7x12 - Um Gesto Simples de Amor
de Jacqueline Quinhões da Luz
Com a
chegada das tecnologias na vida das pessoas, alguns antigos hábitos foram
perdendo espaço. Um deles é o hábito de escrever cartões de Natal e enviá-los
pelo correio desejando coisas boas para pessoas queridas.
Eram
momentos de união, trabalho em família. Vovó vinha com sua listinha de amigos,
parentes e até quem tinha acabado de conhecer e pedia que escrevessem os
envelopes. Vovô trazia os selos e o tubo de cola enquanto mensagens lindas de
amor e carinho eram registradas nos cartões, sempre escolhidos de acordo com
quem iria recebê-los. Bons tempos. Receber um cartão era motivo de alegria e
emoção. Ser lembrado e se sentir querido era sem dúvida uma grande satisfação.
Tinham
cartões musicais, quando abertos tocavam uma canção de Natal como fundo musical
enquanto era lido. Eu amava ficar abrindo esses só para ouvir a música e vovó
brigava pois tinha receio de acabar a bateria e quando chegasse ao seu destino
não tocasse mais.
Certa
vez, enquanto escrevia os envelopes, fiquei pensando: “Como deve ser triste não
receber nenhum cartão! Que sensação de abandono deve bater, então tive uma
ideia: e se para cada cartão recebido as pessoas escrevessem três cartões,
mesmo que não tivessem contato com as pessoas? Pois afinal não é necessário
conviver para desejar o bem ao próximo! Se não tivessem o endereço, era só colocar
na caixinha do correio da casa. Vovó achou a ideia genial e deu um nome a isso,
chamaria de “gesto simples”, pois desejar o bem ao próximo é sem dúvida alguma
um gesto simples de amor. E demos início à ideia. Os cartões que vovó enviou já
saíram com essa orientação logo após a linda mensagem, convidava a todos a
embarcarem nessa grande aventura de Natal.
Aos
poucos vinham notícias de pessoas que recebiam os cartões e fazia um bem
enorme, tanto para quem os enviava quanto para quem os recebia.
Quando
foi à padaria, Carol pode presenciar um desses momentos. Seu Manoel, um senhor
muito solitário que atendia no caixa da padaria, tinha recebido um cartão, que
não trazia o remetente, mas uma linda mensagem a qual ele decidiu colocar em um
cartaz bem ao lado do caixa o seu agradecimento e reforçou que seguiria
atentamente as orientações da corrente de gesto simples. Carol e sua avó se
olharam felizes, a ideia estava dando certo, Seu Manoel estava muito feliz.
Para
elas, Natal era isso:, partilha de sentimentos, de emoções e aquele gesto
simples estava levando as pessoas a despertarem dentro de si o sentimento de
partilha. E, aos poucos, o bairro se inundou de gestos simples, já se via no
rosto das pessoas a leveza que a época de Natal trazia. Esse Natal prometia ser
mais feliz que os outros. Foi engraçado ver pela janela outro dia a dona Maria
ir escondidinha deixar um cartão na caixa de correio da dona Ana, uma
senhorinha que quase nunca falava com ninguém. Dela só se sabia ser uma
moradora antiga da rua, viúva bem cedo e não tinha tido filhos. Naquele momento
pensei como iria se sentir ao receber o cartão de dona Maria.
No dia
seguinte, Carol estava saindo de casa e viu quando outra vizinha estava
colocando mais um cartão na caixa de correio da dona Ana. Fez que nada tinha
visto, mas ficou ainda mais feliz, a vizinha receberia dois cartões e isso lhe
daria dois motivos para se sentir querida. Passou a observar mais a casa da
vizinha, queria ver quando ela abrisse a caixa de correio, mas ela entrava e
saia sem se quer olhar a caixinha. Talvez não estivesse acostumada a receber
cartas, não via motivos para conferir. Isso chamou a atenção de Carol que, na
primeira oportunidade em que encontrou com a vizinha, abriu-lhe um sorriso e
lhe cumprimentou:
— Bom
dia, dona Ana! Lindo dia, não é mesmo?
Como
resposta só lhe veio um olhar e notou que uma profunda tristeza habitava o
coração daquela senhora, como dizia sua avó: “Os olhos são a janela da alma”.
Quanta tristeza caberia dentro de um ser? Ninguém devia ficar triste na época
do Natal. Contou a sua avó o ocorrido. O que poderia ser feito? Se ao menos ela
tivesse recebido os cartões, quem sabe se sentiria um pouco melhor.
