FADE IN:
1. EXT/JARDINS
DO PALÁCIO/NOITE
Retomada. MALIK gesticulando
silêncio com o corpo por cima de TUTANCAN. Os dois ofegantes em silêncio.
TUTANCAN apaixonado; olhares entregues. Trilha: “DEDI” (Penido, Capra &
Lobo). Cena parte do baixo se torna crescente.
TUTANCAN
Podes me beijar... se quiser.
Astuto, MALIK acaricia o seu queixo e sorri.
MALIK
Não posso. Já disse.
TUTANCAN
Como renegas ao herdeiro real?
MALIK
Não sejas um tolo! Um moço tão belo
jamais serias renegado! (T) Nem tudo pode o que desejas.
Breve silêncio.
TUTANCAN
Se não podes dar-se a mim, a qual
intento serves ao despertar-me esse desejo? Brincas com meu juízo?!
MALIK
Impulso. Foi maior que eu! (T) Tens
razão. Não deveria lhe tomar assim.
Falso arrependido, MALIK sai de cima dele.
MALIK
(Cont’d.) Peço segredo, pois, quem
me domina é perigoso e pode me custar a minha vida tal ousadia.
TUTANCAN senta-se à altura dele.
TUTANCAN
Quem és teu amo no palácio! Conte-me
e lhe tomo; ou compro para mim. Serás livre para viver ao meu lado!
MALIK
Isso não é ser livre. É continuar
preso no mesmo ambiente, só que a servir outra pessoa.
Levanta-se
e dá alguns passos. TUTANCAN faz o mesmo e o toma pelo braço ficando os dois
frente à frente. Ardência e desejo.
TUTANCAN
Não sejas limitado! Poderemos nos
amar sem culpa! (T) Ou, se desejares ter um segredo, posso me sujeitar a isso.
(T) No seu âmago, me ama! Eu sei!
O beija.
DESFOQUE revela NEVERA a assistir tudo com o olhar ardiloso e sobrancelha
arqueada. MALIK o empurra e o príncipe cai de bruços.
MALIK
Não há o amor, apenas o desejo! Não
és o centro de tudo! E, quanto ao beijo, não devias tê-lo investido. Poderá me
custar a vida caso o meu amo descubra. Foi um erro! Vamos nos esquecer. Não
quero o levante da ira de meu Senhor.
MALIK SAI
pelos jardins. Panorâmica.
TUTANCAN
(alterado)
Diga-me teu amo! Se, não posso
compra-lo, o amaldiçoo para que morra, servo branco! (T) Não és meu, e nem
serás de ninguém!
Silêncio.
TUTANCAN chora baixo. “Dedi” (Penido, Capra e Lobo) NEVERA se aproxima e nota
uma ferida de raspão em seu braço.
NEVERA
Posso lhe ajudar com os ferimentos,
amo?
TUTANCAN
Não sou o teu amo! (T) Nada que
mereça o seu tempo. Só mais uma marca banal que a vida me causa.
NEVERA
(ardilosa)
Sei que vosso bom coração quer
preservar o servo. (T) O vi o empurrando! Perdoe-me, jovem amo. Aquele servo
vos agrediu!
TUTANCAN
Cale-se! (T) O que faço e sofro, segredo
de estado é. São as ordens neste palácio. Devias debruçar sobre as ordens reais
com empenho. Uma palavra sobre o que viste e tornar-se-á o farto banquete dos chacais.
(T) Nada viste e nem ouviste! Compreendes a ordem? Aprendeste o teu lugar,
serva?
NEVERA meneia a cabeça afirmativamente. Altivo,
TUTANCAN SAI pisando duro. Nela, com sorriso ardiloso. Sobe a trilha.
2. INT/PALÁCIO/NOITE
Música perpassa. MALIK
adentra o palácio com passos rápidos sem notar a presença de SHENK por entre as
colunas. No mesmo ritmo TUTANCAN ENTRA com lágrimas. SHENK SAI da penumbra e se
coloca diante do irmão.
SHENK
Fizeste novamente, irmão?!
TUTANCAN o observa com desdém.
SHENK
(Cont’d) Entendo que sofres a
controlar os impulsos, mas és de casta nobre! Podes ter quem quiser em mãos.
Até melhores que os servos. (T) Debruce os vossos esforços a encontrar alguém
que lhe valha as tuas qualidades. Adianta satisfazer-te com os servos se lhes
custam estas lágrimas?!
