FADE IN:
1. INT/CASA ABANDONADA/DIA-ENTARDECER
Retomada. TUTANCAN vira-se e
olha incrédulo para ANTHENOKEN. Limpa o sangue com intensidade e ódio. Tensão.
TUTANCAN
Porque o fizeste?
ANTHENOKEN
encara os soldados. Eles SAEM de cabeça baixa. MALIK ameaça SAIR. ANTHENOKEN o
segura pelo punho. MALIK o olha com receio.
ANTHENOKEN
(à
Tutancan)
Ultrapassaste todos os limites!
TUTANCAN
Quais? Nunca me deste!
Breve silêncio. ANTHENOKEN tenta se controlar.
ANTHENOKEN
Os meus servos, assim como os
demais não são seus brinquedos para saciar os seus prazeres pessoais.
TUTANCAN
Quem deverá saciar-me se não posso
usufruir dos empregados?
ANTHENOKEN
Com todos! Com a restrição aos meus
servos pessoais.
Caminha até ANTHENOKEN e ficam face a face.
TUTANCAN
Porque? O que tem eles de especiais?
ANTHENOKEN engole seco.
TUTANCAN
(Cont’d.) E, esse?! Porque do nada o
estrangeiro entrou em nossas vidas, meu pai?
ANTHENOKEN
(mente)
São peças desse tabuleiro de poder!
(desconversa/firme)
Em poucos dias o cortejo de seu avô
deverá se realizar e subirei ao trono. Não quero os seus escândalos no meu
entorno. Não posso ser visto como um nub enfraquecido pelos familiares.
ANTHENOKEN
adianta a face ao do filho na tentativa de intimidá-lo. TUTANCAN ergue o queixo
para encará-lo. Tensão. ANTHENOKEN vira-se e dá alguns passos para a saída
acompanhado por MALIK.
TUTANCAN
Poderás subir como Nub...
ANTHENOKEN para sem se virar.
TUTANCAN
(Cont’d.) Talvez, nem fique, meu
pai. E, com a ressalva de que nunca será lembrado como o grande soberano de
Luxor, como o faraó que foste o teu pai!
ANTHENOKEN SAI irritado. MALIK dá uns passos, olha para trás como quem quisesse ficar e segue de ANTHENOKEN de vez. TUTANCAN em silêncio, senta-se nas sacas e acaricia o machucado com o olhar distante e introspectivo.
2. INT/REFEITÓRIO/NOITE
Tensão. Coisa jogadas ao
chão no ímpeto da fúria de TUTANCAN.
TUTANCAN
Quem ele pensa que é?
(arfando)
Não pode simplesmente coibir os
meus desejos e escolher com quem devo ou não me deitar! Não pode! Não pode!
ZAHRA indo ao encontro dele.
ZAHRA
Acalme-se, filho! Os limites são
importantes. Ainda mais para nós que somos a família do sucessor ao trono.
Você, deve vestir-se com a moral.
A encara.
TUTANCAN
Qual moral?! Aqui, tudo é uma
grande mentira! (T) A moralidade que se põe à mesa não é o prato principal com
a verdade fácil de se engolir!
(com
escárnio)
Você nem o ama! Casou-se com a vida
que ele pode lhe dar. Se sujeitou e a essa vida. Se anulou enquanto mulher. És
apenas o adorno ao qual ele usa ao bel prazer. Posa como uma esposa de araque
que ele sequer tem o capricho de ostentar e reconhecer como dele!
SHENK, da
porta, observa à distância.
ZAHRA
Ele sem foi presente à mim. O que
sabes do amor, Tutancan? Vives de prazer, apenas. (T) Teu pai está certo! Inibiste
o teu bom senso!
(indignada)
A culpada é tua avó! Ela alimenta
as tuas fantasias e encobre as suas vulgaridades e temeridades.
TUTANCAN avança pra cima dela devagar e a
ameaçando.
TUTANCAN
Não fale assim dela! Eis, de todas
as que aqui estão, a pessoa mais lúcida, a mais sensata e a mais honesta!
