Nemewá. (T)
Com certeza armaram uma armadilha para ela. Ela se foi, mas a luta pelo seu
direito vai continuar em mim, meu sobrinho.
NEMEWÁ
Não!
De agora em diante, eu assumo as rédeas do meu futuro. Ninguém mais age por
mim. O trono já não será meu. Meu pai morreu sem me reconhecer. (choro) Só me resta ir à margem
do rio e saudar a alma de
minha mãe.
NEVERA
(serena)
Antes, senta-te!
Ouça, meu sobrinho...
NEMEWÁ obedece.
NEVERA se abaixa
e segura as suas mãos. (cont’d) Tua mãe fora humilhada ao
ser presa. Ela não envenenou ao rei.
(T) Ela seria incapaz
de cometer tal ato. No âmago, ela amava Anounak.
NEMEWÁ abaixa a cabeça e lacrimejante.
(Cont’d)
A rainha! Foi a rainha quem armou tudo! Eu a vi com aquele neto; o mulher!
Tramavam no cais.
(para si) Traçaram um plano
cruel da qual a pobre não pode se defender.
NEMEWÁ controla
o choro e a encara.
(Cont’d)
Eles são cruéis assassinos! Eu sei! Eu sei! Eu vi! Não tive como impedir! (T)
Vingarei a morte de Nerfiri, meu sobrinho.
Como disseste: não é o trono o
que importa agora.
Caiu
sobre nós a alcunha de traidores. (T) Mas, sei o que fazer para limpar
a honra de nossa família!
NEMEWÁ
Não! Não farás nada. Eu o farei. No
tempo certo; ao que for o propício. Essa guerra é minha!
NEVERA
Duas
cabeças pensam melhor que uma. Deixe-me agir! Peço que ignores a minha presença
em público ou no palácio. (T) Por sorte, o destino me colocou como serva da rainha. Tudo o
que se passar lá, estarei ciente.
Posso te ajudar!
NEMEWÁ
É arriscado! Não posso permitir!
NEVERA
Vou! Mesmo sem a sua permissão (T) Nerfiri está morta e vou me
vingar!
Segura NEMEWÁ pela cabeça e o beija na testa.
(Cont’d) Somos
só dois. Um cuida do outro. É preciso andar lado a lado.
NEMEWÁ beija a sua mão
com carinho e em respeito. Instrumental.
4. EXT/APOSENTOS DO PRÍNCIPE/SALÃO SACERDOTAL/NOITE
ANTHENOKEN deitado com lágrimas escorrendo. MALIK o abana.
ZAHRA ENTRA e encara MALIK em desagravo. Deita ao lado do marido e o abraça por trás. Ele puxa a mão da esposa e a leva
em seu membro.
ZAHRA
(incomodada)
Não é tempo para isso! Olhe ao redor tudo o que acontece neste/
Ele a beija. Vai para cima dela com voracidade. Ela aparta.
(Cont’d) Não! Não assim! Não na frente
do escravo!
ANTHENOKEN
Escravo
não, servo! Acostume-se com a presença. Não confiarei os aposentos a ninguém
desta cidade depois do que aconteceu. (impõe) Quer queira, ou não,
ele fica!
ZAHRA
(decepcionada) Como queira, meu senhor!
A beija com voracidade. Aos poucos ela cede; MALIK, não será mais entrave, ela o encara vez ou outra como uma disputa. À partir de agora cortes descontínuos para desenhar uma cena de um príncipe emocionalmente desajustado diante a situação de luto. Enquanto faz amor, o cântico do embalsamento do rei passa a dominar instrumentalmente a cena. Beijos ardentes pelo corpo.
-- SALÃO ACERDOTAL:
Sacerdote OMAR, mascarado como Anúbis, e, outros sacerdotes
abrem ANOUNAK com um bisturi de pedra obsidiana diante de Shenk. Retiram com
cuidado os órgãos, exceto o coração, e colocam
em vasos. As tampas dos vasos devem
conter as cabeças de deuses esculpidos.
