No
capítulo anterior Carlito foi aprisionado por estranhas criaturas, enquanto
isso, Imã e senhor Belchior chegam a esse mundo mas não o encontram. Rui está
em grave perigo de vida.
CAPÍTULO 13 - A PARTIR DE AGORA EU SOU R2 E VOCÊ, C3
Dois anos atrás, o pátio de recreio
do colégio é agitado, assim que a sirene do intervalo toca, as crianças invadem
a quadra poliesportiva chutando sacos plásticos como se fossem bola de futebol,
as meninas se agrupam para colocar as novidades em dia, num canto mais
afastado, um menino mais encorpado se destaca com a cabeça enfiada em uma
revista de quadrinhos. É o primeiro dia de Carlito na nova escola e o menino
isolado parece uma ótima oportunidade para começar novas amizades, ainda mais
porque devem ter as mesmas afinidades, as aventuras de ficção científica.
—
Eu ainda não tenho esse número, saiu quando? — Carlito tenta ser natural,
apesar da timidez.
—
Acabei de comprar na banca. — Rui, responde sem tirar os olhos da revista.
—
Aí, você gosta de trocar revistas?
—
Não, sou um colecionador, as minhas revistas são inegociáveis.
—
Não digo troca definitiva, é como se fosse empréstimo, a gente marca um tempo e
destroca.
—
E que garantias eu tenho de que as minhas revistas não serão adulteradas?
—
As mesmas que eu terei com as minhas.
Rui
abaixa a revista e olha para Carlito por alguns segundos.
—
Quanto tempo você leva para ler uma revista?
—
Geralmente, menos de meia-hora, depois fico só apreciando a arte.
—
Qual seu desenhista preferido?
—
Jim Starlim, que desenhou a saga do Adam Warlock.
—
Roteirista?
—
Alan Moore. Isso é uma entrevista?
—
Se incomoda?
—
Qual objetivo?
—
Estou avaliando seu grau de confiabilidade.
—
Eu devia fazer o mesmo contigo.
—
Quem propôs a troca de revistas foi você, o que me leva a pensar que sua estima
é mais para ler as histórias do que ter as revistas.
—
Acho que tem razão.
A
vitória moral anima Rui.
—
Melhor máquina do tempo?
—
Depende.
—
Do quê?
—
Se o tempo é clima, escolho balões meteorológicos, sou romântico, agora se for
viagem no tempo, gosto da elegância de Em Algum Lugar do Passado, como disse,
sou romântico.
—
Gostei, você é inteligente. — Rui aperta a mão do novo amigo.
Um
chamado longe interrompe a conversa, duas meninas se aproximam da dupla.
—
Ruizinho, você já fez? — uma delas esboça largo sorriso.
Rui
vasculha a mochila, retira folhas de papel almaço e entrega à menina.
—
Você é um amor. — ela dá um beijo no rapaz e sai.
—
Cara, o que foi isso? — Carlito fica espantado com a intimidade.
—
Nada demais, essas meninas sempre me pedem para fazer os trabalhos de pesquisa
para elas, daí sabe como é, né. Mas e você, alguém que gosta do Jim merece meu
respeito.
—
Carlito. — estende a mão para o aperto.
—
Rui.
—
“Ruizinho”! — Carlito ri.
—
Só para as meninas, não força.
—
Aí, quer chegar lá em casa pra ver minha coleção?
Rui
pensa alguns instantes.
—
Quando?
—
Pode ser na sexta depois da aula.
—
Fechou, vou avisar lá em casa.
—
Aí, você não quer me apresentar as suas amigas?
Mais
meninas se aproximam da dupla e Rui fica confuso.
—
Oi, Deia, ainda não tive tempo de fazer seu trabalho.
Carlito
toma a frente.
—
Opa, de repente eu posso ajudar, é o que?
—
Quem é esse menino, Rui? — a moça encara Carlito de perto.
—
É o Carlito, parceiro novo aqui na escola. Ele é bom também. — Rui enche a bola
do amigo.