ZAHRA
Pensei que fosse! (T) Estive cega
este tempo todo! Abra teus olhos! Ela o envenena e lhe manipula através desses comportamentos.
Fuja disso! Não seja o que ela quer. Seja tu mesmo!
TUTANCAN
Não! Não ouse maldizê-la!
Empurra
ZAHRA com força desmedida que CAI sobre as coisas fazendo grande barulho e
corta a testa. SHENK ENTRA e avança para cima de TUTANCAN. Os dois se embolam
confusamente e param repentinamente. PUNHAL (detalhe). Abre o plano e revela
TUTANCAN com o punhal a um fio do nariz de SHENK.
SHENK
(ofegante)
Não a toques novamente ou este
punhal virar-se-á contra ti.
TUTANCAN
Faça o que quiseres comigo! Agora!
Lentamente abaixa o punhal e o oferece.
TUTANCAN
(Cont’d.) Faça-o bem! Ao contrário,
farei em ti sem remorso algum.
SHENK olha o punhal e encara TUTANCAN. ZAHRA no
DEFOQUE.
SHENK
(enojado)
O que te tornaste? Quando foi que
deixamos de ver como se constituía nessa pessoa amarga e desajustada!
TUTANCAN
(sorri
desajustado)
Nunca me enxergaram. A solidão foi
a minha dor e companheira. Se sou como sou, foi o abandono e as vossas costas
de irmão mais velho que encontrei. Agora, sou o que me tornaste, Shenk. Sentes
o remorso ou orgulho?
Rápido,
SHENK pega o punhal e o coloca frente o nariz do irmão.
TUTANCAN
Precisas pôr fim ao meu sofrimento!
(choro
sincero)
Não vire-me as costas. Se pensas
que falta-me o juízo crava-me o punhal. Ajuda-me a acabar com isso de vez!
Lágrimas.
Abre os braços esperando. ZAHRA abraça SHENK por trás e aperta o seu punho. Ele
solta o punhal e olha para a mãe com lágrimas.
ZAHRA
Não és fraco e nem um assassino!
Vamos sair daqui. (T) Deixes que teu irmão repense o peso das péssimas
escolhas. (T) Não te iguale ao que te fere!
SHENK com
lágrimas nos olhos abaixa a cabeça e SAI acolhido
sob os braços da mãe. TUTANCAN começa a chorar.
TUTANCAN
(chama)
Mãe, e... eu?!
ZAHRA e SHENK param e olham.
TUTANCAN
(Cont’d.) Shenk não é o único! Eu
também preciso de abraço.
ZAHRA
(contida na
revolta)
Peça à tua avó! Anthiept é quem gosta
dos malfeitos!
Puxa SHENK e o beija a testa. Fita TUTANCAN com ódio. SAI sob o apoio de SHENK. CAM realiza um LOOPING 360º para o alto sobre TUTANCAN caindo de joelhos em choro gutural.
3. INT/FONTES LAVATÓRIO/NOITE
TRAVELLING. ANTHENOKEN face
a face com MALIK.
ANTHENOKEN
(ira
contida)
Como pudeste? Traiu-me a confiança
com o meu próprio filho. Sangue de meu sangue! És meu! Para meu deleite!
MALIK
Sou vosso servo. Usa-me como achas
que deve por ser o teu escravo e vós o meu senhor. Mas, não há sentimentos
envolvidos, portanto, não o traio. O garoto me faz homem, deixa-me que me sinta
como a natureza me fez. Vós não permite que eu lhe toque sequer os glúteos
macios que bem vejo que vos têm!
ANTHENOKEN
(confuso)
Devia lhe tornar um eunuco, agora!
(T) Contudo, temo me arrepender de perder algo!
(suspira o
pescoço)
E... Não consigo resistir a este
aroma de homem do deserto!
(contemplativo)
Essas coxas torneadas!
Toca a coxa dele MALIK e sobe para o membro.
Com medo, solta. MALIK pega a mão de ANTHENOKEN e a leva de novo.
MALIK
Alguém precisa saber que és a MINHA
mulher?
Abaixa-se
submisso e toca as pernas de ANTHENOKEN massageando-as com carinho.
