No velho casarão de madeira, construído às margens de uma
estradinha de terra, bem no interior do estado paranaense, região sul do
Brasil, onde o clima do mês de dezembro trazia consigo uma brisa suave e um céu
estrelado, vivia uma família simples e numerosa. Era uma casa comum, mas
repleta de vida. A menina, a quarta de seis irmãos, aguardava ansiosamente o
Natal. Ela tinha olhos brilhantes e coração cheio de esperança, embora soubesse
que o Natal deles não tinha luzes piscando ou ceias fartas. Ainda assim, aquela
data era especial de uma forma única.
A preparação começava dias antes. A árvore de Natal não era
comprada na loja; eles mesmos a faziam. O pai saía cedo em busca do melhor
galho verde do pinheiro enorme que fora plantado há anos no potreiro da
propriedade. Aos olhos infantis da menina, aquele galho logo se transformava em
uma bela árvore. A mãe, sempre com um sorriso nos lábios, trazia restos de
fitas coloridas guardadas de anos anteriores e todos se juntavam para criar
enfeites. Estrelas feitas de papelão, laços de tecido velho e flocos de algodão
davam vida àquela árvore. Para a menina, não havia nada mais bonito.
Na noite de Natal não havia ceia. A família ia à capela para
um momento de oração e, na volta, vinham felizes entoando antigas canções.
Na manhã do dia de natal, os pais chamavam cedo os filhos e, após a saudação de “feliz natal,” cada um corria até o enorme jardim, que ficava na frente da casa, à procura do seu prato de doces. Sim, isso mesmo! Esse prato era tradição natalina para a família. Nele a mãe colocava bolachinhas pintadas que ela mesma fazia, umas balas de morango tão deliciosas quanto a fruta que eles tinham na horta. Conforme o lucro da colheita, dava para comprar uma bonequinha de cabelos loiros, com um vestidinho colorido para as quatro meninas menores. Os dois maiores ganhavam os doces, apenas.
Esses presentes deixavam todos felizes; aqueciam o coração
da menina e dos seus irmãos, porém nada se comparava ao presente gratuito que
eles tinham: o aconchego do lar, o afeto e o carinho dos pais e o
companheirismo entre os irmãos.
Depois da euforia de encontrar o prato, tomavam o café:
cucas, pães, bolachas. Arrumavam-se então, para ir novamente à igreja. Nessa
hora mais uma surpresa. A mãe trazia para cada filho uma roupa nova por ela
costurada. Eram vestidinhos florais para as quatro meninas mais novas. O irmão,
por ser o mais velho, ganhava uma camisa e a irmã mais velha das cinco meninas,
ganhava uma blusinha de fio. Quão felizes todos ficavam, especialmente a
menina!
Iam com o coração aquecido para a igreja. Ouviam atentamente a pregação e os cânticos para depois retornarem aos seus lares, ansiosos pelo almoço de natal: frango assado no forno do fogão à lenha, arroz e uma salada. A sobremesa era sagu de vinho com pêssegos cozidos em calda. O vinho era feito com as uvas plantadas no parreiral da família, e os pêssegos colhidos dos inúmeros pessegueiros que havia no grande e variado pomar da família. Nessa época não havia energia elétrica. A geladeira era a fonte de água. Simples assim, mas com um gosto único: felicidade.
O tempo passou e a menina cresceu. Hoje, ao olhar para trás,
ela percebe que aqueles Natais, sem luzes, sem ceias grandiosas, sem presentes
caros embrulhados em papéis coloridos foram os mais especiais de sua vida e
como àqueles ela não terá outros jamais. A magia estava no cuidado com que cada
pequeno detalhe era preparado, na união, e no amor simples e verdadeiro que
compartilhavam. Nunca mais ela vivenciou Natais como aqueles porque com o
passar dos anos os lugares à mesa já não eram todos preenchidos. O primeiro a
faltar foi seu pai, depois sua mãe. No entanto, ela ainda se recorda com
saudades do que realmente significava celebrar o Natal.
Termina a noite de Natal, e a menina de outrora, agora
adulta, sorri com um leve brilho nos olhos. Ela sabe que a verdadeira magia do
Natal não está nos presentes ou nos banquetes, mas no amor que une as pessoas.
E esse amor, tão puro e genuíno, ainda a acompanha em cada lembrança daquela
infância distante.
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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