-- APOSENTOS DO PRÍNCIPE:
Durante a relação, ZAHRA está de costa para ANTHENOKEN. Ele está visivelmente excitado e não tira os olhos de MALIK.
-- SALÃO SACERDOTAL:
SHENK assiste o embalsamento. Dado momento, OMAR retira a
máscara, aproxima do rapaz e o leva diante do avô. O dá um pedaço de linho e
faz um gesto para que limpe o defunto.
OMAR
Aqui,
meu jovem, o coração está presente. É parte de sua alma que vai
com ele ao julgamento.
SHENK o olha com atenção.
(Cont’d) O futuro
rei deve saber
dos cuidados com o Faraó e de sua divina
importância. O coração ficará nu aos
olhos de Osíris. Seja respeitoso com o nub!
Carinhosamente, SHENK que limpa o corpo.
-- APOSENTO DO PRÍNCIPE:
ANTHENOKEN
cai extenuado ao lado da esposa. Vista do alto: os dois em silêncio
e nus. Closes: ZAHRA triste,
ANTHENOKEN, de costas, chora. MALIK os abana com olhar ao longe.
5. INT/CORREDOR/SALA DO TRONO/NOITE
ANTHIEPT beija a testa de TUTANCAN.
ANTHIEPT
O
que viu no cais, jamais deve ser pronunciado. O segredo morreu ali, inclusive para nós. Espero
que isso não lhe
traga pesos na consciência. A culpa
pode ser um calabouço para a alma.
TUTANCAN
Um
nobre deve fazer o que tem que ser feito; mesmo que cause sofrimento. Eu
compreendo o peso do poder,
minha avó!
ANTHIEPT
Compreendeste
melhor do que imaginei. Vá descansar. Fizeste
demais por hoje!
TUTANCAN beija a mão da rainha e SAI. Ela
encosta numa pilastra e olha para o nada. ANOUNAK
surge envolto de luz.
ANTHIEPT
Está feito!
Acabou...
Por trás de ANOUNAK, NERFIRI
surge e segura
a sua mão. ANTHIEPT chora.
(Cont’d)
Sempre foi ela, Anounak! Jamais habitei em ti, não é? (T) A
escolhida em seu coração, foi
ela.
As aparições somem e o corredor se escurece. Ela CAI escorada numa pilastra em choro baixinho, angustiada pela assombração. Tem punhos cerrados pressionando a fonte.
-- SALA DO TRONO:
SHENK ao trono
e pensativo. TUTANCAN
entra sorrateiro.
TUTANCAN
O trono
nem esfriou...
SHENK
Onde
esteve? Não participaste do início do ritual de embalsamento.
TUTANCAN
Estava
com a avó. A rainha tinha afazeres para o futuro deste reino.
SHENK
Quais afazeres São mais importantes que o ritual? O funeral é do marido dela!
TUTANCAN
Se,
ela não o disse, eu quem não a delatarei. É um claro sinal de que ela não
confias em ti. Mas, em mim, sim! (T) A propósito, Shenk,
o trono tem uma linha de
sucessão: vovó, papai e quem sabe, mamãe.
Depois; só depois, vem você. Não se apresse
em se apossar do que não é teu, afinal,
os usurpadores não são bem quistos!
SHENK se aproxima e ficam tet-tet.
Desafio.
SHENK
A
boca fala do que o coração enches, meu irmão! Será que sou o que deseja “isso”? (aponta)
Estais livre. Sente- se! (T) Prove um pouco do poder
para quem sabe, se ajuíze e amadureça!
TUTANCAN engole.
SHENK o olha desafiadoramente e SAI.
TUTANCAN
(para si)
Não
sou o fraco que imaginas, Shenk! Ainda provarei o meu valor e tereis o
respeito que mereço, meu irmão!
Aproxima-se do trono e o acaricia, admirado e seduzido.
6. INT/TEMPLO DE OSÍRIS/NOITE
OMAR ENTRA.
SETNIAK para ao ouvir os passos. Suspense.
SETNIAK
Ouço teus passos, Omar.
Estão pesados!