MALIK
(Cont’d) Teus deuses sabem o que
tens no teu coração, meu príncipe! Aqui, nas tuas terras o amor entre homens é
permitido. De onde venho, não! Vamos viver o que possa ser vivido!
Provoca
esfregando a cabeça nas pernas de ANTHENOKEN.
MALIK
(Cont’d) Deixa-me ser teu homem.
Não me prive de ti! Afinal, o vosso filho está sempre disposto; e ele é belo e
tão delicado que minha carne cede!
ANTHENOKEN, fora se si, o pega pelo pescoço e o
ergue.
ANTHENOKEN
(ciumento)
Não ouses! Ou mando lhe decapitar!
MALIK segura
com uma mão o punho de ANTHENOKEN em sua garganta e com a outra puxa a mão dele
e lambe os seus dedos. Desejo.
MALIK
Isso! Gosto dessa brutalidade! Deixe-me
desfrutar a pele macia que encobre as tuas costas, as tuas coxas e o teu meio. Com
a minha língua... Deite-se como a minha mulher!
Seduzido, ANTHENOKEN deposita a mão sobre o membro de MALIK e o beija com desejo. Cortes descontínuos: MALIK o faz de mulher com puxões pela cintura e chaves de braço num sexo despudorado. ZAHRA, escondida, assiste e lacrimeja.
4. INT/DORMITÓRIO DO REI/NOITE
TUTANCAN triste à luz da
lua, pela janela, ANTHIEPT no leito.
TUTANCAN
Ela tem o seu preferido!
ANTHIPET
Seu avô também tinha, e não era
você! Seu irmão sempre foi o mais acolhido pelos dois.
Pensativo, TUTANCAN caminha até ela e senta aos
seus pés.
TUTANCAN
Ela disse-me que eu era um
malfeito. O que há de errado comigo?
ANTHIEPT
Errado?! Você é divino!
TUTANCAN
Não sou! As pessoas sentem repulsa
por mim. Me evitam! Desde pequeno ando sob olhares que me julgam em silêncio; e
dentro de minha cabeça parece que consigo ouvir o que elas pensam e dizem sobre
mim!
ANTHIEPT
As pessoas temem o desconhecido; elas
julgam e menosprezam tudo o aquilo que não é o que querem. O que oferece risco
em suas escolhas passam pelo crivo do ataque e repúdio!
TUTANCAN
Quero ser feliz! Como isso agride
ou ameaça alguém? Meu irmão não é como eu e nem tem desejos como os meus e,
como posso incomodá-lo ou agredi-lo? Não há uma disputa de interesses!
ANTHIEPT
Abra teus olhos que ingênuo não és!
A disputa em questão, com ele, é outra. Podes, tu, tirar o lugar que Shenk julga
merecer: o trono!
ANTHIEPT, persuasiva,
coloca-se de pé e ergue TUTANCAN segura-o pelo queixo.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Irmãos, não se amam! (T)
Amam um apego que viveram, mas, na vida disputam entre si! Entretanto, apenas
um se destacará. Apenas um!
(acaricia a
face dele)
Abra a tua mente; teus olhos! Como
disseste, a tua mãe tem o preferido e, ele, sabe! Quando for oportuno, creia, ele
vai saber como afastar tudo que o ameaça de seu caminho. Mesmo que um irmão! (T)
Durma de olhos aberto, querido! Sei o que digo; sou a sobrevivente dos meus!
TUTANCAN pensativo. ANTHIEPT sorri misteriosamente. Tensão.
5. INT/QUARTO DO PRÍNCIPE/NOITE
ZAHRA deitada nua. Testa
machucada CAM passeia pelo seu corpo. DESFOQUE revela ANTHENOKEN a deitar do
seu lado. ZAHRA se debruça sobre ele e beija o seu corpo (convite sensual). ANTHENOKEN
vira o rosto às investidas dos beijos. A Rejeita. Ela insiste.
ANTHENOKEN
Basta! Basta, Zahra! Não me sinto
com energia para isso agora.
ZAHRA
(lacrimeja)
Falta-te energia ou interesse?