Com o indicador, carinhosamente, recolhe a
lágrima Do irmão.
TUTANCAN
(ódio/confuso)
O que sabes dos impulsos? Nem eu
que os tenho sei! (T) Não lance as tuas virtudes em mim; não somos parecidos!
(T) Entenda: as coisas são como são, irmão! (T) Isso; que escorre em meu rosto,
é a minha própria rejeição em forma de dor... por ser... como sou. (T) O desejo
correspondido trar-me-ia sorrisos aos lábios. Não as lágrimas! É o preço da
rejeição.
O mede com
os olhos. SHENK o olha com compaixão.
TUTANCAN
(Cont’d.) Sejas gentil, Shenk. Não
me dirijas olhares de compaixão enquanto tua alma sorri com a minha queda. Não sou
amado e respeitado, bem sei; como sei que estas serão as gotas últimas que
recolherás. Deleite-se enquanto podes, Shenk! Isso acabará!
SAI pisando duro.
SHENK
(à
si/preocupado)
O que fiz para merecer esse ódio?!
OMAR(V.O.)
Tu, existe!
3. INT/TEMPLO DE OSÍRIS/NOITE
NEMEWÁ senta de frente com
OMAR.
OMAR
A tua existência nutre o ódio dela!
(T) Lembra que um dia foi traída e, ameaça a possibilidade de o filho
levantar-se o soberano de Luxor.
NEMEWÁ
Não sou o culpado pela situação.
Sou o fruto de um passado apenas! (T) O senhor; Pensas como ela?
OMAR
Exatamente como ela? (T) Não! Tenho
convicções outras, General.
(introvertido)
Anounak era um grande amigo! Nutria
à ele, profunda admiração! Quem sou eu para julgar o coração de um amigo? (T)
As emoções deixo aos envolvidos, Nemewá. A ganância, de todos vocês, não afeta
o que penso sobre os rumos de Luxor.
NEMEWÁ
Ganância?! Apenas busco justiça!
(T) Não disseste de fato, o que pensas sobre a minha desfavorável posição e se
poderá ou não intervir.
OMAR
A situação não me deixa em
condições de respostas, Nemewá. (T) Não se toma decisões e nem se profere as
palavras em águas revoltas. O discernimento é precioso nestes momentos.
NEMEWÁ
Vossa prudência já respondeu de
qual lado seguirá!
(embargado)
O bastardo, que veladamente amou ao
pai dia após dia, que doou-se e deu o carinho, mais uma vez cai no limbo.
Em OMAR, engole seco.
NEMEWÁ
(Cont’d) Por toda a vida mantive o
silêncio! Bastasse abrir a boca e a verdade eclodiria. Poupei o meu pai da ser
julgado pelo seu erro. E quem teve benefícios em tudo? O meu irmão. À
Anthenoken, todo o cuidado! Abraço, carinho e atenção! E ele nem parecia gostar
do pai. Eu o amava! Sonhava com o dia em que me abraçarias e me chamaria por
filho. O sonho acabou! Agora, isso não mais será possível. Mesmo no leito de
morte, sou indigno de reconhecimentos. Ainda
que sejas o primogênito consanguíneo, o apto a herdar o trono! Não posso! E,
tu, que sabes dos fatos e poderia interceder renega fazê-lo.
(altera-se)
Porque Anthenoken? O que ele fez
por esse reino durante a vida de meu pai?! (T) Meu irmão é uma ruína no seio de
Luxor. Uma vergonha! Porque ele e não eu?! PORQUE-NÃO-EU?
NEMEWÁ cai
de joelhos diante do sacerdote em prantos guturais. OMAR estende a mão sobre a
cabeça de NEMEWÁ para acolhe-lo e desiste.
OMAR
Levante-se! (T) Não é bem visto um
general fraquejar perante o seu povo no momento em que está órfão.
NEMEWÁ se levanta e OMAR se coloca de pé diante
dele. O fita bem nos olhos.
OMAR
(Cont’d.)
Esse choro; ou desabafo...
(pigarreia)
... é pelo trono! E nada mais? Olhe
nos meus olhos!
NEMEWÁ
ergue a cabeça. Olhos nos olhos com OMAR. Silêncio.
SETNIAK
(V.O.)
O trono não
é o cerne!
NEMEWÁ SAI
pisando firme. Em OMAR pensativo.