OMAR
Para um cego, enxergas
mais que os que
têm os olhos intactos. (T) Queria eu, por ora, ser cego e surdo. (pesaroso)
Quem sabe até mesmo um incapaz de tomar partidos.
OMAR bebe água na fonte.
(Cont’d) O sacerdócio é um deleite doloroso!
SETNIAK
A sucessão
afetará a todos e sabemos
do peso que recairá sobre ti. (T) Vieste para consultar o oráculo, mas,
neste caso, creio que não seja necessário incomodar os deuses, Omar. As respostas estão diante dos teus olhos.
OMAR respira
fundo. Olha ao longe.
OMAR
O que fazer Setniak?! O quê?!
SETNIAK
Deixe
que a água flua na correnteza. Os fatos precisam
acontecer para expor o
caráter das pessoas.
Sabes que o nub
foi assassinado! Colheu o que plantou.
Deixe que as consequências recaiam sobre as ações dos envolvidos. Deixe!
Vista do alto. SETNIAK anda em volta da fogueira e ergue o cajado como se invocasse algo das profundezas. A fumaça sobe.
OMAR
Este
reino é marcado pelas batalhas que Anounak travou e as venceu. Deu a Luxor o progresso e a força que somos! Enquanto um sacerdote não posso deixar que retroceda! A sucessão
é estrutural e... (T) Anthiept
é passional; não consegue ser estrategista! Incapaz de manter a sobriedade e a
prosperidade de Luxor.
SETNIAK
A
fumaça! (aspira) Ela diz que... a rainha não reinará. A sucessão será masculina e na linhagem
de sangue de Anounak.
OMAR funga ironicamente.
(Cont’d) Não se afeiçoa
ao príncipe?
OMAR
Tal a mãe! Só os interesses próprios.
SETNIAK
Há mais gente na linhagem...
OMAR
Nemewá?!
Como elevar o bastardo ao trono? (perdido) Seria mais fácil se fosse o neto. Shenk é como Anounak! Só que mais jovem, e com mais vigor.
SETNIAK
Quatro
são as estações, os cantos do reino e, também,
os herdeiros homens: Nemewá, o bastardo, mas
primogênito, Anthenoken, da relação oficial,
Shenk, como dissera
e... (sombrio) não se esqueça do caçula Tutancan, que também tem o sangue real.
OMAR
Este
jamais será Faraó! Não se pode ter no Faraó a condição vulnerável que o tens.
(T) Podes ele, deitar-se ao desejo de desfrutar quantos
homens puder, mas, não os servindo como uma mulher. Isso já o mostra
como um inferior! Um fraco!
(obstinado) Shenk seria a
escolha mais sensata!
SETNIAK
Tomaste partido.
Isso é perigoso!
OMAR
(insiste)
Pergunte ao oráculo se erro!
SETNIAK canta. Bate o cajado no chão e evoca a fumaça para
o alto ao erguer os braços. Silêncio por alguns segundos.
SETNIAK
Sinto decepcionar. (T) A resposta
é a mesma. Deixe fluir. Caso contrário, a história será banhada em sangue.
Suspense. OMAR com pensamento distante.
7. EXT/DESERTO/DIA – ALVORECER
Drama
instrumental. Passos à margem do rio com a água pelos joelhos. Aos poucos a
CAM abre e revela NEMEWÁ. Se aproxima do resto da nau que está à margem do
rio. Põe a mão sobre o queimado, esfrega os dedos e olha compenetrado.
JUMP CUT:
NEMEWÁ sobre
a nau queimada. Caminha vagarosamente até a proa e
olha o rio. A brisa mexe suas roupas. Ele tem as mãos juntas e fechadas. Panorâmica.
SLOW-MOTION: Abre os braços e joga a poeira para o alto. O vento leva para o
rio.
NEMEWÁ (V.O.)
Sou grato,
minha mãe. Pela minha vida, minha força e minha sorte. Pelo
homem que me tornei. Anúbis há de acolher o teu pó e levar
à Osíris para
que tenha seu merecido
julgamento e paz. (voz embargada) Fará muita falta!