(senta-se)
Olhe nos meus olhos e me diga a
verdade... Quero a verdade!
ANTHENOKEN
engole seco e a fita apreensivo.
ZAHRA
(Cont’d.) Teria coragem de me dizer
sobre o fim de teu amor por mim?
ANTHENOKEN
Não sei dizer, Zahra; o que sei é
que quando o amor acaba, não se precisa dizer. Os envolvidos sentem.
ZAHRA lacrimeja.
ANTHENOKEN
(Cont’d.) Preciso descansar.
Se vira de costa para ela e deita com o olhar distante. Zahra limpa as lágrimas e não esconde a revolta.
6. INT/CORREDOR/NOITE
Movimentação dos serviçais.
Furtivamente MALIK passa. TUTANCAN surge por entre as pilastras. Segura-o pelo
braço.
TUTANCAN
(duro)
Diga-me! Porque escondeste que
serves ao meu pai?!
MALIK fica sem palavra. Suspense.
7. INT./ORÁCULO/NOITE
SETNIAK, debilitado, a
poucos metros do oráculo recebe água na boca por OMAR.
OMAR
(preocupado)
O que viste?
SETNIAK
(enfático)
A cor encarnada escorrendo pelo
chão desta morada.
OMAR
De quem, adivinho?
SETNIAK vira-se em recusa a falar. Suspense.
OMAR
(insiste)
(Cont’d.) De quem? Pelo o que lhe é
mais sagrado, diga-me para que possa impedir uma tragédia.
SETNIAK
A água tem o seu curso. De nada
serve a barragem, ela contornará e seguirá!
Mais dias, menos dias... O que
tiver que ser será! Maktub!
SETNIAK meneia a cabeça negativamente. Em OMAR desacreditado.
8. EXT./PÁTIO/NOITE
Suspense. Vista do alto: OMAR atravessa rápido. A silhueta de alguém indefinida aparece no vídeo a lhe observar.
9. INT./CORREDOR/NOITE
Suspense. Retoma em MALIK e
TUTANCAN em tom baixo, mas intenso.
TUTANCAN
É diferente! Pra mim, muda tudo!
MALIK
Deixaria de desejar-me? Fugiria ou
evitaria-me as trocas de olhares por pertencer aos servos de vosso pai?
O fita com severidade.
TUTANCAN fica sem palavras.
MALIK
(Cont’d) Me desejas e, não mudaria
nada. Sabes disso!
TUTANCAN
(lacrimeja)
É mais que desejo! Jamais senti tal
força que dói aqui; no peito! Quando o senti em mim, senti que podia tudo. Não creio
na efemeridade! Quero a ti!
MALIK
Não podes! Pertenço a outro mestre!
Deves se conter; é o que peço!
TUTANCAN
Servo do rei, sim! Objeto dele,
não! Ele não pode impedir que se entregues a quem por direito decidir se deitar
em carinhos. (T) Eu o enfrentarei!
MALIK
(enfatiza)
Não! Não o faça; por mim! Não o
posso dizer os motivos. Só quero que saiba que...
(joga)
Enquanto vivo ele for! Pelo resto dos
tempos, jamais serei de alguém. (T) Compreendes o teor do que lhe digo? (T)
Esqueça-me! Será o melhor para todos!
TUTANCAN, baqueado,
lacrimeja. MALIK se afasta pelo corredor.
TUTANCAN
(neurótico)
Estão me
roubando tudo o que desejo ou toco! (T) Isso tem que ter um fim!
CAM busca SHENK pensativo, escondido atrás de uma pilastra. TUTANCAN SAI pisando duro.
10. INT/DORMITÓRIO DO REI/CORREDOR/NOITE
Suspense.
OMAR adentra o quarto e ANTHIEPT é servida por NEVERA com damasco à boca e
abanada por servas. OMAR pigarreia. NEVERA e demais SAEM o observando com
desconfiança. OMAR a acompanha com o olhar desconfiado. ANTHIEPT ajeita as
vestes.