4. EXT/ORÁCULO/NOITE
Luz dada pelo fogo do
incandescente buraco ornamentado em ouro e pedrarias cravejadas. A penumbra no
salão deve ser tênue. Faíscas crepitam conforme a exposição emocional de
SETNIAK. OMAR e SETNIAK em embate ameno.
OMAR
Se não é; qual a real indignação?
SETNIAK
De que vos adianta os olhos? Não
consegues enxergar o escaravelho diante de ti. É questão de alma!
SETNIAK
caminha em volta do oráculo. Mentem a cabeça erguida, os olhos reviram e ombros
mexem como cacoete.
OMAR
Dizei-o tu, o que podes ver que eu não
posso... O que move Nemewá?
SETNIAK
A pior das energias terrenas que
pode consumir e ruir um homem; mesmo digno como Nemewá: o ressentimento,
Sumo-sacerdote!
SETNIAK para e vira-se para o fogo e abre os
braços. Faíscas levantam e estalam.
SETNIAK
(Cont’d.) Conviveste com o vosso
pai?
OMAR
Sabes que sim! O conheceu!
SETNIAK
Olhe para si, através das
lembranças do homem que lhe criou. Compreendes o que falta e move o ressentimento?
Sorri
inconformado. OMAR hesita um pouco antes de responder.
OMAR
Nemewá e Anthenoken receberam a
mesma educação, a mesma atenção e os mesmos estudos para as filosofias, saúde, artes
e guerra. Ingrato! (T) Deverias reconhecer os esforços e os riscos que o nub correu
em mantê-lo perto.
SETNIAK
Esforços?! (T) O que um teve demais
o outro nada teve. Coloque-se no lugar do menino Nemewá. Sabia que era filho do
Faraó e teve que guardar o segredo mortal sobre o pai, para que o mesmo não
perdesse o trono. Dormiu e viveu a vida toda sem o conforto que lhe era
direito, feito um qualquer fora desses muros, quando, a verdade lhe daria as
regalias que tu, eu e todos do entorno real usufruem.
OMAR baixa a cabeça envergonhado.
SETNIAK
(Cont’d.) Era um menino! Um menino!
Não bastasse isso, ainda, velava por Anthenokhen, quem recebia os louros em
família. Cresceu amigo do irmão e se manteve ao lado dele e do próprio pai,
ignorando os próprios desejos de ser acarinhado e amado pelo pai sem poder
chamar ao irmão de... irmão. (T) Agora, enxerga a força que teve esse menino,
além de suportar o abandono em vida?
OMAR
(altera-se)
Abandono? Insisto! O nub o educou
sob seu teto. Deu-lhe a mais alta patente de seu reino! Mesmo na iminência de
ser descoberta a traição! Um general! Anounak o fez o mais importante homem de
Luxor. Um general!
SETNIAK
(alterado)
Um cargo! (T) Um maldito encargo
aos caprichos do Faraó. O jovem cresceu defendendo o que deveria ser seu por
direito! (T) Agora que ele deseja o reconhecimento como filho, as pessoas
querem lhe calar a identidade? Roubam o direito de ser quem o é!
OMAR
Isso é uma besteira! Quando passar
esse sentimento movido pela perda do pai, vai se envergonhar de tudo o que foi
dito e feito. (T) Perceberá que colocou em risco até mesmo a única coisa que o
pai lhe deu: o seu posto!
SETNIAK
(incomodado)
Repito! Não consegues enxergar
mesmo tendo dois perfeitos olhos. (T) Essa insistência em mantê-lo general e a
cuidar do que é seu para que o outro desfrute... (T) Pense, Omar! Coloca a paz
da família em risco. E de todos os que habitam sob esse reinado. Já não basta
terem incriminado e matado a mãe do rapaz?! (T) Queres tu, tirar o juízo de
Nemewá?!
OMAR
E, tu, queres tirar o meu?! (T) O
passado está morto, Setniak. Assim como o nub! Devemos focar num futuro estável
para Luxor. O que pode ser mais importante agora que o poder?
SETNIAK
As pessoas! Pessoas com pensamentos
saudáveis validam o poder. (T) Já o orientei há dias! Não mexas no que não lhe
pertence. Deixe que a vida siga o seu fluxo.
(sombrio)
Nada pode barrar as forças das
águas, como nada pode mudar o destino! Vigie para onde o rio flui, sacerdote;
só assim evitarás que transborde muitos acontecimentos.