Deia
sorri para Carlito.
—
Será que você consegue fazer a minha pesquisa de Biologia até amanhã?
—
Sem problema, me dá os tópicos.
—
Tópicos? — Deia não faz ideia do que Carlito fala.
—
É. Sobre o que vai ser a pesquisa?
—
Biologia.
Rui
se intromete.
—
Não esquenta, Deia, eu passo a matéria. — Rui pisca o olho.
—
Tá bom, quando você me entregar eu agradeço. — Deia pisca de volta e envia um
beijo no ar para Carlito.
As
meninas saem de encontro a outro grupo, onde rapazes as abraçam e gargalham.
Rui arruma a mochila dos cadernos nas costas e vai para a aula acompanhado de
Carlito.
—
Cara, um conselho, toma cuidado com essas meninas, elas são barra pesada. Faz o
que tem de fazer e mete o pé.
—
Tranquilo, só quero ajudar e me enturmar.
—
Sei… tô avisando.
No
dia seguinte, Carlito cumpre a tarefa e entrega a pesquisa para Deia.
Agradecida, a moça o convida para uma festinha no apartamento dela, na
sexta, depois da aula. Claro que Carlito
não pensou duas vezes e confirmou a presença,
recebendo um beijo e abraço.
Na
hora da saída, sexta-feira, Rui encontra
o amigo.
—
E aí, tudo certo? Meus pais deixaram eu me atrasar um pouco antes de chegar em
casa, olha aqui, eu trouxe essa revista que saiu há duas semanas, não sei se
você já tem…
Carlito
se desconcerta.
—
Pô, cara, foi mal, esqueci completamente
de falar contigo.
—
O que é?
—
Sabe a Deia? Ela me chamou pra uma festa e é hoje, eu falei que ia pra lá
agora.
—
Tá maluco? O que eu te falei sobre ela? Cara, tu vai entrar em furada.
—
Tô tranquilo, Rui, não vai rolar nada
demais. Eu vou lá, me enturmo, conheço mais garotas e…
—
Aí, eu sei que você é novo por aqui, mas não pode ser tão otário. A Deia não é
assim, cara, você vai se estrepar, vai por mim, é furada.
Mesmo
com todos os apelos, Carlito decidiu ir à festa. O endereço é dentro de um
condomínio popular, não muito seguro, mas Carlito não prestou atenção nos olhos
que o vigiavam enquanto ensaiava passos de dança em plena rua. Assim que
encontra o bloco, ele procura o interfone, mas o prédio não possui. Busca o
número da Deia no celular e só tem sinal de ocupado, “pelo visto o jeito é
subir e entrar”, pensou.
Logo
que abre o portão do prédio para entrar, Rui reaparece e puxa pelo amigo.
—
Antes de subir, só deixa eu te mostrar uma coisa.
Rui
puxa o celular e mostra uma página de rede social. A Deia está em uma
transmissão ao vivo. “...fiquem aí pessoal, porque a diversão vai chegar a
qualquer momento, pela primeira vez vou filmar o meu namorado dando surra num
moleque novo. Já vai deixando o like
e compartilha com seus amigos, quero esse vídeo viralizando em todos os
lugares…” Rui recolhe o celular.
—
Peraí, Rui, esse moleque sou eu?
—
A minha avó é que não pode ser.
—
Como você…
—
Eu te falei, essa mulherada não é flor que se cheire. Pronto, já fiz a minha
parte, agora você decide, vamos pra sua casa falar sobre o que realmente
importa ou você arrisca ficar numa festa onde o prato principal é você mesmo.
Rui
não espera a resposta e vira as costas. Carlito ainda mantém esperanças de que
pode ser um exagero, mas ao ver o amigo se afastando, decide acompanhá-lo.
Mas,
quando os dois estão quase saindo do condomínio, ouvem alguém gritar.
—
Olha ele lá, vem, vamos pegar eles!
Uma
turma de rapazes correm para os dois, que nem param pra pensar, correm o mais
rápido que podem, atravessando ruas, pulando bancos, até chegar em um lugar
seguro. Carlito olha para o amigo.