ANTHIEPT
(admirada)
O que lhe traz aqui Omar? (T) O que
urge que não esperas ao sol? Estou vulnerável aos olhos de um homem.
OMAR se aproxima de ANTHIEPT
e a olha com polidez.
OMAR
Se tens algo ao que não a adjetiva
é a vulnerabilidade! (T) Sabes bem que nunca o foi!
ANTHIEPT
Sem jogos de palavras! O passado
está morto, Omar! E, lá, deve permanecer!
OMAR
estende a mão para que ela o cumprimente adequadamente. TENSÃO. Ela o olha com
desdém e se mantem parada. Ele olha para ela e para mão como quem mandasse o
cumprimentar. Ela abaixa e coloca a testa na mão do sacerdote. Ele sorri com
velada satisfação.
OMAR
Bom que não esqueceste o tratamento
ao Sumo-sacerdócio. (T) Serei breve: o funeral está prestes a acontecer e é
preciso nomear o eleito à sucessã/
ANTHIEPT
Anthenoken! Renuncio ao trono! Ele será
o Faraó!
(o fita com
severidade)
O trono pertence ao único e
legítimo herdeiro desta família, Sacerdote: o meu filho. Anounak partiu sem
deixar mais herdeiros.
OMAR
Sabes que não! O povo pode não saber,
eu... sei; há o General.
ANTHIEPT
É ilegítimo! Uma mentira! (T) Anounak
morreu sem o reconhecer publicamente. Nerfiri sumiu nas areias ou nas águas do
Nilo. Quem poderá provar? Quem?!
(ardilosa)
Sou a legítima! A Rainha! É a minha
linhagem que seguirá no trono. (T) Vieste saber e, agora, já sabe. Leve a
informação aos demais sacerdotes e prepare a cerimônia para o dia depois do
sepultamento.
OMAR
És muito sagaz, Anthiept.
Planejaste cada detalhe para retirar as ameaças do caminho. (T) As grandes
mentiras trazem grandes consequências, rainha! Sabes que Nerfiri é inocente e
que o Nub a considerava mais que a ti.
ANTHIEPT
(contém a
ira)
Jamais! Ele me considerou e desejou
como jamais desejou a alguém. Não és tu que o dirá ao contrário!
(jogando)
Aproveitas da passagem do...
Anounak, para rever os vossos ressentimentos? O que se foi não volta, Omar. Jamais
terá o que ele lhe tirou.
OMAR
(engole
seco)
Não me tiraste grande coisa. Quando
a vejo, mais certezas tenho de que ele livrou-me de um castigo.
Aproxima dela por trás e toca em seu ombro.
OMAR
(tom baixo)
Decline Anthenoken da missão. Sabes
que vosso filho não está à altura deste reinado quanto o General! (T) Luxor
precisa de pulso e coragem.
ANTHIEPT
Jamais aceitarei o filho da traição!
OMAR
Seja estratégica! Poupe o vosso
filho da vergonha e do fracasso. Não deixes que vejam as fraquezas te teu
sangue!
ANTHIEPT abre as vestes e as deixa cair. Nua,
toca em seu queixo.
ANTHIEPT
Olha-me! Não suportaste! (T) Perder
o trono e a mim o transformaste em algo controlador e amargo. Olha-me Omar!
Desfila nua para ele.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Eu nutria sentimentos por
Anounak. Nada por ti! Eras um fraco! Vosso pai sabia os filhos que tinha! E
preferiu o caçula!
OMAR
Agradeço aos Deuses ter me tornado
um Sumo-sacerdote. Ao contrário, seria o meu corpo no lugar de... de Anounak,
em banho de sais.
ANTHIEPT
(debocha)
Uma afronta! Quanta ousadia! O
tempo lhe deu a coragem que nunca tiveste em juventude! Teria sido atraente!
OMAR a olha com misto de nojo e desdém.
OMAR
Coragem? Não! Valores!
Conhecimentos nobres que lhes faltam neste momento! Vista-se da decência de uma rainha e,
respeite a passagem de meu... irmão. Afinal, o tempo não lhe foi generoso! Compreendo
Anounak desejar mais à ela que a ti!