FX: Água corrente. Em OMAR preocupado.
Suspense.
5. EXT/RIO
NILO/DIA
Voo panorâmico sobre o Nilo
com embarcações até à uma encosta. Imagens através do vapor subindo. Escravos,
dentre eles, os beduínos capturados, erguem as pedras que formam uma barragem.
Utilizam de ferramentas de madeira, aparatos e engenhocas para a locomoção das gigantescas
pedras. Tudo rudimentar. Cansaço e dificuldade. Trilha Sonora Instrumental.
Guardas observam o movimento. ZOOM IN: NEMEWÁ no alto de um monte observa tudo.
NELE, pensativo.
6. INT/SALÃO
DO TRONO/DIA
Extensão da trilha sonora. Pensativo,
queixo debruçado na mão, ANTHENOKEN, ao trono, têm olheiras; está abatido.
ANTHENOKEN
(resmunga)
Sempre o melhor em tudo: Nemewá!
Revoltado,
aperta as mãos no trono e revira o pescoço.
INT/SALÃO ESTUDANTIL/DIA - FLASHBACK
Crianças produzem escritas nos papiros. O tutor agrada apenas
uma das crianças que estão sentadas em dupla à bancada. Trata-se de NEMEWÁ.
DESFOQUE: fora dos mimos, ANTHENOKEN, enciumado.
EXT/ARENA/DIA
- FLASHBACK
Crianças lutam com espadas de madeira. Estão divididas por
duplas e, para cada dupla, tutores/soldados como mentores. CAM passeia pela
arena e revela pequenos lutadores. ANOUNAK, mais
jovial, assiste. A CRIANÇA#1 derruba ANTHENOKEN e parte para
cima. NEMEWÁ intervém e joga a CRIANÇA#1 para longe. NEMEWÁ ajuda ANTHENOKEN a
se levantar. DETALHE: mãos unidas. TUTOR#1 pega NEMEWÁ pelo braço com rispidez.
ANOUNAK intercede.
ANOUNAK
Solte-o! A
voracidade desse bravo me apetece!
Faz gesto com a cabeça para que TUTOR#1 se
afaste. Abaixa-se para falar com NEMEWÁ.
ANOUNAK
(Cont’d.)
Gosto de como cuida das pessoas. Ainda mais de seu... seu...
Em NEMEWÁ com olhos esperançosos.
ANOUNAK
(Cont’d.) ...seu
amigo; o meu filho! (T) Por cuidar do príncipe, um dia, retribuirei à altura
pelos préstimos. Se surpreenderá. Tenho certeza!
NEMEWÁ
abaixa a cabeça triste. ANOUNAK e ANTHENOKEN se dão as mãos (SLOW-TMOTION/DETALHE
nas mãos). Seguem para arena afora. NEMEWÁ catártico têm lágrimas. ANTHENOKEN
olha para trás, com compaixão. ANOUNAK o puxa e seguem. Lágrimas de NEMEWÁ.
ANTHENOKEN
(V.O.)
Ele é
fraco? Está chorando!
ANOUNAK
(V.O.)
Não. Ele é
um bravo! Homens não choram, filho. Mas, quando derramam lágrimas, é por
gratidão ou...
RETORNA À
CENA:
INT/SALÃO DO TRONO/DIA
DETALHE: Mão de ANTHENOKEN segurando o braço do
trono com força.
ANOUNAK
(V.O.)
...Ou, por
ira.
ANTHENOKEN
Eis o que me consome!
(ao longe)
Esteve sob os meus olhos a vida
toda e não vi. Protegia-me sonhando em tomar o meu lugar. (T) Minha idolatrada
mãe tentou me abrir os olhos. E, por mais que me doa, eu não consigo acreditar
que ele seria tão vil! (T) Não depois de tudo o que vivemos!
Ventania
derruba as coisas e leva o ornamento de cabeça. Tenso, lacrimeja. Suspense.
7. EXT./MARGENS
DO NILO/DIA
Contra a ventania, MALIK, sorrateiro,
aproxima de NEMEWÁ.
NEMEWÁ
(ríspido)
Não deves andar livremente como se
assim o fosse. Nem quero que o vejam próximo a mim.
O pega pelos braços, olha
sorrateiramente para todos os lados e o arrasta para trás de uma tenda com
camelos por perto.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Espero que o motivo pelo
qual se arriscou seja valoroso.
