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Ciranda: Aventura Interdimensional - Capítulo 09

Novela de M. P. Cândido
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No capítulo anterior, Tiana, Rui e Carlito retornam de um mundo subaquático, mas Imã, Drica e senhor Belchior têm outros problemas.



CAPÍTULO 09 - DÁ PRA VOAR?

A noite não foi tranquila para a família de Imã, depois que recebeu a notícia da mãe, sobre a decisão de desligar os aparelhos que mantém o vô Táquio vivo, a jovem tentou argumentar. Ziza, sua mãe, entretanto, não conseguia que a filha desistisse de ver o avô, contrariada, Imã se tranca no escritório. Ziza faz o que pode para abrir a porta, mas a menina não responde aos apelos. Quando o pai chega do trabalho também tenta convencê-la.

— Minha filha, por que tá fazendo isso conosco, não vê como é difícil para todo mundo? Nós também estamos sofrendo.

— Pai, eu só quero ficar alguns instantes com o vô, por que é tão difícil entender isso? — Imã responde por trás da porta.

— Por que? Por causa dessas atitudes. Imã, você não é mais criança, precisa enfrentar a realidade.

Depois das negativas, Imã não responde mais. Esgotados, os pais ligam para a psicóloga que recomenda cautela, “não forcem a porta, ela vai ceder, vai perceber que não há outra saída. Não se preocupem.”

O cair da noite não alivia os aborrecimentos, a mãe coloca uma bandeja com copo de leite, biscoitos e pães ao pé da porta. Imã está concentrada em uma solução prática para a situação. Ela senta ao lado dos meninos, ainda desacordados sobre almofadas, imaginando alguma estratégia. “Ah, vô, como tudo era mais fácil, quando você estava comigo. Você tinha todas as respostas. Queria tanto a sua ajuda, preciso de você vô, como vou sair dessa? Como irei salvar meus amigos e a Tiana?” realmente a ação é urgente e necessária, os meninos e a tia estão desanimados há muito tempo, praticamente o dia todo e isso é preocupante. Imã sabe disso, mas se vê de mãos atadas. Ainda bem que seus pais desistiram de tirá-la do escritório, o silêncio deu-lhe a paz que precisa para pensar.

Apesar de toda tensão do momento, o sono pesou-lhe aos olhos e Imã adormece ao lado dos rapazes.

Logo cedo, a mãe de Imã liga para a amiga a fim de falar com Drica e pedir ajuda. O silêncio de Imã é o que torna a espera mais angustiante. O pai acorda se arrumando para sair.

— Olha, eu tenho que resolver alguns assuntos lá na empresa e já volto.

— Não acredito que você vai me deixar aqui sozinha com a Imã. — a mulher fala chorosa.

— Escuta, amor, ontem deixei muitas pendências para resolver e não posso adiar, prometo que não demoro.

Sob protestos, o pai se despede da esposa. A mulher cruza os braços no peito em defesa de si mesma, limpa as lágrimas que teimam escorrer pela face, as lembranças do tempo em que o pai entrou em estado vegetativo e os sofrimentos da filha, afloram na memória.

No dia anterior, ainda na forma humana, Belchior ficou intrigado com as atitudes da Drica.

— O que você está fazendo?

— A Imã me deu o telefone do Rui, mas eu não consigo desbloquear.

Súbito, o aparelho toca. Drica quase deixou cair no chão assustada, mas atendeu a chamada.

— Oi?

— Alô? Quem é? Cadê o meu irmão?

— Quem tá falando?

— Eu quero saber por que você tá com o meu telefone e cadê meu irmão?

— Você é irmão do Rui?

— Por enquanto e se ele tiver aí avisa que vou estrangular ele... esse safado me paga. Manda trazer meu celular agora!

— Olha, eu sou a Drica, sou amiga dele e...

— Não quero saber, só me traz o telefone.

— Olha, você parece um poço de gentileza e nada me daria mais prazer do que te entregar esse caco velho, mas não vai rolar.

— Quê? Olha, aqui...

— Ô, baixa a bolinha, o maninho tá bem e vai dormir na casa de uma amiga, não se preocupe, amanhã seu telefone volta pra casa tá?

