É fim de Julho, o ritual de novo começa, seu Dresch um
alemão gordo e baixinho, dono da cervejaria repete o que faz todos os anos.
Primeira iniciativa é anotar no calendário os cortes do desnível do cabelo e o
aparo da barba. Ele precisa do cabelo e
barba grandes para executar seu trabalho com eficiência. Feito isso, realiza
todos os dias a pesquisa sobre as crianças da vila. Ele busca saber, como se
comportam estas em relação as tarefas cotidianas da casa e escola. Como e
quanto participam destes afazeres relativos a suas idades e condição e quais
seus méritos. Vai continuamente conversando com pais e irmãos mais velhos,
anota também observações de vizinhos e padrinhos. Dá uma passada no local onde mães e avôs
realizam suas atividades cotidianas. Vai anotando tudo no caderninho que
carrega no bolso interno do seu casaco surrado. Também observa as crianças em
seus folguedos; brigas, impasses, competições e reclamações.
Enquanto a barba cresce, apara os desníveis do cabelo e
organiza o perfil de cada criança do povoado, acaba criando um inventario das
famílias do lugar.
Esses apontamentos vão servir para identificar e orientar os
pequenos, quando a hora chegar. É ajudado por Donanna, que o alerta para os
aspectos inusitados que recolhe nas rodas de chimarrão, ao final das tardes.
Aproveita a presença dos pais nos finais de semana, na cervejaria, onde passam
para um gole de pinga, um copo vinho ou um chopp. Nesses encontros recolhe
sonhos e desejos que os pais tem em relação aos filhos.
E a conclusão que chega é que estes sempre defendem a
bondade, e justiça, mas especialmente apoiam e utilizam a fé. Recolhe também a
sabedoria das senhoras mais velhas, que considera o sustendo da família e do
mundo.
Estes fatos ocorrem em Vila Bonita, Sudoeste do Paraná, na
década de cinquenta, no último século do último milênio. Esse povoado é formado
por migrantes de Santa Cataria e Rio Grande do Sul.
O tempo passa rápido, o Natal se aproxima. Seu Dresch e sua
senhora preparam tudo. Ela limpa a casa, a perfuma e prepara os quitutes...
Enquanto ele viaja para providenciar os materiais de reabastecimento da
cervejaria. Especialmente para trazer as
latas de 18L de bolachas recheadas, as primeiras do lugar. As balas de metro e
os pirulitos de apito.
Não há como comprar brinquedos, nesta época eles eram
fabricados pelos próprios pais, geralmente feitos de madeira; carrinhos com
trava e tudo, cavalinhos, bilboquês e pião. Para as meninas as bonecas de pano,
feitas pelas mães que aprenderam das avós, tinham até os dedinhos, e não vamos
esquecer dos bordados...
Nas outras casas os preparativos também começam. Então a
farinha de trigo é comprada e reservada para o pão branco e para as cucas.
Na ultima semana as mulheres fazem mutirão para a feitura
dos pães, cucas e bolachas, que depois são repartidas pelos que participaram ou
cooperaram.
Tudo está pronto, o cervejeiro ao receber os pais na
cervejaria, aproveita para convidá-los para comparecerem no dia 24 à tardinha
na sua casa.
O dia chega, os últimos reparos na barba e no cabelo... seu
cabelo ainda não é branco..., mas, ele dá um trato esbranquiçado nele.
Porém tem um pouco de dificuldade de
clarear sua barba ruiva!
Finalmente a noite de Natal chega, vestido em roupas
vermelhas de cetim e abas de veludo branca, touca e com suas botas de couro
puro bem lustrosas.
Uma por uma as famílias vão chegando, as vezes vem pai e
mãe, as vezes os avós.
Alguém traz as crianças, estas não faltam nunca... Limpas
cabelos e unhas cortadas, penteadas. Suas roupas bem lavadas... as meninas, com
seus vestidinhos levemente engomados. Com tranças e laços nos cabelos. Os
meninos, com suas calças curtas domingueiras de suspensórios. Uns e outros com
calçados, nem todos ...
Sobem temerosos aqueles degraus que dão ao segundo andar, do
casarão de madeira.
O Papai Noel sentado numa cadeira antiga, na sala rodeada
por enfeites e guloseimas; bolachas, cucas, biscoitos e o gasozão (Frizante
como se chamava na época), espera pacientemente cada criança chegar. Todos
presentes o ritual começa; os pequenos ansiosos, os maiorzinhos temerosos, pois
sabem que a festa traz consigo uma cobrança; será que foram bons, cumpriram
suas tarefas escolares como esse senhor de barba branca espera?
Os menores sem saber destes méritos esperam inquietos. E a
perguntação começa pelos menores. Chega
Maria, a menina de três anos... E ai já sabe rezar o santo anjo?. -Deixa eu
ver se já sabe fazer o nome do pai (sinal da cruz). E a menininha atrapalhada
repete a oração, tantas vezes em casa, ouvida e bem treinada!
Depois esse senhor alegre diz a criança; primeiro vou lhe
dar uma varinha prá lembrar que é preciso obedecer, ajudar a cuidar dos irmãos,
e ser boa. Toda criança tem que ser boa, por que o Jesus que nasce hoje, foi
bom e deu bom exemplo!
Criança a criança, o cervejeiro vai aconselhando, corrigindo
(sabia muito de todas elas...) e vai entregando um pacotinho com guloseimas.
Sobre tudo muito contente, pois junto entregava as balas de metro...
Que encanto, que clima!!!
Tudo numa semiluz (luz de gerador), não era forte mais
iluminava suficientemente aquele ato extraordinário de amor.
À medida que os menores iam passando e ficavam envolvidos e
encantados com seus presentinhos, aproximavam-se os maiores, e os puxões de
orelha e as varas de Vime aumentavam... repreendia-os corrigia-os, e os
aconselhava para que melhorassem. Eles iam perdendo o medo e se envolviam
naquele encantamento.
Não duvidavam por alguns momentos, da existência desse
personagem de barba branca, ele era tão real, seu rosto suas mãos...
O Papai Noel cervejeiro cumpria seu intento, e aquele natal,
era sempre diferente dos demais. Porque nele era posto um sentido maior, uma
humanidade melhor, onde o Bem superava o Mal...!
A noite chega ao fim; a reza dos adultos, a benção dos pais
e padrinhos.
Se faz silêncio, a fé e a gratidão os assemelham ...
A noite desce e o sono chega, o dono da casa apaga as luzes
da sala, e completa sem que ninguém saiba, seu maior desejo; que toda criança
do mundo inteiro, tenha um Papai Noel no natal.
Tayaa
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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