—
Pô, cara, foi mal e obrigado por me
ajudar. Fico te devendo uma, quando precisar de mim é só falar, dou minha
palavra que farei o que puder pra te ajudar.
Rui
aperta a mão.
—
A partir de agora eu sou R2 e você, C3, concorda?
Carlito
se agarra à lembrança, neste momento não existe mais ninguém que ele gostaria
ao seu lado. “O Rui sempre foi mais
esperto”.
A
situação poderia ser desesperadora, a escuridão, o medo, a imobilidade, de
alguma forma Carlito se consola ao pensar que seu corpo está a salvo no
escritório da Imã e o tempo relativo pode significar alguns minutos, ou meses…
ou anos… mas se assim fosse, certamente
já teria encontrado um jeito de tirá-lo dali. Prefere não considerar a
advertência do Rui, quando se referiu ao
tempo que avô da Imã ficou preso entre mundos. “Ela era só uma criança e agora tem também o senhor Belchior ajudando”
se consola. Sem ter o que fazer, o melhor é esperar que algum milagre aconteça.
Passos em sua direção, indicam aproximação de alguém. A voz que ouve não é
animadora, mas também não amedronta.
—
Podem baixar o caldo?
Aos
poucos a visão vai esclarecendo, o líquido gosmento que o prendia escorre por
um ralo logo abaixo de si, instintivamente, Carlito puxa o ar e seus pulmões se
enchem dando a ele uma nova carga de energia. Finalmente consegue se mover.
Logo que abre os olhos, enxerga uma pequena criatura com rosto reptiliano à sua
frente.
—
Vocês acham que isso é a Princesa Macar? Podem ajudá-lo a se recompor?
Duas
criaturas pegam Carlito pelo braço e o colocam em pé, retiram resquícios do
líquido de seu corpo e se afastam. Carlito sente fraqueza nas pernas, mas
começa a se sentir mais confortável.
Em
outro lugar, a situação não é tão diferente.
—
Quem são vocês, o que querem comigo? — a voz de Imã é vacilante.
A
jovem se contorce violentamente para se livrar dos braços que a seguram. O
movimento repentino assusta as criaturas ao seu lado que a deixam cair no chão.
Ao olhar em volta, Imã vê todo tipo de criatura, animais e aves, todas
espantadas pela atitude agressiva. A menina também está assustada e mantém uma
postura defensiva, seus olhos procuram por alguma coisa com que possa usar como
escudo, mas o local é absolutamente sujo e fedorento.
—
Por que está nos atacando? Nós te salvamos. — uma criatura parecida com um
macaco se aproxima devagar com as mãos em sinal de paz.
O
tom amistoso faz com que Imã fique aliviada e baixe a guarda.
—
Desculpem, mas eu estava sendo atacada e vocês me puxaram por trás, eu
realmente não entendi o que estava acontecendo. Fiquei desesperada porque não
conseguia ver para onde estava sendo levada e com dificuldades para respirar,
então, quando chegamos aqui a primeira coisa que pensei foi em me proteger.
—
Você ia ser pulverizada, não tivemos tempo para nada. Mais um segundo e já era.
—
Eu sei… desculpem. Mas, o que tá rolando aqui? Quem são vocês?
—
Nós somos… ou éramos, habitantes desse mundo. Eu me chamo, Gualbe.
—
Esse mundo era diferente? Por que está todo destruído? Desculpem, eu sou a…
Antes
de completar a frase, Imã se cala porque percebeu um vulto se destacando das
sombras, as criaturas abrem espaço para que ele se aproxime.
— Seja bem vinda, Princesa Macar.
M. P . Cândido
Elenco Imã vô Táquio Rei Gjorgy maga Cuca Tiana Rui Carlito Drica Tudão Cerol Renê Zara Ema Utah Sári Vento Participações Especiais Gualbe Beron Zebu Melo vó Nácia Tema Boom Boom Pow Intérprete The Black Eyed Peas
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