— Não, eu quero...

Drica desliga o aparelho.

— Você acha prudente tratar o irmão do senhor Gallagher dessa forma?

— A Princesa Macar pediu pra eu dar o recado e eu dei, fiz minha parte.

Belchior estranhou os costumes desse povo, mas prefere não se intrometer. Drica mora a poucas quadras de Imã, no mesmo condomínio residencial e chegam em pouco tempo ao prédio.

— A minha preocupação agora é como vou explicar pra mamãe quem é você e como vai dormir lá em casa.

— Não se preocupe. — Belchior voltou a forma de pássaro pequeno — Eu me viro por aqui. — voa para o telhado.

Na manhã seguinte Drica acorda sobressaltada com as batidas na porta do quarto, sua mãe está aflita.

— Filha, a mãe da Imã acabou de me ligar e pediu pra você ir lá falar com ela. Acho que voltou a ter aqueles surtos.

Antes de sair do quarto, Drica fica alguns instantes olhando a parede. Dá socos na cama com raiva, levanta preguiçosamente e vai ao banheiro. Enquanto olha o espelho e escova os dentes, se assusta com uma sombra no basculante do box.

— Desculpe, senhorita Drica, demorei a descobrir o seu ninho. — senhor Belchior atravessa pela fresta do basculante.

— Ah, tudo bem, temos que voltar lá na Imã, acho que ela tá com problemas.

— Imaginei que pudesse passar dificuldades, afinal os nossos amigos estão lá.

A menção referida por senhor Belchior provoca reação em Drica.

— Putz! Esqueci completamente, dos meninos e da Tiana. Merda, merda, merda!

— Drica, tá falando com quem? Tá tudo bem aí?

— Tá mãe, só vou tomar um banho. — Drica olha para o senhor Belchior, mas ele não percebe o constrangimento. — Senhor Belchior, pode me fazer um favor?

— Pois não.

— Vai na frente para encontrar a Imã, tente acalmar as coisas por lá, eu vou logo em seguida.

— Bem pensado, até logo.

Drica responde com um sorriso forçado. “Só me faltava essa, um viajante interdimensional tarado.

Definitivamente, o tempo não é aliado de Imã, cada minuto aumenta a apreensão, por isso ela acorda sobressaltada, não perdoando a si mesma o tempo que perdeu dormindo. Entretanto, a seu ver, o fato de ter trancado o escritório foi a melhor decisão, ao menos desviou para si a atenção dos pais e ganhou tempo para os amigos e sua tia. “Mas e agora?” claramente, Imã necessita de um milagre.

— Princesa Macar? — a voz surge da varanda.

— Senhor Belchior? Graças a Deus, que bom que o senhor chegou, preciso de ajuda.

— Sua dama também está a caminho. O que a senhora precisa?

— Rápido, não podemos esperar. Os rapazes e a Tiana já estão fora há muito tempo, temos que trazê-los de volta, a minha mãe... ué, por que está tão silencioso lá fora? — Imã cola o ouvido na porta.

— Assim que cheguei, senti um forte pesar e encontrei essa senhora muito aflita e pensei em acalmá-la com um canto. Ela adormeceu, parece muito cansada.

Imã fica ao mesmo tempo preocupada e aliviada.

— Ai, caramba, mais gente para colocar na cama. Venha senhor Belchior, ajuda aqui. Vamos levá-la pro quarto dela.

— Essa é a Rainha do castelo? — Belchior se mostra espantado e toma forma humana.

Imã acha a reação engraçada, mas está muito nervosa para esboçar um sorriso.

— Sim, é minha mãe, a Rainha, Dona Ziza.

Assim que acomodam a senhora o interfone toca, Drica acaba de chegar.

— Imã, a minha mãe está super preocupada. Como é que você está?

— Drica, não vamos perder tempo, trouxe as cirandas?

— Aqui. — Drica entrega uma para Imã e outra para Belchior.

— Ótimo. Senhor Belchior, podemos partir?

— Sim, já estou pronto.

Imã, Drica e Belchior trancam o escritório e dão-se as mãos e também seguram os meninos, o rouxinol começa a entoar a canção.

