Movida pela curiosidade e por um desejo de compreender seu passado, Clara encontra uma conexão com sua mãe ancestral, presa entre mundos e buscando reconhecimento. Ao fazer um pacto silencioso com essa figura, Clara se vê imersa em uma batalha interna entre amor e sacrifício. No entanto, ao retornar à casa, ela percebe que a escuridão não foi completamente dissipada.
5x02 - Ecos da Lua Negra
de Jean Javarini
Na
pequena cidade de Arvoredo, norte do Espírito Santo, os sussurros da noite
escondiam segredos sombrios, entrelaçados com as histórias de amor e dor de
suas famílias. Entre as casas simples, uma se destacava: a antiga residência
dos Oliveira. Os progenitores, genitores de um passado marcado por tragédias,
foram os primeiros a habitar aquele lar que agora, após anos, parecia respirar
um mistério inexplicável. A casa, de janelas quebradas e paredes descascadas,
guardava ecos dos risos de crianças e os lamentos dos que já se foram. As
lembranças de pai e mãe estavam cravadas no chão de madeira, onde dançaram em
noites de festa e choro. Contudo, não era apenas nostalgia que impregnava o ar;
havia um sentimento denso, uma presença que parecia vigiar cada passo.
Certa
noite, enquanto a lua cheia iluminava o céu, uma jovem chamada Clara decidiu
explorar a casa. Criada por pais adotivos que sempre lhe contaram histórias
sobre seus ancestrais, ela desejava entender as raízes de sua família. Ao
entrar, um frio inexplicável a envolveu, como se os espíritos dos seus
antepassados a acolhessem e a advertissem. Os familiares que habitaram a casa
antes dela eram conhecidos por suas peculiaridades. Os avós, figuras quase
míticas, eram reverenciados e temidos, guardiões de tradições e segredos
obscuros. Os pais biológicos de Clara haviam desaparecido em um trágico
acidente, e ela se perguntava se a casa poderia revelar algo sobre eles.
Enquanto explorava, encontrou um diário empoeirado na biblioteca. As páginas
estavam repletas de desabafos, amor e desespero. O autor, um dos antigos
residentes, mencionava a relação conturbada com seus pais legais e a presença
constante de um ser que, segundo ele, se alimentava de suas angústias.
Intrigada, Clara leu até altas horas, cada linha preenchida de um terror
crescente que a fazia sentir-se vigiada.
Foi
então que os sussurros começaram. Uma voz suave, quase carinhosa, chamava-a
pelo nome. Clara, confusa, seguiu o som até o porão. As escadas rangiam sob seu
peso, e a atmosfera tornou-se pesada, como se o espaço estivesse carregado de
expectativas e medo. Ao descer, encontrou uma pequena porta entreaberta. Com o
coração acelerado, empurrou-a.
Dentro,
uma sala escura se revelou, iluminada apenas por uma luz fraca que emanava de
uma vela gasta. No centro, uma mesa estava coberta de fotografias empoeiradas:
seus pais, avós, e figuras desconhecidas. Clara sentiu uma onda de amor e
saudade, misturada a um pavor que a fazia querer voltar. Uma imagem em
particular chamou sua atenção: uma mulher com olhos tristes, que parecia
segurar um bebê. O diário a mencionava, descrevendo-a como a primeira mãe de
todos os Oliveira, uma mulher que teria feito um pacto sombrio para proteger
sua linhagem. Essa mesma mulher, segundo a lenda, estava presa entre mundos,
sedenta por amor e reconhecimento.
Clara
sentiu o ambiente mudar. A temperatura despencou, e a presença que a observava
desde o início tornou-se palpável. Uma sombra, moldada pela dor e amor não
correspondido, se aproximou. Era a mãe ancestral, uma guardiã do passado,
implorando por reconhecimento. Um grito silencioso ecoou na mente de Clara, um
pedido desesperado por libertação. Ela, que havia sempre desejado entender suas
origens, agora se via aprisionada em um ciclo de dor. O sentimento de compaixão
por aquela alma perdida e a conexão com seus próprios progenitores tornaram-se
insuportáveis. Clara percebeu que, ao contrário do que pensava, suas raízes não
eram apenas de amor, mas de sacrifício. Para a sombra libertar-se, precisava do
que havia sido prometido: o reconhecimento da dor e a quebra do silêncio que
envolvia sua história familiar.
Com
lágrimas nos olhos, Clara fez um pacto silencioso, aceitando os medos e os
amores de sua linhagem. Ao fazer isso, a presença começou a dissipar-se,
levando consigo os sussurros que atormentavam a casa. A luz começou a brilhar
intensamente, iluminando as memórias que ali estavam presas.