MALIK
(direto)
Aceito a tua proposta!
NEMEWÁ
(enigmático)
Sábia decisão, beduíno! Sabia
decisão!
MALIK
Mas, com uma condição.
NEMEWÁ
desfaz as feição. MALIK o encara seriamente. Suspense.
8. INT/ORÁCULO/DIA
Suspense. SETNIAK conversa sozinho e sorri.
SETNIAK
Tão sombria as intenções dos
homens! (T) Tudo pode-se evitar se colocar à luz da verdade! (T) Omar não é o
raso que parece! Têm razões para acreditar que é só o poder que importa a
todos! (T) Não está errado! Também não pode ser só isso. O destino deve ter outros
motivos para tramar fios familiares. (T) Só vejo os fios emaranhados!
(sombrio)
A verdade! Quero a verdade! Existe
um eleito pelo destino; não consigo ver a sua face. Tudo o que vejo é sangue!
Bate o
cajado no chão, abre os braços e o fogaréu sobe. CAM o focaliza por através das
falhas das labaredas. Suspense.
SETNIAK
(Cont’d.) Osíris que tudo sabe! Ptá
que nos deu a origem de tudo! À vós ofereço o grande sacrifício se preciso for pela
verdade. (T) Revele-me tudo! Revele-me o eleito!
SETNIAK
joga folhas secas ao oráculo. Balbucia algumas palavras inaudíveis. Respira
fundo a fumaça que sai em círculos das labaredas e entra pelo seu nariz e aos
poucos contorna o seu corpo como se o tirasse do chão. Explosão de luzes saem
de suas vestes e de seus olhos. Edição dá um tom místico à cena. SETNIAK começa
a tremer o corpo. Se engasga. Lágrimas começam a escorrer. Choros e gritos de
dor.
SETNIAK
(Cont’d.) Não! Não! (T) Clemência
aos soberanos, deuses! Por que há de ser assim? Não! Não!
Brada o
último “Não” antes do desmaio. Luzes se amenizam e apenas uma pequena labareda
no oráculo. TRAVELLING IN: no corpo desfalecido. Aumenta o tom de suspense.
9. INT/RUAS/DIA
Suspense. MALIK anda pelas
ruas da cidade e observa tudo. Sem denotar que percebe, alguém o segue. A maior
parte da cena é conduzida pelo POV do perseguidor. Dado momento, MALIK para
numa barraca e finge puxar papo com o vendedor. O perseguidor, veste trajes de
servo e tem a mão à altura do rosto com pedaço de sua toca árabe tampando a
face (que não deve ser revelada). MALIK retoma o caminho e vira-se para trás, o
perseguidor abaixa-se atrás de uma barraca. MALIK coça a cabeça e segue.
10. INT/CASA DE NEMEWÁ/DIA
“Dedi” (Penido, Capra e
Lobo). Porta se abrindo revela NEVERA que entra e passa a mão pelas coisas da
casa com carinho. Tem os olhos cheios de lágrimas.
INSERT: MEMÓRIA DE UMA AÇÃO
NAQUELE LOCAL (FLASHBACK)
Luz diferente. NERFIRI
cozinha feliz. NEVERA a abraça com sorriso e joga farinha na irmã. NERFIRI
devolve e vira uma guerra de farinha. “Pega-pega” entre elas até caírem. Riem da
brincadeira, uma em cima da outra.
FX: Porta batendo.
RETORNA À CENA
INT/CASA DE NERFIRI/DIA
NEVERA de costa (close)
enxuga as lágrimas, sem revelar quem está no ambiente.
NEVERA
(com
carinho)
Jamais a esquecerei. Foi-se tão
cedo! No âmago sabia que aquela era a nossa última vez juntas!
Enxuga o choro novamente com as costas da mão.
ANTHIEPT
(V.O.)
Parece que a passagem sem despedida
é, de fato, a mais dolorosa.
NEVERA se vira assustada e
dá com ANTHTIEPT. Tensão.
NEVERA
Clemência soberana! Sei que deveria
estar no palácio; vim apenas...
ANTHIEPT
...Se despedir e reviver os
momentos com alguém que se foi. Eu ouvi! (T) A culpa é um doloroso fardo.
Acredite; disso eu sei! (T) A quem dedica essas lágrimas?
NEVERA
(mente)
À Minha... amada... mãe!