— Espera! — Drica abre os olhos.

Belchior para de cantar, Imã se assusta.

— Que foi?

— É só achá-los e voltar pra cá, né? Se não vai ser uma confusão danada quando abrirem a porta daqui e encontrar todo mundo deitado e sem vida.

— Sim, Drica, é chegar, encontrar e voltar, só isso.

Conformada, Drica se une aos amigos fechando os olhos e Belchior volta a cantar, envolvendo todos. Mas, antes que o transporte se inicie, Drica abre os olhos e solta a mão do rouxinol.

Um brilho intenso tira a consciência de Carlito e Rui por alguns instantes, eles acordam quase ao mesmo tempo, por causa da desorientação a dupla tem dificuldade para se equilibrar. A noite é silenciosa, a brisa que os envolve é fresca em contraste com o frio que emana sob seus pés, ao menos isso deixa o ambiente agradável.

— C3, onde a gente tá?

— Cara, parece que estamos numa cidade fantasma.

— Tá igual Eu Sou a Lenda.

— Acho que não, ou a gente já tinha virado ração de morto-vivo. Olha só. — Carlito dá uma volta em torno de si mesmo.

— Bom, ainda tá escuro, temos que arrumar um abrigo, onde quer que seja.

— Tá, mas pra que lado?

— “Pra quem tá perdido, qualquer direção serve.”

— Cadê a dona Tiana? — Carlito chama atenção do amigo.

— Caramba, sempre esqueço dela. Não tinha que tá aqui com a gente?

— Pelo certo, sim. Mas, cada vez que a gente salta entre dimensões acontece alguma coisa diferente. Não dá pra cravar nada. Isso muda nossa prioridade, temos que encontrá-la primeiro.

Rui concorda, Carlito continua.

— Temos duas razões, a primeira é que ela não tem como teletransportar e a segunda é que ela sabe como usar corretamente as cirandas, aprendeu com o próprio vô Táquio.

Carlito e Rui caminham pelas ruas gritando pela Tiana. Após algum tempo peregrinando, Rui fala com o amigo.

— C3, a gente tava no mar e agora numa cidade, essas viagens são uma montanha-russa.

Sem olhar para Rui, Carlito prolonga a linha de raciocínio.

— Espero que nossa próxima parada seja de volta pra casa. Já pensou se a gente aparece no meio de uma estrela?

— Se for igual ao oceano, debaixo d’água e respirando, seria o mesmo que estar lá sem se queimar, deve ser show.

Após caminhar por muito tempo, os primeiros raios de sol abrem a paisagem para a dupla, Rui grita.

— C3, tem umas sombras ali na frente ou é uma miragem minha?

Carlito força as vistas.

— Sim, também tô vendo. Vambora então!

Na medida que se aproximam os contornos de imensos prédios tomam formas. A dupla penetra no que seria um complexo urbano altamente desenvolvido, porém, completamente vazio. Os prédios têm fachadas envidraçadas e entradas em pedras brancas, portais trabalhados com figuras estranhas, que podem ser letras ou representações numéricas, tudo surpreendentemente limpo e asseado, o ar está impregnado com odores de combustível fóssil, ou algo parecido, porém sem nenhum ser vivo à vista, apenas a poeira acumulada é testemunha do longo tempo de inatividade. O solo é retilíneo e escuro como asfalto, dando espaços para uma rua larga.

— Maluco, nunca pensei em viver uma situação dessas, tem tudo pra ser um apocalipse zumbi. — Rui admira tudo ao redor.

— Vira essa boca pra lá, R2, nem imagino onde estamos, mas encontrar zumbis agora ia ser uma merda.

— C3, o que você gostaria dos zumbis burros da Guerra Mundial Z, ou os lentos de The Walking Dead?

— Sério? Você vai insistir nesse pesadelo?

— Ah, é só pra matar o tempo... entendeu? “Matar o tempo”. — Rui se diverte com a própria piada.