OMAR vira-se e conduz à porta. ELA se envolta
nas vestes enquanto o aborda.
ANTHIEPT
Seu pai preferiu o temporão por que
ele era o mais preparado. E, Luxor, mais uma vez terá um temporão á frente de
seu trono. A história se repete, não é?!
OMAR
(indignado)
Nerfiri era mais despretensiosa.
Ele me revelou! Foi uma rainha sem mesmo ter subido ao trono! Tens muito o que
aprender para chegar aos pés dela! E, ao repetir a história, escolha o mais
preparado e não o mais fraco! (T) Sabes bem de quem eu falo!
SAI chateado. Nervosa ANTHIEPT joga todas as
coisas ao chão em crise de choro.
-- CORREDOR:
OMAR passa rápido. Silhueta se move nas sombras a observá-lo. Derruba uma tocha chamando a atenção do sacerdote. A silhueta corre. OMAR, assustado corre no sentido oposto.
11. INT/TEMPLO DE OSIRIS/NOITE
SETNIAK, sentado ao oráculo.
OMAR ENTRA batendo a porta com força. SETNIAK se arrepia e esfrega a mão para
aquecer o corpo.
SETNIAK
Os ventos que o perseguem são frios
e ameaçadores.
OMAR
Não há vento algum! Alguém me
observava de perto, muito perto.
Ansioso, se aproxima do cego e senta ao seu
lado.
OMAR
(Cont’d.) Tu, que tudo vês,
diga-me: a minha decisão pode mudar os rumos dessa sucessão?
SETNIAK
(adverte)
Omar! Omar! Não aprendeste que
quando se mexe na ninhada tem que aguentar a dor e o veneno das serpentes?
OMAR
(obstinado)
Agora que comecei, tenho que ir até
ao fim! Anthenoken não tem o perfil para Faraó. É um fraco!
SETNIAK
Com quais convicções, dize-o, tu?
OMAR
(cabisbaixo)
Em mim! O reconheço em mim. O fraco
que fui e sou. (T) Mas isso tem que acabar! Pagarei pelas consequências.
SETNIAK sorri com canto de boca. OMAR levanta
para SAIR.
SETNIAK
Pagarás com a própria vida?
OMAR para e o observa.
SETNIAK
(Cont’d.) O destino faz o erro
virar acerto e o acerto virar erro. (T) A consequência é plantar a semente e
não ver a árvore das os frutos... E pode ser que não sejam bons frutos!
OMAR para diante o oráculo pensativo. SETNIAK sorri.
12. EXT/JARDINS/NOITE
Penumbra. NEVERA e NEMEWÁ em segredo.
NEVERA
O sacerdote esteve nos aposentos
dela! Sinto que estão tramando a sucessão!
NEMEWÁ
pensativo.
NEVERA
(Cont’d.) Não podemos deixar que a
morte de vossa mãe tenha sido em vão! Algo tem de ser feito, meu sobrinho, ou
jamais será reconhecido como um dos filhos de Anounak.
NEMEWÁ
(convicto/longe)
Acalme-se. Tenho trunfos sobre
eles!
NEVERA
Quais?! Deves agir, Nemewá! O tempo
urge contra nós! Não sei quanto tempo conseguirei esconder a minha origem.
NEMEWÁ
Tudo ao seu tempo, minha tia. Lhe
sou grato por ser-me tão fiel e arriscar-se por mim.
NEVERA pega
na mão de NEMEWÁ e a beija e depois coloca em seu rosto. Conotação de um
suposto romance
NEVERA
Como não o ser? Fomos criados
juntos! Temos quase a mesma idade! Teu sonho é meu sonho, Nemewá. Farei tudo pelo
seu reconhecimento enquanto filho e ao seu direito ao trono!
Sem o mesmo interesse beija
a mão dela e agradece com um olhar.
NEMEWÁ
Sei disso e sou grato. (t) Agora, é
preciso que retorne e sejas meus olhos e ouvidos lá dentro; dia e noite. Algo está
prestes a acontecer.
(misterioso)
Sei que vai acontecer! Tomes
cuidado! Anthiept é uma serpente venenosa!