Pega
as cinzas da nau e joga sobre o rio. CAM persegue os desenhos que
o vento forma
n’água. Em NEMEWÁ
com suas lágrimas.
8. INT/SALÃO SACERDOTAL/NOITE
Suspense. ANTHIEPT
caminha vagarosamente em volta do corpo
de ANOUNAK. Descobre o corpo, segura a mão do defunto e a leva até o seu rosto
como se fosse acariciada.
ANOUNAK (V.O.)
Arrependes de me matares?
Ela faz que sim com cabeça. Surge uma luz. ANOUNAK senta diante dela e do próprio corpo. Ele se observa em defunto.
ANTHIEPT
O que ela fez que eu não pudesse
lhe proporcionar?
ANOUNAK dá de ombros.
ANOUNAK (V.O.)
Se
vivo estivesse, sentiria, ainda, minhas mãos quentes
a lhe acariciar.
ANTHIEPT
Do que me adiantaria se escolheste a ela. Á mim, só as decepções!
ANOUNAK
É
relativo, mulher! Nunca soubeste de nada. Quando descobriste, escolheste o poder, não a mim. E, por isso findou
a minha vida. Ciúme dela? Ou do filho?
Ela o olha como se caísse em si. Levanta-se. A luz se
apaga. Olha por todos os cantos e não o encontra. Observa a face do defunto.
ANTHIEPT
Anounak! Queres tirar-me o juízo! (T) Se
queres saber? A mim, de fato, só o
poder importa. (T) Farei o impossível
para que o filho da traição não herde
o trono. (com asco) Na balança de teu
julgamento, há de pesar o adultério. Que Ahemait devore tua alma pecadora!
SAI pisando duro. CAM busca o rosto inerte de ANOUNAK.
9. INT/LAVATÓRIO DA ÁREA DE SERVIÇO/DIA
MALIK espera demais
servos saírem da fonte e adentra com sono.
Lava o rosto e coloca-se de pé. Tira as vestes banha-se. CAM revela TUTANCAN a
espiar. Os servos passam por ele e abaixam a
cabeça em respeito. TUTANCAN se concentra em MALIK com feição
de admiração. Música instrumental indica um sentimento.
TUTANCAN (V.O.)
Essa pele alva! Esse rosto! Um homem
tão belo como jamais vi.
MALIK se molha a cabeça e deixa a água escorrer pelo corpo.
TUTANCAN aperta suas partes com desejo. Suspense.
10. EXT/DUNAS DO SAARA/DIA
Vento leva areia. Suspense.
TIME-LAPSE: Sol subindo.
Efeito mormaço.
11. INT/SALA DO TRONO/DIA
Suspense. MALIK abana ANTHENOKEN. NEMEWÁ, abatido, ENTRA e
se curva ao príncipe.
NEMEWÁ
Mandaste chamar-me?
ANTHENOKEN
Sinto
por vossa mãe, General. Não desejei o seu fim trágico, embora cometeste o pior
dos crimes contra a honra desta nação!
Foste um trágico
e repentino acidente!
NEMEWÁ
Não! Não foi um acidente! (T) Fora
assassinada de forma cruel e vil! Encontrarei
o assassino e punirei!
ANTHENOKEN
É
um direito teu! E, como foste fiel protetor de MEU pai, lhe dou o aval para
tal. (T) Antes, saiba que a tua mãe feriu um soldado ao fugir. Pode ser que ela
tenha motivado a própria morte! (T) Se for isso, encontre o criminoso e faça a justiça com as suas próprias mãos.
NEMEWÁ
Quem
disse que quero a Justiça?! Não sejas ingênuo! Quero vingança! E, vou
achar os culpados, meu irmão!
ANTHENOKEN se levanta.
ANTHENOKEN
(irado/tom baixo)
Não me chames assim! Não sou o vosso irmão. Não o reconheço como tal!