ANTHIEPT
Quando o amor morre, um vazio nos
faz perder o juízo e faz com que passamos a buscar a pessoa em qualquer lugar; às
vezes, parece que falam conosco.
(olhar
alucinado)
Como se assoprassem palavras, aqui,
nas orelhas. Eu ainda posso ouvi-lo!
Toca os
objetos sobre a mesa empoeirada e esfrega os dedos para limpá-los. Se direciona
a um banco mais ao canto.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Anounak morreu e ainda
não o sepultamos. Há dias que esse ritual infindável de preparação se estende! (T)
Quanto maior o preparo, maior a tormenta! Tenho vontade de às vezes voltar no
tempo e...
(arrependida)
Fazer tudo diferente! (T) Enfim, Não
posso intervir no ritual; sempre foi assim! (T) Tua mãe, partiu à muito?
NEVERA olha
discretamente para a faca sobre a mesa. Suspense maior.
NEVERA
(mente)
Não... muito.
ANTHIEPT
(Insiste)
Como foi a passagem?
NEVERA, em
surto, agilmente pega a faca e voa sobre a rainha ficando-a no pescoço. Suspense
maior. Aterrorizada, olha para as mãos cheias de sangue, chora e ri, num misto
de loucura. Olha o corpo da rainha em seus últimos suspiros ao chão.
ANTHIEPT
(com eco)
Está me
ouvindo?!
Em NEVERA
ofegante. Estática onde estava. A cena remete que foi imaginação.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Está fora de si! Passei por
isso; sei que não é simples se livrar de alguns sentimentos. (T) Do mesmo modo
que me acolheu quando perdi o juízo, hoje, eu a retribuo. Vamos!
Meneia a
cabeça afirmativamente. Se curva em reverência para a rainha. ANTHIEPT ruma à
porta e vê (POV) um escudo encostado próximo à um móvel. Tensão.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Não me disseste ter alguma
relação com alguém de nosso exército.
(desconfiada)
Perguntarei uma única vez e quero a
resposta sincera. (T) Alguém de tua família serve aos comandos do General
Nemewá?
Tensão. Acuada,
NEVERA tenta responder, mas perde a voz.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Mentes para mim?
NEVERA
abaixa a cabeça e respira fundo.
NEVERA
(mente)
Sinto-me envergonhada!
ANTHIEPT a olha com severidade.
NEVERA
(Cont’d.) Não me era de
conhecimento que servos e membros do exército não se misturam. Se desejas,
renego ao amor que sinto pelo jovem.
ANTHIEPT a
mede de cima embaixo desconfiada. SAEM. Assim que a porta se fecha ZOOM IN no
escudo.
11. EXT/ARENA/DIA
Abre no escudo de algum soldado levando uma
pancada. Homens treinando com diversas ferramentas e escudos.
NEMEWÁ
(imperativo)
Basta! (T) Estão ávidos como
sempre.
Os soldados
encerram o treinamento e caminham para ele formando um corredor por onde
caminha em discurso.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Todos sabem que em breve,
sepultaremos o nosso... nub.
Se desliga
por alguns segundos e respira fundo. Tenta esconder o embaraço. Embargado e com
o olhar distante:
NEMEWÁ
(Cont’d.) Mudanças virão e serão
imediatas! Tão breve do sepultamento, o eleito deverá assumir o trono. Seja ele
legítimo ou não. (T) Enquanto oriundos deste chão, com a honra e o brio que
sempre tiveram, deverão cumprir com as vossas obrigações e se manterem fieis
como sempre foram.
(pesaroso)
Haverá muitas batalhas pelo caminho:
os Hicsos, os estrangeiros nômades e, a gana dos soberanos do Delta do Nilo que
sonham em usufruir de nossa fama e prosperidade. (T) O futuro herdeiro deverá
estar atento a tudo! (T) Sei que tempos árduos nos aguardam. Não sei em que o futuro
resultará. E, não sei se continuarei a caminhar aqui...
Alvoroço entre os soldados falando
atropeladamente.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Homens! Homens! Ouçam o
que vos digo.
A ordem se restabelece.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Vós; caminheis comigo
desde que meu p... o nub... deu-me o posto de General; ouçam não com os ouvidos,
mas com as vossas almas.
(emocionado)
A todos os que depositam a
confiança em mim, peço: se um dia eu sumir, me procurem e honrem o meu nome. (T)
E, batalhem por mim; defendam-me quando caluniarem ou tripudiarem o meu nome e
o meu corpo, pois quando o ocorrer, não estarei vivo para me defender.