Ao
sair, Clara levou consigo não apenas a história de seus pais biológicos, mas
uma nova compreensão do amor que permeava sua família — um amor que, mesmo
envolto em sombras, sempre buscou a luz. E, assim, a casa de Arvoredo
finalmente encontrou a paz, libertando-se das correntes do passado, mas sempre
lembrando que o amor, mesmo quando cercado de trevas, é capaz de curar as mais
profundas feridas. Clara mal havia saído da casa dos Oliveira quando uma
sensação de inquietude a envolveu. A lua cheia, agora eclipsada por nuvens
escuras, parecia observar cada movimento dela, como um olho vigilante. No fundo
de sua mente, as palavras do diário ressoavam: “A Lua Negra revela o que está
oculto.”
Naquela
mesma noite, Clara decidiu retornar, impulsionada por um desejo de entender a
natureza do pacto que fizera. Ao cruzar o limiar da porta, a atmosfera mudou.
Um vento gelado cortou a sala, e os sussurros, agora mais altos, pareciam vir
de todos os cantos. As sombras dançavam nas paredes, formando figuras
familiares e estranhas, como se a casa estivesse viva.
Desesperada,
Clara buscou o diário novamente, mas ele havia desaparecido. Ao invés disso,
encontrou um espelho antigo coberto de poeira. Ao limpá-lo, não viu seu
reflexo; em vez disso, viu a imagem de sua mãe biológica, a expressão de
desespero no rosto. A mulher parecia gesticular, como se estivesse tentando
avisá-la de algo. A boca se movia, mas nenhum som saia. Assustada, Clara se
afastou, mas ao virar-se, a sala agora estava cheia de rostos — todos aqueles
que um dia tinham habitado aquele espaço. Eles a observavam com uma mistura de
amor e acusação, como se esperassem que ela escolhesse entre os dois mundos.
Foi
então que, em meio à multidão espectral, Clara reconheceu a figura de sua mãe
adotiva. Ela estava ali, mas com um semblante sombrio, os olhos cheios de uma
tristeza profunda. Ao se aproximar, Clara sentiu a dor que pulsava dentro dela,
um amor distorcido que a levava a proteger a filha de verdades inomináveis. Com
o coração apertado, Clara ouviu um sussurro: “A verdade está nas sombras,
Clara. A Lua Negra não revela apenas o que amamos, mas também o que tememos.”
Decidida a descobrir mais, Clara voltou ao porão, onde a porta misteriosa agora
se mostrava mais opaca e ameaçadora. Com um impulso de coragem, abriu-a
novamente. O espaço estava ainda mais escuro, como se a luz não conseguisse
penetrar. Ao entrar, a atmosfera se tornou pesada, e Clara percebeu que não
estava sozinha.
Uma
figura encapuzada se materializou, flutuando a poucos metros. O manto negro
escondia o rosto, mas Clara podia sentir o olhar penetrante. Era a entidade
mencionada no diário, a que havia feito o pacto com seus ancestrais. Uma voz
profunda ecoou, como se viesse de todos os lugares e de lugar nenhum: “Você
buscou a verdade, Clara. Agora deve pagar o preço.”
As
paredes da sala começaram a se contorcer, revelando antigos segredos — rituais,
ofertas e um sacrifício inacabado. Clara viu visões de seus genitores e a dor
que haviam suportado. Em um momento de clareza, percebeu que a ligação com a
Lua Negra era mais intensa do que imaginara; cada ciclo lunar alimentava a
entidade com os medos e desejos da família. A voz continuou: “Se deseja quebrar
o ciclo, deve escolher um. Um ancestral deve ser libertado para que os outros
possam viver em paz. Quem você escolherá?”
Clara
sentiu um frio cortante. Na mente, as imagens se sobrepunham: seus pais
adotivos, os avós, os ancestrais. Cada um tinha sua história de amor e dor.
Mas, no fundo, ela sabia que a escolha não seria simples. Era uma decisão entre
salvar a si mesma ou permitir que a história continuasse a ser um fardo. Lá
fora, a lua cheia voltou a aparecer, sua luz filtrada por nuvens densas, como
se o céu estivesse em expectativa. Clara, atormentada, olhou para a entidade e
gritou: “Não posso escolher! Todos merecem a chance de serem livres!” Um
silêncio profundo a envolveu. As paredes começaram a tremer, e o ar ficou
carregado de tensão. A entidade riu, um som gélido que reverberou em sua mente.