Suspense. NEVERA preocupada. NEMEWÁ com olhar distante.
13. INT/CORREDOR/NOITE
NEVERA caminha alguns
passos. ANTHIEPT se posta diante dela.
ANTHIEPT
Demoraste a retornar! Onde esteve?
NEVERA
(mente)
Procurava flores para vos banhar com
bons aromas e descarrego.
ANTHIEPT
Posso cheirá-las? Aonde estão?
NEVERA
Deixei para recolher pela manhã
quando ainda estarão fresc/
ANTHIEPT
Não mintas! (T) Foste encontrar o dono
daquele escudo em vossa casa!
NEVERA abaixa a cabeça encurralada.
NEVERA
(cabisbaixa)
Perdão, senhora!
ANTHIEPT
(ameaçadora)
Sei retribuir gratidão e fidelidade.
Saiba, tu, que tenho virtudes, mas
a tolerância à traição não é uma delas.
(impositiva)
Não posso e nem quero correr riscos
com a vossa proximidade ao dono do escudo. Para tanto, minha cara, deves
escolher: o vosso relacionamento ou continuar a viver debaixo deste teto ao meu
lado.
NEVERA
engole seco e no limite de sua tolerância a enfrenta.
NEVERA
Não entendo o que vossa majestade
teme com minha proximidade ao meu companheiro?
ANTHIEPT
Não lhe devo explicações! Como me acolheste,
o que vos digo é: afasta-te do soldado, quem quer que o seja! Será melhor para
todos!
NEVERA
Esteja crente que lhe sou fiel!
NEVERA se
curva e ANTHIEPT a mede com o olhar. Aproxima-se do ouvido dela de forma
intimidadora em quase sussurro.
ANTHIEPT
Acreditarei! As decepções abrem as portas
das intenções mais nefastas que habitam meu eu.
ANTHIEPT SAI a medindo com os olhos e NEVERA que a priori está cabisbaixa, levanta a cabeça e sorri amarelo num gesto de esconder/sustentar a mentira.
14. INT/TEMPLO DE OSÍRIS/NOITE
Água jorra na fonte de ouro.
SHENK molha o rosto com s água corrente. Reflexo do ouro, Close nele
preocupado. A alma de ANOUNAK logo atrás envolto de luz.
ANOUNAK
(preocupado)
Há alguns dias, fazia o mesmo antes
de minha morte. (T) Tão jovem e já lhe cai o peso do reinado sobre as costas!
Não foi o que lhe desejei!
SHENK olhando ao longe.
ANOUNAK
Hórus, permita-lhe que ouça essas
palavras: “O homem deve fazer o que deve ser feito, mesmo que lhe doa!”
SHENK leva os olhos na direção de ANOUNAK sem
vê-lo. Música instrumental e mística.
ANOUNAK e
SHENK
Viver é resistir! A tempestade
forja os fortes que zelam daqueles que precisam de um norte.
Efeito de luz muda. SHENK [sozinho] volta em
si.
SHENK
Preciso sair das sombras em que
mora os meus sentimentos!
Em SHENK olhando para o alto. ZOOM na escultura de Osíris com o filho Hórus em seu seio. Sobe a música. Mistério.
15. INT/DORMITÓRIO OMAR/NOITE
OMAR dorme.
SHENK ENTRA veloz e a força faz bater a porta com tudo ao abri-la. OMAR acorda
assustado
OMAR
Deverias usar de mais delicadeza
para acordar as pessoas, Shenk.
OMAR senta
e passa as mãos na cabeça. SHENK se ajoelha à ele.
SHENK
Minha angústia me consome e
rouba-me o sono. Desde que o Faraó partiu, há dentro de mim algo que me rouba a
paz.
(angustiado)
Lhe rogo: oriente-me! Sinto uma
força muito ruim a consumir-me como o sinal de algo prestes a acontecer em
minha vida.
OMAR
(preocupado)
Feche os olhos e diga-me o que vem à
mente.
SHENK
O trono! No alto das escadarias, no
portal da cidade.
OMAR
Que mais?