CAM passeia
por soldados apreensivos enquanto NEMEWÁ discursa.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Sabem quem sou; sabem do
meu coração e da minha conduta. Não se deixem turvar pelas mentiras que possam
insurgir contra mim. (T) Até o homem mais leal e honesto cultiva os inimigos
sem mesmo que o saiba. (T) E, quando o poder bate à porta, é que decepcionamos ao
descobrir a traição. (T) Espero que estejam comigo quando o pior acontecer? Não
me peçam para explicar, pois o que sinto não se explica. No âmago sinto que
algo acontecerá, em breve, na transição!
Alguns
homens preocupados. Outros caminham de braços abertos em direção à NEMEWÁ como apoio.
12. INT/REFEITÓRIO REAL/DIA
ANTHIEPT e ZAHRA em tom de segredo.
ZAHRA
(eufórica)
Tentei vos abrir os olhos sobre es/
ANTHIEPT
faz um gesto com a mão e ZAHRA se cala imediatamente.
ANTHIEPT
Pode ser que seja, como pode ser
que não seja alguém da confiança dele.
(distante)
Me parece uma mulher tão forte e
tão confiante que algo em mim renega que possa haver algo sujo nela.
ZAHRA
Insisto! Ela aproveitou de vosso
momento de fraqueza!
ANTHIEPT
Não é hora de olhar para trás. (T)
Aqui, até as pedras ouvem. Devemos abrir os olhos e acompanhar de perto cada
passo dela à partir daqui.
ANTHIEPT e
ZHARA ficam em silêncio absortas em pensamentos. Os serviçais ENTRAM com
bandejas de comidas e bebidas. DESFOQUE revela NEVERA escondida observando as
duas. Suspense.
NEVERA
(V.O.)
A rainha entendeu tudo!
13. INT/JARDINS/DIA – PÔR-DO-SOL
NEVERA e NEMEWÁ frente a frente.
NEVERA
Ela é sagaz! Viu o seu escudo em
casa.
NEMEWÁ
(irritado)
Vos pedi que não se envolvesse nos
planos! O que tinhas que ir até em casa? És teimosa como minha mãe e vejas como
a pobre terminou!
NEVERA
Foi por ela que estive lá.
(emocionada)
Precisava sentir o cheiro dela. Aos
poucos parece que Nerfiri se apaga de minha memória. Não posso deixar que isso
aconteça!
NEMEWÁ
(brando)
A mim, ela faz muita falta.
Contudo, devemos seguir sem ela. (T) Quanto à rainha, sabeis que ela a vigiará
de perto. Me encontrar aqui já lhe é um risco para a vida!
NEVERA
Disse-a que amo um homem do
exército. Se nos virem, minta! Alimente esse amor inventado, meu sobrinho!
NEMEWÁ
Pode ser! Ou então, em hipótese
pior, assuma outro nome falso e me renegues para sobreviver. Ela não a deixará
viver se souber de nossa proximidade, ainda mais se descobrir o parentesco.
NEVERA
Se morrer tentando lhe dar o que és
teu e mereces, já terá valido todos os meus esforços.
Segura o rosto de NEMEWÁ e beija sua testa.
NEVERA
(Cont’d.) Não se esqueças do que
lhe falei sobre o jovem. Não esqueça de colocar o plano em ação.
NEMEWÁ
Já está em andamento! Em breve
saberás os desdobramentos!
Se despedem com um gesto e cada um vai para um lado. Suspense.
14. INT/CORREDOES DO PALÁCIO/DIA - ENTARDECER
SHENK e ZAHRA.
SHENK
Passou o dia introspectivo. Chorou
algumas vezes, conversou sozinho. Saiu neste momento para ir ao ritual. O que
está acontecendo com ele?
ZAHRA
Muitas coisas! Medo, insegurança...
É o pai que ele enterrará e mudará tudo o que viveu até hoje. Ao assumir Luxor
o peso de toda uma História lhe cairá às costas. Vele por teu pai, filho!
SHENK
Compreendo. (T) Mãe, Tutancan não
está no palácio. Temo que esteja ap/
ZAHRA
Deixe-o. Não podes controlar o seu
irmão. Nesse momento, quanto menos problemas houver por perto, melhor! Evite o confronto
direto. Sejas tu, o mais sábio de meus filhos. Ouça a tua mãe que muito te ama!