De repente, Carlito petrifica, coloca a mão no peito de Rui pedindo para que fique em silêncio. Na frente, um vulto se destaca na sombra do prédio de esquina. Sons metálicos ecoam pelas paredes de aço e concreto. Prudentemente, Carlito puxa o amigo para a entrada de um prédio, mas ao se aproximarem a porta automática abre arrastando vidro pelo chão. Um calafrio percorre a pele deles que pulam para dentro e tentam se camuflar na escuridão, assim que cruzam a entrada, o prédio acende as luzes, o som ambiente é ligado e a climatização começa a funcionar.

Os rapazes correm para encontrar algum lugar onde possam se esconder, o ruído metálico continua a persegui-los, atravessam o longo saguão, encontram um balcão que deveria servir como recepção e se abaixam.

— O que acha da gente subir? — Rui está suando de nervoso.

— E o que faremos quando chegar lá em cima? Será que dá pra voar? — Carlito divaga sem olhar para o amigo.

— C3, você viu o que tá seguindo a gente?

— Não, não olhei... e você?

— Não tive coragem.

O ruído aumenta, Carlito olha em volta para encontrar alguma coisa que sirva de arma, mas o lugar é impecavelmente limpo. O ruído se assemelha a lagartas mecânicas de tanques de guerra, transitando pelas ruas. Carlito e Rui ficam parados para não fazer barulho, “o que quer que seja deve ir embora quando não encontrar nada” sussurram entre si.

Efetivamente, o silêncio toma conta do ambiente por alguns instantes. Carlito olha para o salão e consegue ver o responsável pelo barulho, uma forma de autômato com base de lagartas e uma cabeça desproporcional onde brilham pequenos pontos de Led vermelhos. Carlito se volta para Rui a fim de informar que o autômato está saindo quando percebe que o amigo está suando e tremendo exageradamente. No ímpeto de ajudá-lo, ele o abraça forte. Começam a sussurrar.

Calma, R2, deve ser abstinência, estamos nessas viagens há muito tempo, seu corpo deve estar sofrendo com falta de alimento e líquidos.

Por que você também não está sentindo isso?

Acho que tenho mais resistência que você, sei lá, deve ser isso.

C3, desculpe cara, mas a gente precisa voltar logo pra casa. Temos que tentar, está difícil pra mim.

Eu sei, eu sei, mas tenha paciência, com certeza a Imã e Drica estão tentando buscar a gente.

Tá maluco, C3? O avô dela tá nessa há seis anos, tá lembrado?

Antes que pudesse responder, luzes vermelhas e sinais sonoros despontam de todos os lados.

Alerta! Alerta! Os organismos foram localizados, todas as unidades se dirijam para o quadrante dezoito. Alerta! Alerta! Os organismos foram localizados...

C3, é a gente?

Não, Rui, se não a gente já tava cercado.” Carlito tem um estalo, “Deve ser a Imã! Rui, fica aqui eu já volto.

— Tá maluco? Pra onde você vai?

— A-acho que as máquinas encontraram a Imã e Drica, são elas que reapareceram aqui, tenho certeza.

— Não, C3, é perigoso.

— Rui, você acha que essas máquinas seguem as três leis da robótica?

— Claro que não, essa galera nunca ouviu falar de Asimov na vida.

Carlito acomoda Rui no chão com cuidado e sai do prédio olhando em todas as direções “onde será esse quadrante dezoito?” pensa, mas ao se virar encontra um autômato parado de frente a ele, os braços apontam em sua direção como se fosse arma.

Uma luz avermelhada sai da fronte do autômato e passa por todo corpo do Carlito.

[— Organismo em forma de carbono dotado de anima, fique parado.] a voz metálica é arrepiante.

— Escuta, cara, eu venho em paz.

[— Repito, não se mova.]

Ao olhar além do autômato, Carlito enxerga Imã e um rapaz ao seu lado, sendo acompanhado por outros autômatos.

— Imã! — ele grita.

Quando a menina olha em sua direção, um forte brilho envolve Carlito e ele desaparece.


Novela de
M. P . Cândido

Elenco
Imã vô Táquio Rei Gjorgy maga Cuca Tiana Rui Carlito Drica Tudão Cerol Renê Zara Ema Utah Sári Vento Participações Especiais Gualbe Beron Zebu Melo vó Nácia Tema Boom Boom Pow Intérprete The Black Eyed Peas
Direção
Carlos Mota

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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