SHENK
Alguém ao trono sendo coroado
por... alguém do exército... não consigo ver os rostos! O público está
incrédulo! Vejo sangue descer pelas escadas e...
SHENK abre os olhos lacrimejantes. OMAR o fita.
OMAR
A boca fala daquilo que carregas em
teu coração. Que imagem foi essa que viste e fizeste sair desta indução?
SHENK
(chorando)
Tutancan! Tinha sangue pelo corpo! Ele
estava de joelhos. Eu... Não... Não posso! Amo o meu irmão!
OMAR
(sussurra)
Há um conflito entre vós e sabes bem!
O teu choro é de culpa, Shenk. Apesar de amá-lo, desejas retirá-lo de vosso
caminho. E, talvez, devesse realmente dar um basta em vosso irmão!
SHENK
O que dizes?! Não sou assassino!
OMAR
Não! Nem precisa o ser! Basta usar
a sagacidade e afastá-lo de ti a ponto de evitar o conflito na coroação do
próximo Faraó. Tiveste a vidência dos Deuses. Isso é uma benção! É o sinal
divino! Entendas, Shenk: desde que o mundo é mundo, os mais fortes têm de fazer
o que deve ser feito!
SHENK
(relutante)
Sei disso! Não sei se ferir Tutancan
seria o caminho para chegar aonde eu desejo.
OMAR
O que deseja em verdade? Diga-me!
SHENK
O trono! Depois de meu pai, lógico!
OMAR
(polido)
A sucessão é um assunto
primeiramente de família, depois, passa ao conselho sacerdotal. Creio que devas
conversar com o vosso pai e se aproximar dele. E, até mesmo de Nemewá.
SHENK
Perdoe-me a limitação. Não
compreendo o motivo de estreitar-me ao General.
OMAR
misterioso se levanta e olha da porta para os corredores furtivamente. Se volta
para SHENK e o segura pelos ombros.
OMAR
És um homem bem formado e de
conduta ilibada, Shenk. Creio que seja a hora de saber da verdade. Tantos segredos
velados pelo tempo!
(pesaroso)
Vosso pai não é o próximo na
sucessão do trono. O verdadeiro primogênito de vosso avô é Nemewá! Ele nasceu antes
de vosso pai, filho de uma traição! E escondido por seu avô...
(lacrimeja)
O que vou lhe abrir é mais
imperioso ainda: teu avô roubou-me o trono; meu irmão mais novo Tierensen,
Anounak II, é meu irmão, Shenk. Sou teu tio!
SHENK cai sentado na cama perdido.
OMAR
(Cont’d.) Eu poderia ter lutado
pelo trono, mas, meu amor pelo seu avô, me fez sair do caminho e lhe entregar o
trono de bandeja, pois fui medroso em lhe enfrentar. Preferi continuar vivo e
ter a paz entre nós.
OMAR chora e
vira-se para esconder de SHENK.
OMAR
(Cont’d.) Anulei-me ao ponto de meu
pai escolher teu avô. Eu deveria ter tomado as rédeas de minha vida; viver à
sombra de alguém, fere mais que uma punhalada.
SHENK toca
o ombro de OMAR em solidariedade. OMAR tira a mão dele do ombro.
OMAR
O segredo deve permanecer guardado.
Apenas use-o como lição: Lute! Com todas as armas! É com esta minha experiência
que vos digo: faça o que tem que ser feito! Ouça teu coração!
Em SHENK pensativo. Suspense.
16. INT/DORMITÓRIO PRÍNCIPES/NOITE
SHENK ENTRA pé-ante-pé.
Aproxima-se do leito em que TUTANCAN dorme. Leva a mão ao cabelo do irmão e o acaricia
com cuidado.
SHENK
(sussurra)
És uma presa tão fácil!
Close: TUTANCAN dorme.
Desfoque revela a piedade nos olhos de SHENK.
CORTA PARA O:
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P R Ó X I M
O C A P Í T U L O
JOÃO SANE MALAGUTTI
Elenco ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA
Direção
ANDERSON SILVA
BRUNO OLSEN
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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