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O Eleito: Capítulo 06

Minissérie de João Sane Malagutti
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O ELEITO - CAPÍTULO 06






FADE IN:


1.     
INT/DORMITÓRIO PRÍNCIPES/NOITE                            

 

Retomada imediata. SHENK acariciando o cabelo de TUTANCAN que abre os olhos e se assusta. Afasta-se bruscamente.

 

TUTANCAN

(apreensivo)

Se afaste!

 

SHENK reativo.

 

SHENK

O que pensas que sou? Achas que eu cometeria algo tão vil; à traição? Não sou assim. Se algum dia atacar alguém, será olhando nos olhos. Não sou um covarde!

 

TUTANCAN

(ríspido)

Não me importa o que és! Não quero que aproximes. Temo por mim!

 

SHENK

Olhe para ti: acuado neste leito! E, tudo por causa de um carinho! Queria compreender teus pensamentos. Antes não eras assim comigo. Éramos amigos e parceiros...

TUTANCAN pega as suas joias e as vestes durante o diálogo.

 

TUTANCAN

Isso foi antes. Agora as aspirações são outras!

(hostil)

Amadureci muito, Shenk, ao objetivo de compreender que vossa existência me fere! As pessoas buscam as vossas qualidades em mim; e, não as tenho!

(ressentido)

Além de ser mais bem-quisto aos olhos de todos. És belo! Forte e viril! A estampa de tudo o que não sou!

 

SHENK

Qualidades tão rasas que me deste que ninguém que alguém com bom senso não se atreveria a mergulhar nelas.

 

TUTANCAN

(inveja)

As tem! Fora forjado no capricho dos Deuses...

 

SHENK

Enxergo em tuas palavras muita mágoa e ressentimento! O que lhe fiz?

 

TUTANCAN

Hoje, principalmente, quando tomou a adaga de mim, vi-me em teus olhos como uma presa fácil de se abater.

(olha nos olhos)

Matarias a mim se eu tivesse perdido a cabeça? Um gesto impensado tal como o de hoje?

 

SHENK

Foi no calor do momento. Passaste do limite com nossa mãe! Não percebeste?

Breve silêncio.

 

TUTANCAN

Limites! Passíveis ao ponto de vista de alguém que deseja ter a razão!

(altera-se)

Não sou racional! Nem nunca serei! Jamais cometerei esse erro! É assim: sinto as coisas com mais intensidade!

(ressentido)

Hoje, ao tomar a defesa de nossa mãe, a expôs ao ato de escolher um de nós. Ela escolheu a ti! Ficou confortável? Porque isso me afetou dolorosamente. És o preferido dela! Eu, sou o outro.

 

Coloca uma última pulseira e caminha para a porta.

 

SHENK

Estais me punindo por um erro que que ambos cometemos! (T) Aonde vais?

 

TUTANCAN

Em breve o sol despontará...

(ironiza)

Quem dorme, não vê as maravilhas da vida. Fechar os olhos é um perigo à quem ambiciona o poder! Um dia, os olhos podem não mais abrir.

 

TUTANCAN SAI.

 

SHENK

(para si)

A sua alma se envenenou contra mim!

 

Em SHENK pensativo.


2.      EXT/JARDINS/DIA - ALVORECER                               

 

TUTANCAN desce as escadarias rumo aos jardins em lágrimas.

ANTHIEPT (V.O.)

Quando um coração está turvado pela desconfiança, ele fica imune à luz do sol. 

 

Panorâmica: TUTANCAN aproxima-se do lago do jardim e olha-se no reflexo.

 

ANTHIEPT (V.O.)

(Cont’d) Torna-se incapaz de sentir! Não se reconhece na própria imagem. Eis o princípio do fim. A derrocada está próxima a cada pulsar.

 

A lágrima de TUTANCAN cai no lago desfazendo a imagem de seu rosto.


3.      INT/DORMITÓRIO DO REI/DIA - ALVORECER                     

                   

TRAVELLING IN. ANTHIEPT de frente com a janela, altiva, com olhar distante. Ao final, olha sobre os ombros desconfiada.

 

ANTHIEPT (V.O.)