NEMEWÁ
Negar a mim enquanto
irmão é direito teu! Podes punir-me ou solicitar a
minha execução, mas, Anounak, é MEU pai e não me calarei quanto a isso diante
de ninguém e nem da família real. (T) Como não hesitarei a pena de morte pelo
assassinato de minha mãe à realeza... (emocionado) Tão breve encontre as
provas.
Suspense. O príncipe pensativo coça o queixo.
ANTHENOKEN
(sincero)
Se, tivesse
sido alguém da família,
eu saberia/
NEMEWÁ
Parece que não! (T) Os teus tripudiam
debaixo de vosso nariz e não os veem.
ANTHENOKEN
(ameaça/tom baixo)
Não
ouse se aproximar dos meus. Lhe tiro da frente
do exército, de Luxor,
se não fizer coisa pior contigo.
NEMEWÁ caminha até ele para embate. SHENK
SAI de cena. (Cont’d) Farei com que/
NEMEWÁ
Não farás nada porque não és o Faraó. O trono agora é de vossa mãe.
Serás, tu, mais um a morrer sem a alcunha de Faraó. Morrerás tão insignificante
como vives. (T) Escravo dos próprios medos. Dos desejos! Um vergonhoso filho para MEU pai. Ele não o merecia este desgosto!
Aponta para MALIK.
O encara severamente e SAI. ANTHENOKEN olha para MALIK devastado e deixa o corpo cair sobe o trono.
12. EXT/JARDINS REAL/DIA
TUTANCAN delicia-se com tâmaras à sombra de tenda formada
por tecidos enquanto algumas
mulheres o abana.
SHENK chega pisando duro e o levanta segurando firme
em seu braço.
SHENK
Tens de me dizer, meu irmão! O que fizeste a rainha e tu, ontem?
TUTANCAN se desvencilha. Faz gesto para as servas
afastarem.
TUTANCAN
Não ouse me tratar
assim novamente na frente dos servos. Quem pensas ser?
SHENK
(insiste)
Me responda! Estiveram no cais
ontem à noite?
Close em TUTANCAN
engolindo seco.
ZAHRA (V.O.)
Temo que se embatam!
13. INT/REFEITÓRIO REAL/ DIA
ANTHIEPT come frutas ao lado de ZAHRA.
ANTHIEPT
É saudável
que se enfrentem. Os irmãos devem se encorajarem entre si.
ZAHRA
Como podes saber; só tiveras a Anthenoken?
ANTHIEPT
Eu
tive irmãos. Todos foram tombando aos poucos, em batalhas. Eu sobrevivi
porque me ensinaram o embate,
eis que me tornei a vara que
se enverga, mas não se quebra.
ZAHRA preocupada caminha de um lado para o outro.
ZAHRA
Não me criei neste dogma! Eu não posso cegar-me ao risco que eles correm ao
se enfrentarem. Disse-me, Setniak... (engole por medo) que.../
ANTHIEPT
(apreensiva)
O que o cego lhe disse?
(T) O que as visões a ele
revelou?
ZAHRA
Que deveria educa-los
ao respeito. E, que
uma tragédia cairá
sobre nós. (T) Entendes o meu medo de mãe?
ANTHIEPT preocupada. Suspense.
14. EXT/JARDINS REAL/DIA
SHENK e TUTANCAN. Retomada
SHENK
Onde estiveram? Não esconda!
TUTANCAN
O que quer pagar pela resposta?
SHENK
Isto não é um jogo! (T) Nemewá está à
procura dos assassinos e pelo que percebi, ele já desconfia quem foi.
TUTANCAN senta preocupado.
(Cont’d) Ele colocou papai contra a parede; está autorizado matar aos
culpados. (T) Mesmo que da família real.
TUTANCAN
(mente)
Não
tens com o que se preocupar. (T) Saímos a nos consolar. (sorri
amarelo) Faças o mesmo, teu sofrimento calado por nosso avô está a lhe
consumir em tensão. Dá pra sentir daqui!
SHENK
(desconfiado)
És certo
de que não tem mais nada a dizer? Nem para se proteger?!
TUTANCAN
Basta-te ao que te digo! Não sou um assassino!
Suspense. SHENK SAI pisando
firme. TUTANCAN preocupado.
