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Antologia A Magia do Natal: 7x09

Conto de Yêda Marquez
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Sinopse: O melhor natal do Papai Noel mostra a convivência de um homem sensível com seus vizinhos e os passarinhos que ele tanto ama. O final da história é surpreendente.

7x09 - O Melhor Natal do Papai Noel
dYêda Marquez

Batizado como Marino Bonaventura, Seo Tiê  ganhou esse apelido logo que se mudou para a Rua do Azevinho e a meninada do bairro se encantou com sua criação de pássaros que, aliás, eram todos tiê-sangue.

A casa bem ventilada abrigava na varanda quase trinta gaiolas, sempre impecavelmente limpas, misturadas aos vasos de avencas e violetas no sombreado. Frutas, papas, alpiste e água nunca faltavam ali.

Com sua natural simpatia, a pança avantajada e os lindos olhos azuis, Seo Tiê acabou recebendo o convite para se tornar Papai Noel de loja, logo depois de se aposentar e vender a sapataria onde exerceu ofício desde os 16 anos, ao lado do pai.

A história de se tornar outra pessoa nos meses de dezembro agradou tanto a ele e aos que o encontravam naquela fingição bonita que acabou se tornando um hábito ao longo dos anos seguintes.

Os amigos tinham grande orgulho dele que, se já era querido no bairro, tornou-se também uma celebridade nas ruas da cidade.

Os anos se passaram e novos bebês nasceram nas redondezas. Outra geração passou a visitar rotineiramente a casa dos tiês, onde se podia observar os passarinhos saltitando nas gaiolas enquanto as histórias do seu dono continuavam encantando as crianças. Mas havia ainda outra coisa que atraía a todos: os postais que a filha do ex-sapateiro enviava a ele do Quênia.

Numa tarde azulada e clara de dezembro, uma das meninas que sempre apareciam por lá mexeu com a paz do velho amigo ao perguntar para a sua vizinha:

-Giovana, você não acha que passarinho de gaiola tem vontade de voar?

- Claro que tem, mas existem muitos perigos se eles forem soltos...os gatos famintos que o digam.

-E não seria melhor morrer em liberdade? _ perguntou Elisa.

Seo Tiê escutou em silêncio e mesmo intrigado não fez qualquer comentário. Despachou as meninas, vestiu-se de vermelho e foi para a loja no centro da cidade realizar seu trabalho de Papai Noel.

Mesmo com o movimento dos clientes e o barulho das ruas, a conversa ouvida não saiu da sua cabeça e durante doze dias aquela preocupação não o deixou. Na noite de 24 de dezembro ele saiu exausto da loja, tomou o ônibus e depois de uma viagem de 50 minutos desceu no ponto final e foi caminhando em direção à própria casa.

A figura solitária e maciça daquele Papai Noel de passos leves na madrugada chuvosa despertava simpatia, surpresa e lembranças tardias nos pedestres.

Ao chegar em casa e já se livrando do gorro e da barba postiça, Seo Tiê empurrou de leve a porta que nunca trancava e entrou na sala. Um cheirinho bom denunciava comida nova na cozinha. Na mesa posta para uma só pessoa estavam talheres e prato, além de uma tigela com frango assado, batatas e farofa. Os vizinhos nunca falhavam.

Além da ceia caprichada havia um grande embrulho de presente. Seo Tiê tirou pacientemente a fita dourada e o papel vermelho brilhante do pacote para então descobrir uma gaiolinha p rimorosamente pintada de branco. Dentro dela, um tiê-sangue perfeito. Bastava a pessoa se movimentar ou bater palmas na frente dele para que os trinados viessem de imediato. Era uma obra de arte, moldada pena a pena, por mãozinhas chinesas. No lugar do coração da pequeníssima ave ficava uma caixinha de música. Seo Tiê olhou penalizado aquela coisinha sem vida e no instante compreendeu um montão de coisas.

Comeu com satisfação o seu jantar e, vestido como estava, foi se deitar. Levantou-se logo depois porque a inquietude não dava lugar ao sono. Resoluto, caminhou para a varanda. Descobriu as gaiolas tapadas por tecidos escuros e foi levando todas elas, de duas em duas, para a calçada. Lá, abriu as portas minúsculas do cativeiro e soltou seus bichinhos de tantos anos.

Primeiro sonolentos e depois desconfiados, os passarinhos foram se lançando no ar. Voavam até os postes de luz, saltitavam pela pitangueira, um instantinho nos ramos do manacá florido e depois se afastaram pelos fios para, finalmente, desaparecerem na noite enluarada.

Papai Noel se deitou novamente e então dormiu na mesma hora. Sonhou que uma revoada de pássaros de cores e tamanhos variados atravessava o Oceano Atlântico, ansiosa para chegar às densas florestas do coração da África.

Acordou cedo, sentindo-se despreocupado e feliz. Obedecendo ao hábito antigo dos domingos e feriados, abriu a gaveta da cômoda e foi mexer na caixa dos postais incríveis caprichosamente escolhidos pela filha que conhecia seu gosto pelas maravilhosas criaturas africanas. Sem nenhum estranhamento, notou que as letras continuavam onde sempre estiveram no papel, mas quanto aos passarinhos nem sinal deles.

A explicação era uma só.

Conto escrito por
Yêda Marquez

Tema de abertura
Jingle Bell Rock

Intérprete
Glee

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima Gisela Lopes Peçanha Paulo Mendes Guerreiro Filho Pedro Panhoca Rossidê Rodrigues Machado Telma Marya

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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