Acaricia a face de SHENK. Suspense.
15. INT/CASA ABANDONADA/DIA
TUTANCAN
com as roupas decomposta pelo corpo está na posição de passivo por debaixo de
MALIK nu. Caem exaustos sobre uma cama de sacas de levedo.
MALIK
Sabia que me seguiria até aqui.
TUTANCAN
(feliz)
Impossível! Me disfarcei bem! Não
teria como sab/
MALIK
Foi arquitetado para estarmos aqui!
TUTANCAN desfaz a feição de felicidade.
MALIK
(Cont’d.) O príncipe deveria ser
mais prudente. Compreendi que és escravo de teus desejos e, eles, ainda vão leva-lo
à ruína.
TUTANCAN
(apreensivo)
Como assim?! O que dizes?
MALIK
Nada! Só me abrace. (T) Aproveitemos
o momento para vivermos o desejo que nossos corpos sorvem de nós.
MALIK beija o pescoço de TUTANCAN que aos poucos vai cedendo da preocupação ao desejo. Suspense.
16. INT/TEMPLO DE OSÍRIS/DIA - ENTARDECER
Faixas de linho embebidas em
resina são enroladas ao corpo de ANOUNAK. ANTHENOKEN observa tudo ao lado de
OMAR. NEMEWÁ ENTRA e desconfortável, ANTHENOKEN, se levanta e coloca-se frente
a ao General. OMAR fica apreensivo.
ANTHENOKEN
Não és bem-vindo diante de meu pai.
NEMEWÁ
(embate)
Nosso pai! Não podes apagar o que o
é para mim. Não me importa ver o corpo embalsamado. O Ká já caminha à Osíris.
ANTHENOKEN
Se não faz questão do ritual, diga
o que o traz até aqui e saia!
NEMEWÁ
Vim avisar que seu servo preferido,
o branco, foi visto na cidade seguido por um homem até a casa abandonada do
entreposto agrícola. Dizem as línguas que pode ser vosso filho mais novo!
ANTHENOKEN, baqueado, procura apoio. NEMEWÁ lhe
estende a mão (DETALHE) e ANTHENOKEN se apoia.
ANTHENOKEN
Quero discrição! Resgate-os e
tragam-nos aqui. Não quero alarde com o meu filho e o servo! Sabes o que digo.
NEMEWÁ
Seu segredo está guardado. Temes
que seja o teu filho com o servo, eu sei. Use a coragem e veja por si, para ter
certeza. Desta vez não lhe acatarei.
ANTHENOKEN solta a mão de NEMEWÁ com agilidade.
ANTHENOKEN
É uma ordem
Real, General!
NEMEWÁ
Não cumprirei. Problemas familiares
se resolve em família e, pelo visto, não sou nada pra você. (T) Servi ao nosso
pai, me submetia a ele. Sabes bem que não é o herdeiro, assim, nada comanda. Vós,
que sois o pai do moço e, o dono do beduíno, aja com a discrição que ordenaste.
Vira-se e SAI. OMAR apreensivo. Tensão.
17. INT/CASA ABANDONADA/DIA-ENTARDECER
Clima de desejo entre MALIK
e TUTANCAN aos beijos e carícias sexuais. Dado o momento TUTANCAN vira-se de
costa e MALIK o possui sexualmente. Do nada, os soldados entram e TUTANCAN se
assusta tentando se encobrir. MALIK se afasta com as mãos para o alto enquanto
TUTANCAN veste a roupa de servo com a toca.
TUTANCAN
Virem-se, não quero que vejam-me
nu!
Os soldados
se afastam. ANTHENOKEN ENTRA com lágrimas e feição de desgosto. TUTANCAN fica
estático com a presença do pai.
TUTANCAN
(enfrenta)
(Cont’d.) Porque essa decepção? Sabes
como sou! Deste ordens dos segredos sobre as minhas ações e agora queres/
Tapa. Novamente, ANTHENOKEN
com as costas da mão desfere outro tapa e revira TUTANCAN que cai sobre as
sacas. Em TUTANCAN irado e com sangue a escorrer dos lábios. Tensão.
CORTA PARA O:
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P R Ó X I M
O C A P Í T U L O
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JOÃO SANE MALAGUTTI
Elenco ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA
Direção
ANDERSON SILVA
BRUNO OLSEN
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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