ZAHRA (V.O.)
Shenk é forte! É comedido e leal!
15. INT/REFEITÓRIO REAL/ DIA
ANTHIEPT e ZAHRA.
ANTHIEPT
Tutancan é tão leal quanto! Por mais que pareça frágil, tem uma fortaleza dentro de si. (T) Enfrenta olhares que lhe desaprovam o tempo todo por ser delicado e diferente. (T) Isso é força e coragem de verdade! Devias conversar mais com ele, invés de tender para o lado do primogênito.
ZAHRA
Eu
os amo igualmente. A rainha está a dizer besteiras! Nunca
que ia preferir mais a um que o outro! (T) Tutancan, pode ser o que
quiser; mesmo assim, é o meu filho amado!
ANTHIEPT aproxima
de ZARAH e deposita a mão em seu ombro.
ANTHIEPT
Deixe-o saber disso! Deixe-o sentir o
amor de verdade. O preterimento é uma barreira incapacitante na mente de um
Homem. (T) Quer, queiram, ou não, eu, o
farei rei; ele tem a verve de nossa
gente. Quanto a Shenk, seria um ótimo sacerdote. Não mais que isso!
ZAHRA a olha contrariada. ANTHIEPT sorri com carinho e SAI.
16. INT/RIO NILO/ANOITECER
Pescadores aportam
suas canoas. Movimento reduzido. TIME-
LAPSE da lua subindo.
17. INT/SALA DO TRONO/DIA
Instrumental. OMAR veste a máscara de Anúbis. Senta-se ao
pé de ANOUNAK. ANTHENOKEN, senta à alguns metros do corpo, ao centro. SHENK e
TUTANCAN sentam um de cada lado. Usam vestes reais para o ritual. Atrás do
marido, ZAHRA com a mão em seu ombro. ANTHIEPT entra na sala e esbarra com
SETNIAK.
SETNIAK
(à ela/sussurro) Conferes
se consumaste de fato?
Ela recua um passo apreensiva.
(Cont’d)
Não te preocupe. O vosso segredo é o meu segredo.
(sorriso de canto) Este e o
do cais!
ANTHIEPT
(sussurra) Aberração!
Suspense. ANTHIEPT recua
e SAI. SETNIAK sorri para
si. Ritual: ANTHENOKEN
ao centro, desfocado. MALIK espia da porta. TUTANCAN
o vê. Levanta-se e coloca ZAHRA sentada em seu lugar. Ela o agradece com um carinho
na mão e um sorriso
meigo. Ele retribui e SAI. Close: ANTHENOKEN
pensativo. DESFOQUE revela NEMEWÁ mais distante entre
sacerdotes a enxugar
as lágrimas. Suspense.
18. EXT/CORREDOR/NOITE
MALIK caminha pelo corredor quando TUTANCAN o segura pelo braço saindo
por trás de uma pilastra.
Conversa sussurrada.
TUTANCAN
Quem és o estrangeiro de pele alva que caminha livremente entre os
servos e não junto dos escravos?
MALIK ameaça
responder e se
cala.
(Cont’d)
Cortaram-lhe a língua? (com malícia) Lhe fizeram
eunuco? Deixe-me ver!
Tenta espiar
por entre as vestes. MALIK segura a sua mão.
MALIK
Não me toques, rapaz!
TUTANCAN
Não toques,
tu! Aliás, toque muito!
Sou o segundo filho do príncipe.
Ousas negar-me?!
MALIK, apreensivo desvia
o olhar.
(Cont’d) Não temas, branco! (T) Todos
sabem e fingem não ter olhos. A ordem
aqui é o segredo absoluto.
MALIK o encara.
TUTANCAN o acaricia
nos lábios e queixo com o
polegar.
(Cont’d)
Jamais toquei uma tez tão alva! Nem beijei
lábios estrangeiros. E, nem tão belos quanto aos teus. (T) O que mais aprecio dos homens é o
beijo! Iniciam tímidos e com medo, porém, molhados. Depois,
se doam como se fosse a última vez a beijar.