Resolveram
escrever cartões e colocar na caixinha de correio de dona Ana também. Se dois
poderiam lhe fazer sentir-se mais querida, então lhe dariam mais motivos. Mas
tinham que pensar em algo mais. As casas da rua já estavam decoradas para o
Natal, menos a de dona Ana. Parecia que o Natal não era bem-vindo ali. A avó de
Carol teve então uma ideia. Esperariam dona Ana sair e colocariam na porta da
casa dela uma guirlanda com um bilhetinho e ficaram aguardando o retorno da
solitária vizinha, mas a reação da mesma não foi a esperada. Dona Ana retirou a
guirlanda da porta e a colocou no lixo. Essa atitude chocou Carol e sua avó que
estavam observando de longe. Mas ao invés de se sentirem magoadas, sentiam
ainda mais vontade de ajudar. Que motivo a teria levado a odiar o Natal? Pouco
sabiam, mas Carol iria descobrir. Pensou em perguntar a dona Maria, que havia
colocado o primeiro cartão, não precisavam dizer terem visto, apenas
perguntariam sobre a vizinha assim como quem não quer nada.
Dona
Maria nada sabia, mas se mostrou interessada em ajudar a vizinha. A avó então
lhe contou sobre a ideia da guirlanda que não foi bem-sucedida e decidiram
pensar em outra forma de ajudar.
Enquanto
isso, nem perceberam o quão longe a ideia dos gestos simples estava indo. Em
pouco tempo pareciam surgir cartões natalinos sem remetentes por toda parte e
só notaram isso quando viram na TV em um jornal cuja matéria falava sobre o
Natal. Diziam que a cidade estava recebendo uma chuva de cartões de Natal
misteriosos, sem remetente, mas com lindas mensagens. Eram os cartões do gesto
simples ganhando um espaço no jornal local e isso encheu Carol e sua avó de
orgulho. No noticiário deixaram no ar a pergunta: “Quem teria dado início a
essa grande corrente de cartões?” Essa pergunta trouxe para avó e neta uma
certa alegria, mas ainda tinham uma preocupação. Dona Ana e sua rejeição pelo
Natal.
Carol
lembrou que uma segunda vizinha havia colocado um cartão na caixinha de dona
Ana. Dessa vez quem iria perguntar seria dona Maria, que foi e conseguiu
algumas informações, soube que dona Ana tinha tido muitas tristezas, todas na
época do Natal. Tinha ficado grávida, porém perdeu o bebê na véspera de Natal
e, como se isso não bastasse, seu esposo tinha falecido no dia de Natal.
Realmente, dona Ana tinha motivos para querer fugir do Natal e das lembranças
que ele trazia.
Carol
continuou a observar a vizinha solitária e notou que outros vizinhos também se
preocupavam com ela e foram deixando cartões em sua caixinha e dois dias antes
do Natal, viu quando dona Ana abriu sua porta e pegou um cesto que tinha sido
colocado em sua porta. Nele parecia ter algo coberto e um cartão. Carol achou
que colocaria no lixo, como fez com a Guirlanda, mas ao contrário, quando abriu
o cartão e tocou uma música, viu cair dos olhos de dona Ana lágrimas e ela
levou para dentro. E os cartões não paravam de serem colocados na caixinha de
dona Ana. Até que na véspera do Natal, o carteiro não conseguindo colocar mais
nenhum na caixinha por estar cheia, tocou a campainha entregando um envelope em
mãos e lhe pedindo para que olhasse sua caixa. Dona Ana então pegou a chave e
foi ver, qual não foi a surpresa quando dezenas de cartões caíram sobre ela que
ficou assustada, mas em seguida um sorriso tímido tomou conta de seu rosto.
Rapidamente juntou os cartões e entrou, provavelmente iria ler todos.
Alguém
tinha ido além dos cartões e dado a dona Ana algo que ela parecia ter gostado,
a canção que tocou do cartão devia ser especial, pois foi capaz de libertar
sentimentos a muito represados pela dor.
No dia
seguinte, ao abrir a janela, viu na porta da casa de dona Ana a guirlanda que
haviam dado. Vizinhos conversando na calçada, falavam sobre terem recebido um
cartãozinho escrito GRATIDÃO, então passou por eles dona Ana, levando no colo
um cãozinho com laço vermelho no pescoço e com sorriso lhes disse:
— Bom
dia! Está um lindo dia hoje, não?
— Sim,
hoje está um lindo e perfeito dia. Respondeu Carol.
A chegada do cãozinho foi algo a mais de que precisava. Trouxe-lhe vida em uma época marcada pela dor, tinha renascido. Aquele gesto simples planejado por Carol e sua avó foi suficiente para que acontecesse um milagre de Natal. Carol havia subestimado o poder de um gesto simples de amor.
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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