“Então você escolherá a morte de todos?”
Clara,
tomada pelo desespero, lembrou-se do amor que sempre tinha por sua família. Em
um ato de coragem, declarou: “Liberto todos, então! Que sejam todos livres de
suas dores!”
Com
essas palavras, uma onda de energia percorreu a sala, e a figura encapuzada
começou a se desvanecer em sombras. As almas ao redor de Clara começaram a se
entrelaçar, formando um turbilhão de luz e escuridão. A Lua Negra, que antes
estava eclipsada, agora brilhava intensamente, como um sol que dissipava as
trevas. O eco da risada da entidade se transformou em gritos de liberdade, e
Clara percebeu que a casa estava se desfazendo ao seu redor. O ambiente
tornou-se uma tempestade de luz e escuridão, como se todas as emoções
reprimidas estivessem sendo liberadas.
Quando
tudo se acalmou, Clara se viu de volta ao jardim da casa, cercada por uma luz
suave. As sombras haviam desaparecido, e o silêncio trazia uma paz que não
conhecia. Ao olhar para trás, viu a casa em ruínas, mas sentiu um peso ser
levantado de seus ombros. A Lua Negra agora parecia brilhar com um novo
significado, uma promessa de renovação. Clara, embora marcada pela experiência,
sabia que havia libertado não apenas a si mesma, mas toda a sua linhagem. E
assim, ao caminhar para longe da antiga residência dos Oliveira, sentiu que,
finalmente, o amor que sempre buscou havia triunfado sobre o medo. Mas em uma
noite, quando a Lua Negra surgisse novamente, as sombras poderiam retornar,
lembrando que algumas verdades nunca estão completamente enterradas.
Clara
caminhou lentamente, sentindo o frescor da noite se misturar ao calor de sua
nova liberdade. Contudo, uma inquietude começou a crescer dentro dela. A
sensação de que a batalha ainda não havia terminado a acompanhava como uma
sombra. As memórias da casa em ruínas e das almas libertas permaneciam em sua
mente, e a Lua Negra no céu parecia observá-la, como se esperasse um novo
capítulo.
Nos
dias que se seguiram, Clara tentou retomar sua vida. A sensação de alívio pela
libertação dos ancestrais era ofuscada por pesadelos incessantes. Ela sonhava
com a entidade encapuzada, sua risada ecoando nas paredes, e as sombras
dançando ao seu redor. Uma noite, ao acordar suada, olhou pela janela e viu que
a lua estava novamente coberta por nuvens escuras, como um aviso sombrio.
Movida por um impulso inexplicável, decidiu voltar à casa dos Oliveira, mesmo
sabendo que poderia despertar as forças que acreditava ter domado. Ao chegar, a
atmosfera estava pesada, e a porta, que antes estava em ruínas, agora parecia
restaurada, como se estivesse aguardando seu retorno.
A
entrada a puxou com uma força irresistível. Clara atravessou o limiar e se viu
de volta ao porão, o lugar onde tudo começara. As paredes estavam cobertas de
símbolos antigos, pulsando com uma energia que a fazia tremer. No centro do
espaço, o espelho estava novamente lá, reluzindo como um farol no escuro.
Atraída por ele, Clara se aproximou, e ao olhar para seu reflexo, sentiu uma
onda de desespero. Não era mais apenas sua imagem que via; atrás dela, as
sombras dos ancestrais a cercavam, agora mais distorcidas e ameaçadoras. Eram
rostos de dor e raiva, e entre eles, a figura encapuzada resplandecia, os olhos
brilhando como brasas.
“Você
pensou que poderia escapar?” a entidade sussurrou, sua voz cortante ecoando no
espaço. “O preço da liberdade nunca foi pago. Sua escolha foi um ato de
rebeldia, e agora você deve enfrentar as consequências.”
Clara,
aterrorizada, tentou recuar, mas as sombras a cercaram, puxando-a para mais
perto do espelho. “Você nos libertou, mas a maldição ainda permanece. As almas
não encontram paz, e você é a chave para o nosso tormento.” As paredes
começaram a se fechar, e Clara sentiu o peso das mãos espectrais segurando-a,
como se quisessem levá-la para o abismo. A lua, visível através de uma pequena
janela, agora estava totalmente coberta pela escuridão. Clara percebeu que a
Lua Negra não era apenas um símbolo de medo; era um portal.