(T) O beijo entre homens é
tão ardente; ou até mais que de uma mulher.
TUTANCAN o pega pela nuca e se aproxima para o beijo. MALIK
quase o beija seduzido; coloca o indicador
sobre o lábio do rapaz o
fazendo abrir os olhos.
(Cont’d) Lhe desejo, estrangeiro.
MALIK
(sussurra)
Também aprecio
os beijos; só que não posso tê-los. Custar-me-iam a vida!
MALIK o encara com verdade, se desvencilha e SAI. TUTANCAN
encosta na pilastra e o olha com um sorriso
de perdedor. SHENK surge e pigarreia. MALIK
segue pelo corredor
e TUTANCAN revira os olhos indo ao encontro do
irmão.
SHENK
Tens de saciar-te à qualquer momento? És um homem com o corpo de um.
Ajas responsavelmente como um. Respeite o ritual em questão; é o funeral de
nosso avô!
TUTANCAN
Não! Não é o faraó!
(T) É apenas uma carcaça velha
a ser embalada. A alma se foi com o último suspiro.
TUTANCAN deixa seu lado mais afeminado
transparecer.
(Cont’d) Deixe-o
seguir o caminho!
E, digo mais: deixe-me que viva os meus desejos; já tens tudo o que
queres e precisa. Eu? Estou condenado a viver em tua sombra comparado como o fraco. Aquele que é inútil.
(magoado) Deixe- me ser feliz
com o que me resta, com a minha vida!
TUTANCAN SAI. SHENK o observa preocupado.
ANTHIEPT (V.O.)
Acalme-se; meu neto!
19. INT/TORRE/NOITE
ANTHIEPT observa
TUTANCAN chorando.
TUTANCAN
Estou
farto disso! Farto! Só eu sei o quanto estou tentando
me manter forte!
ANTHIEPT
És
forte, querido! Não deve se abater por tudo que vai contra o que acha certo. O rei tem obrigações a cumprir.
TUTANCAN a olha contendo
o choro.
(Cont’d) Ficarás
comigo e ajudará
a cuidar deste reinado?!
TUTANCAN
Não sei como posso! Parece que todos
em minha volta querem encarcerar-me a alma. Não me permitem que seja feliz
como sou.
ANTHIEPT
Tuas escolhas trazem as consequências que sofre. Se olhares
bem, lá embaixo tem pessoas que...
O puxa para a janela e mostra pessoas
andando. Suspense.
(Cont’d) São como tu e não consegues
saber. (T) O porquê?
Ele a olha com
curiosidade.
(Cont’d)
Manipulam os impulsos do corpo escondidos uns dos outros.
Não expõem-se. Controlam para não sofrer como tu sofres. É preciso que o
futuro rei se preserve, e aos teus.
TUTANCAN
Não
consigo aceitar essa realidade. Qual a necessidade de esconder quem se é, se
todos são iguais? A vida é permeada de mentiras e a hipocrisia deveria ser
vista e punida como um crime! Achas certo ostentar mentiras?
ANTHIEPT
Não
acho certo! Os segredos se tornam necessários justamente para proteger pessoas
como tu e eu, que agimos por paixão. (T) As pessoas não entendem que a paixão nos move a agir por instinto,
como o que fizemos no Nilo, Tutancan!
(T) Por isso os segredos são intocados.
Ou a derrocada pode insurgir contra nós. Compreendes? Podes beijar e se deitar
com homens, mas, segrede-os!
TUTANCAN
Isso
é tão cruel! Apenas queria ser livre para me apaixonar quantas
vezes quisesse. Se isso traz consequências ruins, me sacrifico; pela
senhora!
ANTHIEPT
Lhe sou grata. Não veja isso como uma prisão. Um dia, serás o condutor de
tua vida e poderás se apaixonar à vontade. Só veja o segredo como um escudo. A arma do grande estrategista que enxergo em ti. Ainda
serás o “nub”. (seduz) És o que quer, não é?
Tensão. Nele confuso.
ANTHIEPT com olhar
obcecado. (Cont’d) Se for o que quer, o farei!