(Cont’d) O sangue não mais circula como antes; em seu lugar, apenas a mágoa e o ressentimento, por todo o corpo. Resta apenas um lugar frio!
   

4.      INT/DORMITÓRIO DO PRÍNCIPE/DIA - ALVORECER                 

 

ANTHENOKEN levanta-se e SAI. ZAHRA finge não notar. Apenas a desconfiança toma conta de si.

 

ANTHIEPT (V.O.)

(Cont’d) Um lugar solitário e vazio. O que chamamos de amor se transforma em ódio. Torna-se terra infértil. Já não há mais coração... Em seu lugar, uma pedra.

 

Em ZAHRA. FADE OUT.

MERCADOR# (V.O.)

Olha a cabra leiteira! Olha a cabra!            

 

5. EXT/FEIRA NAS RUAS DA CIDADE/DIA

FADE IN. Tumulto, vozes sobrepostas dos mercadores. CAM busca OMAR (ZOOM IN – GRUA_ andando entre os populares ao longe. O mercador de cabras se aproxima.

 

MERCADOR#

Cabra boa, Senhor! Cabra leiteira da melhor qualidade!

 

OMAR

(com maus bofes)

Não! Não quero comprar nada!

 

MERCADOR#

(insiste)

Uma pechincha, Senhor! E ainda consigo que leve o garanhão!

 

OMAR

(grita)

Não! Já lhe disse que não quero raios de cabra alguma!

 

Vira-se para intimidá-lo e o MERCADOR (POV) vê o seu medalhão de Sacerdote e se ajoelha imediatamente e deixa OMAR sem graça.

 

MERCADOR#

Perdoe-me Sumo-Sacerdote. Certo que não precisa de cabras. Não quero atrapalhar a missão da nobre casta!

 

OMAR

Dias difíceis! Levante-se, está tudo bem!

 

Estende a mão para que o mercador a beije, e assim o faz. O ajuda levantar com gentileza.

MERCADOR#

Dias tristes, sem o nosso soberano, Senhor. Esperamos ansiosamente pelo sucessor. Corre em bocas que o filho ainda não está prepara/

 

OMAR

Maledicências! Os que habitam aquele muro adentro têm condições de assumir o trono sem sombras de dúvidas!

 

MERCADOR#

Deste muro para fora, o dito bastardo estaria à altura de seu pai?

 

OMAR

(acuado)

Que conversa! Tenho pressa, mercador! Ah! Passe boca em boca que o sucessor já foi escolhido e, que, é uma pessoa bem formada e preparada. Confie, meu caro! Estava escrito pelos deuses! Confie! Maktub!

 

OMAR desvencilha e SAI às pressas enxugando a testa. STEADICAM o segue por entre pessoas. Segue apressado e furtivamente; com olhares desconfiados para todos os lados.


6.      EXT/BARRAGEM DO NILO/DIA                                  

 

Escravos quebram pedras e as carregam em cestos até passar adiante aos outros da fila. Grua passeia pela infraestrutura de madeira. Pessoas sobem e descem rampas. Algumas içam cestos com cordas, outras, com turbantes levam cestos com areia na cabeça e despejam na barragem. Soldados observam o movimento.

 

OMAR (V.O.)

Isso é um desagravo!

 

Mais adiante, OMAR e NEMEWÁ frente a frente.

 

OMAR

(alterado)

(Cont’d) Não reunirei o Conselho! É um desrespeito à imagem do rei e de toda a sua família!

 

NEMEWÁ

Cansei de ficar escondido sob o manto de General. Quero e vou revogar o que é meu por direito. Eu sou da família!

 

OMAR

Essa batalha está perdida, Nemewá! Olhe para si: um bastardo! Nada podes contra a constituição familiar que se configurou por anos aos olhos desta gente de Luxor! És um agregado, no estupor dos acontecimentos. Se assim o virem!

 

NEMEWÁ

Não sou bastardo, Omar. Sou o fruto de afetos entre uma mulher e um homem que por acaso era o faraó; e isso, me faz o real herdeiro. Lhe clamo: reúna o Conselho Sacerdotal e os escribas ao cair da noite para que eu possa me apresentar como possível sucessor.

 

OMAR

Não o farei! O conselho só se reúne a pedido da alta administração.

 

NEMEWÁ

Como General do Exército e membro da mais alta administração desta cidade-estado, peço que concedam o direito de ser ouvido por todos! Reconheçam que mereço ao menos ser ouvido, Omar!

Depois de anos doando meu sangue para que Luxor jamais fosse invadida!

OMAR

(desconfiado)

Não é só ressentimento e nem só pelo reconhecimento, não é? Estrategista como és, tem algo a mais por trás de tudo.

 

NEMEWÁ aproxima mais de OMAR e segreda.

 

NEMEWÁ

Não és devoto de Anthenoken, Omar! Bem sei! Noto como o olha e o acha fraco e indigno de confiança. Admita!

 

OMAR

Tu o dizes! Não eu.

 

NEMEWÁ

Queres a verdade? Sim, tenho planos para desmoralizá-lo diante da própria mãe, expondo as suas fraquezas! Dele e dela!

 

OMAR

(pensativo)

Não sei! Tenho uma posição a zelar e estar em paz comigo mesmo diante dos desígnios que a mim foram incumbidos!

 

NEMEWÁ

(sincero)

Olhe para mim, Omar. Estou minguando! Aquela bravura que em mim habitou-se um dia, já não mais existe. Quem vos pede, é um homem perdido dentro de si mesmo. Coloque-se em meu lugar! Não lhe seria de agrado a justiça? O que quero é somente o justo, nada mais!

 

OMAR

(pigarreia/perdido)

Não deveria, como sacerdote, atenuar tais acontecimentos. Mas, como homem, tenho sentimentos. Vou lhe conceder o pedido.

(temeroso)

Entende o peso do que me pedes?

 

NEMEWÁ

Claramente; como a luz deste dia.

 

OMAR

Meça bem seus planos! Saia da sessão um homem maior do que entrarás. Faça o melhor por Luxor! Ao cair da noite, todos estarão no salão em aguardo.

 

Acenam afirmativamente com a cabeça um para o outro.


7.      INT./CASA DE BANHO DIA/DIA                                

 

Gemidos sensuais ecoam. TRAVELLING revela o local vazio até encontrar ANTHENOKEN deitado sobre MALIK nu com meio corpo (de ambos) dentro da piscina. Após alguns movimentos, ANTHENOKEN cai ao lado com sorriso e olhos brilhantes. MALIK acaricia o tórax do amante.

 

MALIK

Satisfeito, amo?

 

ANTHENOKEN

(apaixonado)

Muito. Sinto-me como uma criança descobrindo um mundo novo.

 

MALIK

Isso é bom!

 

ANTHENOKEN

Uma das melhores sensações! Parece que despertaste um lado adormecido por anos dentro de mim!

MALIK

Se o amo está satisfeito...

 

MALIK SAI da piscina. ANTHENOKEN o segura pelo tornozelo.

 

ANTHENOKEN

Fica! Um pouco mais! Gosto de sentir-me em teus braços!

 

MALIK

Devo me vestir. Algum dos servos pode chegar para se banhar.

 

MALIK se vira de costa e pega as vestes.

 

ANTHENOKEN

Ninguém entrará. Ordenei aos guardas que barrassem as entradas aos demais servos.

 

MALIK

É arriscado! Não ia querer sujar a vossa imagem com um servo.

 

ANTHENOKHEN

(pensativo)

Tens razão! Ainda temo o julgamento!

 

ANTHENOKEN ameaça sair da piscina. ZAHRA os surpreendem.

 

ZAHRA

Um governante que se banha nas águas da casta mais baixa! Estrategista ou traço de inferioridade?

 

MALIK se tampa envergonhado.

 

ZAHRA

(à MALIK)

Não se tampe! Vi o suficiente! Pegue as suas coisas e saia!

ANTHENOKHEN

(à MALIK)

Não saia! És meu servo! Entre nós não há segredos! À partir de hoje, quero-te presente em tudo!

 

ZAHRA lacrimeja. ANTHENOKEN, nu, se posta diante dela.

 

ANTHENOKHEN

(Cont’d) Olhe! Olhe para mim, Zahra!

 

ZAHRA olha para baixo e vira o rosto tampando as reações com a mão.

 

ANTHENOKHEN

(Cont’d) Fui tão feliz! Ainda ontem perguntou-me se lhe diria quando o amor acabasse. Não sei...

(lacrimeja)

Não posso o dizer que é o fim, Zahra! Tenho sentimentos por você... Não sei se, amor; porque nunca fui amado! O que vivemos não é nada comparado ao que vivo agora... com ele!

(culpado)

Isso me confunde e, de certa forma dói. Não fui educado à ser adúltero. E, o fato de meu pai o ser, me feriu demais! Não queria ser assim, Zahra. E, menos ainda queria estar na tua pele. Sei que o que me move agora, é muito mais forte que eu... E que não vou conseguir parar!

 

ZAHRA

(ódio mortal/choro)

Como pôde?! Devias ter dito do desejo de ser tocado atrás. Eu o teria feito e, com gosto! Não precisavas me trair com um homem! (T) O que será de nós? Temos filhos e uma história juntos! Quer jogar tudo isso para o alto prestes a assumir o trono? Por um mero capricho sexual?

 

ANTHENOKEN olha para MALIK e para ZAHRA.

 

ANTHENOKHEN

Não! Claro que não! Eu ainda preciso de ti, Zahra. Só peço que compreendas que pela primeira vez me sinto feliz. Eu lhe tenho afetos e ao mesmo tempo, quero Malik ao meu lado! Sem ter que te perder! O rei precisa da rainha e eu, de ser feliz... com Malik!

 

MALIK se emociona.

 

ZAHRA

(explosão/choro)

Achas que pode tudo?! Lhe devotei a minha vida, sofri em silêncio há dias vendo-lhe servir-te como mulher deste lacaio! Passei por cima de mim mesma com toda essa situação e lhe ofereci o corpo. O meu corpo feminino! E, tu? Negaste! E ainda pedes para ser feliz com ele? Debaixo do meu nariz?! O que pedes é mais do que posso ofertar!

(se controla)

Não sou a mulher à ser conhecida como aquela em que o marido preferiu outro homem. A Rainha que dividiu trono e cama com o amante do marido!

 

ANTHENOKHEN

Tens razão! Não posso lhe submeter a essa situação! Se desejares, devolvo-te às Terras de teu pai com todas as riquezas a fim de reparar os danos de minha conduta.

 

ZAHRA

E, depois de tudo, ser devolvida! Que humilhante!

 

ANTHENOKEN

Se não há o que ser feito, segue-se como está! Serás a Rainha, de fato; em silêncio, feche os olhos aos meus carinhos com Malik. Estou decidido! Do servo não abro mão!

 

ZAHRA reativa cospe em seu rosto.

 

ZAHRA

Passou a vida acreditando ser menor que os outros. E, tinhas, razão!

(grita)

Fracassado!

 

SAI pisando duro. ANTHENOKEN limpa o rosto e cai em crise de choro. MALIK o abraça com compaixão.

 

MALIK

(sussurra)

Não perca a sua rainha por mim

 

ANTHENOKEN

(triste)

O que mais quero, está aqui comigo! Sei que ela não me abandonará. Não faço questão de ficar mais com ela, só preciso manter as aparências!

(pensativo)

Esse encontro revelou que não posso ter uma vida dupla. A traição encerra hoje. Quero que prometa-me que será paciente. Enquanto isso, ainda hoje, me dará a minha última noite como a tua mulher. Só preciso de discrição e um lugar sem pessoas por perto!

 

MALIK

(ao longe)

Eu cuido disso! Revelo-te depois!

 

ANTHENOKEN

Vejo-te à noite! Melhor mantermo-nos afastados por ora. Agora, vista-se!

 

MALIK concorda com a cabeça. ANTHENOKEN SAI. MALIK se senta chateado, junta as mãos e leva à boca com preocupação.

 

NEMEWÁ (V.O.)

O encontro será no Salão do Conselho, ao cair da noite.


8.    INT./TENDA/DIA                                       

 

NEMEWÁ de frente com NEVERA, ansiosa. MALIK cabisbaixo.

 

NEMEWÁ

(Cont’d) Assim que o sol se deitar e as primeiras tochas se acenderem!

 

NEVERA

Será um baque para ela!

 

NEMEWÁ

 (à MALIK)

Não esperava esse desfecho; não falhe mais, estrangeiro. Sabes o que está em jogo!

 

MALIK

(chateado)

Garantas a integridade minha e de minha gente! Temo por retaliação!

 

NEMEWÁ

O combinado será cumprido! Não falto com a minha palavra! Agora, preciso que seja os meus olhos lá. (T) Vá!

MALIK SAI.

 

NEVERA

Ele está um tanto diferente! Será que está arrependido? Não temes que falhe com o plano?

 

NEMEWÁ

Ele entendeu o peso das consequências e cumprirá a parte dele. Agora cumpra a parte que lhe cabe!

 

NEVERA

(obcecada)

Ela estará lá! Eu garanto com a minha vida!

 

Suspense. NEVERA com sorriso de canto de boca.


9.      INT./CORREDOR/DIA                                 

 

ZAHRA aos prantos caminha como o vento. Tromba com TUTANCAN e tenta seguir, ele lhe puxa.

 

TUTANCAN

Pelo que choras? Podes conversar comigo se quiseres!

 

ZAHRA

(espumando)

Afasta-te de mim, malfeito!

 

TUTANCAN

Por quem me tomas, mulh/

 

ZAHRA vira um tapa estrondoso em TUTANCAN que a olha assustado enquanto segura a face com uma mão.

 

ZAHRA

És o reflexo do pai! Tão malfeito quanto ele. Os quero longe de mim!

(aos gritos)

Saia! Saia! Saia de perto de mim!

 

TUTANCAN

(segurando-se)

Não aceito que me destrate assim! Não lhe fiz nada!

 

ZAHRA

Cala-te! Não fale comigo!

 

ZAHRA avança rápido aos socos e pontapés para cima de TUTANCAN que não tem tempo de se defender. Aos gritos de “Para” por TUTANCAN ela continua o atacando e os serviçais param chocados para assistir sem ousar se meter. Grande muvuca. ANTHIEPT surge acompanhada de soldados por entre as pessoas. SHENK aparece correndo para separar. Com muito custo os soldados seguram ZAHRA enquanto ANTHIEPT e SHENK levantam TUTANCAN com o rosto coberto por sangue e marcas.

 

ZAHRA

Soltem-me! Eu ordeno que me respeitem como esposa do herdeiro!

 

ANTHIEPT acende com a cabeça para os soldados. Eles a soltam e ela se recompõe.

 

ZAHRA

Ao menos a posição de nobreza o vosso fracassado filho herdou para me doar.

 

ANTHIEPT

Basta! Não admito a situação e menos ainda que maldiga meu filho e agrida meu neto!

 

ZAHRA

Seu neto; meu filho! Meu filho!

(respira fundo)

Tudo isso é culpa sua! Estragaste o vosso filho. O meu filho! E, tudo o que toca morre! Você se mostra seca a cada dia que passa!

 

ANTHIEPT altiva e desafiadora a encara. Bate palmas e faz um gesto para as pessoas se dispersarem. As pessoas obedecem. NEVERA, sorrateira, chega no tumulto e se esconde entre as pilastras.

 

ZAHRA

(Cont’d) Lhe admirei muito, desde que aqui vim morar com vosso filho. Tudo o que lhe devotei se desmoronou ao pó desde que o faraó partiu. A verdade é que o vosso pilar de sustentação moral era ele.

 

ANTHIEPT engole a verdade com pesar.

 

ZAHRA

Sem ele, a senhora desabou. Não tem a mesma imagem de antes. Com a morte dele, quem morreu foi a senhora!

 

TUTANCAN

Chega! Chega de destratar as pessoas! Perdeste todo o juízo! Quer falar de moral?!

 

SHENK

Serenidade! Somente assim poderemos entender o que está acontecendo. Sem julgamentos!

 

ANTHIEPT

Também tenho dizeres a ti, Zahra. Já que perdeste a compostura, devo dizer o que penso acerca disso tudo. És uma fraca! Soube assim que lhe vi pisar nas areias de Luxor. Me acostumei com a ideia de unir-te ao meu filho. Mas, ele se encantou com a sua beleza! E, o coração de uma mãe, se ilude pelos desejos do filho. E também não queria contrariar meu esposo. O sonho dele era deixar herdeiros, deste os netos, o tempo passou e ficaste. A verdade é que você foi uma péssima compra... uma pedra polida como uma safira do deserto, bem cuidada e com brilho, só que sem valor algum. Falta-te verdade e lapidação como mulher. Não sei o que houve, só estou usando do momento para dizer as verdades e, seja o que meu filho tenha feito, a culpa é sua.

 

ZAHRA ameaça a chorar, segura o choro aproxima-se de ANTHIEPT e coloca o rosto bem diante do dela.

 

ZAHRA

Estais enganada! Não tenho culpa dos caminhos tortuosos dele, Rainha! Sou uma mulher capaz de proporcionar ao homem o que ele desejar. Vosso filho, preferiu se aventurar da forma mais vil e humilhante para uma mulher.

 

SHENK e TUTANCAN ficam estarrecidos.

 

ANTHIEPT

Não exponha o teu casamento diante dos TEUS filhos e dos serviçais. Já não lhe basta a vergonha da traição? Este assunto fica entre nós. Vamos a um lugar mais adequado.

 

10.     INT/ DORMITÓRIO DO REI/CORREDOR/DIA                       

 

ANTHIEPT ENTRA jogando ZAHRA pelos braços.

 

ANTHIEPT

Como ousa nos expor e me afrontar diante dos serviçais?

ZAHRA acuada na parede. Tensão.

 

ZAHRA

Não expus nada que não saibam! Não podes recriminar as minhas atitudes. Vossa reação foi pior ao se descobrir na mesma situação. Dói, não dói?

 

ANTHIEPT

Não sabes o que dizes. Não seja leviana!

 

ZAHRA

Sei de muita coisa, rainha! Foi só aparecer um filho da amante para que o Faraó anoitecesse morto! A amante? Desapareceu! Como pó nas tempestades do deserto.

 

ANTHIEPT dá mais um passo em sua direção a encarando.

 

ZAHRA

(Cont’d) As paredes não são sagradas o suficiente para guardar os vossos segredos, rainha!

 

Tapa. ZAHRA rodopia.

 

ANTHIEPT

Sua atitude deixa claro que mereces ser traída. O silêncio, é sábio e digno. Sendo assim, creio que o meu filho foi sábio em escolher outra à altura!

 

ZAHRA se coloca a altura dela.

 

ZAHRA

Os serviçais estão à altura de vosso filho? Ele optou lambuzar-se no leite de um falo ao mel de meu cálice!

ANTHIEPT perde os sentidos e cambaleia. Leva a mão à testa e senta-se. ZAHRA a inquire com o olhar.

 

ANTHIEPT

(para si)

Não pode ser!

 

ZAHRA

É a pura verdade! Anthenoken escolheu um serviçal!

 (amargurada)

Fiz tudo para apartar a curiosidade. Aguentei calada à espera de que a ilusão passasse e não passou. Hoje, confidenciou: está feliz com o seu escravo branco!

 

ANTHIEPT abaixa a cabeça sobre as mãos.

 

ANTHIEPT

(devastada)

Pelos deuses! Se ao menos tivesse os pudores; até assumir o trono!

 

ZAHRA

O trono não é o mais importante! Os valores e sentimentos são!

 

ANTHIEPT

Só trono importa! É só isso que me importa no momento. O poder cala as pessoas e corrompe tudo ao seu favor. Entendes isso?

 

Levanta-se e vai até ZAHRA. A segura pelos ombros.

 

ANTHIEPT

(Cont’d) Sejas inteligente! Cale essa mágoa e continue a viver como se nada tivesse acontecido. Não lhe fingirei simpatia. Só preciso de sua aliança e nada mais.

 

ZAHRA se desvencilha e a encara contrariada.

 

ANTHIEPT

(Cont’d) Nemewá é um forte oponente ao trono e grande estrategista. Vai querer tomar o lugar de seu marido e a nossa família sairá dessa dinastia pelas portas do fundo. Dada à libido de Anounak! Depois de tantas mágoas, Nemewá será piedoso? Precisamos deste trono.

 

ZAHRA

Está pensando somente na senhora e nos erros que cometeste! Pensas que pode enganar a todos com as vossas mentiras. De Hórus, jamais escaparás! É na balança que o próprio coração vos condenará!

 

ANTHIEPT

(Cont’d) Deixe que eu colha da minha plantação. Pense nos demais! Escolha suplantar tudo o que viveu e mantenha esta família no poder. Pense nos teus filhos.

 

ZAHRA se morde os lábios nervosamente e pensativa.

 

ANTHIEPT

(Cont’d) Sabes o que penso. Preciso ficar só! Tenho que tomar atitudes! Vá descansar em seu leito! Deves ter muito o que remoer nesta sua cabeça! E retomar as forças para levar a vida como era antes!

 

ZAHRA sai pisando duro.


11.     INT/SALÃO DE EMBALSAMENTO/DIA                     

 

Sacerdotes colocam a última atadura tampado o rosto fúnebre e magro de ANOUNAK. Com a máscara de Anubis, OMAR, se aproxima com ervas de cheiro embebidas em óleo e besunta o defunto. Após, retira a sua máscara e coloca sobre uma bancada. Os demais saem e fica só. Aproxima-se do corpo e abaixa próximo ao ouvido do defunto.

 

OMAR

Está chegando a hora da verdade, meu irmão!

 

Caminha em volta do corpo.

 

OMAR

(Cont’d) A história se repete! Dessa vez, não abrirei mão da justiça. É o primogênito quem deverá assumir vosso lugar. Essa é a vontade dos Deuses. O Faraó representa o poder dos Deuses na Terra. Não somos nós quem devemos escolher o eleito. Eles naturalmente nascem na ordem que os Deuses querem. E, eu, na qualidade de Sumo-Sacerdote devo fazer prevalecer a vontade dos Deuses. Há um ressentimento que vem de nosso passado que deverei aprender a lidar com isso antes de minha hora derradeira aqui na Terra. Só lhe peço desde já, que quando estiver diante de Hórus, perdoe-me em seu coração pelo o que hei de fazer...

 

Olha para o morto com misto de carinho e dissabor.

 

OMAR

(Cont’d) Farei o que tem de ser feito! Amanhã, o finalizo de vez.

 

Dá tapinhas nos pés do defunto e SAI. Luz emana da múmia.


12.   EXT/JARDINS/DIA                                            

 

MALIK se aproxima com cesto de frutas e ANTHENOKEN se serve. Serviçais que passam os observam com curiosidade e seguram um sorriso maldoso. Sussurros entre eles.

 

MALIK

Todos já desconfiam. A princesa enfrentou a rainha aos brados!

 

ANTHENOKEN

Não me importo! Não podem fazer nada! Só mantermos a discrição. De minha mãe, eu cuido! E, sobre o encontro de hoje?

 

MALIK

Quando o sol se deitar e a primeira tocha se acender, espere-me em frente ao Salão Sacerdotal.

 

ANTHENOKEN

Perfeito! Tem pouca visitação.

 

ANTHENOKEN e MALIK encostam os dedos como jovens apaixonados. Sorri apaixonado para MALIK que retribui o gesto. Suspense.


13.     INT/DORMITÓRIO DO PRÍNCIPE/NOITE                          

 

Lágrimas escorrem do rosto de ZAHRA. Ela se levanta e enxuga as lágrimas. CAM passeia em volta dela pensativa.

 

ZAHRA (V.O.)

Há momentos na vida em que precisamos tomar coragem e decidir... quem fica na caminhada conosco e quem não.

 

SLOW-MOTION. Levanta e sai passando em close olhando misteriosa para a CAM.


14.     EXT/CAIS DO PORTO/PÔR-DO-SOL                              


SLOW-MOTION. Barqueiros acendem as tochas no contorno do cais. ZOOM IN na labareda.

 

ZAHRA (V.O.)

Na vida o tempo é precioso. O que importa é estar são, livre e feliz. Aquilo que nos prende tem que ser afastado tal qual o mal.

 

15.     INT/TEMPLO DE OSÍRIS/NOITE                                

 

SLOW-MOTIOM. Labaredas do oráculo. SETNIAK alimenta o fogo com ervas. A fumaça sobe, ele inala e ergue o cajado de forma ritualística. <Fim do Slow-motion> Chirriar de uma coruja acorrentada no poleiro. Detalhe nos olhos da coruja.

 

ZAHRA (V.O.)

A vida pode ter mistérios e, só os desvendam aqueles que entenderam a caminhada neste mundo. O universo conspira em apoio.

 

QUICK-MOTION nos olhos de SETNIAK.

 

SETNIAK

Não! O príncipe!

 

Vista do alto. Apoiado no seu cajado. SAI rápido.


16.     EXT/JARDINS/PÁTIO/NOITE                     

 

Suspense. Tochas acesas no jardim. ANTHENOKEN passa rápido por TUTANCAN sem notá-lo.

 

ZAHRA (V.O.)

Da vida, ninguém sai ileso. Sempre haverá conflitos.

 

TUTANCAN

(para si/sarcástico)

O grande moralista se aventurando!

TUTANCAN o segue. Atrás, furtivamente, SHENK segue o irmão.

 

PÁTIO:

 

SLOW-MOTION. OMAR e um grande grupo de sacerdotes veste, suas batas pretas e ouro em conversa compenetrada. Discretamente, OMAR acompanha ANTHENOKEN passar furtivamente e se embrenhar furtivamente nas pilastras. Em OMAR com sorriso discreto.

 

ZAHRA (V.O.)

Nesta jornada, ou faz-se amigos ou, cria-se os inimigos.

 

17.     INT/CASA DE BANHO/NOITE                                   

 

NEMEWÁ ajeita suas vestes e se olha no espelho.

 

ZAHRA (V.O.)

O motivo? Apenas a sua existência no dia errado e em tempo errado.

 

18.   INT/CORREDOR/DORMITÓRIO DO REI/NOITE

Tensa, NEVERA respira fundo (close) e SAI pelo corredor.

 

ZAHRA (V.O.)

Logo, há uma confusão de sentimentos.

 

DORMITÓRIO DO REI:

 

NEVERA ENTRA apressada.

 

NEVERA

Senhora, o conselho de Sacerdotes está indo para o salão. Será que aconteceu algo?

 

ANTHIEPT olha pela janela apressada e fecha o semblante.

 

ANTHIEPT

Estranho! Venha comigo.
 

19.     INT/SALÃO SACERDOTAL/CORREDOR/NOITE

Penumbra. MALIK e ANTHENOKEN se beijam e se despem.

 

MALIK

(arrependido)

Tenho dúvidas de que aqui é seguro!

 

ANTHENOKEN

Aqui está perfeito como a ti!

 

ANTHENOKEN deita MALIK no chão com paixão, o beija e cavalga rebolando muito. Suado, tem a feição de realização.

 

CORREDOR:

 

Guiando os sacerdotes, OMAR para diante da porta. ANTHIEPT e NEVERA aparecem.

 

ANTHIEPT

O que está acontecendo aqui?

 

NEMEWÁ, TUTANCAN e SHENK, chegam de cada lado. SETNIAK surge por trás de todos causando surpresa.

 

SETNIAK

Não, Omar! Sabes que esta porta é o início do fim!

 

NEMEWÁ

O que esconde esta porta, Omar?

 

OMAR apreensivo. ANTHIEPT mal-encara NEMEWÁ. Suspense.

 

CORTA PARA O:

 

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P R Ó X I M O   C A P Í T U L O

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Minissérie de
JOÃO SANE MALAGUTTI

Elenco
ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA

Direção
ANDERSON SILVA

Produção
BRUNO OLSEN


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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