Desesperada,
Clara lembrou-se da força do amor que a guiara antes. Ela não poderia permitir
que aqueles que amava, mesmo em forma espectral, fossem presos eternamente. Com
uma coragem renovada, ela gritou: “Se é amor que precisa, então que seja amor
que traga a libertação!” A entidade riu, mas Clara, em um momento de clareza,
começou a recitar as histórias de sua família, as memórias de amor e dor,
aquelas que a entidade queria apagar. Cada palavra era um feitiço, cada
lembrança uma chispa de luz que fazia as sombras recuarem.
A
atmosfera começou a mudar. A energia ao seu redor se transformou, e as figuras
espectrais começaram a se contorcer, como se lutassem entre a liberdade e a
prisão. O espelho iluminou-se, refletindo não apenas Clara, mas as memórias que
ela trazia. Com um último grito, Clara fez um apelo: “Que todos sejam livres!
Que a Lua Negra não traga mais dor, mas sim a luz da verdade!”
As
sombras começaram a dissipar-se, e a figura encapuzada se contorcia em agonia.
A luz do espelho se intensificou, e um brilho ofuscante inundou o porão. Clara
fechou os olhos, e quando os abriu novamente, estava sozinha, com o espelho
agora quebrado em mil pedaços. A casa dos Oliveira estava novamente em ruínas,
mas a lua estava brilhante, clara e cheia, refletindo a liberdade que
finalmente havia conquistado. Clara percebeu que a batalha contra o medo e a
dor não terminaria, mas havia conseguido um equilíbrio, um entendimento de que
as sombras nunca desapareceriam completamente.
Ela
saiu da casa, sentindo o ar fresco da noite. Embora a Lua Negra ainda fosse uma
força a ser reconhecida, agora Clara sabia que o amor e a memória eram suas
armas. E assim, enquanto caminhava para a escuridão da floresta, uma nova
determinação floresceu dentro dela — a de que as histórias da sua família
viveriam sempre, desafiando as trevas, iluminando os caminhos. Mas na floresta,
ao longe, um sussurro se levantava, um eco de risadas e vozes de outros que
haviam encontrado o caminho de volta. E Clara, ao olhar para a lua, soube que
sua luta nunca acabaria, pois, as sombras sempre buscariam retornar,
especialmente quando a Lua Negra estivesse no céu.
Clara
sentiu a brisa gelada da noite, como se algo estivesse observando. O silêncio
da floresta era opressivo, e cada passo que dava ecoava como um alerta. Ao
longe, uma risada cruel se espalhou pelo ar, e a sensação de que a entidade
encapuzada ainda a seguia era palpável. A lua, agora cheia, refletia uma luz
prateada que dançava nas árvores, mas as sombras pareciam mais longas e mais
escuras, como se quisessem engoli-la.
Quando
ela virou para o caminho que a levaria para casa, uma visão a fez parar em
seco: os rostos dos ancestrais, antes libertos, agora apareciam entre as
árvores, suas expressões distorcidas por uma fúria impotente. As vozes ecoavam,
sussurrando promessas de vingança. “Você nos deixou! Você nos abandonou!”,
gritavam, enquanto as sombras se juntavam, formando uma figura ameaçadora, a
própria essência do medo encarnada. Clara percebeu que sua libertação tinha um
preço, e aquele preço era enfrentá-los mais uma vez.
A
entidade, agora totalmente materializada, avançava em sua direção, com olhos
brilhando de ódio. Clara, tomada pelo pavor, sentiu que suas forças estavam se
esvaindo. Mas, ao olhar para a lua, lembrou-se do amor que a guiara. Com um
grito desesperado, ela invocou as memórias mais profundas de sua família,
invocando um feitiço de proteção. As sombras hesitaram, mas não recuaram. E no
último momento, Clara compreendeu: para cada sombra, havia uma luz, e ela era a
chave. Com um último ato de coragem, enfrentou a escuridão, disposta a lutar
não apenas por si, mas por todos os que vinham antes dela, sabendo que o
verdadeiro terror reside na luta eterna entre luz e sombra.
A luz da lua parecia pulsar, refletindo seu temor e sua determinação, enquanto as sombras se aglomeravam, cercando-a como predadores famintos. Com um grito primal, Clara canalizou o amor e a força de seus ancestrais, desafiando a escuridão que a envolvia. Mas, mesmo quando a luz explodiu ao seu redor, ela soube que a luta nunca terminaria, pois, as sombras da Lua Negra sempre estariam à espreita, prontas para reivindicar o que era seu.
CAL - Comissão de Autores Literários
Suspense Music
Intérprete:
Gabriel Andrade Produções
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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