TUTANCAN
(pensativo)
E, Shenk? (T) Ele nasceu primeiro!
ANTHIEPT
Como
avó, sei em meu coração que ele não está preparado. A sucessão nem sempre é a da ordem familiar.
Posso e farei, de ti, o rei que todos deverão se curvar e lhe respeitar. Só siga
tudo o que lhe instruir.
TUTANCAN pensativo. Suspense.
20. EXT/SALÃO SACERDOTAL/DESERTO/NOITE/DIA
Embalsamento. Retomada da composição cênica
já descrita. ZAHRA vai à fonte e bebe água.
Observa SHENK adentrar
com semblante fechado.
ANTHENOKEN preso em pensamentos. DESFOQUE revela NEMEWÁ a observá-lo com
ódio. ZAHRA faz
um movimento com
a mão para SHENK.
Ela assente coma cabeça. Ele olha para
o pai imóvel nos seus pensamentos e vai até ela. Conversa sussurrada.
ZAHRA
Essa sua feição me preocupa!
SHENK
Tutancan
fez de novo! Dessa vez, o flagrei em cima do servo
estrangeiro.
ZAHRA
Se
entreter com o estrangeiro é um favor; não confio
nele. Deixe-o! Ainda é imaturo! Com o tempo, há de mudar.
(T)
Não embata com o seu irmão, deve ser difícil para ele ser como é. Evite
o conflito, Shenk. (T) Prometa-me?
SHENK
Fique tranquila! Eu amo o meu irmão e
o protegerei. Não nego que ele usou a
mim palavras que me deixaram triste. Eu só quero
o melhor para nós! Se ele
quiser, abro mão do trono por ele.
ZAHRA
Deixe de bobagem! É cedo para isso.
Nem seu pai foi rei ainda. Não os quero em guerra por isso, promete?
SHENK faz que sim com a cabeça e voltam ao lugar. ZOOM IN em ANTHENOKEN pensativo.
FLASHBACK/DESERTO/DIA
Coloração diferente. Dois infanto-juvenis representam NEMEWÁ e ANTHENOKEN. Escravos empurram pedregulhos. ANOUNAK sobre a carruagem observa os jovens se combaterem com armas, como um treinamento. Dado o momento, ANTHENOKEN leva um corte no braço e distrai-se. NEMEWÁ o derruba e fica com a arma em cima dele.
JUMP CUT:
Pessoas bebem água e sorriem.
OMAR, mais jovem,
está presente. Sentado ao lado de ANTHENOKEN, mais à frente,
ANOUNAK sorri e abraça NEMEWÁ conversando
carinhosamente.
FIM DO
FLASHBACK
SALÃO SACERDOTAL/NOITE
ANTENOKHEN pensativo. Sacerdotes injetam líquidos em ANOUNAK.
Desfoque revela NEMEWÁ limpando as lágrimas.
21. EXT/JARDINS DO PALÁCIO/NOITE
NEVERA pelo jardim quando avista TUTANCAN passar. O segue.
O jovem caminha por entre plantas e esculturas. Ela se mantém distante e
furtiva. TUTANCAN senta e admira as estrelas. Suspense.
NEVERA
(para si/ódio)
Um dia, tu e a rainha pagarão pelo crime contra a minha irmã.
Ao longe, MALIK apressado e furtivo. NEVERA se abaixa entre as plantas. MALIK furtivo em direção à TUTANCAN; olha repetidas para trás. Aproxima-se por trás de TUTANCAN sem ser visto e lhe pega com uma chave de braço e tampa a boca da vítima. O leva para trás de uma moita. Os dois deitado no chão. Ele destapa a boca de TUTANCAN e gesticula silêncio. Suspense.
CORTA PARA O:
=========================================================== P R Ó X I M O C A P Í T U L O
===========================================================
JOÃO SANE MALAGUTTI
Elenco ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA
Direção
ANDERSON SILVA
BRUNO OLSEN
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
Copyright © 2024 - WebTV
www.redewtv.com
Comentários:
0 comentários: